sábado, 4 de abril de 2020

Assim não vale...

Lo Corona shit deu cabo da edição física da Loud! deste mês - ainda bem, meu, a capa são os Nightwish, credo, que azeite!! - mas há PDF grátis aqui. E pá, se está na 'net então meto aqui as minhas resenhas críticas, que se lixe! Ah! Tem pontuação de 0 a 10 porque os metaleiros obrigam a tal!



Antes de Stealing Orchestra houve Hardware, banda de Metal Industrial por um puto sozinho num quarto nortenho. Estávamos em 1994 com um João Mascarenhas metaleiro e com visões cibernéticas a fazer esta “demo-tape” agora reeditada passados 26 anos. Imaginem Nitzer Ebb mais da electro-metalada. Como podem imaginar, os tempos eram outros, a tecnologia idem idem aspas aspas, e claro a divulgação ou impacto que isto teve ficou-se provavelmente por apenas uma entrevista no Headless’zine (uma das dezenas de fanzines de Metal que existiam na altura). Ouvir isto é um misto de duplo sentimentalismo, por um lado a parte naïf do projecto, a sua simplicidade de meios de produção, espécie de “Fear Factory sem orçamento”, e por outro, pela nostalgia de ouvir este género que já se institucionalizou-se à bimbo Rammstein ou à “emo-chato“ tipo o gajo das “unhas de nove polegadas”. Ouvir este CD não ofende nada nem envergonha ninguém. Para quem acompanhou a carreira de Mascarenhas reconhece já aqui o seu humor como se pode aperceber pelo título da última faixa Adolf Hitler Talks About The Universe. O humor cáustico que em 2002 até deixou os Holocausto Canibal cheios de cagunfa das remixes de Stealing para Sublime Massacre Corpóreo6,66666(E)



Depois de lançar o livro de “mash-up” literário Frankenstein, or the 8-bit Prometheus (Chili Com Carne + Thisco; 2018), Balli foi aprofundar sonicamente os conceitos da sua obra, promovendo até sessões espíritas através de Gameboys, como poucos puderam presenciar na Tasca Mastai (Lisboa) e na Galeria Municipal do Porto. Invocando o espírito de Giovanni Aldini (1762-1834), sobrinho de Galvini (ao qual Balli já dedicou um disco de Grind-Gabba, ver Loud! #214), que também andava a reanimar cadáveres usando electricidade, este cientista inspirou o Frankenstein de Mary Shelley. Agora em CD, numa embalagem algo infantil, eis as sessões espíritas gravadas para usufruto para todos os crentes e outras alminhas. Soa a um “spoken-word” impecável - não há uma ponta de sotaque italiano pasmem-se! - sonorizado por uma sofisticada banda sonora de videojogos. Ouvir esta gravação nestes tempos de excesso de informação é um desafio intelectual tramado, não fosse também o texto uma híper-ficção sobre um monstro sonoro capaz de engolir toda a música do mundo, mesmo a mais vil e criminosa como o Trap e os Super-Tramp, num mega-mix omnívoro dirigido pelo Shitmat. Este recital obriga-nos a alguma concentração. E vale a pena perder tempo com isto? Sim, o ambiente mórbido funde-se com o sofisticado sentido de humor, emergindo um terceiro olho leitor de códigos de barras. Sim, acontece a Alquimia, vulgo, a Imaginação, o mais raro dos elementos no século XXI. 7


Há poucos músicos portugueses que sejam assertivos como André Coelho, co-fundador dos saudosos Sektor 304 – aquela besta Industrial de destruição total. Esta seria até a forma mais básica de apresentar Metadevice: é S304 mas só com Coelho e algumas participações externas pontuais, mas sobretudo sem as batidas poliritmicas e sincopadas de João Pais Filipe. Tudo é feito por ele até a excelente embalagem, cabeça, tronco e membros. Neste homúnculo sonoro não há aqui piadolas e nem fingimentos estéticos como 99% produção musical portuguesa – o que não impediu no passado de Coelho ter feito projectos iconoclastas ou provocantes. Muito menos, não há aqui queixumes de pagar o pão na mesa (como o hilariante editorial da última Loud! [OLHA CENSURARAM ESTA PARTE NA REVISTA!!]) ou achar que se faz Arte sem suor, sangue e lágrimas. Para quem dificilmente encontrava “up-grades” ao Industrial primordial, da chapa de aço amplificada, do power electronics másculo, do noise sem ser drone fácil e em geral a um corroído Illbient, eis um “regresso” após seis anos após o fim de S304 [(cinco se pensarmos no último registo dos Mécanosphère) quatro com as actuações ao vivo de Sinter]. Alguns vocais disparam erudição literária como textos de Ezra Pound ou Thomas Pynchon - nada de números cripto-circenses “crowley-anus” e outros “senhores dos anais” – criando uma desorientação propícia para 2020. Aliás, a desorientação mundana e existencial é o tema de eleição de Coelho seja na música seja na BD – basta ler Acedia (Chili Com Carne; 2015). Destaque para dois temas assinaláveis, Magnetoesthetics e White Jazz. Obrigatório! 9

Já agora uma boa entrevista a André Coelho AQUI.

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