sábado, 28 de outubro de 2023

Lento, profundo e duro // Nova impressão!!




Companheiros da Penumbra é um livro gigantesco, lançado em Outubro de 2022, que marcou o regresso de Nunsky à Banda Desenhada, desta vez, em modo de memória flutuante para relatar um período específico de uma tribo específica no Porto. Falamos da cena Gótica dos anos 90 em envolvia sobretudo as festas no Heaven's. 

Todas estas pessoas, com um ou outro nome, existiram, sonharam e viveram num Porto “podre”, sombra caricatural de uma cidade europeia, que sonhava com a promessa do novo milénio. Filhos bastardos de um tempo menos distante do aos olhos românticos parecia, de uma Northampton ou Londres ida e de uma Los Angeles decadente que nunca existiu senão nas mentes dos rejeitados que vomitou para as margens da história. 

Empregados de mesa e armazém que ao cair da noite – qual Bruce Wayne – se transformavam em Lordes Vitorianos, meninas confusas que queimavam na “má vida” o grito que os seus pais acreditavam investir numa educação de excelência, adolescentes que encontravam na escuridão da noite o manto protetor para as suas angustias e a garantia de um alter-ego suficientemente forte para resistir à porrada da vida, esbarrando-se com adultos com síndrome de Peter Pan, que reforçavam obstinadamente o universo de fantasia, rejeitando, com um magnânimo pirete o que comumente reconhecemos como “mundo real”.




Artista premiado pelo Festival da Amadora em 2015 com o romance histórico Erzsébet, desde 2016 que preparava este extenso retrato de uma época entesada. Voltou assim à BD Amadora originais de Nunsky para serem admirados - e falamos a sério tal é o rigor das suas pranchas, acrescentada com uma habitual exagerada cenografia.

São 300 páginas a preto e branco, 19x26cm, capa a 2 cores com badanas

O livrão esgotou a sua primeira impressão mas cá canta uma nova na nossa loja em linha 
e agora deverão encontrar os últimos exemplares da primeira misturados com a segunda na Snob, Tigre de Papel, ZDB, BdMania, Linha de Sombra, Neat Records, Matéria Prima, Tasca Mastai, Cult, Kingpin Books, Universal Tongue, Matéria Prima, Socorro, Utopia, FNAC, Mundo Fantasma, Senhora Presidenta, Vida Portuguesa, Alquimia, Louie Louie PortoPiranha!








Mais títulos do autor: 
88 (Mesinha de Cabeceira #13, Chili Com Carne; 1997)
Erzsébet (Chili Com Carne; 2014) com edição brasileira na Zarabatana
Nadja - Ninfeta Virgem do Inferno (MMMNNNRRRG; 2015) com edição em inglês
Espero chegar em breve (MMMNNNRRRG; 2016)


Feedback

(...) parabéns pela edição dos Companheiros da Penumbra. O livro é muito bom, um trabalho de fôlego coerente, sincero, com coração e realismo de um tempo e atitude, nada comum neste "mercado" lusitano. Uma enorme surpresa positiva para mim, mesmo conhecendo bem o trabalho do Nunsky. 
André Lemos (via email)

