segunda-feira, 28 de novembro de 2022

este é que é o verdadeiro INFERNO / últimos 15 exemplares


A Divina Comédia de Dante Alighieri (1265–1321) é daqueles livros que toda a gente já ouviu falar mas terão sido poucos os que realmente o leram.

O Inferno tem nove círculos nos quais as almas dos condenados são punidas de forma burocrática. Entre elas vamos encontrar alguns dos inimigos de Dante – entre muitas coisas, esta obra também é uma sátira política. Dante viu o nascimento do Capitalismo tal como o conhecemos e criticou os novos ricos do seu tempo.

Quando Marcel Ruijters trabalhava neste livro, havia cada vez mais conversas nos media sobre a morte do capitalismo. A edição original holandesa saiu meses antes da queda dos mercados de 2008.

Esta adaptação que é feita num estilo de “gozo medieval” é a forma que Ruijters encontrou de criar interesse pelo texto original.

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edição MMMNNNRRRG
120p. p/b, capa 3 cores, 165x230mm
500 exemplares impressos em Dezembro 2012 
ISBN: 978-989-97304-5-8
tradução: Ondina Pires --- arranjo gráfico: Joana Pires

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PVP: 15 Euros 
e Matéria-Prima, Ugra Press (Brasil), Neurotitan (Berlim), Utopia, Tinta nos Nervos, Universal Tongue e SNOB.

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Feedback:
Inferno é o melhor trabalho de Marcel Ruijters, um dos livros mais hilariantes nos tempos recentes. A versão de Ruijters do La Divina Commedia de Dante é uma pastiche grotesca com belos desenhos (…) cheia de trocadilhos visuais à Tex Avery, que deixa os leitores em risinhos. 
Relatório do Júri VPRO para melhor BD holandesa de 2008

Inferno é cheio de horror e humor. As surpresas e piadas aparecem sobretudo nos detalhes dos seus robustos desenhos. 
De Groene Amsterdammer [jornal holandês]

Quando se compara com a arte, obrigatóriamente romântica, de Doré, os desenhos de Ruijters são fixes e excitantes. Ele alterou uma obra clássica com aprazível malícia. 
Elsevier Weekblad [jornal holandês]

Já tenho um exemplar; e está uma maravilha!!! :D 
Mr. Esgar [e-mail 19/12/12]

André Coelho também curtiu mas disse palavras profanas que nos impede a reprodução [19/12/12]
diálogo intenso com Dante (...) não se poupam as críticas ao poder temporal, à mesquinhez quotidiana e aos expedientes comuns de corrupção, na ascensão social e no enriquecimento fácil. (...) uma releitura pertinente à luz do presente. 
Sara Figueiredo Costa / Atual / Expresso  [4 estrelas em 5]

Ruijters alcança aqui um acto alquímico 
Pedro Moura / Ler BD

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Historial:
- Melhor BD Holandesa 2008 
- edição portuguesa lançada na última Feira Laica (Lisboa) e na Mundo Fantasma (Porto) com exposição de originais e serigrafia impressa pelo atelier Mike Goes West em Dezembro 2012
- edição francesa pela The Hoochie Coochie em 2013
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algumas páginas aqui:




foto: Paul Gravett, em Ravenna (2007)
Marcel Ruijters nasceu em 1966, cresceu no sul da Holanda e frequentou durante alguns anos uma escola de arte nos anos 80. Desde os 7 anos que fazia BD. Com ao advento das fotocopiadoras que tornavam a auto-edição possível para toda uma geração e Marcel viveu esses tempos fazendo títulos como Onbegrijpelijke Verhalen, Mandragoora, Dr. Molotow, Fun&Games, Thank God it’s Ugly e vários monográficos raros, sendo que algumas destas publicações eram antologias com colaborações de vários artistas que Marcel descobriu em vários países como Matthias Giesen, Daniel W. Core, Chris Crielaard, Jakob Klemencic, Prof. Bad Trip, Karen Platt, Mike Diana, Berend Vonk, Kapreles, Matthias Lehmann, Olle Berg – tudo isto nos tempos antes da Internet, claro!

Actualmente é editor da revista Zone 5300 (de Roterdão, onde o autor reside), escreve crítica a BD no jornal Dagblad De Limburger, faz ilustrações, traduções e tudo o mais que é preciso fazer neste mundo da edição. O seu livro mais conhecido será Trogloditas, que teve edição holandesa (pela Oog & Blik), norte-americana (Top Shelf Comix) e portuguesa (Polvo).

