quarta-feira, 30 de junho de 2021

Dekomikonstrutivismus

 



Podia ser uma canção dos Smiths - oh, por favor!! - aqui vai: "esperei 10 anos da minha vida para que a Opuntia Books voltasse às lides editoriais". Em inglês soaria melhor, se calhar, snif snif! Veio em dose dupla, há um Para-Cine de um tal de V.B.O.M. que é uma colecção de desenhos encontrados de retratos de estrelas de cinema mas a cereja no topo and beyond that é este Dekomikonstrutivismus de André Lemos que compila os seus recentes "comix-remix"

Se o Kus! do Desassossego foi para o autor na altura o final da sua produção em BD - foi o que me confidenciou na altura - com o Kus! do "fim" em que publicou originalmente uma destas BDs é o seu recomeço na produção de BD. Ironias do mundo, resultados fenomenais. Lemos como outros nativos do final do século XX, tem um fascínio pelas BDs populares da sua infância e puberdade ao ponto de voltar a elas para as desmanchar e criar novos dispositivos narrativos e estéticos - ver DémoniakDice Industries, Marko Turunen ou Samplerman Claro que podemos traçar no tempo o Max Ernst e o Jess, anos 20/30 e 50 respectivamente, só que são casos muito isolados no tempo, hoje há muita mais gente a trabalhar em "remix". Esta vaga nova de artistas que tem trabalho na colagem e reciclagem de material antigo para trazer novas leituras trazem também "novos" patamares de leitura que implicam o reconhecimento do atraso da BD em relação às outras artes. Engole. 

Nestas BDs engole solidão, engole conspiração, engole guerra, engole isolamento... Mas que sei eu? O material remontado ganha novas interpretações, algumas delas desconfio intimíssimas ao sabor de cada leitor. O que interessa é que eis uma bela publicação da Opuntia no lugar e tempo certo, em formato "puro italo-pulp", ou seja, num formatinho pequeno - ao contrário dos habituais A5 dos Opuntias anteriores - tal como o das revistas originais que circulavam nos quiosques até aos anos 80. As BDs de guerra vinham dos ingleses, o porno e o macabro de Itália, a sociologia das nações deve explicar isto. 

Edição exemplar tal como há 11 anos atrás quando saiu o último livro desta editora.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

ccc@RAIA.5 ---- atenção aos NOVOS horários pandémicos!!!!

cartaz de Filipe Abranches


Depois de confinada duas vezes eis que a RAIA volta ao espaço habitual (embora tenha mudado de gerência e denominação) Núcleo A70 - onde há duas semanas atrás houve a Feia

Eis pois o mais importante evento nacional ligado à edição independente que teremos todo o orgulho em participar.

Sábado e Domingo: das 10 às 15h30 

Apareçam!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Música feia (batota)

Houve uma bela de uma Feia e levei alguma música para casa. 

A começar pelos amigos da Clean Feed, onde apanhei uma pérola no meio dos seus 700 discos editados em 20 anos que comemoram este ano - caramba! - a saber: Xabregas 10 (2016) dos L.U.M.E. Sabe-se lá quando vamos encontrar outros CP Unit mas até lá, um gajo mais vale ir pelo seguro. Neste caso é que além de ser apenas o segundo registo que existe desta fantástica Big Band, é o registo ao vivo do Jazz em Agosto de 2014 e que tem uma história divertida. No ano anterior a essa edição, o "nosso" Rui Eduardo Paes mandou uma boca à organização do festival pela pouca participação de músicos nacionais - isto até poderia soar a bacoco caso na altura, não existissem realmente boas propostas portuguesas dignas de subirem ao palco dos jardins da Gulbenkian. O director Rui Neves no ano seguinte, para equilibrar as quotas nacionais não vai de modos, programa os L.U.M.E. o que dava logo 16 músicos 'tugas! Piada à parte, tenho pena não ter assistido a este tornado de sopros e metais super-bem orquestrados que tanto parecem incontrolados como programados - como se o Carl Stalling tivesse vivo e a expelir anfetaminas por todos os poros do seu corpo -, acompanhado de samplers Pop/ Rock (um que vai ao primeiro de Death Grips!) e glitches digitais. Uma prova viva de que se pode usar o passado com roupagens novas sem parecer ser um número de nostalgia barata. Entretanto correu o belo rumor que os L.U.M.E. vão voltar a gravar este ano. Viva!!!

