sábado, 27 de julho de 2013

NECROMANCIA EDITORIAL : Mercado de Edição Independente no MILHÕES de FESTA

cartaz de Rudolfo
A Associação Chili Com Carne vai estar no Festival Milhões de Festa com uma mesa cheia de livros, zines e discos que irão para todos aqueles que se sentem mal no Milhões com as suas piscinas cheias de sol, vitamina D e gente feliz; ou com toda a euforia da multidão a curtir as bandas que só deveria existir para ti, ó misantropo iludido!
Perguntas-te, porque raios vim para aqui com esta gente toda? Eu só queria ver os [introduzir nome de uma banda] e agora estou rodeado de gajos e gajas odiáveis!!! Como me vou isolar desta imundície toda? Cortando os pulsos? Bebendo e drogando-me? Não, vou ler um livro, caralho!
Mas não há livros nos festivais de Rock!? Pois é mas no Milhões tudo é diferente! E será o único festival com uma mesa de publicações independentes, pelo menos enquanto houver luz solar! Das 15h às 20h, no Palco Taina, está lá o que poderá vir a ser a salvação nos dias 27 e 28 de Julho... corre para lá antes que corram contigo, tarado!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Houdini

Bráulio Amado
Sleep City + Watdafac; 2012

Eis o catálogo de uma exposição que percorreu dois continentes durante 12 meses / cidades - uma das datas estava inserida no nosso ciclo de exposições "Not Mex Not Tex", em Denton (Texas) em parceria com o nosso camarada Nevada Hill.
Toda gente sabe que o Bráulio é um excelente designer - e quem não achar isso é palhaço - mas também é um bom ilustrador, com um estilo próprio que vêm da "Street Art" farçolas, "Pop Art" contemporânea com tentativas de abstração e fragmentação. Quando mistura design com desenho é quando tudo explode em beleza - uma beleza igual a do álbum Houdini dos Melvins que o título presta homenagem. É o caso deste livrinho que reúne materiais das 12 exposições, co-editado pela Sleep City! (label de Bráulio) e pela galeria Watdafac, sediada em Madrid e gerida pelo mDonada.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Xavier Löwenthal, Ilan Manouach : "Metakatz" (5éme Couche; 2013)


A 15 de Março de 2012, o livro Katz foi destruído (ver vídeo aqui) para espanto de muitos que pensavam que o Bücherverbrennung (queima de livros no regime Nazi) era coisa do passado. O livro não foi queimado (já lá vamos) mas triturado por uma empresa belga especializada em destruição de documentos.

O livro foi considerado uma contrafacção de Maus, obra de Art Spiegelman que até foi publicada em Portugal, sabe-se lá como, em dois volumes há muito esgotados e nunca reeditados. Para quem não sabe o que é o Maus: Obra baseada na biografia do pai do autor, que sobreviveu ao inferno dos campos de concentração Nazis. Tem como contexto o genocídio dos Judeus levado a cabo pelos Nazis, durante a 2.ª Guerra Mundial. Art Spiegelman, um dos principais nomes da BD “underground” norte-americana e, durante anos editor de capas da “The New Yorker”, escolheu a BD para contar a tragédia vivida pelos seus pais e aproveita o cariz biográfico da obra para abordar também alguns aspectos do seu relacionamento com os pais. Trata-se de uma das mais importantes obras da história da BD de sempre.
Em Maus, os Judeus são retratados por ratos e os nazis por gatos, para representar um "jogo do gato e do rato" (o jogo biológico e o da tradição "cartoonesca") e como analogia à propaganda antisemita que Hitler criou. Como refere Nicolas Verstappen (p. 141) Spiegelman consegue uma poderosa iconografia com a personificação dos ratos, as cabeças são meros triângulos (a lembrar os símbolos dos campos de concentração?) sem boca - como uma vítima que não pode falar. A discussão desta opção de Art já vêm de longe, Harvey Pekar em 1986, quando saiu o primeiro volume de Maus já o tinha referido na revista The Comics Journal, que as representações teriomórficas prolongavam a cultura de preconceito étnico. Questão que Katz, produzido pelo grego Ilan Manouach, iria levantar outra vez ao substituir todas as cabeças dos vários animais por cabeças de gato.
Katz pretendia reler Maus perguntando se o segundo não prolonga a cultura da vitimização - ainda por cima criada pelos próprios oprimidos - mas acabou por perguntar muito mais do que isso ao ser destruído. Daí que se encontra no livro a primeira parte do meu texto Comix Remix (traduzido em francês pela Joana Baguenier) e vários outros intervenientes, alguns dos meios académicos (estudiosos sobre as questões autorais ou sobre BD como o "nosso" Pedro Moura), autores de BD (Fabrice Neaud e Lewis Trondheim, os mais conhecidos), em que quase todos colocam em dúvida o velho regime do "copyright", "direito de autor" e "propriedade intelectual" que há muito se tornou uma coisa corrupta, absurda e bloqueadora do avanço das Artes, cultura e ciência (registar sementes, anyone?).