Com Sine Qua Non mudou de estilo gráfico e começou a explorar o imaginário medieval, tendo o livro sido editado pela prestigiada Les Editions de l’An 2. A continuação deste novo estilo é Inferno, livro ganhou o melhor álbum de BD na Holanda em 2008 e que chega a Portugal pela MMMNNNRRRG.

Apesar de já ter participado em várias exposições colectivas em Portugal – como a celebre Honey Talks na Bedeteca de Lisboa, organizada pelo colectivo esloveno Stripburger – Ruijters terá a sua primeira exposição a solo na galeria da Mundo Fantasma em Dezembro 2012, sendo feito para a ocasião uma serigrafia pelo Atelier Mike Goes West.

sábado, 26 de novembro de 2022

The Care of Birds / O Cuidado dos Pássaros - Obra vencedora do concurso "500 paus!" (2013) --- últimos 10 exemplares!!!


The Care of Birds / O Cuidado dos Pássaros
de

Obra vencedora do concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD! 2013

"Peter Hickey is to paedophiles what birdwatchers are to hunters". Peter Hickey dixit. What is meant by this oblique statement is the crux of this graphic novel. Peter Hickey is a godless catholic perv. Peter hickey has a saint syndrome. "Peter Hickey está para os pedófilos como os observadores de aves estão para os caçadores", assim diz Peter. O possível sentido desta frase obscura forma o próprio cerne deste romance gráfico. Peter é um católico tarado e sem deus com um síndroma de santo.


140p. duas cores 16x23cm, capa duas cores, edição brochada
ISBN: 978-989-8363-32-9
In English with Portuguese subtitles / Em inglês com legendas em português


Buy: Neurotitan (Berlin), Orbital (London), Quimby's (Chicago), Dead Head Comics (Edinburgh), Just Indie Comics (Italy), Ugra Press (S.Paulo), Modern Graphics (Berlin), Mont en  L'Air (Paris)...



Historial: 

Obra vencedora do concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD! (2013) 
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Lançamento na BD Amadora 2015 
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Lista dos Melhores Livros de 2015 no Expresso 
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Best Graphic Novels (Portugal) by Pedro Moura in Paul Gravett site 
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Nomeado para Melhor Argumento pela BD Amadora 2016 
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Um dos Melhores Livros de 2016 no Expresso (apesar de ter saído em 2015... mucho weird!)
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Nomeado para Melhor Publicação Nacional, Melhor Desenho e Melhor Argumento pela Central Comics 2016 
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Spanish edition El Cuidado de los Pájaros by Reservoir Books / Penguin - Random House Spain (2019)
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Best of 2019 by La Cárcel de Papel
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French edition by Rackham (2021)



"peeping tom" aqui / here





Feedback:  

Já li o livro do Francisco Sousa Lobo. Gostei, apesar de toda a problemática do pedófilo e de às vezes ser difícil lidar com o que se possa sentir pela personagem (mas pensei que em relação a isso o livro era mais problemático e comprometedor), tem momentos muito bonitos, dos pássaros presos na rede, ele a conversar com as aves, desadequação do personagem ao mundo... e a parte final em que enlouquece (não estaria já louco?) e se deita do chão de cara para baixo à espera de um raio que o fulmine. Achei bastante poético. 

I like its mysteries and allusions, the gaps left in the dialogues, great use of the gaps and faultlines between what we are shown and what we are told.  Congrats, it’s further proof of Francisco's great work and development.
Paul Gravett (by e-mail)

Um dos mais discretos e interessantes autores portugueses de banda desenhada regressa com uma edição bilingue, uma narrativa que revolve as vísceras da natureza humana para as mostrar frágeis e inúteis enquanto conta a história de um homem que podia ser o nosso vizinho do lado. 
Sara Figueiredo Costa in Parágrafo, suplemento de Ponto Final (Macau) 

Desta vez Sousa Lobo debruça-se sobre um dos assuntos mais sensíveis, o da pedofilia. Esta é a história de Peter Hickey, um homem que parece acreditar que “está para os pedófilos como os observadores de aves estão para os caçadores”, um conceito que será explorado ao longo destas páginas naquele que é, sem qualquer hesitação, um dos mais portentosos livros do ano.

