quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A Fábrica de Erisicton // ESGOTADO em 2021 mas ainda com bom feedback!

 


O fanzine Mesinha de Cabeceira voltou numa onda de "back to the basics" após cinco anos de ausência. Este retorno às origens humildes de uma tiragem baixa de 100 exemplares, como fanzine / zine / perzine (riscar o que não interessa), tal como em 1992 (ano do primeiro número) tem a razão de ser para dar voz a autores desconhecidos / novos / fora de qualquer radar (riscar o que não interessa).

Começamos com A Fábrica de Erisicton de André Ferreira que é uma BD eco-psicadélica inesperada sobre a destruição do Alentejo pelas culturas super-intensivas que se praticam. O grafismo é tão naíf como visionário, com poucos sítios para segurarmo-nos se não fosse o facto da mensagem ser tão desesperante. O aviso já pouco serve, o Destino está traçado, como se vê nestes anos estranhos que vivemos, em que nada mudou em termos de atitude ecológica, a borregada quer é viajar e poluir. 

Resta-nos estes pedaços de arte colorida e imaginativa em singelas 24 páginas. 
Obrigado André!



Mesinha de Cabeceira #29, edição da Chili Com Carne, Abril 2021, 24p a cores 18x25 cm, capa a cores, 100exemplares.



ESGOTADO, ainda devem encontrar exemplares na Linha de Sombra, Neat Records, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, Utopia, Alquimia e na ZDB.



sobre o autor: faz música sob o nome de Goran Titol - que poderá participar este ano numa colectânea da nossa série Música Portuguesa a Melhora-se Dela Própria -  animação em técnica de "stop-motion" com ajuda da Mãe Natureza e é autor da BD tendo participado na antologia Venham +5 e com o livro a solo Ouro Formigas (2013), ambos publicados pela Bedeteca de Beja.


 FEEDBACK: 

Panfleto libelo anti-destruição da natureza em nosso torno, disfarçado de reconto mitográfico psicadélico (...), breve passeio alucinado que deveria antes servir de guia para redescoberta da nossa paisagem e manual de instruções para a sua recuperação... 

segundo a Tinta Nos Nervos 


 Fico espantado com a quantidade gigantesca de livros que são publicados actualmente. Florestas inteiras de papel impressas com todo o tipo de inanidades e de vacuidade. A esmagadora maioria vai, certamente, acabar nas debulhadoras de reciclagem, resultado da mais completa indiferença e esquecimento. 

No entanto, as paredes e sombras erguidas por estes livros inanes ocultam e obliteram os outros livros que valem a pena a ler, soterrando-os para os confins da vista. A Fábrica de Erisicton é um manifesto eco-activista inspirado no livro VIII das "Metamorfoses" de Ovídio, baseando-se na história da mitologia grega do rei Erisicton que depois de cortar com um machado uma árvore sagrada, é castigado com uma fome insaciável, que o vai obrigar a devorar-se a si próprio. 

A sobre-exploração dos recursos e da terra pelas culturas intensivas que se multiplicaram na paisagem alentejana, são o pano de fundo desta metáfora desencantada. 

O desenho colorido psicadélico e naif de André Ferreira, profundamente poético sem ser panfletário, devolve-nos uma imagem irreal e delirante, mas simultaneamente tão próxima e implacável, resultante de um capitalismo tardio, cujo último estertor prolonga-se agonizante, mas sem permitir vislumbrar o que se seguirá. 

Como assinalou Mark Fisher "o capitalismo está de facto talhado para destruir todo o meio humano. A relação entre capitalismo e desastre ecológico não é uma coincidência nem um acidente: a «necessidade de um mercado em constante expansão» do capital, o seu «fetiche do crescimento», significa que o capitalismo se opõe pela sua própria natureza a qualquer conceito de sustentabilidade." 

Com toneladas de livros inúteis espalhados por todo o lado, a edição de singelos 100 exemplares de A Fábrica de Erisicton está esgotada, o que se lamenta, pois este volume devia estar permanentemente disponível e com o autor em digressão ininterrupta pelas escolas, integrando um plano de leituras e de discussão transversal a diversas disciplinas curriculares.

My Nation Underground



Entrevista no P3 / Público

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ccc@festa.do.livro


Uma selecção de livros nossos vai estar na Fundação Oriente na sua Festa do Livro, a partir de amanhã até 17 de Dezembro. A selecção implica artistas orientais - como o tipo do gato ou o Yokoyama -, artistas que usam a estética Manga (André Pereira, Marko Turunen ou Ilan Manouach) ou trabalhos que abordam cultura oriental (REP, Tiago Manuel). 

