segunda-feira, 27 de abril de 2020

Boring Europa ::: ESGOTADO!

 

primeiro volume nova colecção da Chili Com Carne, LowCCCost, dedicada a livros de viagens
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de Ana Ribeiro, Joana Pires, Marcos Farrajota, Ricardo Martins 
e Sílvia Rodrigues


em Espanha, Itália, Eslovénia, Sérvia, Áustria, Alemanha e França
8000 km / 15 dias


sobre a tour europeia da Chili Com Carne realizada entre 1 e 15 de Setembro 2010 nas cidades de Valência, Bolonha, Ljubjana, Pancevo, Graz, Berlim, Poitiers e Vigo.


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participações especiais de Karol Pyrcik, Jorge Parras, Martin López Lam, Jakob Klemencic, Aleksandar Zograf, Simon Vuckovic, Vuk Palibrk, Christina Casnellie, Andrea Bruno, Igor Hofbauer, Edda Strobl, Helmut Kaplan, Pilas versus Nanvaz, e ainda com Gasper Rus, David Krancan, Matej de Cecco, Matej Lavrencic, Katie Woznicki, Letac, Boris Stanic e Johana Marcade nas comic jams feitas em Ljubljana e Pancevo.


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banda sonora gratuita em linha: "A Grande Explosão" de Ghuna X via Phonotactics


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128 p. 23 x 16,5 cm impressas a azul escuro, capa impressa a branco sobre cartolina Dali bluemarine 285 gr com badanas; ISBN: 978-989-8363-11-4

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ESGOTADO
talvez ainda encontrem exemplares na Fábrica Features, Matéria Prima, Mundo FantasmaTasca Mastai e Tinta nos Nervos.

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sobre o livro: a tournê europeia Spreading Chili Com Carne Sauce in Boring Europa tinha como objectivo principal divulgar o trabalho da Associação e dos seus artistas. Até pode parecer um acto desesperado de querer mostrar "à força" o nosso trabalho mas, desde sempre, a CCC trabalhou com projectos e autores estrangeiros – Mutate & Survive, Mike Diana, Greetings from Cartoonia, MASSIVE, Festival Crack, etc... O problema é que quase nunca vemos estes nossos amigos, dada a solidão imposta pela nossa posição periférica. Fomos dizer "olá" ao pessoal amigo! E aos que só comunicávamos por correio! E, claro, conhecer malta nova! Fomos percorrer 8000 Km de Europa em 15 dias oferecendo um pacote completo de cultura underground portuguesa a quem nos recebesse: concertos de R- e Ghuna X, festa animada com o unDJ MMMNNNRRRG, exposição de impressões e serigrafias, e, claro, uma enorme selecção de zines, livros e discos independentes. Em troca queríamos apenas simples alojamento, comida (se fosse possível à organização) e dinheiro das entradas para os espectáculos. Se os punks e metaleiros fazem isto porque não podemos fazer a mesma coisa com livros? Get in the van!


Decidimos chamar a coisa de boring, pelo sim pelo não, porque vivemos numa uniformização cultural capitalista à escala global - como tão bem ironiza Jakob Klemencic algures no livro - em que as identidades nacionais ficaram reduzidas a meia dúzia de artefactos rurais e rituais anacrónicos prontos para serem vampirizados pelos comportamentos fotográficos dos “turistas = terroristas”.