Is eager birdwatcher Peter Hickey ‘a godless Catholic perv’ or does he have ‘a Saint syndrome’? Deeply discomforting themes of sin and sincerity are cleverly underplayed and implied. I enjoy the book’s allusiveness, the gaps Lobo leaves in the dialogues, and his great use of the faultlines between what we are shown and what we are told, leaving what is left for us to tease out. “Words can become phantom limbs we never knew we had…”

LE PETIT OISEAU VA SORTIR... The Care Of Birds est un roman graphique de Francisco Sousa Lobo publié initialement en 2014 par Chili Com Carne, une maison d'édition post-psychanalytique portugaise dédiée à la BD et au dessin. Peter Hickey est ornithologue: il a été formé à 9 ans par un homme qui aimait beaucoup lui tenir la main. A présent, à 60 ans, il aimerait transmettre sa passion pour les oiseaux, en tout bien tout honneur. Dans cette histoire, où "les mots sont des membres fantômes", le dessin ne fait que suggérer ce que le langage ne recouvrira jamais. Le personnage principal communique avec les oiseaux, qu'il aime plus que tout étudier en compagnie de jeunes garçons. Les oiseaux lui disent des choses, et semblent lui obéir. L’ambiguïté de ses rapports avec ses petits collaborateurs est développé à la manière d'un malaise onirique, d'une torpeur fiévreuse.
Benjamin Efrati in Droguistes (e-mail newsletter)

The Care of Birds é, sem qualquer dúvida, um livro maior. Um livro que se desprende de toda e qualquer amarra de género e dos mecanismos (narrativos, visuais, estruturais) habituais da banda desenhada, portuguesa ou outra. Um título que não tem qualquer ambição de chegar a “todo o público”, nem sequer de serenar ou emocionar aquele ao qual chegará. A poeticidade de Francisco Sousa Lobo é sofrida, exigente, abole quaisquer consensos possíveis. Sem efeitos de pirotecnia emocional, lê-lo é uma armadilha se se toca a raia dos seus perigos. Difícil, profundo, angustiante, de uma lentidão que não significa tranquilidade, desprovido de quaisquer adornos e de efeitos, The Care of Birds é um jogo de tensões entre o melodrama de um Dostoievsky e a paralisia de um Kafka.
Pedro Moura in Ler BD

Despite its 100-plus pages, The Care of Birds is a tale mostly made of silences and doubts, both of the protagonist and the reader. Peter Hickey is an older man, an accomplished birdwatcher, birdsong imitator and bird draughtsman. But he is assaulted by strange feelings of seemingly innocent friendship toward children, which might be interpreted by many as pedophilia. A profound Catholic, Hickey is at the same time well aware of an uncrossable line but also haunted by sinning, that may or may not have taken place. All the questions that arise from the little plot there exists, if answered, are ambiguous. Difficult, profound, agonising, slow-paced but not tranquil, bereft of adornment and effects, The Care of Birds is a tour de force between Dostoevskyan drama and Kafkesque inaction, making it not only a great book within the Portuguese context but internationally as well.
Pedro Moura in Paul Gravett site

I just red The Care of Birds, liked the how the narration goes and the angle, remind me a bit of Hornschmeier work 
Franky (Les Requins Marteaux)

Se quisermos reduzir Sousa Lobo ao Santo Graal da assinatura do artista, podemos falar num programa que é recorrente no seu trabalho e que envolve estruturas de autoridade, doença mental e perversão. (...) Com um pezinho dentro e outro fora, entrar na galeria de arte ou na igreja com uma BD debaixo do braço continua a ser mais que uma provocação. É um acto de rebelião.
Hugo Almeida in Mundo Fantasma

The books look amazing, really nicely presented and designed. So far I've only had time to read the first section of The Care Of Birds, which I really enjoyed - looking forwards to continuing, also looking forwards to reading the other books as well. Andy Martin, one of the chaps in the band UNIT is a total bird fanatic, so maybe I'll pass The Care Of Birds on to him when I've read it
pStan Batcow (Pumf, Howl in the Typewriter) by e-mail

