sábado, 27 de março de 2004

A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer

Alice Geirinhas
Fenda, 1995; Mimesis, António Henriques, 2003

Três livros em volta das exposições de Alice Geirinhas, artista plástica e ilustradora que também editou fanzines de banda desenhada (juntamente com João Fonte Santa criaram o selo A vaca que veio do espaço). Nas suas intervenções artísticas, Alice mistura vários médiuns, e a prova é o primeiro volume de "A nossa necessidade (...)" que num formato pequeno imita a estrutura e intenções dos mini-zines, por um lado publica duas bd's que fizeram parte da sua exposição na Galeria Zé Dos Bois em 1995 servindo como catálogo ao mesmo tempo que divulga de forma económica o trabalho da autora.
Já o segundo volume, existe nitidamente um aburguesamento de intenções pois assume-se mesmo como um catálogo da exposição na Galeria Marta Vidal (no Porto) em 2002. Embora o aspecto do livro seja muito agradável enquanto produto final e as participações "marginal deluxe" seja (sempre) interessantes - como a controversa escritora Sarah Adamopoulos e a esquizofrénica poetisa Adília Lopes - acho que a organização do livro é confusa para dar um efeito "alucinado" mas que acaba por ser dar um ar falso a todo o livro...
O trabalho de Alice neste ciclo é sobre a condição feminina na sociedade portuguesa nos últimos 15 anos. No primeiro volume o tema é abordado pelas tenções entre gerações e as vivências urbanas, já o segundo volume trata das questões da mulher (já) emancipada. Ambos deixam sempre questões no ar, como se a Alice (projectada nas personagens de alguma forma) se questiona do seu próprio futuro. Em 1995 a Alice tinha os seus 20 e tal anos dai a temática ser mais "bad" + "punk" no primeiro volume e há pouco mais de 2 anos tem 30 e tal (eu sei que não se deve revelar a idade de uma "Leide"!) a visão é mais tecnocrata no segundo...
Entretanto pensava eu «Hum... será que daqui uns anitos vamos ter uma terceira entrega (exposição + livro) com uma Alice quarentona? Vai ser bonito-vai!» mas esqueci-me que já tinha havido uma terceira exposição desta vez na Galeria António Henriques (em Viseu) que parece muito pouco inspirada, ou pelo menos o catálogo não dá para perceber o que se passou...

3,7 ambos

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