Desde o início pensámos que só podia ser bom editar um livro com os desenhos dos viajantes - um relato on the road das pessoas com quem nos cruzámos, das cidades e dos países que visitámos, etc... Era impossível de falhar: seis pessoas a desenhar, seis livros de esboços fundidos num livro "oficial". Pura ingenuidade! A excitação de conduzir, o esforço físico de alguns trajectos, a desistência da Sílvia Rodrigues, logo ao terceiro dia, e a falta de confiança em desenhar da maior parte dos participantes deixou-nos apenas com UM caderno de esboços da Ana Ribeiro. Todas as outras participações tiveram de ser feitas à posteriori, complicando com os prazos pessoais e profissionais de quem gozou estas férias diferentes. Juntámos textos, BDs, desenhos “acabados” bem como “esboços” da Ana Ribeiro, Joana Pires, Marcos Farrajota, Ricardo Martins e Sílvia Rodrigues; e bds de autores estrangeiros que relatam a recepção da nossa “caravana” - Jorge Parras, Martin López Lam, Jakob Klemencic, Aleksandar Zograf, Vuk Palibrk e Christina Casnellie. Outros cederam-nos desenhos ou bds sobre viagens para enriquecer esta edição - Andrea Bruno, Igor Hofbauer, Edda Strobl, Helmut Kaplan, Pilas versus Nanvaz. Compilámos as melhores BDs-cadáver-esquisitos ou comic jams feitas em Ljubljana e Pancevo - são bds feitas numa sessão com várias pessoas em que cada um desenha uma vinheta continuando o trabalho dos anteriores perdendo-se sempre o controlo do avanço da “estória”.
Em "Lissabon", a Karol Pyrcik ficou a tomar conta das gatas do Marcos e da Joana, e a fazer um diário gráfico sobre a sua estadia, contrapondo as nossas visões, mas fez batota e produziu umas divertidas ilustrações sobre futilidades lisboetas e quotidianas.
Criámos um inovador “Frankenstein comix” ou uma Babel impressa? Em breve teremos reacções a este livro. Esperamos ter surpresas exteriores tão agradáveis como as que tivemos quando chegávamos aos sítios durante a digressão. 


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Apoios (tour e livro): GRRR Program + Centro Cultural de Pancevo, IPJ, MMMNNNRRRG e Neurotitan

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Historial: Realização da tour Spreading Chili Sauce around Boring Europa (1-15 Set) ... Lançamento 27 de Março na MapDesign (Lisboa) e 2 de Abril na Feira do Jeco (10 anos dos Maus Hábitos) 2011 ... referência no Gabinete de Crise ... Cabaz Underground (sorteio dia 3 de Abril nos Maus Hábitos) ... reportagem na Câmara Clara (RTP2) ...