De resto, dia 2 de Dezembro, às 16h, lançamos lá o Tóquio Zombie de Yusaku Hanakuma com presença dos editores Marcos Farrajota (Chili Com Carne) e Cassiano Soares (Sendai) e a artista Hetemoé.

sábado, 11 de novembro de 2023

ccc@FEIA#3


 

Vai haver terceira FEIA na Casa do Comum, lá estaremos com a nossa selecção de livros do nosso catálogo que tratem de música (REP, Balli, Gato Mariano, Nunsky), tenha música (Travassos, Zimbres + Mechanics, Krypto) ou os artistas sejam músicos (Coelho, Pita, Smith, Mariano, Rudolfo, Manouach) ou ainda edições fonográficas nossas. Faremos bons preços!! 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Humanos : A Roya é um rio

Baudoin & Troubs

figurandorecuerdo(s); 2019


Edmond Baudoin é uma figura ímpar na BD francesa com uma longa carreira que foge às modinhas da indústria, especialmente quando começou nos anos 80, em que não era fácil partir o molde do álbum franco-belga com maminhas à mostra. A relação com Portugal não é normal, como aliás, como acontece com outros autores – olhem o espanhol Max que foi publicada uma BD n'A Batalha #288/289 -, quero dizer, ambos fartaram-se de nos visitar mas publicá-los ‘tá quieto! 

Baudoin visitou o Salão Lisboa 2000, depois passou tantas vezes pelos festivais de BD da Amadora e de Beja que perdi a conta e ainda voltou em 2020 à galeria Tinta nos Nervos em Lisboa, sempre com exposições de originais estupendos. Ainda por cima, ele é um amor de pessoa, cheia de boa disposição, simpatia e humildade, quem não teria a vontade de o editar? No entanto, até hoje, só saiu uma BD curta na revista Quadrado #2 (3ª série; Bedeteca de Lisboa; 2000) e o livro A Viagem (Levoir; 2015) - que faz parte daqueles 10% dos títulos que merecem ser lidos na horrorosa colecção Novela Gráfica que saí com o Público todos os anos. Querem mais? Procurem este álbum em galego-português porque não há mais nada para quem não atina com o francês, daí justificar-se divulgar aqui um livro com data de 2019.

Feito em parceria com Troubs, outro autor de BD francês que gosta de viajar e que em conjunto contam com pelo menos cinco livros editados, ambos vão retratar as caras de refugiados e de pessoas que os apoiam na sua marcha – sendo que essa solidariedade pode ser punida por lei. Roya, é um rio entre França e Itália, onde acontece um diário jogo do “gato e do rato” entre refugiados (ilegais) a tentarem passar as fronteiras e a bófia mas também das associações de apoio ou de apenas indivíduos insubmissos que decidem ajudar os refugiados. Mais que uma BD com um sentido narrativo clássico é uma galeria de retratos e de pequenas histórias, com algumas derrotas e algumas vitórias, como só Baudoin poderia “caligrafar” com a sua tinta. São belas as caras de todos estes humanos que os governos tentam desumanizar ou diabolizar. E se o exercício parece fútil ou exploratório, isto é de desenhar os retratos de pessoas em stress ou trauma, na realidade, é na realidade apenas um subterfúgio para quebrar o gelo, para que essas pessoas comecem a falar das suas histórias pessoais, de longe está a estetização da tragédia alheia.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Será a caneta mais poderosa do que a espada?




A edição portuguesa do Monde Diplomatique tem publicado, sob a nossa coordenação, as respostas a este desafio em Banda Desenhada por uma série de artistas. 

Este mês é a vez da Matilde Basto (2001, Lisboa), licenciada em Ilustração na London College of Communication. Tem um trabalho de ilustração diverso e experimental com foco em exploração de técnicas de impressão. Publicou o seu primeiro trabalho de banda desenhada em 2022, Casal de Santa Luzia, integrado no zine Mesinha de Cabeceira.

domingo, 5 de novembro de 2023

Somos os melhores ou lá o que é...

 


Segundo o Flynn Kinney, um bom gringo que vive em Lisboa, e que colabora no fanzine Bubbles. Este Top 10 é de 2022 e saiu no número 16. Fixe, mámêne!