Même si quelques points d’appui, assez rares, quasi hors champ (à l’exception de la dispensable image de couverture) viennent peut-être inutilement-nous rappeler de quoi nous sommes en train de parler, c’est de loin le travail le plus subtil, le plus saisissant et le plus intelligent que j’ai vu traiter de la pédophilie depuis bien longtemps. Cette position, évoquée ici par un prisme clinique dont je n’ai jamais entendu parler — le syndrome de sainteté — mais qui n’est peut-être qu’une métaphore de l’auteur lui-même, se superpose à celle du birdwatcher — l’observateur ornithologique. Chaque touche nous faisant lentement approcher la psyché de la figure centrale est amenée de manière à produire, très finement, plus de questionnement et de trouble que de réponses ; ce sont les mouvements de fond des représentations de l’enfance chez l’adulte qui sont décortiquées, exposés à la lumière de désirs informulables, conduits dans de beaux couloirs métaphoriques, plutôt que la lecture factuelle d’une criminalité sexuelle tangible (et rien, d’ailleurs, dans le récit, ne laisse imaginer que la pédophilie soit menée ici à son terme ; ce n’est pas l’objet). Je me suis laissé faire assez rapidement par ce dessin au départ un peu rebutant, ces montages de plans exsangues, pour y voir pas à pas tout ce que cette claudication ouvrait comme inattendu de la marche, comme sortie de champ, comme invention. Il faut vraiment traduire urgemment ce truc, les gens. Il y a une intelligence warienne assez rare de la métaphore et des jeux de durée, mais également une solide culture littéraire qui affleure sous cette écriture subtilement polysémique.
The Care of Birds was definitely my favourite. There was something about the character that made me think of Raymond Briggs' book When The Wind Blows (the old man character in that story seemed to have similar mannerisms and characteristics). Your character is appealing, despite being a little twisted.
pStan (Pumf) by email

Curiosa y compleja aproximación la que hace Francisco Sousa Lobo al meterse dentro de la mente de un pedófilo, no practicante, que deambula en su día a día atrapado por sus bajas pasiones y su amor por el mundo de los pájaros. Una historia que remueve la conciencia y de paso también las tripas del lector, no tanto por lo que cuenta sino por lo que sugiere. Lleno de silencios, este cómic es una verdadero prodigio de narración demostrando que no siempre lo que se muestra es todo lo que se cuenta. (...)
El escritor, Francisco Sousa, se ha metido en un jardín y ha salido de él con nota. (...) De lectura sencilla, amena y reflexiva, este libro editado por Reservoir Books es un pequeña joya que podría pasar desapercibida si el mensaje no fuera la angustia vital de un hombre destinado a no encajar en la sociedad.
(sobre a edição espanhola) in Negra y Mortal

Hay que apostar por los cómics y los autores valientes, que arriesgan adentrándose en cuestiones de lo más espinosas, explorando las posibilidades que el medio proporciona. Es el caso de El cuidado de los pájaros del portugués Francisco Sousa Lobo, que publica Reservoir Books (...) El mérito de Francisco Sousa Lobo es lograr sumergir al lector en una obra tan tensa y oscura sin cargar las tintas de un asunto tan sensible ni subrayar el drama. Su uso de la elipsis narrativa es sensacional, sugiriendo —esas páginas 94 y 95— más que mostrando, y sin miedo a las viñetas que no necesitan texto para contarlo todo —esos sudores—. Una sutileza que asimismo se refleja en el aspecto visual, austero hasta el extremo, tanto en el parco uso del color —verdes y negros—, como en la simplista ilustración. Elementos que ahondan en lo enfermizo y la comezón interna del personaje central, y que permiten al lector centrarse en el meollo de un relato perfectamente armado, y de indiscutible pegada, sobre la oquedad y fragilidad humanas.
(sobre a edição espanhola) in Indienauta

Franciso Sousa Lobo se atreve, ni más ni menos, que a abordar el tema de la pedofilia. Pero lo hace sin amarillismo, sin efectismos, de una manera intima, y personal, casi tratando de comprender qué pasa por la mente de un pedófilo, en este caso, la de Peter Hickey, un hombre que vive agobiado por las dudas, por lo que sabe que es y no quiere ser, por tratar de entenderse, y siempre bajo la atenta mirada de la fe cristiana. No es un tebeo fácil, pero merece la pena enfrentarse a estos temas y alabar la valentía del autor.
(sobre a edição espanhola) in Blog de Comics

A slow-paced story that I’m not entirely sure how to describe, but that I enjoyed in all its mundanity.
The Care of Birds is so simple and beautiful

surprisingly subtle and bitter but not condescending
Łukasz Nowak (por email)

Une bd qui surprend par son choix de sujet et de traitement qui répulse et donne envie de vomir.
(sobre a edição francesa) 22h05 Rue des Dames

Comment réagir à de tels propos on ne peut plus dérangeants ? Comment ne se pas se sentir mal à l’aise envers cet homme qui dénie ses pulsions ? Et surtout, quel propos central a voulu soulever Francisco Sousa Lobo avec un tel album ?
(sobre a edição francesa) Planete BD