Feedback : 
reacções de viajantes aqui 
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I love tour books about la merde de la europa / jes we can Igor Hofbauer 
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O nome dificilmente poderia ser mais sugestivo e paradoxal (...) Porque, por mais quilómetros que façamos (...) o Velho Continente é cada vez mais um corpo uno. Ainda assim, o que vem dentro das páginas (...) é tudo menos entediante. Muitas ilustrações, desenhos e BD, uma forte componente gráfica e um sem-número de diálogos impróprios para gente sem sentido de humor. Tudo a duas só cores, azul e branco. Rotas & Destinos 
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(...) espécie de périplo autoreflexivo na forma mista de diário/ reportagem sobre uma viagem por uma Europa de movimentos independentes, que se transforma numa espécie de mini-manifesto (é algo pomposo, mas adequado) sobre modos de pensar a arte, a vida, o mundo. Destaque aqui para o importante trabalho de Marcos Farrajota, que, com todas as suas limitações formais, tem aqui um papel crucial ao unir as diferentes contribuições e preencher espaços em branco, destacando-se ainda o seu olhar sobre as várias contra-culturas que o grupo vai encontrando na viagem, entre a extrema empatia/ admiração e o desprezo ácido (o episódio de Berlim é particularmente elucidativo). Sem este fio condutor o livro seria uma amálgama de acasos individuais, e não faria grande sentido. JL 
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(...) é um livro que deve tanto à mítica Torre de Babel como às auto-estradas europeias, misturando várias línguas e registos tão diversos (...) Surpreendentemente, o resultado é tão coerente como são caóticos os dias aqui retratados. Mais do que uma colagem de histórias e fragmentos, Boring Europa é um livro de viagens, uma aventura em 8000 quilómetros de estrada e, sobretudo, um contributo relevante para se pensar a Europa e as suas relações internas. Agora que a ajuda entre países (mais ou menos forçada) anda na boca de toda a gente, seis pessoas e uma carrinha dizem mais sobre as vias possíveis para o encontro e sobre a capacidade de nos conhecermos para lá das fronteiras do que todas as directrizes da União Europeia. Sara Figueiredo Costa in Ler 
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Hace casi un año tuve la oportunidad de presenciar una de las exposiciones más atrevidas y frescas de ilustración y cómic de todo el tiempo que llevo dedicado al mundo gráfico y a la autoedición. Acostumbrado a una corrección profesional y buen rollista, que muchas veces rosa el aburrimiento y mojigatería, que encuentro habitualmente en la gráfica convencional -en la prensa, en la calle y en las estanterías de las librerías-, la expo-guerrilla del colectivo portugués Chili Com Carne resultó ser un contundente puñetazo visual e ideológico que demostraba, con la práctica, otras maneras de entender la ilustración y el quehacer visual. La exposición duro sólo dos días y era la primera parada en el tour Spreading Chili Sauce around Boring Europe que llevó a los CCC por España, Serbia, Austria, Francia, Italia, Eslovenia y Alemania, en 15 días y cuyo diario de viaje, publicado bajo el título Boring Europa, cuenta el cómo, cuando, cuanto y por qué recorrer alrededor de 8000 km con una furgo cargada de fanzines, y puede servir como guía de lo que es la autogestión cultural. Martin López in Bólido de Fuego 
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Quase todas as histórias tocam, portanto, aspectos autobiográficos, referentes aos acontecimentos destas visitas, mas ao mesmo tempo são também testemunho de variadíssimas práticas alternativas. Não apenas da cultura (música, artes visuais, festas, feiras) mas também das práticas propriamente ditas. Ou seja, da angariação de fundos, da organização de eventos, na forma como se gere um fundo de maneio, nos modos como se criam alternativas ao(s) mercado(s) convencional(ais), como se recebem os convidados, da cozinha à dormida, e sem esquecer aspectos de turismo (...) E além disso, as jantaradas e conversas em torno de cervejas e cigarros, que levam a discussões breves mas que apontam a interessantes tomadas de posição face aos estereótipos, expectativas e jogos de projecção que o encontro de “nacionalidades” forçosamente fornece. São muitos os pormenores estranhos e curiosos deste livro, deste a sua forma de organização, à “sinalização” que identifica as autorias, até ao tal orçamento ou custos da aventura, e os dados dos espaços visitados, que poderia até funcionar como convite à visita dos leitores (...) Pedro Moura in Ler BD 
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Um livro on the road, desenhado durante e após o tour dos autores num registo quase sempre próximo do biográfico. Foram 8000 Km de Europa percorridos em 15 dias, a bordo de uma carrinha e com orçamento reduzido. Mais do que um pout-pourri colado à pressão do trabalho dos diferentes autores, existe nesta obra um vero fio condutor (no pun intended), graças a um excelente trabalho de editor. É também um importante testemunho da existência de alternativas: à edição, à distribuição, à venda, à performance, à BD, à música, à arte, ao entretenimento, à festa, à viagem, à estadia, à habitação, ao turismo, à amizade, ao conformismo. E paralelamente vai-se criando a evidência de que, enfastiante ou não, não existe uma mas sim várias Europas. Afinal, mais do que estereótipos nacionais, somos todos indivíduos. Bandas Desenhadas



 exemplos de páginas:

sábado, 25 de abril de 2020

Vila Gabberolas Moreno



A música da minha Liberdade e Ravelução não é mesma das três da tarde na kitsch-nette

Bombem cá para fora nas colunas GABBERROLAS

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Bottoms Up (work-in-progress)


Rodolfo Mariano, colaborador regular na revista Pentângulo, avança com o projecto Bottoms Up, vencedor dos "500 Paus" deste ano.