Quase ao mesmo tempo, que saiu o Meta Maus (livro sobre Maus) saí este Meta Katz, tal como Katz tinha saído no Festival de BD de Angoulême 2012, ano em que Spiegelman foi Presidente do evento. Soa a assédio artístico mas visto que Katz teve o destino que teve, só assim é que se pode manter uma chama acesa (ops, péssima escolha de palavras!!!) sobre o que Katz trouxe à praça pública - incluindo o que acontece com os papeis destruídos, vendidos à China e levados em contentores cheios de bicharada.

Mas afinal Katz era mesmo uma contrafacção de Maus? A editora belga 5éme Couche, responsável pela edição, teve de aceitar esta acusação feita pela Flammarion (detentora dos direitos de Maus em francês) porque sendo uma editora independente não teria recursos financeiros para continuar a defender Katz como uma obra de direito artístico próprio. Assim da tiragem de 800 exemplares, cerca de 600 foram legalmente triturados - e mais tarde queimados pelos membros da 5éme Couche como forma de protesto público e artístico, num acto à la Cage falhado e registado no vinil 7" que acompanha o Metakatz. Foi ainda pedido que o ficheiro digital fosse apagado o que só prova que a Flammarion é uma editora de velhinhos que não sabem que os ficheiros digitais são das coisas mais fáceis de se "reproduzir por aí"... enfim!

Quem se interessa por estas coisas de direitos de autor deve conhecer a história dos U2 versus os Negativland nos anos 90 e descobre a ironia inacreditável, ou deveria dizer apenas, de como a história se repete... Quando os Negativland foram processados pela Island, editora dos U2, estes últimos que são considerados como os "defensores do pobrezinhos" (relembro nas campanhas altruístas do badamerdas do Bono Vox!) nada fizeram para impedir que os pequenos Negativland fossem esmagados com processos judiciais... Não poderiam ter negociado com a Island para terem calma com os "engraçadinhos"? Vinte e dois anos depois, Art Spiegelman esteve caladinho como um rato (sim, um rato!) quando a grande Flammarion esmagou os pequenos 5éme Couche! Só por isto, Spiegelman merece ser assediado e apontado o dedo, desta vez não por neo-nazis ou revisionistas e outros paranóicos das conspirações judaicas (já agora, quer Xavier quer Ilan têm ascendência judaica para quem os tentou colocar de acusar de anti-semitas) mas pela sua própria classe profissional: autores de BD, ilustradores, artistas, músicos, etc... que sempre que fizerem uma obra que pegue em excertos doutra terão velhos dinossauros à coca para lhes espancar.

O mais estranho, é que Spiegelman já "roubou" muitos autores no passado e ainda recentemente no álbum In The Shadows of No Towers, como bem observa Pierre-Yes Lador, que lhe faz um percurso de "citações" desde o início de carreira com as ilustrações da Topps Bubble Gum, passando pelo álbum Breakdowns até às antologias Raw e Little Lit que editou nos anos 80 e 90. Mas isso já pouco importa para quem já passou para o outro lado da barricada.

