Aparentemente o pessoal cagou prá minha sugestão de passar a escrever mensalmente sobre edições que não conseguem entrar n'A Batalha - ou por falta de periocidade em que se encontra o jornal ou por alguns dos objectos não fazerem sentido numa publicação anarquista.
O certo é que Dabstep dos Greengo já é de 2018 mas só agora é que arranjei uma cópia do CD, editado pela Raging Planet. Apesar de fazerem parte dois terços dos "nossos" Krypto, só agora dei-me ao trabalho - uma aparelhagem à séria ajuda imenso - de ouvir isto com a seriedade que merece. Seriedade!? Má escolha de palavra nem que seja porque todas as imagens do disco são sobre erva - sim, aquela que tem THC - chegando ao cúmulo que a versão CD (existe também um LP) tem um recorte em cartolina da "planta maldita". Som pesadão na senda do Stoner que esteve tão em voga no pré-covid, ali onde Sleep largou as botas para os punks. É incrível o que um baixo + bateria fazem - e uma voz (já agora) que não sendo nada de especial, é funcional para o "género"... obviamente que a união com Gon para se transformarem em Krypto fez uma diferença brutal nesse nível (e nos concertos ao vivo). Sim, para simplificar isto é música brutal para ganzados...
Só faltam agora o fanzine e o livro.
Sendo as diferenças ténues nos dias que correm nem sei muito bem por qual começar. Pode ser este
Bonança (Imprensa Canalha; 2024) de
José Feitor - autor/editor que já sofre de preguiça digital a julgar pelo abandono do blogspot em preferência ao instagram... Ou será puro aceleracionismo?
Belo A4 todo DIY, ainda tem a ousadia de fazer 150 exemplares num mundinho chato o nosso em que o pessoal faz tiragens tão caganitas e cheios de cagufa.
Com uma prosa tão deliciosa como esta: Até os mais pobres vivem agora melhor que os ricos de antanho - a comida é-lhes entregue à porta, ainda fumegante, por mensageiros de fraque emprestado que se deslocam em traquitanas rocinantes. (...) Não há luta de classes que resista. É complicado saber por onde começar a escrever sobre este livro de autor (zine?). Visualmente Feitor está em modo de "bonança" (aproveitando o título), sempre imaginativo, com fusões gráficas inesperadas e cada imagem produzida é uma fofura de opressão - que dizer daquele giríssimo Yeti capitalista (o chapéu do capitalista representado à 100 anos) com uma corrente e cadeado? É um banqueiro que nos vêm prender prá vida com um empréstimo a contrair? Que seja! Ele é bem giro para ampliar e meter numa parede lá em casa. A melhor opressão é aquela que não sentimos já alguém o deve ter dito...
UFOs in Lahti (Auto-edição, 2024) de
Marko Turunen é a colectânea dos
quatro "comic-books" do que aqui escrevi há mais de 10 anos! O tempo passa...
Roubo a mim mesmo o que escrevi sobre ele n'
A Batalha:
O Xeique PHDA do finlandês Marko Turunen foi um dos livros de BD mais impressionantes e dos mais ignorados do ano passado. Pessoal da BD esquece, tudo parvo como sempre. Pessoal da psicologia & psiquiatria, também nickes, se calhar só sabem ler bulas médicas… Bem sei que como editor deveria estar caladinho em lágrimas mas chateia-me que (...) não ligaram pevas à coisa. Que raiva! Mas o problema nem é só português, a obra de Turunen existe quase toda publicada em francês pela Fremok e ninguém quer saber. Mesmo na Finlândia, o autor queixa-se que lhe ignorem. Bóf!
Entretanto Turunen meteu em marcha um plano de reedição em inglês de quase todos os seus livros. Deve pensar que o mundo anglo-saxónico seja mais aberto, ou que esta língua franca ajude a chegar a mais público. (...) Para quem não sabe Turunen faz BDs sobre a realidade, da sua vidinha ou de outros à sua volta, o que é inesperado na sua obra é o imaginário, em que desenha essas banalidades com representações da cultura Pop. Por isso Marko é o “Alien”, um ET baixote com buraco na cabeça (uma vez que Turunen quando era criança foi atingido por uma bala) e Annemari é a Greater Woman (uma espécie de super-heróina toda em latex fetichista S/M - e que gralhas no passado, e que persistem nesta edição também, aparece como Grater Woman, o que me levou a escrever algumas vezes como "Mulher Raspadora", ops!).
Como uma crónica disfuncional, vamos assistindo à vida do casal, (...) As banalidades ganham pujança existencial com o lixo Pop que Turunen utiliza para ilustrar estes “slices-of-life”. Uma poesia emerge desta lixeira que parece quase uma afronta aos detourments
dos Situacionistas que usavam a BD pop para mostrar a miséria da vida capitalista. Algumas destas reedições em inglês foram mexidas – supressão ou acrescento de vinhetas, algumas foram agora publicadas a cores ou justamente o contrário, aparecem a preto e branco quando eram originalmente a cores. Porquê? Pouco importa para vocês, nunca souberam da existência deste autor, né? Para quê entrar em detalhes agora? Oh, lembrei-me que ele já cá esteve duas vezes com belas exposições, no Salão Lisboa 2005 e na Tinta nos Nervos em 2023.
Os livros do autor podem ser encomendados no seu sítio em linha superturunen.fi (com portes horríveis porque os correios finlandeses foram privatizados) ou em Portugal pela livraria Tinta nos Nervos.
Ufa, foi mais fácil que pareceu, prometo ser menos preguiçoso em Fevereiro...
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