Le regard singulier de Francisco Sousa Lobo sur ce sujet complexe oblige le lecteur à regarder de front cette question répulsive, avec un récit qui mêle habilement crudité et expression métaphorique. Un album dérangeant, le premier de l'auteur traduit en France, dans lequel les oiseaux font figure de lanceurs d'alerte.
(sobre edição francesa) France Info

(...) é uma banda desenhada adulta, forte e estremecedora. (...) Peter Hickey é um personagem profundo, com várias camadas que se vão revelando à medida que viramos as páginas. é um homem mais ou menos idoso, que tem o passatempo de anilhar pássaros. Para isso, gosta de se fazer acompanhar de meninos com idades entre 10 e 12 anos. Mas porquê? Diz ele que há uma certa pureza na amizade entre um homem e uma criança. Mas os pássaros têm outras coisas a dizer. Vemos o personagem entrar numa espiral de loucura e auto-comiseração: o que ele procura, a companhia infantil, não pode ser conseguido. Os pássaros sabem disso. No entanto, quando ele encontra outras pessoas que o apreciam, não é capaz de lidar com as vozes dos pássaros. Os pássaros falam com ele frequentemente, e frequentemente dizem coisas terríveis.. Mas não só as aves são simbólicas. Também as pessoas, os outros personagens, têm diversos significados dentro da mente de Peter Hickey. Assim, todos os momentos de convívio acabam por ter mais profundidade do que aquela que poderíamos pensar à primeira vista. (...) Um livro poderoso que toca num assunto que ainda é tabu. A não perder.

Não me apetece estudar 

 

Desta vez o MAL não rima com Natal!


 Volta o MAL mas desta vez menos conotado ao Natalixo! Bem bem!

Vamos estar lá e até devemos entrar numa conversa com o Massacre e o Quarto de Jade, no Sábado às 17h30.

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Fotos da Laís Pereira da edição natalixa do ano passado:

banca da Chili Com Carne sem máscaras

Massacre, Opuntia Books e Quarto de Jade com máscaras

Sara Figueiredo Costa e Francisco Sousa Lobo em conversa e com máscaras

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Dois ou três pensamentos soltos

Já podia ter morrido duas vezes feliz na vida. A primeira foi em 2010 quando o Fábio Zimbres entregou uma BD desenhada por ele e com argumento meu para publicar no Seitan Seitan Scum; e na semana passada quando recebi o número 11 da Expressa (Jul'20) onde essa mesma BD foi republicada. A Expressa é uma "revista" em que cada número é dedicado a um artista gráfico brasileiro - já lá iremos!

Para um anarquista ter ídolos é muito grave intelectualmente, só que o Zimbres como editor e artista influenciou-me a 100% quando era chavalo e agora nem devo fazer parte de 1% da sua vida - mas faço parte!! Admito que me rebaixo a essa percentagem para me sentir concretizado como ex-teenager. Quantas vezes nas nossas vidas podemos ter acesso e influenciar os nossos "heróis"? Ou já morreram todos por velhice ou por chutar cavalo - o Burroughs até foi aos 83 anos e ao ano de 1997, nada mal! Em 1993 estive a dois graus de separação dele, fuuuuuuck! Melhor mesmo só se tivesse feito uma capa pró Jello Biafra, oficialmente, hahaha

A Expressa é uma revista? Parece que sim, se os editores assim o afirmam para quê contrariar? Diria antes que é uma colecção de monográficos dedicados a um artista gráfico brasileiro, na essência ligados à BD, sendo este um campo alargado ao cartoon, "charge", tiras humorísticas (o pão-nosso de cada dia no Brasil), etc... O autor vivo é entrevistado, os mortos biografados. Depois a edição é enchida com BDs, tiras e ilustrações várias para fazer 120 páginas couché coloridas em A4 fechadas em capa dura. Caramba é um álbum! Mas talvez por sair mensalmente é que a consideram uma revista? Até dói! Mas se o Bestiário também é (não é) uma revista... Antes que comecem a correr com os cartões de créditos e premonições de problemas com a alfândega, existem rumores, que a "revista" irá aparecer em Portugal em breve. Rumores! 