Eis imagens do trabalho em estúdio para aguçar o apetite.

PS - e sim,  este livro sai este ano nem que a vaca tussa!






segunda-feira, 20 de abril de 2020

Lançamento Virtual Tinta nos Nervos do Pentângulo # 3

O Covid-19 apanhou o lançamento físico da revista Pentângulo #3 na Tinta nos Nervos, projectado para 21 de Março... Mas como há 'net a rodos decidiu-se lançar virtualmente esta publicação da Ar.Co e Chili Com Carne.

participam numa matinal conversa os professores e alunos 
Daniel Lima, Cecília Silveira, Rosa Francisco e Ana Dias 
moderados por Pedro Moura,
e ainda com testemunhos de 
Francisco Sousa Lobo e Tiago Baptista.




Muito obrigado ao Pedro Moura e à Tinta nos Nervos!

sábado, 18 de abril de 2020

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Isola-te com Podridão


Não se pode proibir os metaleiros de fazerem figuras ainda mais ridículas do que o seu habitual (vivem bem os cabrões - viram os caseirões?) mas pelo menos consegue-se proibir da RTP de duplicar o seu financiamento e dos seus amiguitos. O que nada está proibido de se fazer nesta altura de grande crise para os músicos que viviam de espectáculos é apoiar os músicos jovens / novos / underground - e não não falo do nacional-cançonetismo da actual produção Rock/ Pop. Falo de, por exemplo, de UNITEDSTATESOF e a nova k7 pela Rotten \ Fresh intitulada Selections 1

Como podem imaginar, lançar um objecto físico na pandemia corona & internet das coisas é suicídio. Vá, apoiem! É verdade que o Lado A da k7 vê-se que o Aphex Twin pariu montes de filhos, mas o Lado B, que só se pode ouvir em k7 (como aconteceu com Black Taiga), as "remixes" de Odete, Ondness, Oströl e mais outros produtores não começados por "O" mostram-se mais dinâmicas e potentes que os temas originais. Acontece... 

Com "remixes" ou não, sente-se uma música que vive de duas interpretações antagónicas como se Selections 1 tivesse sido racionalmente projectado para sair neste exacto momento de "pandemônio XIX". Uma forma de interpretar é anacrónica pois projecta uma fronteira de uma vida que deixou de ser possível fazer nos próximos dois anos - ir a Londres, por exemplo, curtir a depressão - assim a puxar ao Vaporwave e toda a nostalgia desse sub-género. A outra é super actual e mórbida, que nos diz não há razões para patetices alegres, que não vale a pena esconder a miséria exitêncial que se sofre, manter as aparências, comer carne-merda-plástico, status quo, etc... O som em casa-do-isolamento tem de ser este, abstracto e meditativo, um papel-de-parede para o Apocalipse.

domingo, 12 de abril de 2020

v/Ler BD com Ana Simões e Ana Matilde Sousa sobre “Einstein, Eddington e o Eclipse”.

Dança de São Vito








El Brujo dançou e mostrou as cartas It's You na Noite Oráculo. Muito divertido! Gracias!

sábado, 11 de abril de 2020

ccc@noite.oráculo.online



Era para te sido no dia 21 de Março (equinócio da Primavera) nos Anjos 70 mas o vírus não deixou... Agora é tudo em linha e também a Noite Oráculo será assim neste Sábado para paganizar a Páscoa que bem precisa de tal!

Da nossa parte a simpática organização do evento irá mostrar as cartas-oráculo It's You da Amanda Baeza e o unDJ MMMNNNRRRG não fará lá nada mas prepara uma "playlist" New Age para vosso usufruto. É assim em tempos de pandemónio...

sexta-feira, 10 de abril de 2020

O absurdo dos dias normais...

