quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Desastre urbanístico

Um lote de discos da Urbsounds! A Eslováquia é bastante dada às electrónicas e esta editora mostra um catálogo ecléctico que vai do Noise ao Techno, sempre com sabores contemporâneos, tal como a Thisco já foi neste rectângulo no principio do milénio.

Das últimas edições lançadas este ano temos o CD Sickening Digital Rainbows do italiano Venta Protesix - sim o mesmo desta k7! Zeus, se uma k7 da Urubu deixa dúvidas sobre o que fazer sobre um objecto, um CD nem tanto... Harsh Noise Digital Ultra-glitch puro, daquele que deixa o corpo bastante aleijado - isto é um eufemismo, uma vez que as células auditivas não se regeneram. Já não tenho idade nem paciência para isto, qual o limite de se ouvir música Noise? Se pudesse proibia o artista de ter acesso a computadores ou outros acessórios digitais durante seis-seis-seis meses para ele ver o que é bom para a tosse!

Também desagradável mas mais interessante é o LP do chinês Mei Zhiyong e do suiço Dave Phillips, dois monstrinhos do Noise. Será complicado perceber quem fez o quê quando se tem estes dois "noisers" a trabalhar em conjunto. Desconhecendo o trabalho do músico chinês, fico a adivinhar quais serão os sons de Phillips, suponho que sejam sobretudo as disrupções sonoras e os "field recordings" de centros urbanos, pesados, duros e "dark" - pelo menos é o que um gajo imagina quando ouve os seus discos. As partes mais Harsh Noise, serão de Zhivong?
Seja como for, este é o tipo de discos que se deve ouvir de manhã, a fazer o chá e as torradas, a tirar as fezes da caixa de areia da gata e quando se pensa, à janela, que a vida da cidade é de uma violência extrema. Tanta como este disco... Então, porque se leva uma coisas destas para o conforto do lar? Uma pergunta pertinente...

Dentro do Noise ainda há o CD Unspoken Misanthropic Narrator dos Hlukar que lembra os tempos da editora norte-americana Load Records e o seu catálogo de Noise Rock experimental e brutal. Se os Hlukar fazem barulheira com computadores e sintetizadores, a atitude deles é de Rock Reptiliano. É o género de música que poderia servir de banda sonora para ler as BDs do Musclechoo, graças aos seus ritmos de "moto-serra-ciclismo" e caos controlado de ruído industrial. Esta caminhada pós-apocalíptica prolonga-se em 30 minutos girinos, digo, giros, desculpem!



Nos últimos anos tem havido um "revival" de Techno Indústrial ou Pós-Indústrial e este Ordeal de Makkatu é isso mesmo que é. E é tão cinzento e frio como a capa do CD. Há muita gente a fazer disto não se sabe bem para quê na Era do Trap. Em 2017 ou em 1997 sempre será música chata. O mesmo não se pode dizer de Inter Alia (2016), um LP em vinil branco-padreco do duo Jamka. Sobre um Techno minimal parece haver mais mistério auditivo sobre cada uma das faixas, ou pelos surpresas e rotas inesperadas. Em vinil os sons tem mais profundidade e textura. Tenho de ouvir isto melhor, sem dúvida...

O melhor do pacote é sem dúvida a "mix-tape" (e é mesmo uma k7!) The Animal Musicians de DJ Zoologist - que é nem mais nem menos o nosso Camarada Balli! Pouco depois da polka bolonhesa, eis outra "mixtape" em que ele se vira para músicas feitas por ou com animais... Trabalho de recolha importantíssimo mesmo que falhe com algumas obras como o Kondole dos Psychic TV ou Plat du jour de Matthew Hurbert - embora aqui os animais sejam  torturados e cozinhados...
Temos os Beatles Barkers (vozes humanas a imitar cães a cantarem os "fab four"), cães (Caninus), papagaios (Hatebeak) e sapos (Amphibian) como vocalistas de bandas Grind/ Death / Hardcore, insectos e baleias com ajuda de gente importante como o Leonard Nimoy (o gajo do Star Trek, sim) ou Graeme Revell (SPK), gataria "gangsta" (Meow the Jewels), tudo numa grande orgia inter-espécie e inter-genéro. Talvez seria mais giro dispersar os materiais ao longo da mistura invés de concentrar, por exemplo, quatro músicas dos cães "beatleanos" embora, convenhamos, já aconteceu rir-me feito um louco com este excesso em filas de trânsito. A k7 é acompanhada por livrinho que explica as fontes do material misturado, textos que faz pensar sobre a condição do animal neste mundo antropoceno. Elvis is shellfish! Elvis is shellfish! Elvis is shellfish! (Puppetmastaz dixit)

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