O livro está muito bom e é um óptimo apanhado de uma certa atmosfera que se perdeu neste Porto gentrificado e de papelão, cheio de patetices circenses e tourist-trapsClaro que fico com o coração cheio (...) ao reconhecer (literalmente ou por associação) algumas personagens, locais, modus operandi do underground, imbróglios amorosos, conflitos, mitificações e delírios inerentes ao "tribalismo", etc... Capta-se o arco em que a fantasia teen atinge o um pico criativo e anímico para se desvanecer como o fumo de qualquer concerto rock. Mas este é já um mundo perdido e que o Nunsky conseguiu captar muito bem sem o bafejar com melancolias e sem que o leitor sinta que está perante um relicário. Mais uma vez, a arte do Nunsky é incrível, e acho que a par do Erzsébet, este é o seu melhor trabalho gráfico. (...) Em termos narrativos, há algo que por vezes parece meio encravado, como se os episódios que compõem a história fossem cortados e colados de forma abrupta. No entanto, consigo encontrar um certo charme nisso, tornando tudo mais rude e por vezes confuso (num sentido positivamente estético - como uma parede com múltiplos cartazes sobrepostos ou um fanzine realizado nas franjas entre "corte e cola" e o "photoshop").
Só uma nota: creio que o Yura que aparece a dançar no Heaven's é o famoso "Iur" que o Gustavo Costa gravou para o projecto Derrame Sanguineo, cujas faixas foram publicadas num split com Sektor 304 (...) Nunca o conheci, mas conta-se que ele era o "freak com cabelo à Blixa" e que vagueava pelo Porto com a cara pintada de dourado. Era um dos alvos perfeitos para os skins. Existe o mito que ele queria montar um projecto de música experimental em que iria amplificar lâminas de barbear montadas verticalmente numa caixa e largaria centopeias lá para dentro. Mas mitos são mitos e bocas dizem o que dizem. 
PS - (...) agora é que liguei os pontos!!! A última faixa desse split é com o João e o baterista dos Martyrium (AHAHA) nas percussões!
André Coelho (via email)  

Este livro é uma viagem de comboio fantasma com destino à nostalgia. O texto está incrível e o desenho está lá em cima ao pé dos melhores.
Rodolfo Mariano (via email)

blá blá blá de tótós

Companheiros da penumbra é um marco significativo da produção contemporânea de banda desenhada, sobretudo de um registo realista, e plenamente ancorado na realidade portuguesa – o que não implica menos potencialidade de espelhar outras experiências distintas. No panorama actual, em que a esmagadora maioria da produção roça sempre um qualquer campo do fantasioso, do género, ou até mesmo de fórmulas escapistas, muitas vezes até pouco buriladas e medíocres, um livro desta natureza sobressai sobremaneira. Não iria ao ponto de o o chamar “jornalístico”, “antropológico”, “documental”, mas há sem dúvida elementos desses registos presentes ao longo desta narrativa. Esse ancoramento está presente não apenas através dos muitos momentos de referencialidade, mas com a vivência da cidade do Porto e os movimentos espaciais, a magnífica escrita com diálogos vívidos, variados e verdadeiros, as personalidades acabadas das personagens, e até o cunho tão específico que Nunsky consegue criar com os rostos de tantas personagens/pessoas. (...) No entanto, uma das vantagens de Companheiros sobre todos esses modelos é que não se entrega a nenhum exercício facilitista com uma intriga melodramática, lamechas ou de crise central. Há um plot, sim, mas simples. Há uma história de amor, há um road movie, há um conflito entre amigos, há uma missão a cumprir, há mesmo uma morte. Mas pela sua fluidez e estranha calmia de execução, em que um episódio flui para o próximo, não tanto na cadeia aristotélica de causa e consequência, mas na inevitabilidade do tempo, o que sobressai é mais um ambiente, que recorda uma “fase”, imaginamos, da vida dos dois jovens protagonistas, Paulo “Nunsky” e Alex “Hipnos”. Com efeito, o autor opta muito menos por elementos dramáticos e conflitos reconhecíveis como tal, de uma maneira flagrante – por hipótese, um conflito com os pais, uma decisão fulcral de vida, uma adição fatal, um crime espantoso –, do que uma espécie de testemunho, quase de mera afirmação, do sucedido nessa tal fase.

(...) o discurso visual e narrativo de Nunsky faz desta cena um espaço onde a memória se convoca como espaço de resistência, mas também de solidariedade, partilha de afectos e barricada protectora contra uma sociedade consumista que, confirmamos agora, já se desenhava com ímpeto nessa década final do século XX e é hoje a regra num Porto gentrificado como quase todas as grandes cidades europeias.

Companheiros da Penumbra conduz-nos por um tempo, um lugar e um universo específicos. Magistral retrato de época em BD, vai mais além.

