domingo, 30 de janeiro de 2022

Desejos de Morte Dominicais


Pá, um gajo não apanha tudo na altura certa e só agora dei-me conta deste segundo registo dos Paisiel que merece ser sublinhado como um bom disco de 2020 pelas mãos editoriais da Lovers & Lollypops e Rocket. Unconcious Death Wishes pode ser um título pretensioso e a sua capa hipster não faz relação com o título mas faz muita relação com a música explosiva e VIVA que aqui se ouve. O título só pode ser pensada como pose para tentar impressionar o freguês. Este LP é uma trip simpática que consegue dilatar o tempo e lamber a desejada psicadelia que muitos projectos cá em Portugal gostariam de o fazer mas que têm fracassado - pelo menos em disco. Não é nada aqui o caso, a coisa resulta bem se tivermos em sofá a entrar na siesta merecida. Entretanto ouvi dizer que a parelha Pais e Gabriel já não existe, por isso, restam os fonogramas... Bom domingo!

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

FAKE porn FRANKENSTEIN ep

 


Que magnífica "aldrabice" vinda dos laboratórios dos Dr. Frankenstein, melhor banda portuguesa de Surf/ Garage de sempre. Por causa disso, tudo de perdoa. Quem pensar que este 7"EP é uma reedição do disco de 2002 com o objectivo de comemorar uma edição mítica, pá, é na realidade apenas aproveitar os restos não vendidos da edição fazendo uma nova embalagem, até porque a "original" era de quatro gajos jovens pobretas. Porno Star (DDJ; 2002-2022) tem agora uma capa de Rui Ricardo, o ilustrador que acompanhou os dois primeiros álbuns da banda. 

A música é da formação do quarteto original cheios de ideias e energia que deixam na rodela dois temas retirados no CD The Psychotic Sounds of... Dr. Frankenstein (Zona Música; 2002) sendo sempre de destacar o grande Road to Tabasco com o acordeão de João Mascarenhas dos brilhantes Stealing Orchestra. Surpresas é no lado B, primeiro com uma versão dos Mötorhead com a voz de Toni Fortuna (Tédio Boys, D3O, etc...) intitulada Orgasmatron 2028 e a prever (lembrar?) uma sociedade (outra vez) teocrática bem possível em 2028, holly shit! Do Heavy Metal fica uma versão Surf "light" e exótica-americana que realça a letra deste clássico do Rock. Por fim, Porno Star "goes" Electro, uma versão electrónica do tema do EP, feita com requinte sexy que até supera o original. Estamos em 2002 com a banda num seu auge criativo - a seguir "separaram-se" ficando o guitarrista André Joaquim no comando - e por isso tudo o que tocam é mágico. Apesar da trafulhice editorial, vale bem sacar este pedaço de história sonora.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Inferno são os poldros

 


A primeira reacção ao primeiro LP dos Conferência Inferno, Ata Saturna (Lovers & Lollypops; 2021) é foda-se que seca um revival de um revival de Dark Pop. É deveras desolador até para não dizer que é um retrocesso civilizacional ouvir uns Suicide limpos ou uns New Order badalhocos - sim eles ficam aí no meio. E depois ainda cantam com tiques do Ian Curtis, credo. Se ao menos que fossem ripar os Alien Sex Fiend já que a capa lo-fi prometia algo do tipo.

Como dizia o outro, primeiro estranha-se e depois entranha-se. As letras deprês acabam por entrar no ouvido mesmo que não tenham lá grande sentido mas escrever letras Pop nunca foi uma actividade coerente, na música Pop reagimos a "soundbytes" de frases que nos emocionam mas não quer dizer que se perceba ou se queira concordar com o resto da letra. E pouco a pouco, o orelhudo penetra na alma e corpinho, raios, bem que alinhava dançar esta merda numa discoteca gó-gó!!

Um bom disco do ano passado, diria mesmo um disco bem passado de um ano.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Será a caneta mais poderosa do que a espada?


 A edição portuguesa do Monde Diplomatique tem publicado, sob a nossa coordenação, as respostas em Banda Desenhada por uma série de artistas. 


