sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Granda Morta!

Foi este fim-de-semana que houve uma Feira Morta e, fuck you! Qual Morta! Viva! Cheia de gente mas sobretudo cheia de edições com uma qualidade incrível e que me deixou ainda intoxicado de tantas propostas. Vamos ver se vou conseguindo durante a semana falar de tudo que adquiri.

A primeira aquisição foi o zine Freedom de Gréc (Guilherme Figueiredo) que pode ter o pior nome para assinar - Gréc? soa a "greg" mas pior faz lembrar os franco-belgas com nomes desse tipo (Duba, Dopa, Greg, Cócó, Xixi, Merde, sei lá...) - mas tem o ritmo do cinema de animação, o humor ligeiro e certeiro para além do desenho gloriosamente decadente. O zine só tem um pequeno problema com o papel que é liso de um lado e rugoso do outro, o que cria um ruído na apreciação deste zine. Muito fixe!

Os quatro elementos do Clube do Inferno vão ser coroados como os reis da produtividade! Ah, não há monarquia... vai ser mesmo os porras do Coelho ou do Cavaco a darem uma medalha de empreendorismo ao André Pereira, Astromanta, Hetamoé e Mao por fazerem estes belos "chapbooks" que produzem de Morta em Morta. Desta vez sairam quatro - quatro! - publicações muito bem cuidadas embora com velocidades diferentes e no final tudo sabem a pouco! 3 Stories de Mao foi feito em dois dias e graficamente é mais interessante que o texto tal como Build More Love de André Pereira [(ops!) ele usa aqui uns pseudónimos mas caramba vê-se que o belo desenho é dele!] que tal como um álbum de Prog Rock temos virtuosismo num estéril exercícío narrativo. Yonkoma Collection Vol.1 de Hetamoé é o melhor do grupo, espécie de poesia haiku-gráfica e sessão de photomaton-narrativo - que lembra as possibilidades de Das Haus de Anke Feuchtenberger. Apanhei uma edição impressa a azul que faz babar com este Manga degenerado. The Day The Masses Left History de Astromanta é o mais estruturado do grupo fazendo ligação a uma BD / publicação anterior embora não se perceba qual... Cheira-me que haja uma vontade de montar um universo mas que falta tempo para juntar as peças todas. Sem dúvidas que são publicações que dão vontade de levar embora sejam poluentes com aquela maldita mania dos sacos de plásticos a protegerem-nas. Sick people!

A Oficina Arara voltou aos eventos smallpress de Lisboa e trouxe o segundo volume de The Abolition of Work de Bruno Borges sem surpresas ao que já foi escrito em relação ao volume anterior. O texto de Bob Black agora comenta sobre a falácia de que sociedades "primitivas" passarem mais necessidades e que precisam de trabalhar mais do que "nós que temos smart-phones" -  nada mais errado e é justamente o contrário, "nós" é que trabalhamos mais e "jogamos" pouco. Impresso em vermelho comuna, esta edição é mais agressiva a nível estético mas o melhor é que também vem embalado com um saco de plástico mas este acto poluente tem uma razão de ser porque inclui um zine A5 impresso a preto sob papel amarelo que reedita o primeiro volume para quem não conseguiu arranjar esse volume na edição original em serigrafia (e como tal limitada, bla-bla-bla...). Não consigo conter a satisfação que tive em (re)ler a BD desta vez neste modesto fascículo porque não perde nada em ser mais pequeno e sem a cor serigrafada - o que mostra como o trabalho gráfico de Borges é brilhante. Isto é tipo Marco Paulo e os seus dois amores, um é pequeno, modesto e articulado e outro é loiro, alto e vaidoso. Give the anarchist another cigarette...

Quanto a música peguei na k7 Trippy Daze / Silvx (Cafetra; 2013) dos Go Suck a Fuck, que tem uma das capas mais parvas de sempre (podia ser dos... ehm... Entre Aspas? Hands on Approach? Deolinda?...) que se opõe ao psicadelismo destes teen-robots em pânico. Cheira a Fricara Pacchu mas sem planos e com os instrumentos cansados e mais velhos que os músicos que os tocam. Para complicar tudo, ainda assim a música é feita de colagens de eventos diferentes num "fucked up" 'tá-se bem. Em compensação os "fucked ups" de EITR no LP Trees have cancer too (Mazagran) são mais pensados por Pedro Lopes (Oto, Whit) e Pedro Sousa. Gira-discos, electrónica e saxofone à exploração do Santo toing toing toing toing toing toing toing... mas falta audácia como nos 'fetrakids.

Por fim, a Morta pela primeira vez recebeu editores estrangeiros nos seus eventos, e foi à bruta, logo três! Aproveito para avisar que a Chili Com Carne recebe mais um molho de exemplares do #62 da Stripburger que inclui uma BD e entrevista a este vosso escriba.
Mas a grande novidade foi a vinda da Centrala, editora de BD polaca agora localizada em Londres e quem promovem concursos de BD bastante interessantes. O seu actual ex-libris no catálogo é Adventures on a Desert Island do polaco Maciej Sieńczyk. Álbum luxuoso e bem produzido mas que infelizmente desiludiu-me bastante. Se num formato "mini" como num volume da colecção mini kuš! - o título é Historyjki - impressionou bastante. Em formato grande tudo caí por aí abaixo, como se diz quanto mais alto maior a queda. Lembra A pior banda do mundo de José Carlos Fernandes, pelo uso do absurdo em pequenos episódios que se prolongam ad nauseam sem sentido ou interesse algum. Mais próximo do surrealismo "light" de Boris Vian do que o anacronismo assumido de Ben Katchor, estas "Aventuras" contam histórias mirabolantes que tem piada a primeira vez mas passadas 120 páginas chateiam tanto como ler de rajada as repetições de Ramón Gómez de la Serna. Graficamente num formato "mini" os desenhos também parecem melhores, em grande topa-se um grafismo estático que incomoda (intenção do autor?) mas que se mostra vazio. Ao contrário de Fernandes, Maciej ao menos não faz "name-dropping" nem piscadelas de olho em todas as vinhetas. Ao menos isso...

2 comentários:

Mário Filipe disse...

Lamentavelmente passou-me ao lado, é o mal de tanta diversidade.
Deixo o link para o teaser no youtube, que é melhor do que o do próximo star wars:
https://www.youtube.com/watch?v=W6GuN2X_9d4

MMMNNNRRRG disse...

fuck star wars! esse trailer é de homens de barba rija com cavaquinhos!