sexta-feira, 19 de março de 2021
4real (escrito à lámina num braço de um guitarrista de rock xunga dos anos 90)
Parece que estou "condenado" a escrever sobre o Rudolfo mais 10 anos, dissipando assim a minha dúvida existencial no catálogo do ano passado. É que ao contrário de fenómenos estranhos cá na 'tuga, este artista não desistiu da BD e voltou algumas décadas depois em pose messiânica, ei-lo a continuar, na labuta com a qualidade de sempre. Jungle Warfare 1/2 (Palpable Press; Fev'21) não engana, é mais uma aventura de Musclechoo, ou seja, "Pikachoo-Rambo" homoerótico em porrada de meia-noite com o tema de fundo os vídeojogos fazendo interface com a realidade, e com um vilão-bué-da-xunga, bastard! Graficamente em grande forma, espera-se pelo segundo volume para fechar esta resenha e poder continuar a minha vidinha com o aval do omnipotente Rei da BD Portuguesa.
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sexta-feira, 12 de março de 2021
DEIXA-ME DOrMir / Ser aceite pela FLUR é outra merda!
Jorge Calma é um fura-vidas, como aliás, qualquer músico em Portugal. Numa embalagem feita de bases de copos, o design profissional desta edição invoca a dificuldade dos nossos dias covideiros em que vida não está nada fácil. Mas não foi sempre assim? A prostituição de profissão é tal que se implorou por trocos dos bancos ou das cervejeiras, um apoiozito vendendo a imagem num outdoor ou fazendo um "product placement" em palco ou nas edições, enfim, um gajo tem de se desenrascar, né?
A Chili Com Carne e Rotten Fresh lançam gloriosamente este mini-disc no Carnaval mais calmo desde que o porco nazareno foi vomitado de uma virgem há 2020 anos atrás. Sem amigos, sem festa brava, o que nos resta é DEIXA-ME DOrMIr... Gravado pelo músico num subúrbio. A capa é da autoria de Simão Simões.
Eis o segundo volume da série Música Portuguesa a Melhorar-se dela Própria. Edição limitada a 30 cópias, teve o apoio material da Tasca dos Canários e do Walt Thisney. Lançado a 16 de Fevereiro 2021.
Feedback:
Adormeci a meio. É mais eficiente que Xanax
Ondina Pires (via email)
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(...) (em Mini CD, cuja capa serve como base para copos e cuja editora recomenda acompanhar com uma boa cerveja ou whiskey) (...) Jorge Calma é o nome escolhido pelo misterioso músico e, como as boas mentes criativas ditam, é apreciador de trocadilhos, já que Jorge Calma parece mesmo invocar a música do quase homónimo, descendo o pitch da mesma e relembrando a época nos vídeos do YouTube onde facilmente se encontravam músicas de artistas Pop "200% mais lentas", que soavam mais a um disco de música ambiental do que a eles próprios. Deixa-me Dormir é uma peça de 20 minutos que tem tanto de fantasmagórica como tem de ébria: a voz que se ouve é arrastada, lenta, e alude tanto aos screws de DJ Screw como a uma ideia do próprio Jorge Palma perdido numa qualquer noite em Lisboa. Exagerado - no bom sentido - no reverb, a peça continua como quem deambula sozinho pelas ruas à procura de se encontrar. Pelo meio ouvem-se gaivotas, quase um sinal de como o dia está prestes a renascer e nós, como ouvintes, continuamos perdidos sem destino à vista. Dado o humor todo à volta da edição, de facto esperar-se-ia uma composição menos séria, porque a música que aqui se encontra é bonita, bem estruturada e pensada, com as cadências certas (o sub-grave que Jorge Calma coloca pelo meio do tema é arrebatador). (...)
xxx
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Labels: música portuguesa a melhorar-se dela própria, Rotten / Fresh, simão simões
quarta-feira, 10 de março de 2021
Isola-te com mesas (de mistura)
Não me lembro se no Maldoror há alguma referência a pianos destruídos - será que Syncope conhece Raphael Montañez Ortiz? É que entre ter um orçamento para foder um piano inteiro ou ter de usar samplers de Dissecting Table feito pobretanas há uma grande diferença. Embora não consigo deixar de achar que todo o "glitchcore" deste CorteXtureS (Meditation / UPD; 2020) soe a pianos a explodirem ou a caírem do sétimo andar - qual desenho animado da Warner Bros. A dada altura a fórmula da "explosão" repete-se e deixa de haver frescura nesta "noisalhada" que se prolonga por uma hora. No entanto não chega a atrofiar o cérebro nem o ouvido, o que já não é nada mau nos dias que correm. Há dias assim.
