terça-feira, 30 de novembro de 2021

Novos Opuntias

 


Nestes anos de pandemia é absolutamente incrível ter assistido ao quase desaparecimento da cena gráfica portuguesa, isto apenas porque deixou de haver eventos de edição independente ora cancelados ora eternamente adiados. Ou seja, sem esta "distribuição" a cena não existe porque os seus editores não souberam na última década pensar fora do baralho - com excepções que confirmam a regra. A maior parte da produção portuguesa publicada em estruturas estrangeiras - antologias ou livros a solo - e houve claro os velhos da cena aguentaram-se em actividade: a Chili Com Carne, claro, mas também o Fojo, Imprensa Canalha, o Rudolfo a insistir nos Musclechoos mas também os recém-chegados Bestiário (com o livro do André Coelho) e o regresso da Opuntia. 

E eu é que regresso sempre aos Opuntias porque vale bem a pena, num mundo de espaço virtual infinito mas que não passa de um depósito de "likes" e chi-corações, é importante ocupar electricidade e pixels a divulgar projectos de qualidade, aliás, havendo este fim-de-semana a Parangona, largue o smart-phone assassino e ide lá gastar dinheiro neste projecto editorial, sff. Eis as duas últimas novidades: 

Ungodly Forsaken Place do seu próprio editor André Lemos, que parte a tradição dos formatinhos A5 do Opuntia. Pela primeira vez há um A4 que se explica pelo facto que os últimos desenhos de Lemos estejam mais detalhados e telúricos - viu-se este fim-de-semana na exposição no Homem do Saco - impondo um formato maior e de maior legibilidade e presença física. Assim temos uma edição tesuda de imagens de animalário, acidentes e vivas naturezas, um "meltdown" premonitório que fez algumas pessoas cancelarem a viagem naquele barco chamado Titanic.

Repent! do finlandês Lauri Mäkimurto é uma mini-galeria portátil (não são todos os graphzines?) de pintura e desenho deste artista. Do seu imaginário diria que Palsa estará sempre presente mas também algo de Jukka Siikala na decomposição dos materiais representados. Aqui também há sonhos e fantasmas, cenas de arrepiar a espinha, se ela ainda existir.

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