Eu não estou mesmo nada a par de como anda o panorama da bd nacional, mas este gajo está a um nível que apanhei poucas vezes por cá. Tenho ideia que no contexto local, é mesmo muito raro apanhar um volume destes, em que há a mesma coesão quer a nível narrativo quer gráfico do principio ao fim. (...) Na parte da narrativa, li uns comentários/ críticas (...) que malhavam um bocado na construção da narrativa, no sentido de haver cortes abruptos, etc... Não senti nada disso. Os saltos e interrupções que acontecem fazem todo o sentido na forma como a história é contada a través de memórias pessoais e de recordações maisou menos dispersas, embora sempre a seguir uma suposta linha cronológica. É absolutamente fantástico revisitar o porto do final dos 90s/ principios de 2000. (os bares da ribeira e o cubo à pinha, o luso…)
F.Q. (via email)

(...) Desengane-se quem pensa que este é um livro de nicho, pensado para quem andou pelas noites góticas ou pela música de Bauhaus ou Love and Rockets. Companheiros da Penumbra é uma ode às partilhas intensas da juventude, e não necessariamente da juventude gótica. Por trás das roupas negras, dos adereços e dos ambientes existencialistas marcados por um determinado tipo de música, o que lemos nestas pranchas é universal, não se fecha numa qualquer tribo, ainda que a linguagem partilhada dessa tribo ajude a definir o enredo e a estruturar o seu desenvolvimento. Por outro lado, há neste livro uma presença tão forte da cidade do Porto que impossível assumir a geografia apenas como um elemento narrativo; na verdade, o Porto é aqui mais do que cenário, uma espécie de seiva que dá configuração a estas vivências e aos episódios lembrados. E tal como o grupo de personagens no centro da história, também a cidade é uma memória que se convoca como parte de uma construção identitária, e não tanto como uma nostalgia. Toda a narrativa de Companheiros da Penumbra assenta nesse gesto de olhar o passado, não com o olhar do saudosismo mais plano, mas como parte integrante do que se foi construindo – com as lembranças, as festas, as descobertas e as dores que se foram acumulando – e que agora é também presente, ainda que as roupas pretas e os adereços soturnos tenham ficado esquecidos nas gavetas.

(...) obriga a uma leitura atenta e activa. (...) Em mãos menos capazes, este livro facilmente resvalaria para um relato nostálgico de um tempo que já lá vai: nas de Nunsky, ele canta; em tons lúgubres e sinistros, mas carregados de uma força e alegria que vai para além daquelas catacumbas.
André Pereira in A Batalha

Banda Desenhada ou Novela Gráfica? Da ou De Penumbra? Traço genial!

(...) Novela gráfica sobre a tribo gótica do Porto. As aventuras, sobretudo noctívagas como convém, as amizades que se engendram em torno da música, os 1001 esquemas dos donos do bar, o traçadinho e a Ribeira, descampados e casas abandonadas.

2ª impressão do livro em Setembro 2023, ou seja, mais 666 exemplares!!!

nomeado para Melhor Obra Portuguesa pela BD Amadora 2023

Já li o Nunsky!!! É bom, é competente, e é, sem dúvida, entertaining. Entra-se facilmente naquilo e, tudo ponderado, acaba por resistir à pergunta (que me fiz a mim mesmo algumas vezes): “porque é que eu estou a ler trezentas páginas de bebedeiras e góticalhices foleiras da província?” A escrita é boa, é fluída e é competente. (---) No fim do dia, uma boa leitura. Uma boa obra!!
RG por email

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Contos do Campo na Vida Portuguesa


Contos do Campo de Lucas Almeida - mais conhecido pelo seu zine O Hábito Faz o Monstro - é o 25º volume da colecção CCC e que recolhe várias bandas desenhadas curtas sobre as suas experiências positivas no Paraíso do campo. 
As más ficarão se calhar para outro volume...

São 96p a cores 16,5x23 cm, co-editadas com as Oficinas do Vale Mau.



