Dead Scene
Aconteceu mais uma Feira Morta este Sábado (na porreira Cinemateca) mas há poucos motivos de entusiasmo tirando o facto de ter sido uma festa para encontrar amigos e conhecidos logo a seguir às férias, e claro, a visita do Camarada Lam de Valência - um grande artista e editor que parece-me que pouca gente reparou, na típica timidez parva dos portugueses. De resto? Mesma coisa de sempre, promoção fraca, programação paradoxal... E infelizmente, as mesas dos editores e dos artistas têm se apresentado como já há algum tempo em apenas meia-dúzia de folhitas agrafadas que voam muito facilmente quando vêm uma rabanada de vento. O que se passa com os estes ilustradores / autores de BD que pouco fazem? Que produzem ligeirezas? Será impossível de (ser eu a) responder a tal mas o inverso de tudo isto estava a poucos minutos a pé da Cinemateca quando se comemorava o dia de "open studio" na escola MArt. Falo de Rodolfo Mariano que nesse mesmo dia apresentou o seu trabalho enquanto artista residente, onde finalizou e lançou o livro Outro Mundo, Ultra Tumba.
Em formato A4 auto-publicou 44 poderosas páginas, trabalho desenvolvido durante os últimos cinco meses entre Coimbra e Lisboa. Ao que parece, para além dos livros, no "open studio" tinha os originais para
consulta/ apresentação e estava disponível para toda e qualquer questão
acerca do seu trabalho e projectos que está a desenvolver. Não deveria ser a Morta ser assim ou então o Mariano estar nela? Estamos num mundo às avessas sem dúvida...
Este OMUT é um pequeno colosso gráfico DIY que mostra trabalho, esforço e persistência. Tem uma estrutura clássica de narração, tipo Sherazade ou Os Contos de Canterbury, ou seja, personagens contam histórias uns aos outros ou se preferirem, há histórias dentro de histórias. Neste caso é uma guitarra, uma caveira e três alienígenas a mamarem vinhaça num descampado que vão contando cenas, topam? É o que as pessoas, se fossem ainda humanas, deveriam fazer sempre desligando os smart-phones e o fezesbook...
A "coisa" quase roça para o Heavy Metal fajuto de "Espada & Bruxedo" mas usa calão da streeta para não cair no ridículo. É que ridículo já o é a fantasia e o palavreado do Metal mas como Rodolfo eleva-a ao quadrado, a coisa torna-se airosa de se ler. Ehm... Mesmo assim, admito que adormeci duas vezes ao ler a sua prosa literária mas a desculpa é que além de não perceber nada da exagerada confusão que vai práqui (mete meta-física à Hawkwind acho) e estar-me a cagar para o que está acontecer na realidade (o pós-modernismo não perdoa), o livro tem ainda "power" - é das poucas edições DIY actuais que se não tivesse texto e fosse mais um dos milhares de "graphzines" que andam praí, ainda assim o compraria!
Desenhos lambidos para quem curte o Dark sem homo-erotismo ou folhados à D'Artagnan, grafismo de autista Art Bruteiro (quem viu os originais diz que são maravilhosos!) ou para quem esta em sintonia com o Petit Comitê del Terror e outros monstros pictóricos pela Europa fora. Tem algo de excitante como os primeiros zines de David Soares ou o Carneiro Mal Morto de Rafael Gouveia nos finais dos anos 90, é material negro mas não cheira a mofo. Seja quais as razões que Mariano tem para escrever ou desenhar assim, independente do que transmite ou que o leitor perceba, topa-se que a produção vêm do fundo do seu corpo (da próstata ou do dedo médio do pé tanto faz) e que essa pujança não pode ser apagada nem esquecida. No meio de tanto zines e/ou livros monográficos que pupulam na Morta poucos se erguem e mantêm-se de pé como este pequeno menir impresso do século XXI. Parabéns, meu!
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