Seguindo prá mesa da Rotten\\Fresh já estava lá acessível a k7 If i was simple in the mind, everything would be fine de Phoebe. Eis um disco incrível, na linha dos Experimental Audio Research, todo ele Komische e Illbient - fala-se por todo lado em shoegaze mas é pura ignorância de quem faz "copy/ paste" de uma pomposa nota de imprensa igualmente ignorante. O que poderia ser um dos grandes discos do ano infelizmente mete tudo a perder (e não, não falo da capa merdosa) porque se ouve por uns meros segundos uns grunhos a gritarem pelo Benfica numa faixa. Nada contra o Benfica, quero que se foda juntamente com todos os outros clubes de futebol, mas justamente porque não percebo porque um músico investe tanto a criar um imaginário para justamente trazer-nos a realidade da maior boçalidade portuguesa. Não faz sentido, ou então temos de nos conformar com o facto de vivemos num país nada sofisticado e sem escapatória que nem na música encontramos refúgio. Triste.

De frente à Rotten 'tava um rapaz israelita (acontece, ninguém simpático escolhe onde nasce) a vender húmus e uma k7. Deu aquela tanga que a k7 era música dele a preparar o pitéu. Se o DJ Balli já fez noise com skates e pasta porque não com húmus? 

Lá comprei a comidinha bem boa e a k7 The Hummus of Reverbs do projecto dele intitulado Hummus International. É uma actuação ao vivo no Desterro em Março deste ano numa onda pós-industrial Ambient que pode ser mil e uma coisas feita por mil e um putos da Electrónica em 1981 ou 1991 ou até 2001... Não deixa de ser fixe de ouvir, não é fritaria monótona nem Harsh Noise. Ouve-se bem enquanto se come pizza, por exemplo. A k7 como tinha um lado virgem lembrei-me de gravar um disco burguês de Einstürzende Neubauten.

Viseu é a "Bible Belt" portuguesa, ou melhor, a "Rotunda da Bíblia" e como reacção a esse limbo (a)cultural eis que saiu o primeiro volume de Viseu Demo Tapes (Zip-A-Dee-Doo-Dah Discos) que mostra bem as oportunidades perdidas e tensões de uma geração. O Viseu Demo Tapes é um bandcamp "anarquivista" de todo gato-sapato de banda que pare por esta cidade do Cavaquistão, sendo lançadas algumas reedições em k7s e agora este duplo-CD onde sem pejo vai tudo numa caldeirada sonora "roskof " (são demo-tapes, senhor, são demo-tapes) de vários géneros musicais embora domine o Punk & Hardcore, o Metal à la Metallica, Industrial(-in-process), algum Indie, Grunge (ahahah) e algumas peças sem definição como os Lucretia Divina, talvez o projecto mais conhecido da cidade. Centrada nessas demos mal-gravadas porque, dizem as notas no CD escritas por Ricardo Ramos (dos Dirty Coal Train), nunca houve um estúdio de ensaios e de gravação até meados de 2000 (o município preferiu gastar os fundos europeus em rotundas muito provavelmente) e por isso o que ficou, foram gravações de concertos, ensaios e algumas demos em 4 pistas. Creio que as músicas aqui presentes serão todas dos anos 90, talvez à excepção dos Bastardos do Cardeal dos anos 80 - um problema deste feliz anarquivismo, é a falta de mais informações do quer que for - e mostra que a raiva era enorme naquela cidade de "Onda Laranja" (Bastardos dixit). As bandas cospem temas contra padrecos com "verga morta" (The Mob), babam-se por sexo invocando Ninfomaníacas locais (uma fantasia comum dos rapazes frustrados dessa época na falta de miúdas sexualmente emancipadas), humor cócó-xixi (Alta-Mente), o alcoolismo e drogaria (Capitão Veneno). Tudo isto num som mais ou menos feio, amador, DIY, cru e "lo-fi" que nos dias de hoje choca muito menos do que se fosse na altura, mais, até realça um lado selvagem e perigoso desta geração de bandas - basta ver a grande desilusão que foi na altura a gravação do disco / CD (profissional) dos Lucretia Divina. De referir ainda, prós cromos da BD, que está aqui incluída uma música dedicada ao Espião Acácio - BD de Relvas (1954-2017) - pelos Major Alvega ripando os Art of Noise.