Já está disponível na nossa loja em linha - e na Linha de Sombra! até parece piada, pá!! E na Tigre de Papel, Snob, Utopia, ZDB, SocorroKingpin Books, Alquimia, Vida Portuguesa e Matéria Prima. Estamos a ir com calma, como se estivéssemos no campo, com calminha!






quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing


Conheci a Ravenna este ano e demorei a digerir esta sua k7 intitulada Selected Works 2017-2019 (AMDNP; 2022) sobretudo porque é uma caixa de surpresas. Apesar de ser mais conhecida como saxofonista - o que me pouco interessa como instrumento, devo admitir - começa logo com uma tortura electrónica Noise inesperada, e essa sensação de espanto irá continuar ao longo da fita o tempo inteiro. Depois dos doze minutos de tortura, vai para o saxofone, depois para música(s) ambiente(s), toca piano, guitarra, capta gravações caseiras embriagadas, "field-recordings" e dronaria, iá, é a mulher dos sete instrumentos! O que torna difícil avaliar o conjunto da obra, pelo menos desta forma amadora como faço aqui, neste blogue. O engraçado é que todos estes temas dispersos em géneros e anos (apesar de não creditados) estão unidos de uma forma que parece uma peça única (no bandcamp da Ravenna isso até é assumido como tal), o que cria uma sensação de viagem ou de sonho. Graças a isso nós, meros mortais, podemos absorver esta jornada sonora sem problemas de erudição musical, ufa! O problema é sempre passar os primeiros doze minutos!

sábado, 21 de outubro de 2023

Crianças que alucinam, masmorras, entregas ao domicílio, dates antes e depois da da pandemia, cartas tarot, insónias, casas que morrem, entrevista a Carlos "Zíngaro" e muito mais como sempre...


QUARTO número da revista 

PENTÂNGULO
uma co-edição Ar.Co. e Chili Com Carne


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128p. (32 a cores) 16,5x23cm, capa a cores, design de Rudolfo

Pentângulo é uma publicação que confere visibilidade ao trabalho de novos autores cuja formação tenha sido feita no curso de Ilustração e Banda Desenhada do Ar.Co. Sem hierarquias, nomes consagrados e estreantes, alunos, ex-alunos e professores misturam as suas imagens e palavras numa saudável promiscuidade.

Neste quarto colaboram Pedro Moura, Ana Dias, Catarina César e Simão Simões (obra colectiva), Ana Blockveld, Simona Slovova, Tiago Baptista, Marta Baptista, Joana Matos, Carlos "Zíngaro" (entrevistado por Pedro Moura e Marco Mendes), Bruno Alves, David Pulido, Rodolfo Mariano, Diogo Candeias, João Lencart, Joaquim Afonso, Mar Cunha, Masha Motyleva, Pedro Saúde, Sara Baptista, Sara Boiça (também autora da capa), Ema Acosta, Matilde Ingham e Maria Giovanna Mura.

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Projecto apoiado pelo IPDJ e pelas livrarias BdManiaKingpin BooksLinha de SombraPaperviewSnobTasca Mastai Tinta nos Nervos.

além de estar à venda nas referidas lojas ainda se encontra na nossa em linha e na Alquimia, Sirigaita, Senhora Presidenta, Tigre de Papel, ZDB, Matéria Prima e Utopia.






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Historial: 

Lançamento a 2 de Março 2022 no Damas / Festival Rescaldo com um concerto de Carlos "Zíngaro" e Clothilde.

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vídeo no Bandas Desenhadas

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ilustração da capa por Sara Boiça selecionada para o BIG 2023

sábado, 14 de outubro de 2023

chichili cocom cacarne amada na Alquimia


Prostitutas decadentes, cirurgias plásticas bizarras, mascotes perversas de cadeias de Fast-Food, parafilias estranhas, experiências científicas malucas, ténias gigantes, crimes de faca e alguidar, portugueses no espaço e muito mais, num compilado de histórias curtas contaminadas com generosas doses de coliformes fecais e muitas outras bactérias nocivas.

Eis o que promete
  Holocausto de Merda 
de 
neste 18º volume da Mercantologia,
colecção dedicada à recolha de material perdido em fanzines e afins,
co-editado com o fanzine Olho Do Cu Comics Group.

São 52 páginas (16 a cores!) 16,5x23cm, capa a cores como bem podem ver, edição brochada e 333 exemplares apenas, ó filhote da Besta!

