terça-feira, 31 de maio de 2016

Gaijas Comix

No Graf de Barcelona encontramos a gaja do Meu Namorado Cavalo, que não assina os trabalhos numa anonimato bizarro em que a série de BD e autora são homónimas: Mi Novio Caballo. Lançava o seu segundo livro Aventuras en el Asteroide, 90 e tal páginas quadradas de alucinação naíf da autora e o seu namorado pelo mundo das traições, do mar e do espaço.
Se nos fanzines que já se tinha aqui escrito resultava bem devido à estranheza de um cavalo em situações rotineiras, quando a estranheza soma-se a mais bizarria, o cavalo perde tesão... Não deixa de ser admirável o esforço feito mas parece que é preciso mais garra para não parecer apenas tolo...

Mais poéticas são Klari Moreno e Andrea Ganuza Santafé com os seus zines / chapbooks. A primeira tem uma linha frágil ora para mostrar ambientes bucólicos como Origen, nudo y origen (La Malvada; 2015) como para manifestar Relacionarse muy duro (La Malvada; 2016). Roça o freak mas tem boa pinta. A segunda é mais vulgar no traço e na exibição, aliás o seu fanzine chama-se Puta Mierda (Morboso y Mohoso; 2015) por alguma razão... Conta autobiografias, masturbações e mistura desenho e fotografia para tudo ser mais realista. É uma sem-vergonha! Como é sabido por todos, as espanholas são umas badalhocas!

Não conhecia a Conundrum do Canadá, casa editorial de autores como Chi Hoi, Igor Hofbauer (Prison Stories), David Collier ou Richard Suicide (ver Mutate & Survive) e uma centena de canadianas como Elisabeth Belliveau ou Kat Verhoeven. O livro One year in America da primeira autora deixa-me frio mesmo que seja um diário de um ano da vida da autora ou é porque ela desenha como uma sopeira ou porque é "arte contemporânea", tanto faz... Towerkind é mais funcional e ganha logo o coração devido ao reduzido formato do livro - um fofinho A6! Infelizmente um bom princípio que daria para uma grande história - um "guetho" em Toronto com milhares de emigrantes que falam 150 línguas diferentes - não vai longe. Verhoeven faz homenagem ao sítio mas parece que nunca entrou numa casa de um emigrante ou que tenha convivido com alguém de lá. Parece antes uma exploração da miséria com pitadas de "realismo mágico" que está tanto na berra no mundo hipster da BD...

Aporia (2015) de Sallim é um zine desta música e artista que publica uma BD que se confunde com Poesia visual e vice-versa, de desenhos e escrita simples para quem curte de crise existencial juvenil. Há de lhe passar mas espero que faça mais "coisas" destas num futuro qualquer, seria muito interessante ver mais evoluções desta autora, que também tem uma série de títulos com colagens...

Parece que "zine" para as novas gerações significa "chap book" ou "livrinho" ou "livro de autor". O conceito de serialização passa ao lado, e mais ainda o zine enquanto esforço colectivo. O individualismo impera para o melhor e para o pior porque quando se lança numa publicação a solo, tudo o que é bom ou mau virá ao de cima sem perdão ou hipótese de camuflar entre mais outras páginas de outros autores. Da Joana Teixeira e da Joana Éfe espera-se mais de Viúva (2015) e Starman (2016) respectivamente. No primeiro caso porque espera-se a continuação de algo que sabe a pouco e no segundo porque nem se sabe se há continuação sequer... No lado oposto está a "nossa" Sofia Neto que com Down Below e Eco (Mundo Fantasma; 2015-16) prova que tem tudo para ser ou uma grande autora de BD comercial ou uma grande autora de BD ponto final. Down Below aliás parece uma metáfora para essa dúvida inútil se deve ser "underground" ou não, quando se assiste o "avatar" da autora trabalha como inspectora de sedes marítimas abaixo do nível do mar a ser enganada... Hum... Eco é um "slice-of-neo-gótico" impresso a branco sobre papel negro confirmando o que já se sabia, que a produção gráfica da Mundo Fantasma é para além do excelente.

Por fim, para desenjoar de todos estes monográficos solipsistas eis o regresso de Durty Kat, o número 10, da Camarada Ana Ribeiro que faz com as interrupções da vida este fanzine desde os finais dos anos 90. Prova que fazer zines não é um estágio de emprego mas um modo de vida. Talvez seja o zine mais imperfeito de todos aqui relatados mas é aquele que me dá mais prazer ler e ânsia ao receber por correio, especialmente quando este número é dedicado a delírios religiosos - justificando assim a inesperada participação de Francisco Sousa Lobo. O Durtykat deixou de ser um "perzine" de Ribeiro para abrir portas a mais colaboradores e tem uma saudável fórmula de misturar poesia, desenho, BD e fotografia. Caguei, chamem-me de velho...

terça-feira, 24 de maio de 2016

SplitNot

A quem ache que ser Punk é nunca crescer [I'd rather stay a child / And keep my self-respect / If being an adult / Means being like you - Life Sentence (Dead Kenndys)] o que até pode ser uma boa ideia se já toda a população não tivesse parado de crescer (ver Comicons e Cosplays). O punk português são sempre os mesmos velhadas a fazerem discos e bandas que não conseguem abrir terreno para fora de meia-dúzia de resistentes e/ou nostálgicos e/ou coleccionistas anais. Passaram a ter melhor meios de produção sem que tenham melhorado a sua razão de ser. Sim ficaram crianças, eis uma "catrefa" (ou será uma cafetra?) de discos assim, pelos menos ao splits a reunir sinergias invés dos horríveis discos de uma só face.