O Novo Milénio trouxe ao Ocidente a descoberta de todo um historial ainda por contar do Gekiga - termo que significa "imagens dramáticas" opondo-se ao termo "Mangá" (imagens tolas), no fim de contas trata-se por analogia de "Romance Gráfico". Aparecem quase todos os dias edições nos EUA e na Europa a recuperar velhos mestres e autores simbólicos, até em Portugal tivemos inesperadamente dois livros do Shigeru Mizuki (1922-2015) pela Devir, que aconselho vivamente. Não só esta recuperação vive de edições, há também eventos e exposições como aconteceu este ano no Festival de Angoulême em que foi mostrada uma bela retrospectiva do importante Yoshiharu Tsuge.

A inglesa Breakdown Press é daquelas editoras pequenas que tem lançado "clássicos desconhecidos" do Japão, com um cuidado extremo nos objectos editoriais, tendo publicado no ano passado The Pits of Hell de Ebisu Yoshikazu - livro culto no angora japonês, editado originalmente em 1981. São nove histórias, produzidas entre 1974 e 1981, que são perfeitamente selvagens, brutas, sujas, feias e violentas sobre o inferno que é o dia-a-dia na escola, escritório ou em casa - a violência doméstica também é contemplada - ou seja, todas as maleitas criadas pela sociedade industrial capitalista, que borregos como João Miguel Tavares estão desejosos que regressem "à normalidade" no seu esplendor. É verdade que os argumentos são dados a excessos e pesadelos mas o sentimento de que algumas das situações poderiam acontecer mesmo está no fio da navalha.

O estilo gráfico de Ebisu é pioneiro e insere-se no movimento "heta-uma" ("feio mas bom") que se tornou o ADN da mítica revista Garo da década de 70 e 80, e muito para além disso se pensarmos na segunda geração de autores praticantes do estilo como Yusaku Hanakuma, do celebrado Tokyo Zombie (1999), ou ainda mais próximo de nós, no tempo e território, a Hetamoé. De uma forma muito primária pode-se dizer que o que temos aqui é ao equivalente aos norte-americanos Rory Hayes (1949-1983) ou Mike Diana, especialmente a violência física lembra Diana - embora a comparação teria de ser invertida cronologicamente. Para quem já não tem cu a ouvir empresários a falarem sobre a Economia, eis a solução.

Quem são os autores clássicos de Itália? Quem responder Hugo Pratt é porque não conhece Guido Buzzelli, o primeiro verdadeiro artista na BD mundial - e, epá!, publicado em Portugal: Zil Zelub (Presença; 1973). Quem responde Manara é porque não conhece Pazienza!

Andrea Pazienza (1956-88) é uma instituição em Itália, o gajo da BD mais respeitado e adorado de sempre. Talvez por isso que a capa d'Os Últimos Dias de Pompeo (Veneta; 2015) tenha um ar bizantino, em volta de um artista junkie, Pompeo, alter-ego de Pazienza, que faleceu pelo uso de heroína. Uma auto-ironia profética? Porque não? La Pazienza ha un limite, Pazienza no!

Este álbum é o seu diário confessional e testamento artístico - embora a BD incompleta Astarte, seja considerado por outros. Aqui o verniz estalado é assumido, as folhas onde são desenhadas vários desenhos, algumas vinhetas e sequências são mesmo papeis de rascunho ou do que estivesse à mão de semear, enquanto na outra dava mais um caldo. Só com drogas é que se suporta esta realidade de merda, e Pompeo é o poeta de serviço para mostrar a verdade e a mentira desta afirmação, usando armas do pós-modernismo (o grafismo é muito 80s sem dúvida), as páginas são "slices of life" sobre arranjar doses, injecções bem ou mal paridas, estar lá por detrás do espelho de Alice e infelizmente regressar à terra. Não esperem Harvey Pekar ou outras (auto)biografias bem comportadas, isto é um ensaio para uma "arte total", falhada e triste.

