O primo de Jesus era panque!
Começamos por Tiago Guillul, mentor da editora, e a sua estreia com Fados para o Apocalipse contra a Babilónia (2002) que é talvez o melhor dos seus outros discos [Mais dez fados religiosos de Tiago Guillul (2003) e Tiago Guillul Quer Ser O Leproso Que Agradece (2003)], pois é o que consegue criar um ambiente mais intimista digno do melhor daquilo que se chama de "cantautores" em que incompreensívelmente se fez de Old Jesuralem o expoente máximo. Num país de complexados é natural que aconteça mas esqueça-no porque aqui está o "real McCoy"... em português! O fado é mutante ou até residual (são apanhados mais tiques do que modelos - e ainda bem, não teria paciência para a merda dos faduchos que impestam a nossa cultura), as letras são mundanas variando entre a autobiografia (Quis ser jornalista), crítica social (Fado da minha vizinha ou Fado da Ana Russa), de imaginário bíblico (Fado do Mar Vermelho) e de mensagem cristã (Fado do poço Samaria). Muitas vezes o timbre lembra os Violent Femmes. Musicalmente tem uma base acústica mas o que não impede de recorrer ao computador para pequenos loops e ruídos, estas brincadeiras tecnológicas são mais evidentes nos Mais dez fados (...) que quase vai parar ao António Variações sem a líbido e mais próximo da catequese. Dentro da mesma seita (como?) de cantautor cristão baptista está O caminho ferroviário estreito de Samuel Úria (2003) com uma voz mais "Pop" e menos sentido de humor que Guillul. É também mais bluesy e com as intervenções de piano sentimos um espírito (pois pois) de Tom Waits embora o tema Socorro parece que saiu directamente do Pure Guava dos Ween.
Em paralelo estão Tiago Guillul quer ser o leproso que agradece e Samuel Úria & as Velhas Glórias (2005), dois EP's que se ligam à electricidade roqueira. No primeiro caso Tiago toca todos os instrumentos do roque (guitarra, baixo, bateria) mais alguns outros - para não dizer que no melhor espírito DIY é ele que faz o design dos discos além de produzi-los e editá-los! Gosto particularmente de A Isabel é intelectual («porque perdeu a virgindade na Feira do Livro») além dos títulos Tu tens o coração do tamanho do Salmo 119 (seja lá o que isso quer dizer). No segundo caso trata-se de um duo, Samuel Úria (baixo, guitarra, letras, voz) com Guillul (bateria, segundas vozes, produção) que em menos de 1/4 hora mostra toda a sua pica de panque roque.
Guel, Guillul e o Comboio Fantasma (2003) é Roque garageiro MMP que irrita pelo moralismo assumido das letras («não fumo charros prefiro jogar matrecos» entre outras falhas humano-pagãs) embora haja momentos bons de roque cantorável, afinal ainda «há uma canção em mil na tua rádio estéril». "O pessoal Caveira" encontram-se todos em A sessão de Água de Madeiros dos Ninivitas (2005) talvez o disco mais trabalhado da FlorCaveira que está mais para a missa do que para o roque, ou mais para acampamento faternal de escuteiros com um Jorge Palma tão puro como lã de ovelha da quinta biológica. Admito que enjoei de ouvir este "panque medieval" - como eles lhe chamam. Para quem gostava dos Resistência eis um álbum que os metia de K.O. no primeiro round!
O Outono melancólico das Borboletas Borbulhas (2003) é Hardcore fodido (desculpem o palavrão!) com rasgos de panque roque. É aquele clássico de máximo de faixas (36) em menos tempo (40 minutos) sendo que a faixa mais longa tem menos de 2 minutos. As bandas portugas do Core e afins deviam aprender com este bravo apóstolo pós-moderno de Deus que gosta de gatos (yeah!) - sim, porque falo de Guillul que toca todos os instrumentos, canta e grunha como um possesso! Juntamente com os Jerusalém (para quando um disco a solo?) tornaram-se nas minhas bandas favoritas desta comunidade... «Tens o teu cão da moda assassino» GROOOOOOOUUUUUUU!!! Mais softs são os Pontos Negros (2005?) que são uma confusão de intenções, ora andam pelo Hardcore barulhento como a seguir pegam na guitarra prá balada xungita. Falta-lhes humor mas tornarão-se mais interessantes nas futuras colectâneas da FlorCaveira