quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O livro mais "todo público" da Chili Com Carne: "Bottoms Up" de Rodolfo Mariano - Vencedor dos 500 Paus 2020 / exposição do autor no WC/BD ACABA HOJE!!!



Bottoms Up 

de


- obra vencedora do concurso interno Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD! de 2020 - 


64p. a cores 18x24,5cm 
500 exemplares


à venda na nossa loja em linha e na BdMania, Kingpin, Linha de Sombra, Matéria Prima, Mundo Fantasma, Senhora Presidenta, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, Utopia, Fábrica Features, Vida Portuguesa, Universal Tongue e ZDB.


Sinopse: Depois de uma longa viagem, o Simão chega finalmente à grande cidade cheio de sonhos e motivação para vencer na sua nova vida. Apesar do transtorno de ansiedade generalizada e introversão natural de que padece, o Simão depressa conquista o coração de alguns amigos e amigas que o vão acompanhar numa aventura improvável de desfechos imprevisíveis.







Historial:

Lançado oficialmente e virtualmente na Tinta nos Nervos, 31 de Outubro 2020 com conversa com Pedro Moura

Exposição Horror Vacui no espaço/ciclo WC/BD, em Lisboa, durante o mês de Fevereiro.



E para quem não percebeu o objecto:







FEEDBACK

o livro do Rodolfo Mariano só têm um problema, um gajo fica a pedir por mais, não me importava nada que tivesse 600 páginas.
David Campos (via email)
 
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Obra seleccionada na Bedeteca Ideal

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Entrevista no H-alt entretanto publicado em livro de tiragem de 30 exemplares (!) Outras perspectivas (Ass. Tentáculo; 2023)

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Não é bem uma fábula do género rato do campo / rato da cidade, à La Fontaine que Rodolfo Mariano, (...) nos apresenta neste intrigante (...) Chegado da aldeia, transportado por um atrelado cigano ou circense puxado por uma espécie de muflões de aspecto satânico, o rato Simão apeia-se no limiar da grande cidade. Por bagagem, uma mochila sem fundo acomoda um velho mapa, meias de cada nação entre uma parafernália de objectos úteis e inúteis, e ainda um livro mágico sobre “naves especiais”. Dirigindo-se à cidade, procura a chave que possibilite a libertação de um amigo, prisioneiro do Inquisidor-Mor. Uma mélroa de nome Cassandra ou o fantasma da raposa vegetariana Annalisa, contracenam com Simão, no meio de bandidos, carrascos, guardas, comerciantes e mortos-vivos que povoam uma urbe que poderia vir descrita num livro de Tolkien. Caso invulgar nos quadradinhos nacionais, o estilo de Rodolfo Mariano já foi comparado com o do australiano Simon Hanselmann; o francês Lewis Trondheim é também um nome que aqui nos parece ecoar. Elogio da amizade e denúncia do poder (...) Mariano tem uma apetência pelo imaginário fantástico pulp, que utiliza para falar de coisas sérias, e o antroporfismo revela-se uma esplêndida opção.

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(...) onde se reconhecem a obra de Tolkien, Dungeons and Dragons, a mitologia grega, Rimbaud ou Fernando Pessoa. Mariano recolhe todas essas referências e foca-se na construção da sua história, acompanhando a chegada à grande cidade de um rato, Simão (...) A cidade mudará Simão, porque é isso que os espaços fazem quando nos deslocamos por eles (...)
Sara Figueiredo Costa in Splaft!

domingo, 25 de fevereiro de 2024

O Fagote de Shatner e outros contos na Tortuga


capa de Rudolfo
Sim, o Shatner do título é o actor cromo de Star Trek, se bem que na perspectiva de "Where's Captain Kirk?", canção da banda punk Spizz Energi. William Shatner é referido no livro, mas não está nele. Na verdade, nem o autor sabe onde está. Do dito Shatner só interessa para o enredo que, num episódio desse clássico televisivo de ficção científica, era ele o fagotista de um grupo de música de câmara. 

Yep: logo à partida, as referências musicais deste novo caudal de frases de Rui Eduardo Paes (carinhosamente mais conhecido por REP) - porque é de um livro sobre música que se trata - estão no rock and roll e na clássica, ainda que para falar de jazz, de improvisação e dessa música que se diz ser "experimental". Também se passa pelo hip-hop queer e pelo nintendocore, por exemplo, mas afinal nenhuma forma de arte é uma ilha e tudo está, de alguma maneira, interligado. Até quando o que encontramos são as des-associações reais ou quimicamente induzidas que constituem a realidade. Os contos desta, nas páginas que aqui estão dentro, são os do sexo, da loucura e da morte. 

A música não comunica nada, segundo Gilles Deleuze? Mentira: comunica-nos o desejo, esse grande motor do nosso quotidiano, a esquizofrenia que nos define como humanos e a atribulada relação que temos com a Grande Ceifeira. Para ler em ritmo de corrida, porque foi escrito em ritmo de corrida.

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à venda na loja em linha da Chili Com Carne, Tigre de Papel, Livraria do Simão (Escadinhas de S. Cristóvão, Lx), Linha de Sombra, TortugaMatéria-Prima, SirigaitaFlur, ZDB, SnobUtopiaXYZNeat RecordsA Vida Portuguesa, Rastilho, Jazz Messengers e Letra Livre.