A obra de Pazienza nunca foi publicada em Portugal - podem agradecer aos editores de BD que nos deram tanta ignorância durante todas estas décadas de democracia. Em português há BDs na amadíssima Animal - incluíndo Astarte - e este livro que já agora conseguiu o impossível, traduzir com rigor o texto de Pazienza, que é italiano, iá, e também mil dialectos "daquela bota", jogos palavrosos e invenções linguísticas do autor. Parabéns!

Se o livro de Ebisu deve ser fácil adquirir pela editora, o de Pazienza vindo do Brasil terá preços proibitivos - e meninos, nada de usar a Amazon que é má para todos! Alternativas, ou ler em Italiano, ou esperar por 2021 porque estão previstas uma edição francesa pela Revival e outra em castelhano pela Fulgencio Pimentel, creio.

O último livro de Gabrielle Bell intitulado Inappropriate (Uncivilized) saído este ano, é também uma compilação de BDs curtas. Não conhecendo muito bem o seu trabalho, diria que é daquelas autoras que vai reunindo esse material vindo de zines, "comic-books" (como o seu Lucky), antologias de referência (Mome, Kramers Ergot) e muita 'net por aí.

Bell possui tanta displicência como humor - diria até "humor britânico", uma vez que o pai das autora era inglês, após o divórcio, a mãe norte-americana levou-a, com dois anos, para os EUA. Na primeira característica topa-se logo pela forma como as suas BDs não tem um limite de vinhetas e páginas, parece que a autora tem um à vontade narrativo para contar desaventuras do dia-a-dia com elementos surrealistas sem que isso perturbe a normalidade do universo.  Quando decide parar, pára, que se lixe que depois em livro fique com páginas e meia de BD e o resto a branco. Estranhamente ela até tem uma disciplina monótona (mas que que não cansa) de fazer tiras de duas vinhetas e três tiras por página. No entanto como disse, quando tem de parar para fechar uma história ela pára e acabou-se. Talvez procure um final durante a produção até que o encontra sem pensar em consequências de formatos editoriais. com este processo acerta sempre e fazer das narrativas verdadeiros contos "clássicos" (princípio, meio e fim) e não aquele flutuar constante das pequenas autobiografias.

O humor dela é subtil - daí a referência ao britânico - não nos (a)traí para facilidades de "punch-lines", é maneirinho, evidencia o ridículo da sociedade ocidental sem o querer modificar, se não fosse assim o que poderia ela contar? Tem algo de inocente e infantil - lembra-me a Jucifer - contrabalançado pelo mundano e aflitivo. Senti nela uma energia que tinha nos tempos do Eightball de Daniel Clowes, aquela aura norte-americana que surpreende sempre pela irreverência da juventude e a observação sagaz dos nossos tiques civilizacionais. Espero que ela não se estrague como o gajo e que continue a bater no ceguinho.

Qualquer livraria de BD que seja de importação norte-americana deveria ter este livro ou facilmente o consegue por encomenda - comprei o meu exemplar na BdMania (era o que se destacava no meio do lixo habitual) e foi mesmo a tempo antes do "co(n)vid(a-a-casa)-19", perfeito para escrever sobre ele no fim de semana comemorativo do porco nazareno mais fixe de sempre! (o fim-de-semana, não o porco, dah!)

sábado, 4 de abril de 2020

Assim não vale...

Lo Corona shit deu cabo da edição física da Loud! deste mês - ainda bem, meu, a capa são os Nightwish, credo, que azeite!! - mas há PDF grátis aqui. E pá, se está na 'net então meto aqui as minhas resenhas críticas, que se lixe! Ah! Tem pontuação de 0 a 10 porque os metaleiros obrigam a tal!