Gracias Conejo!
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Labels: discos
terça-feira, 9 de março de 2021
I was not a pop star in 2015
No "underground" nacional há sempre pequenas pérolas que vão sendo ignoradas (passado), redescobertas (presente) e ignoradas outra vez (futuro). Não não vamos entrar nessa que "vai tudo correr bem", bandas como os Volcano Skin não tem hipóteses contra os paus da MMP.
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Labels: discos
segunda-feira, 8 de março de 2021
Nódoa Negra
NN
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lançamento no dia 18 de Outubro 2018 na ZDB com exposição de originais e apresentação por Catarina Cardoso (Portuguese Small Press Yearbook) ... Apresentação na BD Amadora 2018 dia 10 de Novembro, com presença de algumas das autoras seguido de sessão de autógrafos... nomeado para Prémio de BD Alternativa no Festival de BD de Angoulême 2019 ... artigo de Pedro Moura na Mundo Crítico com BD sobre o livro por Dileydi Florez ... exposição no Festival de BD de Beja de 29 Maio a 16 Junho 2019 ...
O livro está disponível na loja em linha da Chili Com Carne e na Tigre de Papel, Linha de Sombra, Sirigaita, BdMania, Tasca Mastai, Matéria Prima, Utopia, ZDB, Mundo Fantasma, Kingpin Books, LAC, Stet, Bertrand, Snob, Livraria do Simão (Escadinhas de S. Cristóvão), A Vida Portuguesa, Tinta nos Nervos e Fábrica Features.
BUY @ Le Mont-en-L'air (Paris), Neurotitan (Berlin), Quimby's (Chicago), Ugra Press (Brazil)
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Feedback:
um livro-barómetro no feminino sobre a dor
Amanda Ribeiro in P3 / Público
O título é duro (...)
João Morales in Time Out (Lisboa)
ontem li o Nódoa Negra. é tão bonito que até dói, meu. a história da Patrícia Guimarães é incrível. parabéns!
Francisco C. (por e-mail)
São testemunhos no feminino, são força, são ruído, são rasgos de agitação num panorama - ainda - pouco dado a movimentos bruscos. A primeira antologia totalmente construída por autoras em Portugal é muito mais do que uma afirmação, é a casa de uma intimidade que fende tabus e nos mostra que a existência inevitavelmente dói.
Tiago Neto in Vogue Portugal
Um livro sobre dores que desenham e escrevem num mais difíceis exercícios...
Inês Fonseca Santos in Todas as Palavras (RTP)
Tive conhecimento desta edição enquanto folheava um dos últimos números da Vogue. Como a recepção do livro na imprensa também passava pelo P3, Time Out e por um programa de TV apresentado por uma das tipas do Câmara Clara, tudo indicava que se tratava de mais um livro do ano. São só autoras a fazer este livro e ao que parece esta ideia surgiu da Dileydi Florez, que há uns anos tinha desenhado o Askar, o General, em tempos em que a associação Chili Com Carne estava imbuída por um espírito de masculinidade militar. Mas isso foi lá atrás, agora a associação pugna diariamente pelos direitos dos mais fragilizados pela ideologia dominante no tardo-capitalismo: entre essas figuras encontra-se a mulher. A premissa para o livro é interessante e tem um importante significado político: não há espaço na edição de banda desenhada para mulheres, por isso é preciso arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. Quando estamos à espera que a bd da organizadora deste volume seja, então, um grande manifesto feminista, eis que termina com dois enormes paradoxos: primeiro, ao escrever que se alguém tiver uma vida mais consciente está a dar um passo para sofrer menos, Florez parece estar a preparar uma sólida carreira como autora de manuais de auto-ajuda; segundo, a bd termina com o salvamento da mulher frágil pelo seu príncipe encantado, desvirtuando a ideia da autonomia feminina. No entanto levanta um problema importante que será transversal a todo o livro: o corpo e a sua vulnerabilidade. (...) Mas o sofrimento também se revela de outras formas e é aqui que o livro se transcende (...) é também o sufoco provocado pelo assédio doméstico que acompanha o crescimento da futura «dona-de-casa» - eufemismo para «escrava da família patriarcal», se puxar do meu jargão a transbordar de ideologia. É este o tema dos «Bons costumes», de Sílvia Rodrigues. A Nódoa negra beneficia ainda de uma multiplicidade de linguagens gráficas, destacando-se a manga da Hetamoé e a arte bruta da Inez Caria (...) há ainda a contribuição da Susa Monteiro, que me parece estar cheia de referências eruditas à arte contemporânea, ou então mostra apenas a tristeza profunda de um tenista que não consegue jogar ténis contra um cavalo. A fechar o livro, a Patrícia Guimarães colabora com a melhor bd do volume, não só porque ataca o importantíssimo tema da apatia provocada pela rotina quotidiana, como estiliza a narrativa num daqueles puzzles de deslizar peças, como que a dizer que a efemeridade da arrumação é mera ilusão e que o próprio caos é só mais um episódio da organização da vidinha. Mas a vida é só pathos? Não: a Cecília Silveira diz que também há espaço para minetes e para fisting com luvas de boxe, como que a lembrar que o sexo falocêntrico é também uma forma de violência e de exercício de poder sobre o corpo feminino.