Claiana é capaz de ser, infelizmente, o segredo mais bem guardado do Porto e de Portugal. Festa garantida de um "afropop" e que já vi comprovada quer nos 10 anos da MMMNNNRRRG quer em festa de Carnaval num baile de bombeiros no centro do "Morto.". Talvez esteja na cidade errada, o "Morto." nunca foi muito cosmopolita para a música africana e pergunto se este projecto teria mais hipóteses de crescer em Lisboa. Seja como for, o que interessa aqui é que a Favela Discos, em 2019 - bem sei, que venho atrasado - fez o excelente trabalho de compilar as suas músicas neste volume 1 com uma capa (e poster!) de João Alves
Não me lembro se vi Claiana a actuar só com uma pessoa - isto é, o cabo-verdiano Gui Lee a solo - mas há muitos anos que é acompanhado por Luís Figueiredo, um gajo com pinta de metaleiro arrependido que dá conta das máquinas - e da guitarra? Não há créditos de guitarras dele no disco,... fuck, a memória é realmente traiçoeira! Mas há guitarras! Credo que confusão! Eis a união inesperada de um cabo-verdiano em Portugal que canta de forma invulgar (a técnica dele é o nome do projecto, claiana) com um português do Norte que bomba zouk lo-fi anacrónico, como se tivessem chegado em fitas magnéticas dos anos 80. Atenção que a composição é do Lee - toca baixo e sintetizadores. Mas mais atenção é que só há 200 unidades deste CD. Ah pois!

Batota, este CD foi sacado na Necromancia e não na Feia! Batota este Crossfade frenquencies dos Sensor também não é um disco "sincero"! Cóf cóf cóf, eu explico, calma, trata-se de um Frankenstein sonoro, fruto de colagens e edições de várias gravações da banda ao longo deste tempo curto de existência mas longo de registos. Como é mesmo aquela frase mesmo!? O todo é maior do que a simples soma das suas partes? Aqui aplica-se sem dúvida a julgar pela audição penosa dos tais outros registos da banda. Este disco foi montado usa os melhores trechos dos tais registos ou jams do grupo, criando um grande disco com uma dinâmica e continuum que deixaria os snobs do jazz embasbacados e o pessoal do post-rock mijados. As naturais excrescências foram limpas como se faz no Photoshop para a pele da modelo ficar divinal. Quanto à ideia de falsificação de estúdio por mim, não faço juízos senão não havia Beatles ou Ministry ou os pujantes "álbuns ao vivo" dos Kiss e Type O Negative, em que estes gravaram em estúdio sobre o barulho do público. Já para não falar da boa linha de baixo tocada por um músico de estúdio gravada à revelia dos Talking Heads no seu LP de estreia. A pós-verdade já vem de longe, amigos. Outra vez: grande disco!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Caminhando com dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS



Os maninhos dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS fizeram 14 anos e lançaram no seu bandcamp um disco de temas soltos em colectâneas - algumas que até falamos deles aqui e outra que até editamos!! Ou seja, entrou o tema Caminhando Com Samuel (dedicado à criação do Tommi Musturi) que foi incluído no CD do Punk Comix. Parabéns malta!

domingo, 13 de junho de 2021

Outra feia ÚLTIMO DIA


A Chili Com Carne vai à Feira Feianão confundir com a do Montijo até porque esta é dedicada à música. Lá estaremos com a nossa selecção de livros sobre música, discos, ou livros com discos ou livros de BD de artistas que também são músicos e todas misturas possíveis...

quinta-feira, 10 de junho de 2021

NAU é isto que eu chamo roubo!



Eis o quarto volume da série Música Portuguesa a Melhorar-se Dela Própria, editada pela Chili Com Carne e Rotten / Trash, desta vez em forma de colectânea com as melhores bandas que alguma vez este piqueno e piriférico rectângulo pariu:

Rute Redtoes
Siameses da Mãe
Capitães do Cabril
Moonspeed
Less Than A Minute
Dead Pombo
Silence 4:33

Um disco que é uma máquina de "hits" e que poupará aos nossos ouvintes dias das suas vidas na audição de discos perfeitamente inócuos e chatos das bandas originais - que facilmente a vossa inteligência já descodificou as origens.

AGORA poderá ouvir as versões melhoradas de bandas que nem bons logotipos criaram, para o mal de muitos designers precários, corridos a Arial ou Helvetica, com a excepção dos metaleiros dos caracolinhos que sempre tiveram um jeitinho para o drama visual. Olhando para esta gente, a impressão que nos dão é que são uma espécie de marca branca, eficazes mas invisíveis, sem uma aristocracia ou um estrelato histórico, condenados ao fracasso artístico apesar de todo o esforço espetacular que produziam, nos tempos pré-covideiros, com demasiados discos e concertos.