São 144 páginas de muuuuuuuuuuuuuita informação!!
Volume -10 da colecção THISCOvery CCChannel, dedicada à cultura fora do radar comercial, em parceria com a editora de música electrónica Thisco.
Capa e Design pelo Rudolfo.
Prefácio de António Baião.








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Histórial: Campanha de pré-encomenda que culminou no dia 16 de Março 2019, na SMUP (Parede) com uma apresentação de João Sousa e André Calvário e concertos de Ameeba, Salomé e Svayam ... Lançamento oficial no dia 11 de Abril na Tigre de Papel com a presença do autor e apresentações de João Sousa e André Calvário ... entrevista a Rui Eduardo Paes no programa Todas as palavras (RTP 3) ... 

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FEEDBACK: 

Vai para uma dezena de anos, num importante festival de jazz, alguém me elencou o que entendia serem as condições que definem este género musical: «negro, masculino e norte-americano.» Esta afirmação, reveladora de uma preocupante dose de desconhecimento, não é, mesmo com 19 anos entrados no século XXI, coisa rara. Se me voltasse a cruzar com tal figura, oferecer-lhe-ia de bom grado um eficaz antídoto contra o veneno da ignorância e do preconceito: o novo livro do jornalista, ensaísta, curador e agitador cultural Rui Eduardo Paes (...) O Fagote de Shatner e Outros Contos funciona como auto-indagação e evidencia uma profunda desilusão interior: «Valerá a pena continuar?», questionou o autor na sessão de apresentação do tomo. Este livro é, acima de tudo, um grito. Um grito contra o conformismo, um grito contra as polícias do pensamento, dos costumes e do gosto, um grito contra a acefalia instalada. Num momento em que o nosso mundo é, a cada dia que passa, um lugar mais sombrio, escutar esse grito é urgente.

Na introdução do livro Eduardo Paes diz que o texto pode assemelhar-se a um “monólogo de alguém que sofre de degeneração neurológica” e assume uma intenção: “são divagações pensantes (…) aspirando, na narrativa das ideias, à forma literária de conto”. Talvez não encontremos nem uma coisa nem outra, mas acabamos sempre por ser surpreendidos. Neste O Fagote de Shatner e Outros Contos, o musicólogo Rui Eduardo Paes regressa com toda a força e originalidade, fazendo ligações imprevistas, cruzando músicas e diferentes áreas, assinando um documento que volta a marcar a escrita sobre música em Portugal.

E o título? O Capitão Kirk, da série Star Trek, exemplo paradigmático da chegada da Ficção Científica à Televisão, tinha por hobby tocar fagote.
João Morales in Brian Morrighan

Estou a gostar muito do Fagote. Texto que harmoniza, como poucos, a erudição intelectual com a vanguarda radical.
Joel Macedo (jornalista e escritor do Brasil) por email

(...) Paes menciona, neste último capítulo, o fado e, em particular Camané. Embora de forma absolutamente involuntária (afinal o tom para com o fadista é elogioso), o autor consegue pôr lado a lado exemplos de excelência no confronto com a morte (Solal, Bowie), e um exemplo de mediocridade absoluta como é Camané (de resto, em perfeita sintonia com o fado). Que mais não seja, com Rui Eduardo Paes consegue-se perceber que não se morre sempre da mesma e isso talvez seja a melhor história para contar sobre a morte.
A Generous Boy in A Batalha
 


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

ACEDIA de ANDRÉ COELHO - últimos 30 exemplares



Acedia é um livro de André Coelho e na realidade o seu verdadeiro primeiro livro a solo - os outros livros foram colaborações como, por exemplo, o caso de Terminal Tower com Manuel João Neto...

Acedia é um romance gráfico que foi o vencedor do concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD de 2015 e juntou-se, na altura, a uma série de livros da Chili Com Carne que resultam dos resultados desse concurso onde vamos encontrar O Cuidado dos Pássaros / The Care of Birds (vencedor de 2013) de Francisco Sousa LoboAskar, O General de Dileydi Florez e O Subtraído à Vista de Filipe Felizardo.

Um livro que consegue estabelecer um equilíbrio entre experimentação e tradição na banda desenhada estabelecendo um paradoxo entre a sua energia criativa com o ambiente mórbido da narrativa. Especulamos que a personagem do livro seja um alter-ego do autor e que alguns episódios sejam autobiográficos mas na essência estamos no domínio da ficção - ou da auto-ficção?

Sinopse: Um homem, Daniel, sofre de distorções na sua percepção visual devido a um corpo estranho alojado algures na cavidade ocular. Apesar da insistência das notificações hospitalares para dar início aos seus tratamentos, ele vê-se confrontado com a hipótese das suas alucinações estarem a proporcionar-lhe uma fuga para uma nova percepção da realidade. Daniel terá que optar entre encarar a sua doença como um sinal evidente da sua mortalidade ou como uma intensificação da vida.


Eis algumas páginas da obra:


104p. (muito) preto e branco 18x24,5cm, 500 exemplares

O concurso 500 paus tem o apoio IPDJ e de todos os associados da Chili Com Carne.

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à venda na loja em linha da Chili Com Carne e nas lojas BdMania, Mundo Fantasma, ZDB, Linha de Sombra, Tigre de Papel, Tasca MastaiUtopia, Snob, Tinta nos Nervos, RastilhoTortuga e Matéria Prima. E nunca na FNAC...