Este mês é a vez da Ana Margarida Matos, autora do diário gráfico Hoje Não.

domingo, 9 de janeiro de 2022

Em banda desenhada?


136 páginas de BDs curtas de Francisco Sousa Lobo, criadas desde 2004 até este ano.
Algumas são inéditas outras já publicadas, muitas em publicações estrangeiras, que assim são publicadas em português pela primeira vez. Algumas BDs são a preto e branco, outras tem mais uma cor e algumas são a cores. O formato é aquele típico do nosso catálogo: 16,5x23cm

Disponível na nossa loja em linha, BdMania, Tigre de Papel, Linha de Sombra, Mundo Fantasma, Nouvelle Librarie Française, Tasca Mastai, Snob, Matéria Prima, Bertrand, FNAC, Kingpin BooksSirigaita, UtopiaSTET, A Vida Portuguesa, Fábrica Features e LAC.



A Sara Figueiredo Costa assina um prefácio que aqui transcrevemos parte:

Diz-nos a física quântica que o tempo não existe, pelo menos do modo cronológico, arrumado e em sucessão, o modo como o conseguimos ver e sentir. E diz-nos que tempo e espaço se relacionam de tal modo que serão, juntos, uma categoria única de descrição do que nos rodeia, uma ferramenta funcional para obtermos respostas tão precisas quanto o universo permite sobre si próprio. A física quântica não é fácil de perceber para a maioria da humanidade e é frequente que outras linguagens nos deixem intuir respostas que, não sendo mais claras, são mais facilmente apreendidas pela intuição. As histórias curtas de Francisco Sousa Lobo não falam de física quântica, cultivando as perguntas com muito mais dedicação do que qualquer resposta, mas talvez por isso mesmo sejam uma espécie de mapa possível para certas declinações do mundo, não as que descrevem o cosmos, mas as que envolvem o indivíduo, esse lugar estranho e inóspito onde o espaço-tempo tantas vezes ameaça desintegrar-se. 

(...) O desconforto que muitas das histórias reunidas neste volume criam no leitor não nasce tanto do desamparo encenado em cada prancha, ou da possibilidade de alguns ou muitos reconhecimentos emocionais, mas talvez do contraste provocado pela procura de uma racionalidade, um gesto narrativo e visual que transforme a matéria das histórias nas histórias em si. É esse o esforço que se descobre em cada história, e é esse o percurso que estrutura esta primeira narrativa do livro, de certo modo, uma antecipação certeira das que se lhe seguem. (...) Não é preciso mergulhar na física quântica quando temos à mão a nossa própria cabeça, o nosso próprio corpo e o lastro imenso de memórias e vivências que confirmam, a cada momento, que estamos sempre em presença efectiva de muitos momentos e que aquilo a que chamamos passado talvez seja, por inconveniente que soe, o nosso presente constante.

 E como bem descreve o Bandas Desenhadas: Pequenos Problemas é o livro mais recente de Francisco Sousa Lobo. Editado na série Mercantologia da Chili Com Carne, dedicada à reedição de “material perdido”, compila 15 bandas desenhadas curtas do autor, produzidas entre 2005 e 2018. Existindo algumas BD inéditas, as restantes foram editadas em publicações portuguesas ou estrangeiras, nomeadamente a Nyx, a Nocturnal, š! #20: Desassossego, Art Review, Mesinha de Cabeceira, Crumbs, Quadradinhos: Sguardi sul Fumetto Portoghese, Performance Research, Zona de Desconforto, Preto no Branco #4, Próximo Futuro e Jornal Universitário. As BD estrangeiras apresentam-se pela primeira vez em língua portuguesa.


