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Tiago Guillul : V (FlorCaveira; 2010)
Este seria o Remain in light de Tiago Guillul, caso Guillul tivesse um Brian Eno a ajudá-lo como este produziu os Talking Heads. Este é o disco que deveria ser o "template" do Pop português há 20 anos atrás - curiosamente o citado disco dos Talking é de 1980 - fazendo a eterna marca de que Portugal está atrasado 20 anos em relação ao resto do mundo.
Vamos por partes, de "panque" este V nada têm, é Pope do Senhor. Pope nostálgica devedora à New Wave e No Wave que investiram nas polifonias africanas para fazer um Pop novo e aliciante. Em Portugal, pouco aconteceu no que respeita a relações musicais luso-africanas. A Cesária Évora foi invenção dos franceses. Houve ausência deste continente musical nos medias e em eventos públicos até os Buraka apareceram em 2006 para dar uma volta ao "som sistema", isto para resumir muito ao de leve a nossa ingratidão e racismo cultural.
Guillul, panque roquer e pastor protestante, assumiu o paradoxo e em cooperação com outros alinhados trouxe a língua portuguesa de volta à música moderna portuguesa, em parte fez um exercício de memória dos anos 80 (não é à toa que Rui Reininho participa neste disco), mostrou que o DIY rende e no meio apostou demasiado no cantautorismo -o seu pecadinho menor, até porque Guillul nunca esteve completamente embrulhado nessa fossa de choramingas. Uma costela africana saia-lhe de vez em quando, agora brotou uma espinha completa, só lhe falta a bunda de preta!
Samplou vários materiais evangélicos em loops, meteu a sua mensagem em letras Pop bem escritas e cá está o quinto volume de músicas Pop orelhudas e inteligentes. Falta-lhe é a agressão panque (esquecida por enquanto?) e a loucura Afro (a explorar no futura? a soltar a franga?). Talvez seja um álbum de transição mas sobretudo é um álbum de coragem afinal ele (acompanhado por Silas) gravou num estúdio profissional, o da Valetim de Carvalho, a "abbey road portuguesa". Talvez por isso que esteja limpinho? Talvez para a próxima precisam de um produtor (de música electrónica) cromo do Norte para aquecer este mambo.
Na versão vinilo de V foi incluído um CD-R grátis intitulado O Antes e Depois dos Gratos Leprosos, banda de Tiago & cia até 2005, antes dos Lacraus e dos sucessos mediáticos da FlorCaveira. As músicas foram reutilizadas ao longo da carreira das várias bandas de Guillul, sendo que em 2009 reuniram-se para regravar o legado. Este disco é o paradigma FlorCaveira antes de se estragar - ver resenhas críticas neste blogue.
Resta referir que fiz a capa para este disco e em troca o Guillul prefaciou-me o meu último livro, Talento Local. Por isso acabam aqui os meus comentários obviamente comprometidos.
Tenho cópias deste disco para quem quiser desde que compre um dos meus livros: Noitadas ou Talento. Limitado ao stock existente. E também a versão vinil (com o disco dos Gratos) e versão CD digipack - desconto 20% para sócios da CCC.
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