Anti-tetânica
Este ano a Clean Feed comemora 10 anos de existência muito bem merecidos numa Lisboa que não ata nem desata. Este deve ser o único caso de editora portuguesa que expressa realmente o que a sua cidade é. Em Lisboa e fácil poder assistir a concertos de Jazz, Free e Improv nas suas variadas facetas como Felipe Felizardo, Gabriel Fernandini / Red Trio, Sei Miguel, Carlos Zíngaro, Noberto Lobo, David Maranha, Tiago Sousa, etc... há sempre concertos durante a semana de pelo menos um deles. O que é impossível ver em Lisboa é um bom concerto de Metal, Hip Hop, Rock ou Dubstep sem ser em estádios de futebol ou coliseus. Não há "clubbing" nem salas médias de jeito, é preciso ir ao Porto curtir Duran Duran Duran ou Godflesh porque em Lisboa apodrecemos de tanto Free... Se este é o espírito musical da cidade não é por maioria mas por exclusão de partes.
Claro que a Clean Feed não tem nenhuma obrigação de salvadora da capital nem merece que a use para desabafar sobre a tristeza lisboeta. Estamos perante uma editora que criou um enorme catálogo respeitado internacionalmente e onde se pode encontrar a maior parte do tempo muito saxofone destructivo, o que não é som fácil de assimilar para quem não é "jazz nerd", como é o meu caso. De vez enquando em alguns discos da Clean Feed, os metais são colocados de parte como acontece com esta colectânea de "solo guitars for the 21st Century" produzida por Elliot Sharp. Numa elegante embalagem (como sempre) encontramos um CD com 16 guitarristas, incluíndo Sharp, que exploram a guitarra de várias formas, representações e estilos: acústica, eléctrica, electrónica, composição, improvisação, ao vivo, estúdio, folk, blues, noise, lounge,... ou seja um ecletismo invejável que não se encontra em Lisboa mas em Nova Iorque onde o disco foi comissariado. Parabéns à Clean Feed por trazer os cheiros cosmopolitas da "Big Apple" provocados para uma cidade que só cheira a mijo.
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