Gente Remota é um livro ficcional que nasceu de quatro longas entrevistas com ex-combatentes anónimos das chamadas guerras de África, conversas que tive em 2014. Não há nada inventado, no que corresponde às experiências de Guerra de Alfredo Jacinto, não teria capacidade para tal. Nem o crime da PIDE, nem a acção salvífica e presença de espírito de Alfredo ao salvar um soldado do colapso moral, nada foi inventado. Limitei-me a baralhar os dados.
Esta é uma pequena história de Portugal, esse país sem problemas de consciência, com uma memória selectiva, ao mesmo tempo sincera e senil.
É uma história de cruzamento de ideias, de confrontos de perspectivas. Eu não estou em lado nenhum, neste livro. Ou então estou em todo o lado.
A questão do racismo é sempre um poço sem fundo. Incómoda, urgente, com ramificações que tocam a todos, profundamente. A minha relação com o nosso passado colonial é múltipla. Eu próprio nasci em Moçambique, rodeado de empregados e privilégio colonial.
Depois veio logo o 25 de Abril, essa tábua rasa a um tempo gloriosa, mas que nos oculta a história e nos iliba de qualquer culpa. Depois veio a primária em que aprendemos a hostilidade contra os espanhóis, e depois o liceu em que nos forçaram os Lusíadas pela goela abaixo. Este livro é talvez o paté resultante.
A esperança é que sofre.
- Francisco Sousa Lobo
23º volume da Colecção CCC, 100p a duas cores, 16,5x23cm, edição brochada.
editado por Marcos Farrajota. Design de Joana Pires.
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Historial
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Obra realizada ao abrigo de uma Bolsa de Criação Literária da DGLAB/ Ministério da Cultura
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Lançamento no dia 19 de Dezembro 2021 no M.A.L. com apresentação de Sara Figueiredo Costa
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artigo no Público
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Disponível na nossa loja virtual e na Linha de Sombra, Snob, Tinta nos Nervos, Kingpin, Tigre de Papel, Utopia, Matéria Prima, ZDB, Tasca Mastai, Vida Portuguesa, Socorro, Alquimia, Stet e Senhora Presidenta.
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Feedback
(...) banda desenhada portuguesa maior, adulta e consequente.
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Partindo de entrevistas feitas a quatro ex-combatentes que passaram pela Guerra Colonial, Francisco Sousa Lobo constrói uma ficção que tira o melhor partido da linguagem da banda desenhada para colocar em confronto memórias, ideias feitas, traumas que persistem em não ser abordados. Não é um livro sobre o passado, antes sobre o modo como vários passados – uns colectivos, outros individuais – continuam a assombrar o nosso presente comum.
Este é um livro desagradável! E ainda bem, porque de livros agradáveis está o Inferno cheio.
Sem ceder ao panfleto, Sousa Lobo cria uma história actual sobre Portugal e os seus mitos (...)
Sara Figueiredo Costa in Expresso