Se Spiegelman é uma figura importante na BD, não o é como autor seminal de certeza (a autobiografia tem Pekar como figura paternal) mas por ser alguém que deu mais voz pública à BD de autor / à BD autobiográfica / à BD sobre memória e a de reportagem quando Maus ganhou o prémio Pulitzer em 1992. Ou dita de outra forma, foi a única vez que uma BD ganhou este importante prémio mediático. Depois de Katz sofre um abalo na sua imagem quanto a mim porque não podendo eu fazer uma leitura proposta pelo livro destruído passei a ter uma outra leitura que passa pela perspectiva histórica da própria BD em que Maus se verga. Se antes podíamos falar de antes de Maus e depois de Maus na realidade Maus já não é nada! Maus ao assumir-se como uma BD que usa o imaginário antigo e tradicional da cultura comercial da BD, ou seja, gatinhos e ratinhos (e já agora, de porquinhos e de cãezinhos) passa a pertencer a esse mundo ignóbil que é a História da BD, que amontoa os seus momentos "históricos" exclusivamente em aspectos mercantis, índices de popularidade e lutas jurídicas, e não por apreciações culturais ou discussões artísticas. Se Maus é tão importante porque é que ela foi buscar as suas ideias gráficas à BD do "antigo regime"?

É difícil ter respeito pela História da BD, mesmo que se possa ficar deslumbrado pelas visões fantásticas de Winsor McCay ou George Herriman, pelas suas técnicas ou pela sua perícia artesanal de trabalho gráfico mas a verdade é que a BD sempre foi um produto "todo público" e que se colou ao "infanto-juvenil" muito facilmente na dobra do século XX, tendo que esperar os libertários anos 60 para produzir finalmente obras "adultas". Face a isto, há realmente muito pouco para admirar ao nível de conteúdo literário - e mesmo a questão visual ou plástica também é bastante discutível - em 100 anos de História oficial celebrada pela treta dos 100 anos feitos em 1996 ao adoptarem o "Yellow Kid" como ponto de comemoração. Maus vêm desta tradição das figurações antropomórficas e teriomóficas para crianças e jovens, rebaixando-se perante o passado do médium, coisa que não havemos de encontrar em Pekar, ou em Buzzelli ou Breccia que se estavam bem nas tintas prá "bonecada". Talvez Ilan e Xavier não se aperceberam disso quando davam entrevistas, na altura de Katz, em que respondiam anonimamente usando nomes de gatos famosos da BD como Grominet (Sylvester), Garfield, Fritz the cat, Tom  (do Tom & Jerry) e Waldo... Uma brincadeira iconoclasta que na realidade levanta toda esta questão da História da BD feita exclusivamente de eventos da BD inDÚSTrial.

Em 2086 talvez haja alguém que coloque Maus como um ponto de referência para História da BD mas estarão enganados, agora podemos ver que foi uma histeria mediática e popular, que passado quase 30 anos adoptou ficar ao lado dos Vencedores da História - que são aqueles que a escrevem, como bem sabemos. Art está ao lado das corporações como a DC Comics, Disney ou da Marvel que humilharam centenas de criadores durante um século inteiro. Se depois dos Sex Pistols, como refere Greil Marcus, deixou de fazer sentido escrever mais canções Pop de Amor entre rapaz e rapariga, depois de Katz é impossível ler uma BD que meta animalitos a pinarem ou a snifarem Zyklon B, sem deixar de sentir que estamos a ser enganados...

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Livros do Outro Mundo no Bar Adufe - Sons do Mundo



No dia 18 de Julho apartir das 22h, no Bar Adufe, a Associação Chili Com Carne organiza um mercado de Livros do Outro Mundo

Livros de toda a parte do mundo, de todos os tamanhos e feitios, de todos os materiais e papeis, de todos os géneros e sub-géneros,... bem... quase!

