Códices franceses
Em 2014 ainda é possível misturar e confundir conceitos - e se calhar mais em 2014 que noutra altura. Turkey Comix é uma antologia de BD de França editada pela Hoochie Coochie que inclusive já ganhou o prémio fanzine (BD Alternativa) de Angoulême. Folheando as 280 páginas do 22º número ficamos sempre na dúvida se estamos perante um zine que engordou ou se é uma revista literária que mandou os academismos e equivalentes má-ondas para certo sítio... por um lado tem o ar industrial do offset mas a capa é feita em gravura (com duas passagens), ou seja, o lado manual e fetichista continua aqui. É uma tendência que ninguém se escapa, começa-se com um zine raquítico e fotocopiado, enche a lazer com mais páginas e colaboradores e depois fica uma coisa com ar profissional e tal. A tendência, foi o que aconteceu com L'Association, Amok e a própria Hoochie, é que depois começam a editar livros e as antologias são esquecidas. Porquê? Porque antologias dão mais trabalho - a reunir material, a aturar os artistas loucos e os autistas do costume, a desenhar o objecto, a seleccionar, etc... Um livro a solo é mais fácil porque se lida com menos pessoas. Basta ver a lista deste volume: o suiço Baladi (já editado em Portugal pela Polvo), o sul-africano Anton Kannemayer e o holandês Marcel Ruijters (ambos editados pela MMMNNNRRRG - curiosamente o Inferno é partilhado pelas duas editoras!), o finlandês Matti Hagelberg (Salão Lisboa 2005, Quadrado), o dinamarquês Søren Mosdal (Azul BD3?), o sueco & berlinense Lars Snujesson (Mutate & Survive, Quadrado, Nicotina'zine), o chinês Yan Cong (uma frescura no meio de tudo!) e ainda Guillaume Soulatges (que esteve em eventos da Feira Laica) que é um dos muitos e muitos franceses na publicação... Se já é cansativo ler esta lista reduzida por mim, imaginem o que será para o editor da compilação. No meio do "tijolo" ainda há uns anexos e cartazes surpresa, agora a sério, quem é que teria paciência para produzir uma coisa assim? Os franceses devem estar loucos!
Um ano antes foi publicado o sétimo número de Alkom'X (Garage L; 2013) dirigido pelo francês Alkbazz que reafirma essa loucura gaulesa ao ponto de me recusar a listar seja quem for porque estão cá TODOS! Tudo que é grafista DIY seja do norte ao sul da europa meteram-se nesta aventura de homenagear o manuscrito Vojnich - misterioso livro ilustrado com um conteúdo incompreensível. Imagina-se que tenha sido escrito há aproximadamente 600 anos por um autor desconhecido que se utilizou de um sistema de escrita não-identificado e uma linguagem ininteligível. É conhecido como "o livro que ninguém consegue ler" (wikipedia dixit).
Embora não seja a primeira vez que alguém se lembre disso - relembro o impressionante Codex Seraphinianus de Massó - o que aqui tem piada é assistir os autores a ficaram unificados grafico-colectivamente pela tal escrita que ninguém consegue ler. De resto, surpresas nas páginas são várias com dezenas de páginas duplas ou triplas para descobrirmos mais um desenho de meter o olho a sangrar.
Gracias à "chavalada" que me trouxe o Alkom'X do Festival Alt Com!
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