Disponível na nossa loja em linha, na ODC Comics Group, Tinta nos Nervos, Kingpin, Linha de Sombra, Snob, ZDB, Universal Tongue, Tigre de Papel, Socorro, Utopia, Alquimia, BdMania e Matéria Prima.


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FEEDBACK:

Na atual conjuntura pessoal, profissional e existencial da maioria das pessoas, só a saudável demência quase psicopática da BD Holocausto de Merda, (...) nos pode redimir. É a tábua de salvação SOS à prova de caruncho, béri-béri, depressões e outras maleitas aziagas que tanto importunam no dia-a-dia, isto para não falar em halitosis pungentis que pulula de boca em boca... O alto teor polinsaturado de sentido de humor escatológico e hardcore não é indicado para estômagos fracos e consciências de caca... hmmm... Mas se você for uma mulher ou homem de barba rija - VÁ!! Atreva-se e devore-a tresloucadamente como eu devorei! (...)
Ondina Pires via email 

É curioso que um livro em que os personagens passam a vida a peidar-se seja uma lufada de ar fresco. Eis uma obra (no sentido escatológico de obrar) que cumpre meticulosamente o que promete no título. Significante, significado, signo: tudo merda, em proporções bíblicas e directamente nas nossas bocas. A tira em que dois filhos menores entram pelo cu do pai para assassinarem à catanada um exército de lombrigas é uma das mais comoventes e literalmente profundas representações da ligação filial desde A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, para além de ter espantosas ressonâncias psicanalíticas: neste livro, estamos sempre na fase anal. O maior elogio que se pode fazer a estas tiras é a de que elas são completamente desnecessárias sob todo e qualquer ponto de vista. Por isso mesmo é que o Holocausto de Merda é um dos livros do ano: porque existe.
Pólipo Canibal in A Batalha

Queda para BD teatral e dramas de aturdimento fatal na Alquimia

 É assim que se define Daniel Lima que apesar de já ter feitos três livros a solo (há um quatro mas quase ninguém sabe da heteronímia usada!) chega a um livro maior (em dimensão física!) com Anguesângue, uma adaptação em três capítulos dos contos Unhapiness e On Parables de Franz Kafka (1883-1924).



O que une a banda Faint Spirit, um quarto alugado no 3º andar, um solilóquio para um público invisível, um oculto inquiridor, uma visita no entardecer de Novembro e um vizinho que está lá para espiar quando saímos: EUGÉNIO, um hóspede que não encontra consolo no facto de não acreditar em fantasmas. 



Daniel Lima compôs uma melodia sedutora e assombrada com as palavras de Franz Kafka. Cantem com ele... se tiverem coragem. 




Pode se adquirido na loja em linha da Chili Com Carne e na Snob, Tigre de Papel, Utopia, Matéria Prima, Kingpin, Alquimia, ZDB, Cult, Linha de Sombra, Socorro, BdMania e Tinta nos Nervos.




Para quem adquire directamente a nós tem acesso a um autocolante exclusivo de Daniel Lima limitado a 100 exemplares.




HISTORIAL:

Lançamento oficial Sábado, dia 29 de Abril 2023, às 16h, na Tinta nos Nervos com presença do autor, Pedro Moura e Marcos Farrajota ... edição em inglês pela Kuš! em breve! ... entrevista no Bandas Desenhadas ... entrevista em Todas as Palavras (RTP3) ... 


FEEDBACK:

Com a estrutura de drama em miniatura (drama aqui num sentido técnico, cénico, espacial, de distribuição de papéis por actores de papel) – incluindo o excurso dos fantasmas músicos – Daniel Lima demonstra uma vez mais que o seu método de interpretação dos textos de partida – por um lado, apetece-me dizer que é uma acção de escavamento, por outro o de alpinismo – é o da procura por uma poeticidade tranquila no que, parecendo banal (conversar, fumar, cortar uma maçã), se desvia da nossa experiência quotidiana. Há aqui, claramente, uma herança de Kafka, do seu absurdismo, em que a estranheza e o ilógico são preservados no interior de uma narrativa aparentemente realista, quase banal, doméstica, particularmente significativa em Anguesângue. Apresenta-se uma situação convencional – pessoas a discutir num apartamento, as escadas do prédio, etc. - mas depois revelam-se os tais desvios absurdos que, no fundo, revelam ao mesmo tempo a artificialidade de todos os nossos comportamentos societais, das nossas relações humanas (com os vivos e os mortos), das nossas decisões, etc. Porém, não é esse afinal o fito da arte?