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Historial 

Lançado no dia 6 de Outubro 2016 no Lounge Lisboa com actuações dos Smell & Quim e Rasalasad vs shhh... 
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entrevista ao autor e editor na revista Umbigo 
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 apresentação no North Dissonant Voices 2017 no Black Mamba 
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André Coelho nasceu em 1984 em Vila Nova de Gaia, onde reside. Tem vindo a desenvolver o seu trabalho como ilustrador no âmbito do Rock, Punk, Metal e música experimental, criando capas de discos, merchandising e cartazes.

Paralelamente faz edições de pouco ou nenhum sucesso através da Latrina do Chifrudo, editora que mantém com Sara Gomes, na qual edita fanzines e discos. Tem vindo a trabalhar regularmente com a Witchcraft Hardware e com a Malignant Records. Entre várias bandas que fez parte destacam-se os Sektor 304 e Profan. Têm participado nas várias antologias da Chili Com Carne com desenho, BD e textos e em exposições pelo Reino Unido, Finlândia, Suécia, EUA, Espanha, Itália, Portugal e Brasil.

A sua estreia monográfica foi com Terminal Tower, em 2014, em parceria com Manuel João Neto. Neste mesmo ano, os originais do livro foram mostrados no Festival de BD de Beja, Amplifest (Porto) e no Treviso Comics Fest.

Bibliografia: SWR Chronicles (SWR; 2014), Terminal Tower c/ Manuel João Neto (Chili Com Carne; 2014), Sepultura dos Pais c/ David Soares (Kingpin; 2014) e Evan Parker - X Jazz (c/ prefácio de Rui Eduardo Paes, Chili Com Carne + Thisco; 2015) Colectivos: MASSIVE (Chili Com Carne; 2010), Destruição (Chili Com Carne; 2010), Subsídios para MMMNNNRRRG #1 (MMMNNNRRRG, 2010), Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011), É de noite que faço as perguntas c/ David Soares et al. (Saída de Emergência, 2011), Inverno (Mesinha de Cabeceira #23, Chili Com Carne; 2012), Antibothis, vol.4 (Chili Com Carne + Thisco; 2012), "a" maiúsculo com círculo à volta c/ Rui Eduardo Paes et al (Chili Com Carne + Thisco; 2013), Zona de Desconforto (Chili Com Carne; 2014), PostApokalyps (AltCom, Suécia; 2014), Quadradinhos : Looks in Portuguese Comics (Treviso Comics Fest + MiMiSol + Chili Com Carne, Itália; 2014) e Altar Mutante #3 (Espanha, 2015).


Feedback:

Livro curto, Acédia é o primeiro trabalho de longo fôlego a solo de André Coelho que se apresenta como uma narrativa coerente, e não colecção de desenhos ou improviso em torno de um tema. Novela concentrada, negra, lacónica, a escrita de Coelho espelha-se em todos os elementos que compõem a narrativa e é necessário ler a sua forma e superfície para libertar os seus significados. Tal qual o tema proposto, há uma realidade que nos é apresentada mas cujo desvendamento se associa à percepção do leitor e poderá mesmo ser intransmissível. 

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Os livros de André Coelho lêem-se como murros no estômago, e este não é excepção. Obra a solo, o poder narrativo de Coelho não é diluído pelos argumentos de outros autores. O murro é mais forte. O carácter duro do grafismo, entre o experimental e o clássico, com um traço ao mesmo tempo rude e elegante, misturando estéticas, recorrendo à mistura de iconografias entre imagética técnica e desenho Intergalatic Robot 

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recomendado pela Vice Portugal 

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Nomeado para Melhor Publicação Nacional e Desenho nos Troféus Central Comics 2017


Isto vai acabar em lágrimas : 30 anos SPH 20 anos Thisco - à venda na Tortuga


Volume -13 da colecção THISCOvery CCChannel com as colaborações de André Lemos (capa), Carlos Matos (prefácio), Afonso Cortez entrevistando Fernando Cerqueira e Luís van Seixas, Marcos Farrajota com Pedro Brito (BD), Rapoon, Rui Eduardo Paes (testemunhos), DJ Balli (poema A.C.) e Joana Pires (design).

144p 18x12cm (homenageando as k7s da SPH) impressas a azul, capa de cartolina laranja, edição brochada, limitada a 300 exemplares.

Pode ser adquirido na nossa loja em linha e ainda na Matéria Prima, Snob, Tigre de Papel, ZDB, Kingpin Books, Flur, Linha de Sombra, Socorro, Sirigaita, Neat Records, Universal Tongue, Senhora Presidenta, Fábrica FeaturesTwice DiscosTortuga e Utopia.




Em meados da década de 80, as editoras discográficas estavam praticamente fechadas ao que de novo se ia fazendo e o que editavam pouco ou nada interessava – o “boom do rock” tinha esgotado a paciência dos ouvintes para a música em português. 

No entanto, uma sala de espectáculos em Lisboa, de nome Rock Rendez Vous, começou lentamente a dar espaço ao que realmente estava a acontecer, à margem do mercado e da crítica. E, consequentemente, apareceram umas (poucas) novas editoras independentes, como a Dansa do Som e a Ama Romanta, que acabariam por lançar alguma da mais interessante música feita nesses anos em Portugal.