ATENÇÃO : Livros + Baixa lisboeta = DESVIO!!!


Já se esperava mas quando a notícia caiu-me de manhã, foi como uma bomba!

Há dois anos que a Livraria Sá da Costa (1913-2013) estava em processo de falência, devido ao excelente trabalho danoso de um gestor - daqueles da mesma linha que tem levado as nossas empresas, bancos ou o país inteiro para a sarjeta...

No entanto a livraria estava melhor do que nunca, ora como bem refere no recente livreto-manifesto Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa (seguido de Palavras proferidas na inauguração da nova sede da Livraria Sá da Costa, Rua Garrett, 100-102 no dia 10 de Julho de 1943) editado pela Letra Livre, a livraria Sá da Costa estava a dar destaque às edições da Chili Com Carne, & etc, Mariposa Azual, Orfeu Negro, entre outras entidades que não lançam livrinhos para gajas e teenagers - que é o que o nosso mercado livreiro está reduzido desde há algum tempo para cá.

A Livraria Sá da Costa nos dois anos que não teve um gestor tecnocrata, que daria primazia aos Bestsellers e outros fenómenos paranormais, em compensação teve cinco livreiros (funcionários da empresa) em AUTO-GESTÃO que ficaram a tomar do barco a afundar, abrindo as portas para os editores que são recusados nas grandes lojas de "livros". Graças a isso provaram que os "nossos" livros vendem bem e até são capazes de sustentar uma casa ali mesmo no coração de Lisboa. Provaram também que não precisamos de gestores para nada mas isso já é outra conversa...

Este Sábado a Sá da Costa irá fechar as portas e lançará o tal livro-manifesto, redigido por Vitor Silva Tavares (da & etc) e pelos cinco livreiros. Não vão encontrar pieguices no texto apenas uma denúncia de como a Baixa de Lisboa está-se a tornar numa enorme Forum Almada ou coisa que lhe valha. Cada vez haverá menos razões para passear por lá a não ser para ser de passagem para outro ponto da cidade que seja mais interessante. Espero que a CML ponha lá um daqueles bófia balofos com bigodão a dirigir os leitores para as zonas de putas porque haverão poucos sítios na cidade onde poderemos ter algum prazer...

Quanto às Palavras proferidas em 1943 por Augusto Sá da Costa, não é só o tom de confiança e esperança no futuro ou no progresso da Humanidade, que assitimos. São palavras lúcidas que apontam para os defeitos da leitura em Portugal, da necessidade do sector editorial, livreiro e alfarrabista (o termo usado é "antiquário") sendo concorrente em si mesmo conter uma missão social de educação, e saluta os concorrentes sejam livreiros sejam editores, por esse trabalho comum que os une. Setenta anos depois será impossível ouvir tal coisa dos porta-vozes de qualquer outra empresa privada ou até das instituições que representam os livros como a ineficiente APEL.

Não é ingenuidade de Sá da Costa ou minha, é apenas o fim de uma Era e o arranque à séria da monocultura capitalista em Portugal - vamos ficar mais norte-americanos que os próprios em muito pouco tempo!

Para quem goste de livros, é favor de evitar a Baixa Lisboeta a partir de Domingo.
A CCCapital agradece!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Números redondos

A razão da festa de amanhã para dizer a verdade é para acabarmos com estes títulos... Eles estão a esgotar e queremos acelerar o processo!


 



Mas aconteceram coisas bizarras nestes dias... 

Chegamos ao 1100º "post" neste blogue e ao 100º sócio da Associação Chili Com Carne!  E à boa maneira mercantilista, tipo "você é o 1000º cliente a entrar nesta loja", oferecemos 99 euros em livros à nova sócia!

E já que estamos na maré de números redondos e ofertas queremos chegar amanhã ao 110º sócio e por isso... Amanhã e só amanhã no Adufe Bar, das 22h às 2h, vamos oferecer aos novos 10 sócios que se inscreverem 51 EUROS em livros da CCC, MNRG e afins!!!

Por 15 euros ganha 51 em livros! AH!

