Underground
Burnt to a crisp (Black Blood Press; 2015) é um fanzine de arte maldita, suja e obscura. Não é para malta da moda e outros betos, não senhor! Gajos como Eduardo Pécurto, Manuel Pereira, André Coelho ou Romain Perrot não fazem isto porque é "cool" ou para engatar gajas ou porque vai render "likes". Esta gente baralha factos biológicos, pós-colonialismo, miséria humana, perversão sexual, ruído visual com os seus desenhos e colagens para nos agoniar as entranhas e meter-nos em estado de alerta, pensa, negros humilhados, caveiras medievais, gajas escravizadas, dinheiro e escombros... Século XXI é mais civilizado porque tens um smartphone? Estes bárbaros (que até devem ter smartphones e aquecedores em casa) mostram que não...
O instigador do fanzine acima é o Manuel Pereira que teve direito a um título a solo, o Tricofilia (Black Horizons; 2015) - termo para excitação sexual por cabelos. Lançado por uma editora norte-americana de Noise e afins, o zine é metido num saco preto que arrepia. Admito que tive medo de o abrir e tirar de lá a publicação - sabe-se se esta gente não escondeu uma seringa de um agarrado qualquer de San Francisco dentro da embalagem? Iá, iá, fia-te na virgem e não corras...O enfoque sobre a questão sexual-capilar ficou aquém das expectativas embora tecnicamente Pereira cada vez mais pulverize as colagens em pequenos fragmentos, fazendo delas mais texturizadas do que figurativas. O resultado final é que parece que encontramos na lixeira um álbum de recordações de um tarado sexual que violou bifas no Algarve. Creepy shit...
Foi a colagem da capa que me fez pegar em Als Tier ist der Mensch nichts (Monotonstudio; 2016) dos Unru... senão teria cagado completamente. Tocam Black Metal contemporâneo, ou seja, são uns rapazes com ar de beto alternativo e que fazem uma barulheira incrível, muitas vezes pisando os terrenos imundos do Sludge que podem ser tão insuportáveis como os BM. Já agora, o artwork do disco é de B.D. Graft que parece que poderia estar mais numa revista de "novas tendências" do que a fazer algo para metaleiros... Safou-se muito bem e conseguiu pelo menos uma venda de uma k7!
Já cá tinha escrito sobre quanto tinha adorado a actuação ao vivo da Jejuno, e até andei a ver se ela queria lançar uma k7 pela MMMNNNRRRG. Preferiu um Urubu (soa mal assim, hahaha) e a MNRG lançou a Bleid invés, mostrando que são as mulheres a fazerem as criações mais interessantes em Portugal nos últimos tempos - olhem no caso da BD a Hetamoé, Sofia Neto e Amanda Baeza para destacar os melhores exemplos... Não consigo deixar de a comparar a AtilA como alguém que faz uma electrónica pós-industrial, negra e com batidas duras. Mas enquanto AtilA é calculista e técnico (no bom sentido), Jejuno é intuitiva e imprevisível, duramente desprogramada e suja. Ou seja, um dos melhores discos portugueses de 2016. Maldito Urubu!
O francês Albert Foolmoon ama Lisboa e faz questão de vir às "nossas" feiras de edição independente. Esteve na última Morta onde vendeu um exemplar da antologia de desenho Terreur Nocturne (Lézard Actif; 2014). "Queixou-se" de que quem a comprou disse-lhe que ia retalhar o livro para colocar as páginas em molduras... Convenhamos, com 24 páginas A3 serigrafadas a várias cores, estava à espera do quê? Não venha com tretas que os 'tugas são bárbaros! Ainda mais com desenhos da turminha da má-onda como Sam Rictus, Don Rogelio Jr., Dav Guedin, Martin Lopez Lam, Alkbazz, Victor Dvnkel... Assim sim, o crime compensa, ao menos as pessoas compram estes livros porque curtem e não por coleccionismo de obras anacrónicas em serigrafia que andam por aí...
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