Ao mesmo tempo que colo na testa o autocolante que acompanha este livro, a língua tenta dançar a espiral que organiza a leitura. Atrapalhando-se entre baba, perdigotos e posições embaraçosas, a boca diz assim: 
 – Nervosismo irónico nervoso. Poderá ser uma categoria literária? Como dizer... Um falar face à ansiedade que é contrário ao que se realmente se pretende. Tenta agradar e não quer e portanto asfixia-se. Só ligeiramente. Uma auto-asfixia, é redundante? É quase erótica. Ou masturbatória? Asfixia; poderá ser uma categoria literária? 
 – Sim sim, quer mais alguma coisa? 
– Ai sim? Óptimo, gostaste. Como dizer... 
Um neurótico à procura do controlo da imagem externa. Pauso ligeiramente e pego o novelo pela outra ponta.




Sobre o autor: 

Daniel Lima (1971; Angola) vive e trabalha em Lisboa. Teve formação em artes plásticas na ESAD, Caldas da Rainha, e estudos em Cinema de Animação e Teatro de Sombras na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo realizado Um degrau pode ser um mundo (2009), com argumento de João Paulo Cotrim, baseado numa novela de Almada Negreiros. 
Co-responsável pelo departamento de Ilustração/ BD do Ar.Co., trabalha como ilustrador desde 1996, tendo iluminado vários jornais, revistas e editoras como O Independente, Público, Diário Económico, Ler, Elle, Abysmo... Participou em vários projectos colectivos de BD como Para além dos Olivais ou Nós somos os Mouros, ambos pela Bedeteca de Lisboa. 
 Livros de BD a solo é que rareiam na sua produção, a maior parte deles são de dimensões modestas apesar de serem grandiosas BD’s como Epifanias do Inimigo Invisível (2008), António Variações (2011) ou Sutrama (2017) editado na Letónia. Na realidade até há um quarto livro mas a pseudonímia impede-nos de o revelar... 

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Hoje é...

 


SEXTA-FEIRA 13!!! Para todos os tarados supersticiosos é melhor hoje não sair de casa, não vá um merdas de tuk-tuk (ou é tik-tok!?) atropelar-te! Mais vale ficar a ouvir música no sofá mesmo que seja este Pacto com o Diabo, recentemente editado pela Sinais e Universal Tongue - esta última uma editora que bem curtimos

Trata-se de uma colectânea de bandas nacionais de Metal a homenagearem os Black Cross, a mítica (cóf cóf cóf) primeira banda Black Metal 'tuga, sobre os quais as duas editoras já tinham feito, em 2019, um livro sobre a sua divertida história (escrevi uma resenha n'A Batalha, babes, fuck 'net!) incluindo também um CD que reeditava a demo-tape Sexta-Feira 13, de 1986, e mais uns temas extras ao vivo. Podiam ter ficar por aqui, toda a gente ficaria feliz, tipo História e Património recuperados, caso raro em Portugal, mas nãooooooooo... Nem é pelo pessoal ser metaleiro, porque esta doença do completismo, "peter-panismo" e elaboração de realidades paralelas calha a todos, dos maluquinhos dos Beatles aos da Marvel. 