Seja como for, a relação luso-brasileira ainda tem muito para se falar e estudar. Ao que parece não foi de toda pacífica logo com os dois "pais da BD/ HQ" de cada lado do Atlântico a ofenderem-se mutuamente e publicamente, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e Angelo Agostini (1843-1910). O primeiro até foi atacado à facada (não por Agostini, atenção!), razão para deixar o Brasil e produzir o original No Lazareto (1881) - ao que parece 20 anos depois eram amigos outra vez! Mais pacífica e produtiva foi a emigração de Jayme Cortez (1926-87) em 1947, não só criou uma "escola" brasileira como ainda co-organizou, em 1951, a primeira exposição de BD brasileira ou de BD mundial - as fontes divergem. O autor foi esquecido por cá até ser recuperado graças às exposições organizadas pela Bedeteca de Beja. As Ditaduras não favoreceram contactos mas lá se descobria o Ziraldo em Portugal no jornal Lobo Mau, por exemplo. Nos anos 90 é a grande explosão de revistas brasileiras a chegarem cá: Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Níquel Náusea e Animal (feio, forte formal). A explosão acabou em implosão graças ao plano Collor mas o mal já estava feito, Angeli e Laerte eram estrelas. Segue-se a primeira década do milénio de costas voltadas com alguns encontros fugazes, sendo o Seitan Seitan Scum o mais consubstanciado objecto ou a participação de Fábio Zimbres na exposição "Divide et Impera". Desde 2013 a editora Polvo edita muitos livros de autores brasileiros contemporâneos, destacando-se Marcelo D'Sallete ou Marcello Quintanilha. As migrações acontecem também, André Diniz vem para Lisboa e Puiupo para S. Paulo. A história aos quadrinhos ou aos quadradinhos continua... Sendo que esta Expressa será o local de encontro para saber tudo sobre os artistas entrevistados.

Este fim-de-semana vai haver o Mercado Aberto do Livro pela segunda vez. No ano passado lá andei a fazer "digging" no espaço da D. Ajuda cheia de tralha que já ninguém quer. Sem querer, claro, encontrei um belo monográfico dedicado ao grande Robert Crumb - com este tive também com dois graus de separação e até falei com o senhor que me mandou passear de forma assobiante, hehehe - escrito por Marjorie Alessandrini (1946-2020) e editado pela Albin Michel em 1974!

O ponto de exclamação significa algo? Adivinhem! Pensem nisto: a carreira underground de Crumb começou em 1967 e sete anos depois ele já tinha um monográfico sobre a sua obra em França, um trabalho crítico bem escrito por uma jornalista de Rock. É certo que os anos do ácido e "flower power" foram produtivos para este artista, em dois apenas produziu mais de 300 páginas todas elas a desconstruir a psique da cultura norte-americana. O trabalho passou para França, pela revista Actuel de início quando esta era uma grande fricalhice. O que é espantoso é que alguém escreveu um livro sobre este autor de BD contemporâneo ainda com o Crumb em início de carreira. Ena! Crumb não é o único contemplado, nesta colecção chamada Graffiti encontram-se outros títulos dedicados ao Gotlib (1934-2016), Reiser (1941-83), Moebius (1938-2012), Charles Schulz (1922-2000) e Fred (1931-2013), tudo publicado entre 1974 e 1976. Esta tradição de mapear autores de BD continua até nos dias de hoje em França mas noutras estruturas editoriais como a PLG.

Agora, lembrem-se de quantos monográficos sobre artistas ou autores de BD foram publicados por casas comerciais em Portugal? Há a biografia de Hergé (1907-83) e o livro de entrevistas a Hugo Pratt (1927-95), autores que rebolam nos caixões dada à exploração patrimonial que fazem dos seus trabalhos e que qualquer editor "cego-surdo-mudo" seria capaz de publicar e rentabilizar os livros. Tanto é verdade que escrevo que estes títulos foram publicados pela Verbo e Relógio D'Água, respectivamente, editoras generalistas. Há vários livros dedicados ao Bordalo Pinheiro, convenhamos, todos os anos sai mais um qualquer sobre um detalhe da sua vida (até a da sexual) ou da sua multifacetada obra. Depois (por isso não contam) há dezenas de catálogos ou monográficos das instituições como a Bedeteca de Lisboa ou aquilo que se chamava pomposamente de Centro Nacional de BD e Imagem (da CM Amadora, agora Bedeteca da Amadora) que publicaram, devido a uma inconsciente rivalidade camarária, montes de livros sobre vários artistas portugueses e até alguns estrangeiros. O último data de 2008 dedicado a Tiotónio (1936-85) talvez porque o último Salão Lisboa foi em 2005, sendo esta a perdedora do campeonato da BD municipal. Sem rival, a pilinha da BD Amadora esmoreceu tanto que não edita o catálogo do seu grande certame desde 2015. Em formato de BD (e voltando às editoras comerciais) foram publicadas uma sobre o Hergé e duas sobre o Edgar Jacobs (1904-87), essencialmente obras certinhas ao cânone instituído do biografado. 

