1 livro 1 disco 1 zine (3)
Fora de Campo #2 (Bacarr0ta; Jan'25) é um fanzine. Mas fanzine mesmo, aquela cena do "fã" + "magazine". Teve até um número zero! Uma grupeta com a Matilde Feitor à cabeça celebra o Cinema em forma de fanzine A5, assim "old-school", escrito à mão, tecnofobista e com razão nos tempos saturados de digital. Gostei tanto de participar no primeiro número que nunca mais fiz BD até hoje. Neste novo número dedicado "à presença feminina no Cinema" topa-se a quase ausência de textos. Um problema que parece estar a afectar todas as publicações amadoras ou semi-profissionais. Se antes as "redes sociais" eram espaços de escrita - os blogspots e wordpress - com os "Fezesbook" & "Insgrana" parece que as pessoas desabituaram-se a escrever. Se por um lado há os académicos que cagam cinco "papers" por semana com o jargão científico todo certinho, por outro estes deixaram de saber escrever para leitores leigos. E o pior são esses mesmo leigos, escritores em potencial, que não se sentem à vontade para o fazer e que desistiram, preferindo meter fotos sobre um concerto (e do "brunch") invés de uma resenha escrita. Se as pessoas desistirem de escrever, estamos fodidos, nem é preciso Trumps para acabarem com ministérios da educação para voltarmos à barbárie. Pode-se até dizer que as novas gerações são mais visuais. Sim é verdade mas além de isso ser uma desculpa fácil para não se tentar escrever também não é uma grande vantagem porque olhando para as colaborações deste fanzine sente-se uma homogeneidade de estilos gráficos, sem haver alguém que faça algo de "profundamente errado" para destacar. Saiam da casca, sff. Ah, sim, destaque pra BD de Sofia Belém apenas por ser isso mesmo, uma BD! O fanzine sai AMANHÃ oficialmente num "mega-mini-evento"!
Bem sei que já lá vão cinco anos desde que saiu esta edição - ou seja, pelo menos há duas ERAS atrás, sendo uma delas a do covid - mas só recentemente é que acedi à caixa, que inclui dois CDs + folhas volantes intitulada, Som Desorganizado 2019 : Sonoscopia's annual meetings on sonic exploration (Sonoscopia; 2020). Considerando que quem participa com a "bonecada" é o "Ilan Manouach" na sua fase "microworkers" - Harvested - e sendo que em Abril teremos um livro novo dele, faz sentido escrever umas linhas aqui. Manouach mandou 150 "microworkers" desenharem sobre este encontro de música exploratória do Porto, sem eles nunca terem lá posto os pés. Aliás, devido à condição precária destes trabalhadores, provavelmente nem estão interessados nesta música Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing das margens da Improv (vulgo, "música aleatória") e muito menos terão, alguma vez, oportunidades económicas para frequentar um espaço destes (inevitavelmente elitista) ou de virem ao "Morto." mesmo que esta cidade venda o seu cuzinho como "lowcost". Manouach subverte todas as lógicas do "desenhador que vai documentar a sua experiência de um festival de música", tal como no ano anterior do evento houve outro músico/desenhador, o libanês Marzen Kerbaj, que participou "by the book", ou seja, com desenhos do que testemunhou. A ideia de Manouach leva-nos a um universo paralelo, tanto como a música fantasmagórica de Aeroles (CD2), um registo impossível de realizar pelas disparidades económicas em que vários humanos vivem. Quanto à música da caixa de 2018, só me lembra o que o autor brasileiro André Dahmer escreveu numa tira humorística qualquer: Jazz é como um pum: você nunca sabe que som vai sair.
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