We never talk, we message*
Jorge Ferraz: Machines for Don Quixote et Viva la Muerte (Cobra Discos; 2018)
Há pouca coisa estimulante na música portuguesa actual. A maior parte da produção é betinha e disciplinada porque a crise (eterna?) obriga a todos serem profissionais e acertarem no seu público-alvo sem falhas. Tirando um Allen Halloween que acertou em todos porque se estava marimbando ou os Plus Ultra (porque... são os Plus Ultra!), tudo é triste. Mesmo que Ferraz tenha algumas faixas melancólicas, o seu regresso às lides fonográficas é de salutar e fora do baralho da betalhada "pro". Só um comentário antes de mais: triste neste CDs só a capa, uma das mais feias de sempre - um feito difícil de suplantar dada a maioria das capas de discos portugueses serem horrorosas - enfim, ninguém é perfeito.
Errático, ecumémico, descomprometido e narrativo, Ferraz volta a solo, dez anos depois do venenoso África mecânica de metal, em que junta todas as suas experiências desde Santa Maria, Gasolina em teu Ventre a Fatimah X, ou seja guitarras em feedbacks melódicos e electrónicas selvagens, tudo embalado com conceitos de uma arrumação estética bastante irónica. É claro, que as classificações rebentam logo pelas costuras da forma como a música de Ferraz é tão mal-comportada.
Mal-comportado não significa saloiice e os títulos das músicas (quase todas elas instrumentais) mostram que Ferraz está atento ao mundo, não se fechando em peças solipsistas, bitaítes reaccionários ou pior, exercícios de nostalgia barata com ruralismos neo-fascistas - lembro-me da Antologia de Música Atípica Portuguesa, vol.1: O Trabalho (Discrepant; 2017) como exemplo.
Ferraz era OVNI em 1989 na estreia de Santa Maria. Vinte e nove anos depois permanece nesse estatuto marginal e... celestial. Talvez seja menos surpreendente porque o mundo passou a girar bem mais depressa que os seus habituais 1,7 mil km/h depois da web 0.2. Não é fácil surpreender a toda a mil/hora. Por isso é que convém estar atento à música que realmente interessa e saber de cor e salteado a letra Don't believe the hype dos Public Enemy.
*Olivia Lonsdale in Possessed
Há pouca coisa estimulante na música portuguesa actual. A maior parte da produção é betinha e disciplinada porque a crise (eterna?) obriga a todos serem profissionais e acertarem no seu público-alvo sem falhas. Tirando um Allen Halloween que acertou em todos porque se estava marimbando ou os Plus Ultra (porque... são os Plus Ultra!), tudo é triste. Mesmo que Ferraz tenha algumas faixas melancólicas, o seu regresso às lides fonográficas é de salutar e fora do baralho da betalhada "pro". Só um comentário antes de mais: triste neste CDs só a capa, uma das mais feias de sempre - um feito difícil de suplantar dada a maioria das capas de discos portugueses serem horrorosas - enfim, ninguém é perfeito.
Errático, ecumémico, descomprometido e narrativo, Ferraz volta a solo, dez anos depois do venenoso África mecânica de metal, em que junta todas as suas experiências desde Santa Maria, Gasolina em teu Ventre a Fatimah X, ou seja guitarras em feedbacks melódicos e electrónicas selvagens, tudo embalado com conceitos de uma arrumação estética bastante irónica. É claro, que as classificações rebentam logo pelas costuras da forma como a música de Ferraz é tão mal-comportada.
Mal-comportado não significa saloiice e os títulos das músicas (quase todas elas instrumentais) mostram que Ferraz está atento ao mundo, não se fechando em peças solipsistas, bitaítes reaccionários ou pior, exercícios de nostalgia barata com ruralismos neo-fascistas - lembro-me da Antologia de Música Atípica Portuguesa, vol.1: O Trabalho (Discrepant; 2017) como exemplo.
Ferraz era OVNI em 1989 na estreia de Santa Maria. Vinte e nove anos depois permanece nesse estatuto marginal e... celestial. Talvez seja menos surpreendente porque o mundo passou a girar bem mais depressa que os seus habituais 1,7 mil km/h depois da web 0.2. Não é fácil surpreender a toda a mil/hora. Por isso é que convém estar atento à música que realmente interessa e saber de cor e salteado a letra Don't believe the hype dos Public Enemy.
*Olivia Lonsdale in Possessed
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