FEEDBACK: 

Muito bom, o pequenos problemas do FSL. Parabéns ao autor e à Chili Com Carne. 
E.O.M. (por e-mail)

(...) «O problema Francisco era um problema de culpa.» Ora, a culpa inventa retroactivamente o pecado. Por isso, o retorno continuado para esse «país chamado infância» que surge em tantas destas bandas desenhadas, em que se busca aquietação, se procura respostas ou se tenta compreender o que se passou de errado. Voltar ao sítio do crime original para encontrar provas. «Voltei à infância e descobri falsos traumas». Que até poderiam ser tranquilizadores, se os conseguíssemos contrabandear como causas, explicações, desculpas. Nunca saramos da infância, temos aqui a prova nesta «intacta ferida» latejante. Só que as dores que permanecem não são produto de um acidente, um azar ou um desvio; são apenas a própria vida que acontece e a infância que passa, o desapontamento, a desilusão e o desespero que equivalem a crescermos em anos. Tantas destas bandas desenhadas remetem para esse passado, unicamente para atestarem que este exercício da autobiografia, mais do que um ato masoquista, toma os contornos de uma aldrabice, um fingimento. «A banda desenhada era uma doença». Por um «interesse doentio pelo desenho», se revela então uma inclinação para o «lado do mal» ou, por extenso, para «a literatura, a arte, e tudo o que há de mais nocivo e infértil nesta terra de deus desconhecido». Valha-nos, porém, que a banda desenhada pode ser paradoxalmente a terapia com que se recupera o poiso para a razão, ou que se usa para (auto-)representa rum «eu» liquefeito pela psicose ou que soçobra diante da enormidade da tarefa de viver.
é que é um verdadeiro livro de auto-ajuda, no sentido em que me poupa andar é procura de todas. As histórias foram produzidas entre 2004 e 2018, reunindo mais de 10 anos de trabalho. É muito interessante encontrar aqui muitas reflexões que surgiriam mais tarde no futuro e em obras mais longas de Sousa Lobo, onde ele continuou a explorar os temas de família, religião e importância da arte, além da descrição de certos episódios relacionados o colapso psicótico do autor, que desencadeou o famoso Desenhador Defunto. É realmente um privilégio a maneira como Sousa Lobo é tão aberto e honesto sobre esse momento difícil, tendo sempre algo novo a acrescentar, uma camada extra para compartilhar connosco.

sábado, 8 de janeiro de 2022

CRACKING de TOMMI MUSTURI até AMANHÃ na TINTA NOS NERVOS


 


Cracking  
Pintura, bandeiras e obra gráfica 
Tommi Musturi

A  Tinta nos Nervos apresenta um conjunto de trabalhos diversos do artista multifacetado finlandês Tommi Musturi (Ruovesi, 1975) que, nas duas últimas décadas, tem sido uma influente referência no seio de vários selos editoriais e gráficos independentes da Europa, e para além dela. Um artista multidisciplinar, tanto no campo das “belas artes” e das “populares”, trabalhando em imagem e som, como no campo editorial editorial através da Boing Being, da Huuda Huuda e da KutiKuti, Musturi é um nome celebrado.    

Em Portugal o seu trabalho tem sido apresentado sobretudo pela editora MMMNNNRRRG, que publicou, entre outros trabalhos curtos, os dois volumes da série Samuel Antologia da Mente, um livro que coligiu a produção de banda desenhada do autor de entre 1997 e 2017 em pequenas editoras, zines e outras peças.

A exposição patente na Tinta nos Nervos até o início de 2022 apresentará uma série de 15 pinturas e 3 bandeiras, todas datadas de 2019 e 2020, em tintas acrílicas e outros materiais, que mostram uma das práticas ou produções correntes do artista: uma permanente tensão entre o figurativo e o abstracto, entre as formas mais afectas a um certo imaginário popular da animação e banda desenhada e um movediço informe que parece dar conta daquele fundo inquieto de onde partem todas as formas (o reino das Madres de Goethe).   

A exposição incluirá ainda um conjunto alargado de múltiplos que remontam a 2012 e atravessam esta última década de trabalho. Será também projectado o episódio do projecto do realizador português Edgar Pêra, Cine Comics, dedicado a Tommi Musturi.    

Esta exposição conta com o apoio do Instituto Iberoamericano de Finlândia

Expresso Remoto