terça-feira, 10 de novembro de 2020

Na pista da imprensa musical

 


O chavão mantêm-se sempre, vivemos em tempos bizarros. Nem é por causa de 2020-ano-do-covid. Antes da pandemia já não se percebia nada sobre imprensa musical em Portugal. A única publicação de quiosque desde há dois anos, creio, para cá é a Loud! ("Lodo" para os amigos) dedicada aos "sons pesados". Na Internet é um vazio existencial. Claro que há blogues e sítios mas o sentido crítico deles é digno de um peixe cheio de plástico nos intestinos. Acompanhar os suplementos culturais dos jornais é um erro, pior que ser apanhado no algoritmo do Youtube. É estranho que a 'net não tenha proporcionado nenhuma publicação que fizesse diferença no panorama musical - o mesmo se pode aliás dizer do cinema, teatro, poesia, literatura,... Ao contrário do que há em França, eis-nos reduzido a redes sociais com fotos catitas dos discos que sairam, colocações de "likes", corações ou emojis, discussões de fórum entediantes de uma crise total de ideias ou perspectivas. Depois aparecem casos estranhos, por exemplo uma série de zines anacrónicos de Metal perfeitamente inúteis e reveladores da crise da meia-idade ou pior um aborto como a JAMM. E agora esta Pista!

À primeira vista vista parece "muito design e pouco conteúdo" mas logo com a entrevista aos Desterronics e o artigo dedicado ao Rudolfo - merecedor de estar publicado no seu catálogo, já agora - mostra que estamos perante de algo sério. Reduzindo o ruído omnipresente da Música em todas as coordenadas espaciais ou temporais à ideia do "Clubbing", não se deixa agachar à música de dança como se esta tivesse o seu exclusivo. Assim, o conceito abre-se a mais propostas e ideias contemporâneas sem mofo quando se juntam mais nomes como a Odete ou o Mário Valente (do Lounge) para mostrarem a diversidade de opiniões, sons e programações possíveis em Clubes, e sem cair no espírito de gado do Lux - como a brasileira Cigarra o denunciou numa revista francesa.

Já saiu um número zero, este é o "primeiro" número da revista (fanzine?) datado de Agosto deste ano. O preço proibitivo de 15 paus parece que se deve a alguma inexperiência editorial, esperemos que venha a ser mais acessível de futuro, até porque tem o apoio da CM de Lisboa. Agora, porque raios é que o logo da CML aparece três vezes na revista - nos dois volumes e na cinta que os acopla - é um mistério gráfico que prefiro não saber a sua razão.

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