Banda de "falso Jazz", que de alguma forma vai fazer contacto com os Lounge Lizards, formado por membros de Mão Morta e que editaram um álbum homónimo pela
Cobra nesse mesmo Ano do Senhor de Dois Mil e Seis. Apoia-se em Electrónica que não passa por batidas xunguitas mas antes por pequenas abstrações com cheiro a Jazz, Prog e qualquer coisa que tenha sintetizadores avariados. São 14 erros informáticos a serem suportados por um Jazz tradicionalmente parvinho mas que resulta em mais de meia-hora de falso wallpaper e de falso chill out, tipo prenda-envenenada. Uma verdadeira surpresa vinda da máquina do tempo!
E por falar de
Most People Are Trained to be Bored (projecto de
Gustavo Costa) eis que ele volta aos álbuns com
Radialstereometric (Sonoscopia; 2012). É um disco mais radical que a estreia, e radical não significa ser mais barulhento, muito pelo contrário, a exploração sonora (que já se pode falar como género
per se) atravessa por mais espaço/tempo, mais minúcia e menos ritmo, ambientes mais detalhados e claro uma dor de cabeça a meio, ou melhor, uma dor de ouvidos, pelos 8 minutos de feedback / som branco ou lá o que é do último tema, que dá título ao álbum. Por causa dos oito minutos desse tema nunca mais deverei ouvir o disco... Hum... afinal sempre é mais barulhento ou extremo que outro? Não sabe / não responde.
Entretanto Gustavo com mais "dois monstros brancos" (e agora todos fazem parte de
Sektor 304 mas já lá iremos) são os
Radial Chao Opera que lançaram o segundo disco
Dve Két (Sonoscopia; 2012), que engana à primeira audição, pensa-se em Most People (...) nem que seja pelas embalagens partilharem um formato comum. Mas pouco a pouco as diferenças emergem, RCO pretende ser uma recolha de música do mundo falsa, provavelmente situada numa praia cheia de lixo entre o Bali e o Mali. Talvez soa melhor do que a esta reles descrição... Sim é música do mundo mas para o Xamã fazer o Upload Sagrado e não para o ritual de acasalamento entre os jovens da tribo, claro!
Eis a surpresa deste ano: os portugueses
Sektor 304 e o projecto francês
Le Syndicat juntaram-se para fazer o LP
Geometry Of Chromonium Skin (Rotorelief; 2013). Antes demais não é um "split-album" na tentativa da banda nova (os Sektor) ganhar público com o velhinho (Syndicat), ou vice-versa, como acontece com muitos discos chatos que andam por aí. É antes um disco de fusão de ideias entre dois projectos de música Industrial em que perdem as suas identidades para criarem uma obra. Se Sektor 304 tem vindo a criar uma discografia de qualidade em que mostra que a recuperação do estilo Industrial não passa por meros revivalismos, este é mais um exemplo do que se pode fazer algo excitante sem se cristalizar. É um disco que o corpo não vai ser moído pelas batidas tribais da chapa metálica e berbequim na caveira. A cabeça é que vai andar à roda pela viagem nos labiríntos sonoros que nos oferecem dentro de cada das cinco faixas. Exemplar!!! Resta dizer que a encarnação dos Sektor neste disco inclui os actuais quatro elementos e duas vozes, uma masculina e uma feminina. Para heresia maior, como é um LP podemos meter em rotações mais rápidas e o disco ganha um
groove porreiro! E por favor, oiçam isto em vinil, o som ganha espaço e profundidade que não se consegue em digital!
O mesmo acontece com o disco de estreia de
Surya Exp Duo, Trigunam (Lovers & Lollipops; 2012) para que o psicadelismo nos invada. Pela capa já perceberam que a viagem é para os anos 70 e para a Alemanha do Rock, e apesar de estéticamente tudo nos transportar para algo que já foi feito - que geralmente é o meu ponto de raiva contra os discos que são réplicas de outros passados - há algo de vivo e estranho neste ao ponto de não ficar irritado com ele. Muito pelo contrário gosto de o ouvir. Talvez seja porque nunca ouvi Tangerine Dream ou
Amon Düül assim tanto como isso. Ou Ravi Shankar e outras freaquices que a costeleta de Punk besta proibia. Nada como ficar velhote para ganhar o terceiro ouvido - mas não o de Sterlac! Meu, até pela capa retro-horrível tenho simpatia!
Por fim,
Joana Sá tem um novo disco, outra vez pela
Shhpuma, um álbum a solo intitulado de
Elogio da Desordem / In praise of disorder. Um trabalho magnífico de piano semi-preparado e outros instrumentos todos tocados por Sá, em que peca pela inclusão de textos de Gonçalo M. Tavares (ei! M ponto de quê?) recitados por Rosinda Costa que não adiantam em nada e soam a teatro da sarjeta e da depressão, e ainda pela performance das sirenes (Satie já foi,
please!) que são estridentes, irritantes e
kitsch. Estas duas manchas transformam a intensidade do trabalho numa paródia à Spike Jones que se fosse a intenção tudo bem, o humor nunca fez mal a ninguém, mas não sendo o caso, é apenas rídiculo e anacrónico. Por falar nisso, se este ano existe uma embalagem para CD que seja triste, então é esta! De quatro anos para cá apareceu em Portugal uma moda saloia pelos "livros de artistas", das "edições limitadas" e do uso de métodos antigos e manuais de impressão (serigrafia, tipografia, gravura, etc...) e quem os produz julga que só pelo facto de se usar estas técnicas isso já justifica a qualidade da obra, o valor do trabalho ou do objecto. Infelizmente a maior parte da produção destes produtos gráficos são nulos (a grande excepção são os livros do André Lemos!) e a embalagem deste disco é mais uma monumental enrabanço dos "objectos únicos e manuais". Sinceramente era preferivel ter uma capa "clean" e industrial das produções Clean Feed / Shhpuma que esta bagunça produzida pel'O Homem do Saco... mas... e daí? Qual é mesmo o título deste CD?
Bom acho que vou ouvir umas batidas xunguitas que já chega de tanto
toing toing toing toing toing toing!