No entanto, os meios destas editoras eram parcos e os orçamentos bastante reduzidos (já para não falar do limitado poder de compra dos portugueses) e, por isso, no final dessa década, as várias cenas musicais emergentes – metal, industrial, experimental, electrónica –, passam a gravar e editar as próprias cassetes para se fazerem ouvir. Era o do-it-yourself aplicado à edição dessa nova música, autoproduzida, com total liberdade, sem qualquer tipo de censura, que a partir de agora era passível de ser gravada e facilmente duplicada em casa, desprezando qualquer ideia de direitos de autor, quase sempre embalada em capas originais feitas a partir fotocópias de imagens roubadas, activamente divulgada através de flyers e fanzines e disseminada, sem intermediários, em mão e por correio, numa rede, tornada comunidade, internacional.


Facadas Na Noite, Tragic Figures, Anti-Demos-Cracia, Pé de Porco e a K7 Pirata, foram algumas das editoras que surgiram então e que marcaram esse início da edição independente em cassete, juntamente com a SPH.


Editora de Oeiras, no activo desde 1990, a SPH pôs a circular álbuns e compilações com nomes nacionais – Ode Filípica, Croniamantal – e internacionais – Merzbow, X-Ray Pop, De Fabriek, entre outros – somando um total de cerca de oitenta cassetes de música industrial, noise, avant-garde e até synth-pop, ao longo dos seus quase quatro anos de edições contínuas. No entanto, as oscilações dos interesses e mercados – estava-se na passagem das cassetes e do vinil para o CD – fizeram com que a editora acabasse em 1993. Mas, atento, como sempre, às novas linguagens musicais de circuitos underground, no início do século XXI, Fernando Cerqueira retoma as edições, dessa vez acompanhado por Luís van Seixas, sob o nome de Thisco. Perfazendo agora 20 anos, o presente livro comemora duas décadas de existência e os trinta anos do início da SPH, inventariando as edições e reproduzindo capas de ambas as editoras assim como material promocional e outra memorabilia, devidamente acompanhadas de uma conversa aprofundada com os envolvidos.





Historial: 

lançado na Festa dos 30 anos da SPH e 20 da Thisco na SMUP,  22 e 23 Outubro 2021 

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Feedback: 

De livros feitos para se celebrarem efemérides na área da cultura, trate-se de uma editora de livros, do percurso de um cineasta ou de uma instituição apoiada pelo Estado, espera-se cinicamente um cozinhado hagiográfico, por vezes solipsista se o meio em questão for endogâmico e usar linguagens semi-privadas. Assim podia ser este Isto vai acabar em lágrimas. (...) A aventura sempre pessoalíssima do Fernando (...) mantém um motto muito próprio: se não os podes vencer, goza com eles.  
A Batalha

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Companheiros da Lembrança






 

Só nos lembramos agora - com a actual exposição no Porto patente até 24 de Março - destas fotos aqui no computador, a exposição de Companheiros da Penumbra de Nunsky na BD Amadora 2022, entre urinóis e políticos. 

Música para ver @ Bombazine #2



Sinapses do Ivo Puiupo é o novo volume da Mercantologia, colecção que recupera material perdido. 

O livro é resultado do concurso dos 500 paus de 2022.

Serão 12 bandas desenhadas curtas com poesia ou serão 12 poemas com desenhos sequenciados?


116p. 15 x 21 cm p/b (48p a cores), edição brochada

à venda na loja em linha da Chili Com Carne e na Tinta nos Nervos, Snob, Kingpin, Utopia, ZDB, Senhora Presidenta, Linha de Sombra, Tigre de Papel, Tasca Mastai, Alquimia, Socorro e Matéria Prima.

Historial:

Lançamento em 17 de Dezembro 2022 na Tinta nos Nervos, com a presença do autor e uma pequena exposição.


Segundo Fábio Zimbres:

Há uma tentação de entender as histórias aqui como fazendo parte, alternadamente, de: 1) um diário; 2) registros de sonhos; 3) ideias para um filme. Decidimos uma vez por um e depois por outro mesmo sabendo que não é necessariamente uma coisa nem outra, nem apenas isso. Mas há alguma coisa de íntimo, como um diário, e há um prazer nas associações que se desenrolam, as ambiguidades e o aspecto sensorial dos sonhos. E há às vezes a imediatez de quem registra.

Só que não é só isso. É mais que isso porque são o que são, obras acabadas, mesmo que não pareçam encerradas. É como uma estrutura no ar ainda com o processo nu, transparente. Mas são verdadeiras pontes nos transportando para lugares desconhecidos, Puiupo na frente. Cada ponte, várias possibilidades de história, de literatura, de imagem e de gente. 

Provavelmente por isso podem parecer fragmentos de diário ou de sonhos, porque a matéria-prima dessas pontes (sinapses? Ou o que permite informação passar de uma célula a outra) é, basicamente, gente, essa coisa feita de sonhos. É realmente um livro feito de pessoas. Se comunicando, se desdobrando e se tocando. Transpondo pontes, ligando possibilidades ainda desconhecidas.

No meio de cada conto, podemos olhar para trás e imaginar de onde ele veio e para onde vai, como uma estrutura expansível que atravessa mais do que o que vemos. Podemos imaginar o que acontece antes do começo e depois do fim. Não é difícil imaginar também que estamos flutuando, como uma ponte às vezes nos faz imaginar.

No meio da travessia, de repente achei que estava assistindo a uma coleção de curta-metragens, com uma trilha sonora adequada, uma coleção de trilhas sonoras que viraram filmes. E esqueci da ponte, ou seja, lá onde estava e tudo virou um fluxo me levando, que é aquele momento em que eu me esqueci que devia escrever algo sobre o livro e tive que refazer todo o caminho de volta para me lembrar o que estava fazendo ali.