Resumindo, das duas uma, ou o Relvas e o Alan Moore não são bons o suficiente para uma empresa comercial investir num livro sobre eles sem o apoio do Estado ou então as editoras comerciais de BD sempre nos enganaram com a sua dedicação e honestidade pela "causa" da BD. Inclino-me prá segunda hipótese a julgar pelas bostinhas que foram recentemente editadas em Portugal. 

Uma delas é Variantes : Uma Homenagem à BD Portuguesa (A Seita + Turbina), um álbum de novo-rico com boa guita para gastar. Lembra as iniciativas de um dos Trio Odemira que fez nos anos 90 ao publicar toscamente quatro volumes luxuosos, dois dedicados à "História da BD publicada em Portugal" e outros dois à revista O Mosquito. Ao menos os do Trio foram com a pasta dos direitos de autor da SPA do músico. O gesto simpático e trapalhão de Carlos Costa replica-se 25 anos depois com o do Júlio Moreira, co-responsável por este Variantes mas desta vez com apoios comunitários.

Seria acima de qualquer suspeita a qualidade da capacidade e do bom-gosto de Júlio, afinal, foi um dos responsáveis do importante e saudoso Salão de BD do Porto (que trouxe Joe Sacco, Julie Doucet, Chester Brown ou Marjani Satrapi antes de estarem na moda - e onde lançamos o nosso Mutate & Survive com uma divertida exposição) e da importante revista Quadrado. Talvez por não estar no activo há muitos anos, tenha deixado Júlio mole e sem capacidade de resposta aos seus novos comparsas de projectos cooperativos. Um deles, José Hartvig de Freitas, sem saber ainda hoje que foi enganado na sua vida de editor, escreve ao apresentar A Pior Banda do Mundo de José Carlos Fernandes: (...) tinha-me obrigado a ler uma vintena de páginas da Pior Banda, contra os meus protestos vivos e sonantes ("BD portuguesa, mas estás maluco? Isso são cenas pseudo-intelectuais que não interessam a ninguém!") (...). Ironia máxima, o autor mais "pseudo-intelectual" (no verdadeiro sentido da palavra!) português alguma vez cá nascido foi aquele que atingiu o coração de Freitas ao ponto de editar dezenas de livros dele. Talvez por não ser "pseudo-intelectual" (o discurso lembra qualquer personagem da Disney ou Astérix), Freitas não entendeu o paradoxo que  ele próprio montou.

Variantes parte do princípio de pegar numa página "clássica" e passar para um autor contemporâneo que a irá homenagear com o seu estilo gráfico - e em teoria, com uma possível corrupção narrativa. Há vários problemas com a edição, desde o design fatela (trabalhar com o JRF deve ser traumático, é certo, mas pelo menos rende, afinal a Quadrado sempre esteve a mil passos à frente até de revistas que não fossem de BD!!!) até aos artigos de contexto, que variam entre o bom (Isabel Carvalho) e o muito mau (Margarida Mesquita e o "bedófilo" Miguel Coelho) ficando pelo meio vários tons dos cinzentos do costume. Pelos vistos os nomes de Domingos Isabelinho, Pedro Moura e Sara Figueiredo Costa devem sofrer de "pseudo-intelectualismo" para não estarem presentes. 

A escolha em homenagear os primórdios da BD portuguesa começando pelo paizinho Bordalo Pinheiro e ir até ao "Tu és Mulher na minha vida (...)" do Pedro Brito e João Fazenda ou mostra oportunismo comercial porque A Seita reeditou este livro no ano passado ou que há medo de entrar no século XXI. É que assim ficou de fora um trabalho tão bom ou mesmo superior como a "Mulher", falo do Mr. Burroughs (outra vez o junkie!) de David Soares e Pedro Nora - e que teve uma imediata publicação pela "pseudo-intelectual" editora belga Fréon, mais tarde Frémok, facto inédito em Portugal, uma BD ainda por cima de uma editora pequena ter uma obra sua editada no estrangeiro. A escolha das pranchas / autores homenageados mostra uma falta de igualdade de géneros - os exemplos mencionados na Bedeteca Anónima são graves. Mas poderíamos considerar isto como uma situação perfeitamente cagativa, o Júlio & cia não são gajas, não leram propaganda da Mocidade Feminina - só leram a dos rapazes! - nem têm nada de curtir poesia "pseudo-intelectual" da Maria João Worm. Para além disso já passaram a barreira dos 50 anos e estão com a tensão "cringe" em alta. Tal como os livros d'O Mosquito, seguiram o coração nostálgico e sentimental e ninguém tem haver com isso. O problema é que este livro só prova que um trabalho bem feito deste género tem de ser feito, pelos vistos, pelas instituições públicas, é que não basta receber milhares da União Europeia, pois o resultado é este: uma História distorcida, uma selecção nostálgica, uma encomenda mal enjorcada que não se percebe a razão das escolhas dos autores e que, por sua vez, sofrem de disfunções na sua arte - induzida pelos editores que não curtem "pseudo-intelectuais"!? 