Para quê um split-EP de Mata-Ratos e Clockwork Boys (Dog City + Raging Planet + Chaosphere + Hellxis; 2015) com o tema da bola? Porque é divertido... Mesmo um gajo como eu que odeia bola até acha fixe este tipo de xungaria como já aconteceu no passado. Há metade da edição em vinil vermelho e outra em verde, um truque bacoco de mostrar que Portugal é Futebol e que a população socialmente divide-se em vermelhos da populaça que ganha a bola mas é o "eterno enrabado" (Mata-Ratos dixit algures num disco qualquer) e os verdes aristocratas da treta que perdem na bola mas ganham muito mais guito que a populaça - é assim que se resume a bola em Portugal, certo? O lado dos Mata-Ratos não tem temas inéditos, foram retirados do álbum És Um Homem Ou És Um Rato? (Ataque Sonoro; 2004) e os Clockwork regravam o Xalana sabe-se lá porquê... Capa divertida do Pepedelrey mas com grafismo de merda poderá transformar esta edição num ícone se alguém se importasse com isso. Ganham os Clockwork!

Bola outra vez e já deixou de ter piada com o risco de se transformar num sub-género, tipo "Fut-Punk" ou "punk da bola" (tal como há "Hardcore da praia")... Nem se percebe porque a Signal Rex se deu a trabalho de fazer  este split dos Clockwork Boys e dos Scum Liquor intitulado Vitor Baptista (outro futebolista mamado como o Xalala) / Kingshit Cop (2016). Toda a edição tem um aspecto de produção Crust dos 80/90 (quando o género nasceu e cresceu) como se quisesse reclamar uma tradição que não houve cá em Portugal, ou seja, a edição de discos DIY: bandas a auto-produzirem-se, a auto-editarem-se em formatos pobres e modestos como vinil com capas em fotocópia. Isto aconteceu na Finlândia ou Inglaterra. Cá não. Houve excepções, claro como os No Opression ou Corrosão Caótica mas só se fez produtos finais em fotocópia para as "demo-tapes". Agora que a malta é velhinha e com algum guito já se pode dar ao luxo de alguma vaidade mimética e falsificações anacrónicas. Ganham os Scum Liquor porque os vocais desta banda é dos mais podres no espectro punk/hardcore/metal tuga actual. Fixe!

Ainda menos razoável é o split-Maxi de Peste & Sida e Albert Fish (Dog City + Raging Planet + Chaosphere; 2015)! Os primeiros pegam em dois temas de Não há crise (Raging Planet; 2011) e os segundos em dois outros de Still Here! (Raging Planet; 2014). Para quê? Para juntar o punk que soa a 1988 e o Hardcore que soa a 1998? Para fazerem uma capa no formato de LP? Para se sentirem como um "dream team" inter-geracional? Meus, jogo anulado!!! Voltem para o balneário e gravem músicas novas, aquelas que cantam no chuveiro depois do treino, qualquer novo...

Mais bem servidos fica-se com o split-single de Desecration e Holocausto Canibal editado por um colhão de editoras incluindo a portuguesa Chaosphere no ano passado. Três temas de Grind e Death para quem gosta de duas bandas que juntas fazem 40 anos de dedicação a estes géneros - their words. Os ingleses ganham a partida porque naquela ilha nojenta de onde eles vem sempre houve mais estúdios de gravação e ensaio, produtores, instrumentos de música, engenheiros de som, rede de circulação e distribuição e já para não dizer que tem uma cultura que criou estes sonoros grunhos (Napalm Death, por exemplo). Os Holocausto não tinham hipótese desde o início do jogo... E topa-se logo pelo desenho no "picture-disc":

os ingleses sempre foram uns badalhocos... 

sábado, 21 de maio de 2016

Necromancia Editorial V @ Feira das Almas, Lisboa

Rescaldo fotográfico por Pedro Roque - http://eyesofmadness.tumblr.com/



 













NECROmancia EDiTORIAl 5 @ Feira das Almas Late Market

cartaz de Xavier Almeida

Barulho? Comics? Discos? Sim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A NECROMANCIA EDITORIAL está de volta!

Após a sua mais recente passagem pelo Barroselas Steel Warriors Rebellion 2016, estamos de volta com a NECROMANCIA EDITORIAL na Taberna das Almas (Anjos) para celebrar a 5ª edição desta feira itinerante onde juntamos os discos e artistas às edições e publicações de autor.