Russo in A Batalha
(...) o muito interessante Nódoa Negra.
Jornal de Letras
NN
Bibliografia das autoras na Chili Com Carne:
- MASSIVE (2009) c/ Marta Monteiro
- Destruição ou BDs sobre como foi horrível viver entre 2001 e 2010 (2010) c/ Sílvia Rodrigues
- Boring Europa (2011) c/ Sílvia Rodrigues
- Futuro Primitivo (2011) c/ Inês Cóias, Sílvia Rodrigues e Susa Monteiro
- Mesinha de Cabeceira #23 : Inverno (2012) c/ Sílvia Rodrigues
- QCDA #2000 (2014) c/ Hetamoé e Sílvia Rodrigues
- Askar, o General (2015) de Dileydi Florez
- Malmö Kebab Party (2015) c/ Hetamoé
- QCDI #3000 (2015) c/ Hetamoé
- Maga : Colecção de ensaios sobre Banda Desenhada e afins (2015) c/ Hetamoé
- Lisboa é very very Typical (2015) c/ Dileydi Florez
- Anarco-Queer? Queercore! (2016) de Rui Eduardo Paes, c/ Hetamoé
- Pentângulo #1 (2018) c/ Cecília Silveira e Dileydi Florez
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Labels: 500 paus, bárbara lopes, cecilia silveira, Colecção CCC, dileydi florez, hetamoe, inês caria, inês cóias, marta monteiro, Mosi, patrícia guimarães, sara figueiredo costa, silvia rodrigues, Susa Monteiro
segunda-feira, 1 de março de 2021
Isola-te com Conceptronica
Parece que a música electrónica chata que se faz agora se tiver acoplado um livro ou um video-clip enorme pode ser chamado de "conceptronica". DJ Balli já é "conceptronica" há bués. Além de ser um "mash up" ambulante, desde que lançou os livros Frankenstein 8-bit e, no ano passado, Sbrang Gabba Gang não tem parado de fazer "shows" e discos envolvidos com os "conceitos" (temas) desenvolvidos em cada um dos livros. Do "Franky" já se tinha escrito aqui e agora eis Music to Make Human Pyramid With (2020), lançado pela Mokum, a maior editora de Gabber e Happy Hardcore.
Música duplamente funcional, para dançar nas pistas de dança inexistentes nesta "timeline" em que aconteceu o covid - quem lê isto sabe perfeitamente que existe outra realidade paralela em que o mundo continuou sem a pandemia mas dominado por reptilianos Q-Anon, venha o Diabo e escolha! - e para, como avisa o título, é música para criar pirâmides humanas, uma prática social e ritualista que vem dos fins dos tempos quando estes começaram (ah!?) e que chegam aos dias de hoje seja nas piscinas do hotel Allgarve com os badalhocos dos ingleses ou numa discoteca italiana com os Hardcore Warriors.
Sendo Gabber não esperem que vão deixar de ouvir foleirada tirolesa com batidas fortes e rápidas de Techno Hardcore. Numa faixa ouve-se um sintetizadores dignos dos E.E.K., noutra vozes do Futurismo italiano (faixa extra no vinil 12") e siga pra bingo!
à venda na shop da Chili Com Carne.
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