Que é o que um diário/ sonho/ filme deve fazer com a gente. Nos desorientar.


Feedback:

(...) exploram temas, como, por exemplo, a identidade de género, o luto e a intimidade de uma forma metafórica, mas que demostra uma grande honestidade emocional que ´+e palpável ao virar de cada página.

"Danny" in Bombazine #2



Sobre o autor

Nasceu em Lisboa (1996) mas reside actualmente em São Paulo. Começou sua trajetória na BD em 2011 e participa da cena luso-brasileira de fanzines desde então. O seu trabalho já foi publicado em antologias, revistas e livros solo na America Latina, EUA e Europa. Trabalho esse que habita as fronteiras da narrativa sequencial desenhada-escrita e mescla-se com pintura, fotografia, produção de atelier e por vezes torna-se também contra-sequencial. 

Em 2018 participou do projeto de residência artística Revista Baiacu, sob curadoria de Laerte e Angeli sediado pelo instituto Hilda Hilst em parceria com o SESC São Paulo. Em 2019 foi vencedor do concurso de publicações Des.gráfica premiado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) São Paulo pelo livro Óbice, que posteriormente foi também publicado pela editora argentina Waicomics. 

Além das publicações e fanzines, Puiupo também actua como ilustrador em projetos tais como a edição brasileira do clássico "Ilha do Tesouro" publicado pela editora Antofágica, a capa do album "who told you to think??!!?!?!?!" do rapper e poeta americano R.A.P. Ferreira e diversos artigos para plataforma Narratively. Puiupo faz parte do selo editorial / conglomerado empresarial Pepito Corporation e publica-se através do mesmo ao lado dos artistas da jovem-guarda brasileira Adônis Pantazopoulos, Julia Balthazar e Flavushh. Também faz parte do coletivo de arte contemporânea BASA sob mentoria do curador Lucas Velloso. Por vezes também flerta com produção musical no duo Fuga. 

Venceu o concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD! de 2022, traduzido no livro Sinapses que saiu em simultâneo em inglês com a Kuš!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Vencedor 500 paus 2024 - "Dias a Fio" de Alexandre Piçarra



Foram entregues 18 propostas e os cinco membros do Júri desta edição do concurso interno da CCC Toma lá 500 paus e faz uma BD decidiram por maioria como projecto vencedor:

Dias a Fio
de 
Alexandre Piçarra

Será um livro de cerca de 60 páginas a sair este ano - provavelmente na colecção Mesinha de Cabeceira... ou talvez não, poderá sair como um título sem colecção! O Futuro é sempre incerto!


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Segundo a sinopse do projecto:

É um livro com várias Banda Desenhadas curtas, cerca de 10 histórias de caráter social que reflete experiências de vida maioritariamente passadas numa Lisboa ficcional por volta dos anos 2000. Apresenta uma coleção de situações e histórias, inspiradas em factos verídicos, ou testemunhados, que procuram provocar um subtil sentido de incredulidade. São vivências que coexistem entre o imaginário e a realidade. As diferentes histórias, separadas por capítulos, expõem o mundo interno de diferentes personagens através das suas vivências, explorando algumas questões morais ou de confronto entre ideais e a realidade. Há chungas, punks, betinhos e também outras personagens e situações reconhecíveis. O formato temporal das bandas desenhadas é semi-rizomático, em que todas as histórias são fechadas mas interligam-se através das personagens cujo caráter se vai desenvolvendo à medida que surgem em diferentes situações, deixando o mais possível em aberto para o leitor a sugestão de conexão entre narrativas.


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Comentários do Júri:

"(...) a onda urbana e desenho "feio" é um bom casamento!"

"(...) uma excelente comunhão entre desenho e o texto, tanto em forma como conteúdo."

"(...) a proposta mais honesta e hábil."


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Ficam aqui algumas páginas:






A Associação Chili Com Carne agradece a todos os sócios que participaram nesta iniciativa, em especial aos que pagaram a sua quota anual e permitiram o prémio monetário
- há mais de oito anos que as quotas anuais dos sócios têm como objectivo financiar o concurso "Toma lá 500 paus!" ao invés de serem apenas um mero "investimento" para o consumo das nossas publicações.


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Esta iniciativa tem ainda o apoio da Tinta nos Nervos e relembramos que graças a este concurso foram já publicados 11 livros:

O Cuidado dos Pássaros / The Care of Birds (vencedor 2013, com edição espanhola pela Penguin-Random House e francesa pela Rackham) de Francisco Sousa Lobo
Askar, o General de Dileydi Florez
 O Subtraído à Vista de Filipe Felizardo
 Acedia (vencedor 2015) de André Coelho
 Nódoa Negra (vencedor 2018) de várias autoras
All Watched Over By The Machines of The Loving Grace (vencedor 2019) de vários autores.
Bottoms Up (vencedor 2020) de Rodolfo Mariano
Hoje não (vencedor 2021) de Ana Margarida Matos
Sinapses (vencedor 2022) de Ivo Puipo
Vale dos Vencidos (baseado no trabalho vencedor 2014) de José Smith Vargas com segunda edição para breve
Partir a Loiça (toda) (vencedor 2023) de Luís Barreto


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Sobre o autor: 

Alexandre Piçarra nascido em 1990 vive em Lisboa, formado em Escultura, tem um part-time e desenha nos tempos livres. Já fez exposições e teve múltiplos ateliers. Sofre de dislexia persistente, e por isso usa o mínimo de escrita e balões possíveis. Participou no fanzine Invasão.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

E se fizéssemos uma tatuagem? na SNOB


novo livro de contos de Rafael Dionísio
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com ilustrações de João Silvestre
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uma co-edição Chili Com Carne e Sulfúria
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E se um livro de "short stories" nos levasse de volta aos mil novencentos e noventas?
 E se Alcindo Monteiro ainda fosse vivo?
E se Timothy Leary pairasse sobre a serra de Sintra?
E se este fosse o novo livro de Rafael Dionísio?
 Pois é.

