Uma Hecatombe!
Ontem "caiu" a primeira exposição vinda da programação da 18ª Feira Laica. Era uma do colectivo suiço Hécatombe que estava patente na Matéria-Prima (do Bairro Alto) que mostrava o seu trabalho relativo a cartazes em serigrafia. Quanto ao trabalho editoral devem lá ter ficado uns quantos exemplares do Un Fanzine Carée que trás consigo várias questões a colocar sobre a produção contemporânea de bd e que poderão ser reflectidas para Portugal.
O projecto deste zine é mutante, começou com um número A (que não vi) e o número B é partido em 4 tomos que sairam durante o ano de 2010, entre Agosto e Dezembro. Nas suas páginas encontramos quatro autores do colectivo, a saber Abstien Gachet, Néoine Pifer, Odo Barrio e Yannis Macchia, em qua cada um faz uma bd de continuação. Esta edição poderá ser aquilo que se chama de "mini-série" na TV ou nos comics norte-americanos...
E que coisa é esta então? É uma revista? um fanzine? Um livro? Pergunta Yannis num editorial ainda agarrado ao anacronismo da palavra "fanzine" enquanto publicação amadora mera idólatra da cultura Pop. É um "zine" claro, estabelece o seu pathos DIY caracteístico pela tiragem reduzida (100 exemplares cada tomo?) impressa em fotocópia (lazer?) e de uma produção manual (capa em serigrafia) mas também porque pratica uma óbvia liberdade artística. Cada autor têm a sua linguagem e o seu universo - a explorar e a partilhar com o público.
Ainda mais importante do que estas questões formais, é o processo que inventaram para fazer 4 "cadernos" com 4 autores. As bds ao serem de continuação - em cada tomo os autores eram obrigados a fazer mais de 10 páginas - tem uma produção destilada "4 por 4". Invés de terem 4 livros de 100 páginas para cada autor que teria de ser feito de rajada, cada livro representa um quarto da obra de cada autor feito em quatro entregas invés de uma. É uma solução interessante sabendo que ao não existir mercado nem força anímica para grandes projectos. A bd de autor seja em Portugal seja na Suiça é feita nos tempos livres porque nunca é paga antecipadamente (sob forma de encomenda, por exemplo) nem com a venda posterior de livros. A solução deste zine ou a da antologia Futuro Primitivo (que parece que ninguém a quer discutir) ou as do passado referidas no editorial do Futuro) ou ainda outras que venhama a surgir são bastante interessantes para os autores com aspirações de publicação porque os poupam de fazer esforços enormes, como ainda poderão ajudar a reinventar a linguagem da própria bd. Mas claro, um colectivo na Suiça é uma realidade que funciona melhor ou pior mas funciona. Em Portugal, um trabalho colectivo é visto meramente como uma troca de camisas suadas... Logo algo a evitar, pelo nosso individualismo ferrenho (é uma péssima metáfora admito) ou pelos simples facto que sabemos que só algumas das camisas é que ficam suadas. Seja como for, à medida que a Crise avança arrastando consigo o "tempo é dinheiro" de cada um de nós, soluções de troca de camisas suadas fazem cada vez fazem mais sentido.
Por fim, destaco o trabalho de Abstien verdadeira nevrose que nos remete para Cronenberg e todo um mal-estar biológico e social. O resto das bds também são para descobrir, ide à Matéria Prima, ide! Senão, há empréstimo à palex na Bedeteca de Lisboa! Merci Hécatombe!
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