(oferta limitada ao stock existente)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A compilação a 2 paus!

Não me estou a referir a uma compilação de raridades das bandas mais farçolas de Portugal mas de uma compilação francesa que é mesmo isso: La Compil à Deux Balles (Mon Cul; 2013). No seu segundo volume reune 86 faixas de bandas de 36 cidades / 13 países dos 5 continentes - uau! A ideia era que cada banda tocasse músicas de menos de 1 minuto - restrição cumprida havendo até quem faça só 13 segundos de som. Na essência é uma compilação de Noise Rock com pequenas excepções como Jad Fair (o mago manhoso da Pop tão divulgado cá pela saudosa Low Fly), Desecrator (adivinhem o que eles tocam com um nome destes?), Philippe Petit (ver Antibothis, vol.4), e algumas outras brincadeiras... Alguns dos projectos já passaram por cá em concertos barulhentos como Pneu, Daikiri (que parece uma gaja japonesa a cantar - tipo Melt Banana - mas não é um gajo francês!) e os poderosos Don Vito - aliás foi num concerto na NAVE destas duas últimas bandas que comprei este CD - e outros já os referimos no livro Boring Europa: Pizzza, Mr. Marcaille, Nunc Est Bibendum e Sadique Reverse... Projecto inspirador!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Morto Kids!

Eu tinha avisado os putos para não fazerem em Julho - há anos que tentávamos que a "Laica de Verão" fosse antes uma "Laica de Primavera" (para finais de Maio) mas devido aos compromissos com os sítios onde fazíamos nunca tal foi possível... O resultado estava aí: um calor desgraçado que afastou o público. Nesse aspecto a Feira Morta foi má...

Mas pouco importa isso!!! O evento estava bem organizado e sobretudo conseguiu reunir os autores e editores para mostrarem as suas novidades. Por isso, o Pedro e Maria (ambos da Cafetra Records e cabeças organizadoras da Morta) estão de parabéns porque reproduziram a essência da Laica, sendo este um outro projecto mesmo que reclame a herança Laica. O espaço que encontraram era excelente para circular à cata do melhor que se faz cá em Portugal de edição independente e pelo caminho alguma "video-art", música e docinhos caseiros para engordar! Não havia crianças nem artesanato urbano, o que acho bem para distanciar dessa tradição Laica. Nem apareceram editores estrangeiros - só se considerarmos que a visita do Weaver Lima fosse uma mas isso é esticar a corda.

As novidades editorais e a segunda mão não foram anunciadas, podendo terem sido ambas um chamariz embora acho que a segunda mão cada vez faz menos sentido existir quando temos uma produção inacreditável de fanzines, zines, livros, k7s, LPs, etc... de pequenos editores e artistas. Comprei algumas coisas que o provam - mesmo que este tenha sido um evento com menos novidades comparando directamente com a Laica. Talvez tenha havido menos editores a participar neste evento por cepticismo da capacidade de trabalho dos "putos" ou alguma irritação / inveja do mediatismo bacoco da Cafetra (que entretanto já foi à vida, certo?) mas o evento aconteceu sem erros grosseiros a apontar. De certeza que a questão de público poderá ser melhorada para a próxima - e "eles" já disseram que querem fazer uma Morta de Natal! Peraí!? Morta de Natal? ahahahahaha

Parabéns oficiais aos "putos mortos"!

E vamos lá às provas que o que não falta por aí são excelentes criações que provam uma ausência de crise na criatividade portuguesa - sobretudo na área da BD! Não sei porquê mas neste evento não adquiri música, por exemplo. Foi quase só zines de BD... Estou a ficar um cromo velho? Ai!