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à venda na nossa loja em linha e na SirigaitaMatéria PrimaUtopia, A Vida Portuguesa, Tigre de Papel, Kingpin Books, Alquimia, Snob e Linha de Sombra.

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Historial: 

lançado a 13 de Julho 2019 no Espaço Misturado com apresentação de Ricardo Nunes 
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fotos de Afonso Cortez

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Relatório 2023 sobre zines e edição independente

Comecemos por um pequeno acto de coragem, uma singela mas acutilante BD digital de Tiago da Bernarda com o seu habitual Gato Mariano e Bruninho (és o maior!) publicado seu instagram sobre a guerra em Gaza - aliás, um outro Bruno até explica que o desenho ainda é arma contra a estupidez e controlo digital - uma vez que a falta de coragem grassa pelo mundo, com medo de perder a sua continha de rede social.




Os últimos anos do mercado de BD em Portugal tem sido um avalanche de mediocridade porque a BD - ops! perdão, a "novela gráfica" - está na moda. Lá fora o mesmo acontece, claro mas há muito mais oferta (e melhor), até porque foi uma construção de várias forças e de décadas de trabalho que permitiu que agora a BD seja omnipresente em qualquer "nicho de mercado" e que tenha oferta para "todos os gostos".

Cá não foi assim nem os resultados serão os mesmo. As editoras profissionais generalistas são absolutamente ignorantes nesta área, publicam as cenouras que os agentes literários internacionais lhes abanam: adaptações literárias em primeiro plano, seguida de biografias ou adaptações históricas, e por fim, "Manga" da sexta divisão e feito por ocidentais medíocres... aliás, tudo o que foi referido, tirando uma excepção ao outra, é perfeitamente medíocre! De realçar, apesar de ser um livro menor na sua carreira, O Segredo da Força Sobre-Humana de Alison Bechdel, graficamente pouco atraente e com algumas piadas parvinhas que estragam o peso autobiográfico da obra, não deixa de ser interessante ver a Relógio D'Água a sair do seu próprio catálogo imundo de adaptações literárias que criou ao começar a publicar "novelas gráficas".

Os editores especializados, tem conhecimento e "savoir-faire" mas o seu mau-gosto e pensamento reacionário, fez que ignorassem artistas que rotulavam de "alternativos" - ou pior ainda: basta ser "artista", que é palavra feia no meio bedófilo! - e que ficaram grandes nos últimos anos, ou seja, agora custam mais caro de quando eram "alternativos" e menos acessíveis como pessoas para criar relações entre autor e editor. É óbvio que se for a primeira vez que se publica um livro da Julie Doucet ou do Adrian Tomine, custará vendê-los ao público português que não os conhece - isto deveria estar entre aspas, pois há muita gente que conhece estes autores porque compram edições noutras línguas! Será mais fácil editar um Tardi - e foi das poucas coisas de jeito que saíram no ano passado, falo de Elise e os novos Partisans, com Dominique Grange, pela Ala dos Livros - do que o Yvan Alagbé. Isto apesar de todos os autores aqui referidos terem passado por Portugal, em presença física e com exposições de grandes festivais de BD... Também é fácil à Devir publicar Junji Ito, Naoki Urasawa ou Taiyo Matsumoto, quando até os putos da província tem t-shirts deles ou já viram os Animes na 'net, do que publicar os irmãos Tsuge. Gostamos destes autores, claro, mas falta audácia.

É neste caldo de inconsistência que se circula, por cá. Mas há mais inconsistências, mesmo no meio "alternativo"...


Internacional

Chili Com Carne esteve no Festival de Angoulême, Autobán (A Corunha) e Fexti (Badajoz). A Magma Bruta no Graf de Barcelona e a Oficina Arara no Novo Doba (Belgrado). Parece que todos  se baldaram ao Crack (Roma), talvez porque vieram de lá doentes em 2022?

Franciso Sousa Lobo participou na revista finlandesa Kuti e na letã Kuš!, nesta última também entrou o Ivo Puiupo. Na colecção mini kuš! dessa mesma editora, saíram os livrinhos de Ana Margarida Matos e João Fazenda. Pela Eslovénia, comemorando os 30 anos da revista Stripburger, participaram Bruno Borges e Filipe Abranches na antologia Dirty Thirty. Matos e Sofia Neto entraram no fanzine espanhol Soñario e Ana Maçã no dreamzine #2, ambos do projecto ElMonstruoDeColoresNoTieneBocaAmanda Baeza voltou em forma internacional estando na antologia suiça «autre chose» com a "creme de la creme" da BD mundial e ainda no fanzine Amorcito da Galiza. Foi de lá também que veio o álbum Zeca Afonso – A balada do desterro, com texto da galega Teresa Moure e desenhos da portuguesa Maria João Worm. O livro foi publicado pela Acentral Folque, da Galiza, e a Tradisom, de Portugal, assim sim vale a pena fazer projectos internacionais. AngueSângue de Daniel Lima teve edição em português pela Chili Com Carne e em inglês pela Kuš!. Lima também viu a sua página do Le Monde Diplomatique - edição alemã - de 2018 compilada em Die große Salatschüssel des Lebens, pela Reprodukt, ou seja outra antologia "creme de la creme", diga-se de passagem! Borges continua com a Abolição do Trabalho, de Bob Black, a conquistar mundo, desta vez nos EUA pela Floating World