Eram impossíveis de aturar tal a modorra total das suas composições e execuções das obras mas AGORA o sábio ouvinte pode sentir um alívio neste dia que comemora a língua zarolha do Poeta. Houve casos que tivemos de acelerar os temas, noutros condensá-los ou até meter várias faixas a serem tocadas ao mesmo tempo - era isso ou morrer! Houve até casos extremos em que tivemos de ser absolutamente radicais e alterar tudo, não havia nada que se aproveitasse para ser melhorado. 

Os resultados são soberbos e superiores!
Não é de admirar!!
Afinal de contas envolvemos alguns dos melhores produtores musicais da praça!!!

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Temas gravados entre 2017 e 2021 nos Outsourcing Studio.

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Edição limitada de 30 cópias em Mini-CD.

ESGOTADO

quarta-feira, 2 de junho de 2021

o REgresso da NECROmancia EDITOrial




A Chili Com Carne, com a parceria dos Discos de Platãovai regressar com o seu Mercado de Edições Independentes NECROMANCIA EDITORIAL, cuja última edição foi no Milhões de Festa de 2018!!

Mantemo-nos no Norte e assim sendo no Sábado de dia 5 de Junho estaremos no ESTALO!, um evento a acontecer no Instituto de Design de Guimarães, que inclui exposição, filmes e concertos. O horário será entre as 11h e as 19h. 

Estão confirmadas a presença dos seguintes editores: Associação Chili Com Carne + MMMNNNRRRG (2000-20), Atelier Arara + Favela + Fojo + Gabinete Paratextual + Prego + O Gorila + Sonoscopia, Bestiário, Discos de Platão + Sarna, Erva Daninha + Massacre, Imprensa Canalha + Opuntia Books, Palpable Press e Rodolfo Mariano.

Este mercado apresenta o melhor que se produz em zines, revistas, livros, k7s, discos, ou seja a "edição independente" que luta contra a estupidificação do mercado da cultura.

Venham porque já está tudo bem!


Novidades editoriais:

- Fosso #1 (Imprensa Canalha), de José Feitor
- M.A.L. vol. 000, de Rodolfo Mariano
- Pentagrama #0 (Mãotanha Livros), de Rodolfo Mariano
- Querosene (Chili Com Carne), v/a
Swallow the Universe de João Caridade
- Tumulto (Imprensa Canalha), de José feitor


 





De resto, o ESTALO terá uma exposição de originais de André Coelho (Terminal Tower e Acedia) intitulada Território - Término e uma mostra bibliográfica da Fundação Farrajota que volta a ser É só vaidade!



Mostra bibliográfica constituída por fanzines e outras edições independentes do acervo da Fundação Farrajota. Podemos considerar os zines como um artesanato urbano da Era da Informação, publicações amadoras em marginalidade, galerias nómadas e precárias, reações à tirania da História. Localizáveis desde os anos 30, sofreram mutações mas continuam a provocar dores de cabeças a todos que gostam de gavetas certinhas. Estarão expostas uma série de publicações para provarem a sua riqueza de temas e formatos, embora a selecção desta mostra irá-se incidir sobretudo na BD.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Whenever life gets you down, Mrs Brown...

 


Eis o primeiro disco Pop/ Rock português (mas não em português, snif snif) de auto-ajuda: Bro, You got something in your eye - a guided meditation (Discos de Platão, 2021) cortesia dos Unsafe Space Garden. Imaginem a Galaxy Song dos Monthy Python esticada numa hora mas não esticada à Jorge Calma, calminha! Esticada no bláblá e no virtuosismo musical zappiano e bungleano. 

Jogo musical entre uma voz feminina que sabe tudo (nada mais irritante que jovens que sabem tudo) e uma masculina tótó burocraticamente aborrecido (hilariante!) fazem o pós-modernismo Prog sem nos deixar respirar um bocadinho que seja. Information overload! Se normalmente um livro de auto-ajuda tem uns grandes tamanhos das fonts para encher chouriços e uma paginação espaçada para o leitor consiga ter a satisfação de ter lido um livro na vida, aqui o chouriço vomita informação, saímos tão cansados e esquecemos tudo o que nos ensinaram para estar vivo em 2021. Portanto não se guiem por este disco que vai dar merda de certeza.

Outra coisa, o Neil Young há anos que anda a lutar para que se oiça música sacada da 'net com qualidade. E o homem tem razão, há anos senti isso com os Ocelot Kid e novamente acontece com estes USG, o que se ouve no bandcamp-comprimido não é o que se pode ouvir num CD. A Chili Com Carne recomenda!