Eis que avançam com revisitações sonoras os Decayed (esta sim a primeira banda "oficial" de BM'tuga, ou então a primeira de BM memo'à séria!), Morte, Martelo Negro, Cães de Guerra e os novatos Red Eyes, que infelizmente nenhuma destas bandas conseguiu melhorar o que era impossível de melhorar, isto é, uma banda metaleira dos anos 80 com letras muito naifs, de miúdos do Barreiro, fruto do seu tempo, colados a Venom e que só editaram uma demo. É certo que o "mito" em volta de Black Cross extravasa a demo-tape, concertos e a música porque há um culto ao kitsch da virgindade portuguesa naqueles anos em que podiam acontecer crossovers culturais bizarros q.b., hoje impossíveis de repetir. Os Black Cross que nunca tiveram uma carreira profissional sólida, ganharam notoriedade com um anúncio televisivo contra as drogas, e à pala disso foram meter nojo à "VIParia" da altura numa almoçarada institucional com o Presidente da República e Pop stars, apenas hilariante! Menos divertido são estas versões, que parecem apenas melhoramentos profissionais (execução, gravação) do que uma homenagem à séria. O que as bandas deviam ter feito era uma verdadeira orgia satânico-destrutiva para termos algo mais do que um simples "update" ao original. Como sabemos sempre que há "updates" no sistema, as coisas começam a funcionar pior... especialmente numa Sexta-Feira 13!

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ccc@fexti

 

cartaz de Amanda Baeza


Sábado 14. 17-18h Mesa de diálogo sobre el panorama del cómic en Portugal con João Sequeira y Marcos Farrajota. Conduce Pablo García Martín. 

Sábado 14. 19-20h Encontro con autoras con Amanda Baeza y Mayte Alvarado. conduce: elena Masarah

Domingo 15. 11-12h Charla sobre fanzines con Amanza Baeza, Marcos Farrajota y Roberto Massó. Conduce Gerardo Vilches.

+ info aqui

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Cartas Inglesas na Alquimia


Chegou durante a Feira do Livro de Lisboa e foi prás lojas, devagarinho... 
já está na Snob, Tigre de Papel, Kingpin, Linha de Sombra, Mundo Fantasma, Tinta nos Nervos, Fundação Eça de Queiroz, ZDB, Alquimia, Matéria Prima, Vida PortuguesaCult, Socorro e BdMania
E claro, na nossa loja em linha!!! 



64p 16,5x23cm a uma cor, capa a uma cor.


O novo livro de Francisco Sousa Lobo colige 14 ensaios visuais planeados entre Londres e Tormes (graças ao apoio de uma residência literária da Fundação Eça de Queiroz), e desenhados em Tormes. Eles variam entre a observação social (e nisto conversam com as Cartas de Inglaterra de Eça), a digressão poética e a autobiografia. São a prova de uma vida dividida entre Portugal e a Inglaterra, e do que acontece nesse espaço.






Cartas Inglesas foram feitas graças ao apoio da uma bolsa de residência literária Eça de Queiroz, fruto de uma parceria entre a Imprensa Nacional - Casa da Moeda, a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e a Fundação Eça de Queiroz.




HISTORIAL




FEEDBACK

(...) autor ímpar no panorama da banda desenhada portuguesa, dedicado ourives de narrativas visuais onde a abordagem autobiográfica, a deriva poética e uma certa ideia de memória como construção se cruzam exemplarmente. Cartas Inglesas reúne catorze ensaios visuais cuja construção foi decorrendo entre Londres, onde o autor vive, e Tormes, sede da Fundação Eça de Queirós, lugar onde Sousa Lobo passou algum tempo em residência literária e que ajudou a convocar as queirosianas Cartas de Inglaterra, livro com o qual esta banda desenhada dialoga profundamente.


(...) as experiências em Inglaterra enquanto estudante, artista, docente, cidadão, emigrante, utente do sistema de saúde, português, europeu, crente cristão, leitor de filosofia. Todos estes círculos com relações entre si nem sempre necessariamente concêntricas, mas criando uma ideia fantasmática de alargar o escopo a cada capítulo. (...) As observações que faz são súbitas e iluminadoras (mas de uma maneira à la Bergson, em que é a revelação repentina do obscurecimento humano em que participamos que mais importa). Sofre num mesmo nível. Poder-se-ia dizer que é a canga do cristianismo. Poderíamos dizer que é tão-somente a condição da “compaixão” (termo discutido). Eu diria que é a consciência de não termos alguma vez saído do rés-do-chão.