Nesta mesma editora que começou publicar a obra do primeiro grande artista de BD, o italiano Guido Buzzelli (1927-92) e Domingos Isabelinho entregou um texto introdutório para o primeiro volume. Não foi o único português a fazer trabalho de referência, Leonardo de Sá que investigou a passagem por Portugal do autor francês de BD "collabo" André Daix (1901-76) no livro Dans l’Ombre du Professeur Nimbus por Antoine Sausverd, pela P.L.G.


Visita ao zoo

Com programações cada vez mais fracas, os festivais de BD não tem trazido artistas estrangeiros que possa referir aqui, só o habitual putedo bedófilo, ficando as excepções (que confirmam a regra) para as espanholas Anabel Colazo (em Beja) e Mayte Alvarado (Amadora). Tem sido a Tinta nos Nervos a arriscar, como aliás, já é uma verdade há 3 anos, tendo trazido para exposições o finlandês Marko Turunen e o bom gringo Christopher Sperandio. De referir a passagem do editor da Floating World, Jason Levian também por lá, para apresentar o livro do Borges acima referido.

De resto, os nómadas em Lisboa tornou-se num fenómeno que não pode ser ignorado. Vários são os autores que passam por cá, ora ficam uns tempitos em residências artísticas, por exemplo, como o suíço Yves Hänggi que fez duas exposições em Lisboa, ora assentam os arraias e até começam por publicar livros como a irlandesa Rayne Booth ou o turco Utku Yavaşça que está a desenhar uma divertida BD num fanzine de "expats" (é assim que se escreve?) chamado Ble$$ed. Alguns já cá estão cá há anos e são gajos grandes como o francês Hervé di Rosa que teve uma exposição no MAAT com uma confusa data de final de exposição. O romeno Nicolae Negura, também residente há anos por Lisboa, participou no projecto Histórias de 89 no obscuro Instituto Cultural Romeno em Lisboa. E não esquecendo ainda o cromo norte-americano Flynn Kinney que meteu cenas tugas nos "melhores do ano" do fanzine Bubbles. Obrigado!


Eventos

Acontecimentos houve muitos, o habitual mercado de edições independentes que cada vez são mais feiras de cartazes - e infelizmente o antídoto que era o M.A.L. não sobreviveu para 2023. Trata-se de uma verdadeira gentrificação das publicações. Quando este tipo de eventos apareceu em Portugal, chamavam-se "Feiras de Fanzines" nos finais dos anos 90, ao longo da primeira década do novo milénio, devido à democratização dos meios de produção ligados à impressão, acrescentou-se "edição independente" de forma a entrar livros de autor, livros de artista, micro-edições e livros com distribuição restrita. Nos últimos 10 anos parece que os eventos de "edição independente" são uma feira de Carcavelos com imagens chatas e redundantes, onde pessoas (clientes) vão comprar serigrafias e afins para decorar os seus A.L. ou salas amarelas ou cozinhas azuis, sei lá... Houve a Raia, Parangona (Lisboa), Alegria, Perímetro (Porto) e Autónoma (duas edições em Cacilhas no abandonado Ponto de Encontro, justamente onde apareceu das primeiras "Feiras de Fanzines"!). Em Alpiarça fez-se um simpático Festival de BD e Fanzines. A Chili participou em mais umas feiras de outros temas: Feia (Música), Livro Anarquista, Livro de Arte (em Coimbra, imaginem isso!), Festival Rescaldo e Matiné Fetra. De realçar, pela negativa e como primeiras manifestações de "zinewashing" a "rip-off" Stolen Goods em que na sua própria sede, a organização pedia 75 euros por mesa aos seus participantes -  tendo uma série de estrangeiros caído na esparrela (e alguns portugueses); e a Direita monga cabotina da Junta de Freguesia de Arroios organizou a segunda FLIFA em que participaram VIPS de merda e um bosta de um facho.

Continuou a instalação Story Tellers no Parque Silva Porto (Benfica, Lisboa) com quatro conteúdos diferentes tal como as estações do ano e apareceu o ciclo Ilustraboom WC/BD na antiga casa de banho pública do Jardim Camilo Castelo Branco (Lisboa) com exposições mensais, das quais destacam-se as da Joana Mosi e Zé Burnay por trabalharam sobre o espaço e não terem colocado apenas pranchas nas paredes. Em Óbidos continua a mostra anual Flexágono, no festival In-Fólio, organizado por Pedro Moura. Em Torres Novas, na Biblioteca Municipal, fez-me uma exposição sobre os 50 anos do fanzine Impulso, seja lá o que isso tenha sido. Na Biblioteca Nacional, ainda a recuperar os atrasos do covid, comemora-se os 100 anos do ABCzinho (1921). Mais importante é a recuperação de trabalhos de Artur Varela (1937-2017) numa exposição na ZDB. Houve exposições da Rosa Baptista (aka Rroze Selavy) para inaugurar a Casa do Comum no Bairro Alto (que inclui livraria e onde foram feitas as feiras anarquista e Parangona) e este escriba teve uma expo-guerrilha em Guimarães, Ganza Metal, graças à malta da Magma Bruta, onde foram recuperadas peças do Zalão de Danda Besenhada (2000) e do Mistério da Cultura (2007).