CVTHVUS #2 (Jun'13)
, zine A5 que no primeiro era um graphzine dedicado aos gatos desta vez os gatos são dedicados em BD... no passado já houve destas taradices, lembram-se o Durty Kat da Ana Ribeiro?
Chaz The Cat (aliás, Sérgio Neves) e Gonçalo Duarte fazem duas BDs em honra ao felino, ou melhor, à capacidade de um bicho deste ter-se transformado no Deus do Século XXI. Neves tem um estilo mais digital, frio e rígido seja em desenho seja em narrativa mas apanhou bem a psicopatologia de se amar os gatos em demasiado. Duarte mudou o registo gráfico a que assistimos no passado nas antologias Destruição e Futuro Primitivo, está mais "felino" de acordo com a trágico-comédia que conta sobre os excessos de idolatria sobre a gataria e a tecnologia - não misturar as duas, nunca!!!

Do Clube do Inferno comprei dois dos quatro títulos novos: Lovebirds de Astromanta e 9:2:5 de André Pereira, o primeiro é um porno-S/M-gay impresso em papel cor-de-rosa e formato A6 como manda a regra destas coisas que metam erotismo e voyeurismo - o factor tecnológico também aparece aqui, curiosamente. O segundo é uma válvula de escape de Pereira, em registo autobiográfico, sobre a rotina fantasmagórica do trabalho das "9 às 5" e o de ter de desenhar porcos... A autobiografia sempre foi sinónimo de "auto-ajuda" para os artistas e é o que parece nestas folhas A4. Formalmente o trabalho é bastante interessante com a sua distribuição rígida de vinhetas. Espero que Pereira e outros "chavalos do aPOPcalipse" descubram de vez que BD é sobre "escrita desenhada" e não sobre "desenhos" (com textos de não sei quem).


Lençóis Felizes (Sunflowers Books; 2013) de Van Ayres é capaz de ser o zine de BD que merece o título da "BD portuguesa mais freak de sempre"! Sim é uma BD sobre lençóis (felizes ainda por cima!) que andam por aí a voar, a curtir a vida, "naquela", na descontra... O desenho a lápis mimetiza o desenho das crianças e até se podia dizer que esta é uma BD para esse tipo de público mas então teríamos de pôr no mesmo saco os Moomins, Neil The Horse, Tales of The Beanworld, Caminhando Com Samuel, etc... É que uma coisa é o "infantil-infantilóide" como o Lucky Luke, Turma da Mônica ou a Disney feitos por adultos cinzentos, outra coisa são estas outras obras que apesar do ar de "todo público" ou aspecto "infantil" ou pelo "ar feliz" que conseguem levar-nos a estados de espírito "positivo" - terreno pantanoso quando vivemos numa sociedade obcecada pelo "positivo", "zen", "happy", "baba de caracol", "omega 3" e "yoga" - mas sem levar-nos para estas armadilhas de consumo barato Yo! Zen pró povo! Aqui o produto é genuíno, não fosse ele custar apenas 05 cêntimos e ser um zine fotocopiado em papel verde A5. O estatuto de génio poderá passar por aqui um dia... Ou já é? No que diz a domínio da linguagem da BD está perfeito, por exemplo. Ei-de de reler isto um dia num piquenique com muita fruta e água fresca!