Antes de Stealing Orchestra houve Hardware, banda de Metal Industrial por um puto sozinho num quarto nortenho. Estávamos em 1994 com um João Mascarenhas metaleiro e com visões cibernéticas a fazer esta “demo-tape” agora reeditada passados 26 anos. Imaginem Nitzer Ebb mais da electro-metalada. Como podem imaginar, os tempos eram outros, a tecnologia idem idem aspas aspas, e claro a divulgação ou impacto que isto teve ficou-se provavelmente por apenas uma entrevista no Headless’zine (uma das dezenas de fanzines de Metal que existiam na altura). Ouvir isto é um misto de duplo sentimentalismo, por um lado a parte naïf do projecto, a sua simplicidade de meios de produção, espécie de “Fear Factory sem orçamento”, e por outro, pela nostalgia de ouvir este género que já se institucionalizou-se à bimbo Rammstein ou à “emo-chato“ tipo o gajo das “unhas de nove polegadas”. Ouvir este CD não ofende nada nem envergonha ninguém. Para quem acompanhou a carreira de Mascarenhas reconhece já aqui o seu humor como se pode aperceber pelo título da última faixa Adolf Hitler Talks About The Universe. O humor cáustico que em 2002 até deixou os Holocausto Canibal cheios de cagunfa das remixes de Stealing para Sublime Massacre Corpóreo6,66666(E)



Depois de lançar o livro de “mash-up” literário Frankenstein, or the 8-bit Prometheus (Chili Com Carne + Thisco; 2018), Balli foi aprofundar sonicamente os conceitos da sua obra, promovendo até sessões espíritas através de Gameboys, como poucos puderam presenciar na Tasca Mastai (Lisboa) e na Galeria Municipal do Porto. Invocando o espírito de Giovanni Aldini (1762-1834), sobrinho de Galvini (ao qual Balli já dedicou um disco de Grind-Gabba, ver Loud! #214), que também andava a reanimar cadáveres usando electricidade, este cientista inspirou o Frankenstein de Mary Shelley. Agora em CD, numa embalagem algo infantil, eis as sessões espíritas gravadas para usufruto para todos os crentes e outras alminhas. Soa a um “spoken-word” impecável - não há uma ponta de sotaque italiano pasmem-se! - sonorizado por uma sofisticada banda sonora de videojogos. Ouvir esta gravação nestes tempos de excesso de informação é um desafio intelectual tramado, não fosse também o texto uma híper-ficção sobre um monstro sonoro capaz de engolir toda a música do mundo, mesmo a mais vil e criminosa como o Trap e os Super-Tramp, num mega-mix omnívoro dirigido pelo Shitmat. Este recital obriga-nos a alguma concentração. E vale a pena perder tempo com isto? Sim, o ambiente mórbido funde-se com o sofisticado sentido de humor, emergindo um terceiro olho leitor de códigos de barras. Sim, acontece a Alquimia, vulgo, a Imaginação, o mais raro dos elementos no século XXI. 7


Há poucos músicos portugueses que sejam assertivos como André Coelho, co-fundador dos saudosos Sektor 304 – aquela besta Industrial de destruição total. Esta seria até a forma mais básica de apresentar Metadevice: é S304 mas só com Coelho e algumas participações externas pontuais, mas sobretudo sem as batidas poliritmicas e sincopadas de João Pais Filipe. Tudo é feito por ele até a excelente embalagem, cabeça, tronco e membros. Neste homúnculo sonoro não há aqui piadolas e nem fingimentos estéticos como 99% produção musical portuguesa – o que não impediu no passado de Coelho ter feito projectos iconoclastas ou provocantes. Muito menos, não há aqui queixumes de pagar o pão na mesa (como o hilariante editorial da última Loud! [OLHA CENSURARAM ESTA PARTE NA REVISTA!!]) ou achar que se faz Arte sem suor, sangue e lágrimas. Para quem dificilmente encontrava “up-grades” ao Industrial primordial, da chapa de aço amplificada, do power electronics másculo, do noise sem ser drone fácil e em geral a um corroído Illbient, eis um “regresso” após seis anos após o fim de S304 [(cinco se pensarmos no último registo dos Mécanosphère) quatro com as actuações ao vivo de Sinter]. Alguns vocais disparam erudição literária como textos de Ezra Pound ou Thomas Pynchon - nada de números cripto-circenses “crowley-anus” e outros “senhores dos anais” – criando uma desorientação propícia para 2020. Aliás, a desorientação mundana e existencial é o tema de eleição de Coelho seja na música seja na BD – basta ler Acedia (Chili Com Carne; 2015). Destaque para dois temas assinaláveis, Magnetoesthetics e White Jazz. Obrigatório! 9