O mais importante de 2023 e onde o futuro se constrói foi Memórias Artificiais do Rei da BD portuguesa, Rudolfo, que mostrou originais de BD, tocou música e mostrou o seu videojogo (que mete BD) num armazém no Porto, em Junho, um dia antes da Feira da Alegria. Que alguém tenha olhos na majestade!


Publicações finalmente!

Não! Cada vez existe menos fanzines ou zines, não sei se é da crise que se vive, individualismo do neo-liberalismo que se vive ou apenas falta de tempo mas quase não se encontram projectos e artistas novos. Quase deixa de fazer sentido escrever este relatório. Só se justifica porque há sempre projectos independentes com qualidade para relembrar os mais incautos. Este ano a maior surpresa foi o caso da Associação de Estudantes da Faculdade de Belas-Artes do Porto que fizeram o Coisas feias em Belas Artes, um fanzine em formato A5 catita com montes de BDs politizadas sobre a degradação do ensino superior em Portugal mas também sobre a tomada de consciência de como a cultura e o associativismo são importantes – prova dada pela qualidade da organização da Associação ao produzir a Feira da Alegria! Destaque especial para o autor Pedro Evangelho.

Na continuidade de projectos eis que houve mais volumes do Bomba Zine, O Filme da Minha Vida, Bancar0ta, Fosso (José Feitor), Mesinha de Cabeceira, Olho do cu, Opuntia Books (desenho) e Umbra. A Chili Com Carne, Magma Bruta e Sendai continuam de boa saúde a publicar o melhor da BD "artística".

Regressou o divertido fanzine É fartar vilanagem, tal como os artistas João Carola, André Coelho, Dois Vês e Rafael Gouveia voltaram às lides da auto-edição. O mesmo para o colectivo MASSACRE que logo no início do ano com um livro de algum investimento, falo do The End of Madoka Machina de André Pereira.

Os destaques vão para os projectos fora de comum, tudo da Chili e associados, modéstia à parte: Where's the ground? da banda Rock Unsafe Space Garden, pela Discos de Platão, em que a música,  a BD (de Alexandra Saldanha) e os espetáculos ao vivo parecem unos num caleidoscópio psicadélico. O jornal Carne para Canhão da Chili, só com um número ainda, que pretende chegar a públicos mais alargados por ser gratuito, inspirado noutros projectos passados como o finlandês Kuti. E o grande Vale dos Vencidos, obra de 11 anos de trabalho de José Smith Vargas, um "tour de force", com alguns laivos inéditos de composição editorial do livro mas sobretudo um marco histórico na BD portuguesa, pela complexidade narrativa e a temática das destruições das cidades que tanto nos aflige.


Referências

Depois das palhaçadas d'A SHeITa do ano passado, que apesar disso, ainda são úteis q.b., para pelo menos cartografar a BD portuguesa deste milénio, 2023 foi deserto outra vez nesta área. Apareceu uma simples brochura de Bibliografia de Banda Desenhada de Ficção especulativa Portuguesa por Marco Fraga da Silva, editada pela Associação Tentáculo. A Tinta da China para redimir dos desastres ecológicos do passado (Melo & su muchacho) reeditou os Cartoons de João Abel Manta. A Arte do Autor publicou mais uma BD sobre a vida de Edgar P. Jacobs, numa eterna bedófilia feita por uns gajos franco-belgas que nobody gives a shit! A revista sobre ilustração Aguça sacou o número três e apesar de ainda não ter visto nem lido, só os nomes aguçam o apetite: Amanda Baeza, João Sobral, Mariana Pita, Sara Boiça e Sofia Neto. E a mais "boring art magazine ever" Umbigo teve uma frikice qualquer que metia o acervo da Bedeteca Nacional [sic] da Amadora a ser discutido pelo Tiago Baptista num artigo. O que vale é que o Baptista é sólido...

Vencedor do ano, o blogue My Nation Underground do nosso associado "Erradiador" que todos os dias coloca um "post" (ou mais que um) de um fanzine da sua colecção - essencialmente de BD - criando um puzle e compendio deste tipo de publicações. Quem for de ano a ano poderá ter uma imagem mais nítida do que foi ou é a cena dos zines (e edição independente) em Portugal. Como diziam os outros: clap clap clap!


Tristezas não pagam dívidas

2023 foi um retrocesso civilizacional, não só pelas guerras, por exemplo, mas também pelo tratamento xenófobo que a Câmara Municipal da Amadora infligiu à artista luso-chilena Amanda Baeza, que não mereceu celebrar o 25 de Abril com a instituição. Tal mereceu boicote de um certo público ao Festival de BD, embora, não havia nada para esse público ir lá ver - tirando a exposição do Smith Vargas, claro.

De referir ainda a triste morte aos 60 anos do norte-americano Joe Matt, um caso in extremis de como o uso da autobiografia pode secar a vida de um artista. Matt era tão viciado em pornografia, tal como era tão pornográfico na forma como deitava para fora a sua vida nas BDs autobiográficas, sob o título de Peepshow. O seu falecimento deveu-se à falta de dinheiro para tratar da sua saúde.

Quem não é anarquista que tire as conclusões que quiser sobre estes dois casos...