Nada positivo - o título também não engana, né? - é Mass Extinction of All life (Cabidela Ninjas; 2003) de Uganda Lebre e Tosco... Zine A5 de ilustração algumas vezes com texto, é dos poucos zines em Portugal em que podemos Jesus a segurar caralhos, Santo António a fazer broches, Jesus em regime de auto-felatio enquanto bate uma punheta a um bófia nazi (não são todos?) que se esporra nas Suas costas. Há mais mas já contei o suficiente, não? Só não é fixe porque não é BD... Pois é! De resto já conhecem o trabalho do Uganda Lebre nas nossas antologias, certo? Não? Seus toscos!
E a Amanda Baeza têm um novo mini-comic!!! Nubes de Talco (Bombas Para Desayunar; 2013) saiu em Espanha, e talvez por isso, lembra-me imediatamente um "mash-up" de grafismos e intenções surrealistas dos grandes Pere Jóan e Max. Mini-zine A6 a preto e branco, Baeza investe para o satanismo, não de forma porca, suja e feia como os badalhocos dos Cabidela Ninja, mas de forma filosófica e intimista, com belos desenhos e composições gráficas. Esta é a confirmação que estamos presente da autora portuguesa de BD mais interessante do momento - mesmo que pouco ou nada tenha editado cá, o outro "mini" foi lançado na Letónia. Ah, e como a língua portuguesa é machista por natureza, quando digo "autora" na realidade queria dizer "autor" apanhando os machos e as fémeas. Heil Satanna!
Por fim, como já tinha referido, na Morta não houve convidados estrangeiros mas apareceu o Weaver - que entretanto tem uma exposição em Ponte de Sôr! - como visitante comprador de tudo o que lhe aparecia à frente! E também tinha coisas para oferecer e trocar como o catálogo do Expressiocinismo que se propõe como um movimento artístico-pictórico-pícaro fomentado pelo seu colectivo Monstra. Numa saco de plástico, aparece-nos um folheto com o manifesto do movimento e vários cartões, tipo postal, com imagens das obras dos autores e com divertidas biografias no verso. O movimento está sintonizado com o Neo-Pop Surrealista difundido pela revista norte-americana Juxtapoz - aliás, a exposição do grupo tem o seu apoio - propondo uma miscelânea de técnicas plásticas como pintura, desenho, serigrafia, objectos (Jabson Rodrigues), bordados em ponto cruz (Franklin Stein), etc... Aquele toque humorístico brasileiro que já conhecemos aparece por estas bandas e reforça as palavras do Aaron $hunga quando escreveu sobre o primeiro volume d'AcontorcionistA, dizia ele que era "absurdo escrever manifestos nesta altura do mundo onde existe Dubstep". Pois...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

ccc@feira.morta


A Laica morreu. A que se segue será uma Feira póstuma. Baptizada como Feira Morta, e à semelhança da anterior, funcionará como o ponto de encontro, troca e venda de edições independentes, alternativas ou não convencionais, dentro de uma ética do-it-yourself.
Nela, novos e velhos editores e editoras apresentarão novidades, raridades e projectos esporádicos, artistas irão expor e vender originais e múltiplos, mostrando publicamente o seu bom e mau gosto e qualidade.

A Feira Morta pretende promover, acima de tudo, a divulgação e a descoberta do que hoje se faz, bem como o contacto directo e informal entre quem cria, quem compra e quem se interessa. À venda estarão livros e fanzines, discos e cassetes, desenhos e serigrafias, objectos vários, criados ou reutilizados, usados e em segunda mão. À vista, exposições de artistas e artesãos, que serão acompanhadas por workshops e outras actividades, projecções de vídeo de animação, documentais e/ou experimentais, concertos ao vivo e música em transmissões radiofónicas em directo e dj sets. Comes e bebes complementarão a festa/feira.

A Feira Morta quer ser, e será, um espaço aberto, face aos que (se) fecham, onde se fala, discute e pensa sobre ilustração, banda-desenhada, desenho, artes plásticas e gráficas, música, sobre o que se fizer ou quiser.

Albergada pelo Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, a Feira Morta decorrerá em dois dias de provável calor infernal – 6 e 7 de Julho - num primeiro andar no Intendente.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Kovra #5

Ediciones Valientes; Jun'13

Novo número do zine de Valência, dirigido por Martin López Lam, novamente em formato gordo tal como o número anterior. O enfardanço só se perdoa porque nas suas páginas vamos encontrar alguns doa autores de BD (ah sim, é um zine  de BD!) mais excitantes do momento como os dois croatas Igor Hofbauer e Dunja Jankovic, os aústriacos do Tonto, o francês Craoman e claro o Martin... e pelo meio ainda o "nosso" Rudolfo armado em Crepax do Século XXI e mil outros autores com qualidade.
Kovra perdeu a personalidade do início, como aliás, acontece com todos os que engordam mas também é verdade que os gordinhos costumam tornar-se bonacheirões... Para quem gosta de BD é actualmente a antologia mais importante para seguir!