Já agora uma boa entrevista a André Coelho AQUI.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Santa Camarão / últimos 8 exemplares


José Santa "Camarão" (1902-1963) foi um dos maiores boxistas do mundo e com uma história de vida avassaladora.

Esquecido pelo tempo, Xavier Almeida propõe trazé-lo à memória com uma biografia baseada num caderno escrito pelo próprio Santa que relata a primeira parte da sua vida: da sua infância em Ovar à juventude em Lisboa, onde culmina com o inicio da sua vida profissional.

Esta é a parte menos conhecida do Santa Camarão, no entanto a mais épica. Pois é neste período que se constrói a sua personagem e a sua carga melancólica, triste, solitária, perdida...e talvez a mais fascinante.

É de referir a colaboração de Pato Bravo (aka de B Fachada, que por sua vez é aka de Bernardo Fachada) no argumento desta banda desenhada. Uma colaboração com Almeida que já vem do tempo da Violência Electro-Doméstica.

O livro teve o apoio das Câmaras Municipais de Ovar e Lisboa. 

à venda na loja virtual da Chili Com Carne e na Mundo Fantasma, Tasca Mastai, You to You, Kingpin, A Vida Portuguesa... BUY ouside of Portugal at Quimby's (USA), Floating World (USA), Just Indie Comics (Italy),...

Historial: lançado oficialmente no dia 18 de Novembro de 2017 no Grupo Sportivo Adicense (Alfama) com Pato Bravo, DJ Tempos Livres, António Caramelo e uma aula livre de boxe ...  artigo n'O Corvo ... Conversa com Rahul Kumar, Mestre Paulo Seco, Xavier AlmeidaMarcos Farrajota na Tigre de Papel no dia 22 de Novembro de 2017 ... Obra seleccionada para a Bedeteca Ideal ... artigo na TSF ... lançamento em Ovar no Bar Ideal, 23 Dezembro 2017 ... lançamento na Inc (Porto) no 25 Abril 2018 ... obra incluída na exposição És meu amigo ou meu fã?, colectiva CCC#5 na BD Amadora 2019 ...

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Feedback:

(...) Almeida ergue uma narrativa cuja força está na melancolia e na consciência do abismo, dentro e fora do ringue, muito mais do que no brilho dos punhos capazes de derrubar um adversário com apenas um gancho.
5 estrelas

Muito ternurento e cinematográfico
André Ruivo (por e-mail)

Santa Camarão é muito belo enquanto história, e bate forte. Sem nenhuma das cassetes e truques de BD, e que nos faz querer voltar a aprender a desenhar. Desarma. Lá dizia o poeta que o bom poema é aquele que não se desvanece no significado. Este livro e Berlim : Cidade Sem Sombras são como esse poema de que fala o Paul Valery. Resistem, não se limitam ao que aparece.
Francisco Sousa Lobo (e-mail)

Loved the boxing story...
Andy Brown (Conundrum Press)

Uma vida não é feita apenas pelos seus eventos e marcos superficiais. Esta (auto)biografia demonstra-lo.
I just wanted to tell you that I picked up your book Santa Camarão when I was in Porto last week (...) It's really impressive, your work - I like your drawing a lot!
 JonArno Lawson

nomeado para Melhor Álbum, Argumento e Desenho na BD Amadora 2018

5 estrelas
Mauro Coelho (Grito!) por email