A escolha dos autores que homenageiam é errática, entre alguns que ninguém conhece no meio - o que é um risco com piada e vê-se pela revelação que são a Daniela Duarte e a Madalena Abreu que valeu a pena correr esse risco - passando por nulidades como a Marta Teives, que consegue transformar o neo-realista Borda d'Água de Miguel Rocha num agro-beto (duvido que tenha sido de propósito, isso mostraria um humor bem sacana) indo até um autor do "star-system". Aqueles que poderiam pegar nisto à séria acovardam-se: José Smith Vargas dá-se bem com o Carlos Botelho (bem escolhido e bem actualizado à Lisboa gentrificada) mas é redundante com José Ruy, o que André Pereira faz bem em Kolanville de J.L. Duarte com o seu grafismo gaijin mangá, n'O Macaco Tó Zé de Janus é apenas um absurdo de mimetismo. O mesmo para a Sofia Neto que moderniza Eduardo Teixeira Coelho mas vulgariza de forma totalmente plana a "ero-psicadélica" Isabel Lobinho. O resto é quase tudo mau ou super-chato, com excepções para a prancha a "Mulher da minha vida" de Jorge Coelho e as do Marco Mendes. 

Alguns autores com quem eu falei comentaram esse à vontade de Mendes: "pá! mas esse é gajo da casa", isto é, os seus livros são editados pela Turbina e tem uma boa relação com o Júlio por isso pode brincar à vontade. Pseudo-intelectual ou apenas pseudo-tudo? 

Olha, que haja dinheirinho para distribuir aos autores de BD de vez em quando...


PS - para as pessoas que me perguntaram porque o Loverboy não está presente no volume, devo esclarecer que não houve nada de "evil shit" da parte da SHeITa e Turbina. Assim que soube que isto ia acontecer pedi ao Júlio para não incluir de nenhuma forma o meu trabalho antevendo uma desgraça, ou pelas escolhas incluídas (Jim del Monaco) ou pelas excluídas - é ofensivo não estar lá a Worm! Júlio, o que pensaria o nosso JPC desta ausência? Aliás, o que pensaria ele disto tudo?

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Coil Necro Felatio Platinum


Mêne, sou parvo, pá! Na outra noite gozei com o Rochinha (o puto de UNITEDSTATESOF e sócio dos nossos queridos parceiros Rotten\\Fresh) e admito que fiquei com remorsos de "kota" porque lembrei-me que ainda não tinha escrito nada sobre a sua segunda k7, Selections 2, lançada este ano. No entanto, desde que saiu tenho ouvido este álbum constantemente, ora em casa ou no carro (pela k7) ou no trabalho via bandcamp - é que os bacanos da Rotten não metem limites sem aparecer aquele anúncio de "vamos lá abrir a carteirinha que já ouviste demasiado". Fogo, o gajo merece um coche de "hype" com carne!

Ao contrário do outro álbum, USOF vai aos dois lados da k7, preenche tudo, ou seja, há aqui autoconfiança para mostrar o trabalho sem truques editoriais, isto é, sem ajudas de "remixes" de alguém mais famoso que o "misturado" como aconteceu na primeira. Esta selecção é mais robusta esteticamente, deixa para trás os vapores da moda para se concentrar em ecos e glitches harmoniosos, num esoterismo digital que tanto dá para fazer yoga primaveril (complicadíssimo com as hormonas a latejar) ou a conduzir o carro nas manhãs chuvosas de Outono (complicadíssimo porque os outros condutores são o Inferno), enfim, é "ambient" para melancólicos mas ainda assim curtem uma boa talhada de melancia. Um belo disco sem dúvida, ide ouvi-lo sem pudor!!

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Será a caneta mais poderosa do que a espada?



A edição portuguesa do Monde Diplomatique tem publicado, sob a nossa coordenação, as respostas a este desafio em Banda Desenhada por uma série de artistas. Este mês é a vez da Ângela Cardinhos, que não curte nem bios nem pubs, iá!, por isso ficámos por aqui...