Juntamente com o Late Market já no próximo Sábado, dia 21, prometemos “live act's” de referência, “djiing” sónico, exposições fotográficas e ainda um vasto mercado de discos e comics, cuidadosamente seleccionados. A entrada é livre!

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Horários:

17h - MMMOOONNNOOO + OWWK
https://www.youtube.com/watch?v=yxPBGNpFSxg
Duo de dynamic-drone imprevisível e preenchido, MMMMOOOONNNNOOOO + OWWK é a extensão criativa dos projectos a solo de Daniel Neves e André Hencleeday a um espaço sonoro comum composto por sonoridades e visões distintas. Tão fascinante - ou ocasional - como a própria existência, avança lenta e progressivamente pelas brechas da realidade, deixando indeléveis marcas de ruído que se dissolvem sequencialmente. Guiados pelo instinto puro, não interessa onde vai, como soa ou quando acaba.

18h - DISSOCIATED RECORDS DJs (Pedro Roque + Urbanvyrus)

22h - SINTER

Das cinzas de Sektor 304 nasce Sinter, a nova matéria fundida com os mesmos elementos primordiais dessa entidade industrial. Composto por André Coelho (Iurta / Mécanosphère) e João Pais Filipe (HHY & the Macumbas / Mécanosphère), Sinter assenta na estética do desperdício industrial, processos mecanizados, repetição e percussão tribalizada. Um corpo torpe e disfuncional em colisão com o seu mundo distópico.

Exposição fotográfica: Eyes of Madness de Pedro Roque

quarta-feira, 18 de maio de 2016

REP@mapa.borrado

Mapa Borrado de José Smith Vargas no novo número do Mapa sobre o artigo da Time Out sobre o Anarco-Queer? Queercore! No ponto!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Aminoacid Boy an the Chaos Order

Diego Lazzarin
Ed. de autor; 2015

Eis um impressionante livro de BD, um romance gráfico de 160 páginas muito coloridas de um autor italiano que fez a sua primeira BD! Wow! 


E fez o livro com aquela onda do crowdfunding e não tarda nada o livro esgota. Outro wow! 

Nem sei muito bem porque encomendei este livro porque de freakalhada já há muita, pessoal a exagerar nas cores também e quem quer saber de projectos feitos de crowdfunding? Mas O Rapaz do Aminoácido tem um magnetismo qualquer e mandei vir umas cópias e agora que já o li, faço um triplo wow!

Entre Blanquet e Caroline Surry, no primeiro caso o ambiente de horror e no segundo a aplicação da estética "art brut", o Aminoácido apesar de ser linear na expectativas narrativas não deixa de impressionar pelos quadros pintados (a paleta de cores lembra também o alemão Atak) que retratam monstros ethernet, Gore a rodos, mutações a evitar e toda uma galeria de B e Z.

sábado, 14 de maio de 2016

Francisco Sousa Lobo @ TCAF 2016

"Francesco Del Lobo" segundo The Beat
Francisco Sousa Lobo, author of The Dying Draughtsman (image) and The Care of Birds, will be present at Toronto Comic Art Festival between 14th and 15th May.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Freaks Lx

Älforjs: Jengi (Silent Water + BurroDiscos; 2016)

Este trio de freaks limpinhos foi uma das surpresas deste ano, quer dizer, vi-os ao vivo e já fazem parte das boas recordações de concertos de 2016 que achei surpreendentes. Isto num ano que ainda nem vai a meio e já ofereceu prestações maravilhosas de Plus Ultra, HHY & Macumbas, Putan Club, Jucifer ou Sly & Family Drone... O difícil é bater o som ao vivo numa audição domiciliaria senão é que é impossível. Acho que em Portugal falta sempre aquele "oomph" que os bifes e gringos conseguem fazer nas suas produções fonográficas e basta ouvir Cut Hands dentro do mesmo universo de "voodoo-noisers" para perceber as diferenças.
O projecto também pode ser comparado aos Macumbas, só que estes bons selvagens dos Älforjs não querem o pessoal de tanga feita de cânhamo lá em casa a derrubar cinzeiros. Propõem levar-nos mais para o sofá fumar a tanga (já que é de cânhamo) e ver um canal de cabo com uma paisagem exótica no ecrã. Disco composto por dois temas, um para cada lado no vinil, é de referir que o primeiro, Natura Ruidosa, tem quatro momentos dedicados a personagens literárias que discutem as relações entre civilização e o selvagem: Papalagi (os leitores deste blogue devem de certeza conhecer a edição ilustrada por Joos Swarte, certo?), Próspero, Crusoé e Marlow (d'O Coração das Trevas de Joseph Conrad). Será em jeito de homenagem ou são apenas referências de coordenadas culturais para estes neo-nativos da capital portuguesa?
Os nativos são Bernardo Álvares (de Zarabatana, ao qual se pode fazer também comparações entre as bandas), o Mestre André (o gajo da loja!?) e Raphael Soares (The Sound of Typewriters e Sunflare) que prometem outro álbum dia destes. Até lá aproveitem que este mês eles andam na estrada a promover este Jengi, ide lá vê-los!

domingo, 1 de maio de 2016