Já está disponível o livro O símbolo o primeiro de uma colecção de quatro da série Fato de Macaco, editado pela El Pep com 40 páginas escritas e desenhadas por Rui Gamito.
O Fato de Macaco apareceu ao público pela primeira vez na colecção Lx Comics editada pela Bedeteca de Lisboa.
O ambiente que Rui Gamito usa no mundo do Fato de Macaco, é de conspiração total. A política vulgar, nossa, transportada para uma escala maior em que governos são derrubados por loucos desgovernados.
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«Pessoas da mesma profissão nunca se reúnem senão para conspirar contra o público em geral» - Robert Anton Wilson
Damo-nos demasiada importância. E tentamos – gostaríamos de – mudar o mundo. O estranho é que apesar de todas as tentativas de ruptura pouca coisa muda de tão misteriosas que são as relações e operações do Poder sobre a “realidade”. Se o conceito do Leviatã de Hobbes (1587-1666) já é um conceito colossal e desanimador de qualquer iniciativa privada contra o Estado, será no século XX que Gianfranco Sanguinetti em Do terrorismo e do Estado dará a machadada final. Segundo este autor, não existe tal coisa como o “terrorismo” – ou pelo menos aquele com laivos de romantismo novelesco ou de puro mal concentrado, conforme as perspectivas de cada um. O Estado com meios materiais e pessoais quase ilimitados e extrema liberdade de manobra de que goza infiltra-se e usa as “células terroristas” para o seu proveito: ou para absorver / desviar outras ou novas facções, ou para liquidar indivíduos que já não lhe interessa como foi o caso do Primeiro-Ministro italiano Aldo Moro (1916-1978), raptado e assassinado pelas Brigate Rosse. Lembro-me que durante e após o 11 de Setembro que a única estrutura mental que me “mantinha vivo” era conhecer as sábias e polémicas ideias de Sanguinetti – por mais paradoxos que possam advir daí – e realmente mais tarde provou-se que afinal havia histórias mal contadas com aquilo tudo - o avião contra o Pentágono e outras conspirações. As conclusões, no entanto, poderão ser fáceis de entender quando George Orwell (1903-1950), em 1984, colocava a questão do próprio governo inglês bombardear Londres «só para manter a população num estado de terror».
O único terrorismo verdadeiro no mundo é o individual como Unabomber (Theodore "Ted" Kaczynski) provou nas últimas décadas do Século XX. O seu Clube da Liberdade tinha como membros, Direcção, Mesa de Assembleia, Divisão de Execução, Direcção Fiscal, Vice-presidente, vogal da Tesouraria e Presidente, o próprio Kaczynski. Provou-se que Clubes (de Combate) privados com sócios reais infelizmente só servem para vender carros ou para organizar excursões de bebedolas – alguém já ouviu falar naquele grupo de gajos que se juntam só porque todos os elementos do grupo se chamam António? Adegas do Azeitão, cuidado! Ou aquele clube de motards, no Algarve, cujos elementos não tem motos e ficam-se pela tasca para não provocar nenhum acidente rodoviário?
Rui Gamito (1974; Lisboa) desde que apresentou o seu Fato-de-Macaco, na colecção Lx Comics (#8; Bedeteca de Lisboa, 2000), tem querido mostrar, com todos os exageros à americana – Jack “the King” Kirby & Marvel Comics & Dr. Doom, Exterminador III ama Zombie Masterclass Romero, Roswellito chop suey footage, educação feminina à Russ Meyer, vídeo-80’s teenage holocausto extravaganza, Twightly OZonerama e mais ET’s from Marte, Pulp Trash B - … dizia, que ele, o Gamito, queria… hem… queria… mostrar com todos aqueles exageros acima referidos… hum… ah! A paranóia das conspirações. Nestas bd’s de Gamito, uma realidade sucede a outra como sucediam vómitos intermináveis nos últimos dias de Roma. Na realidade, ler estas bd’s dá-nos vontade de rir porque já sabemos que a revelação de uma conspiração não é lá grande coisa como feito. Uma conspiração é uma coisa vulgar, ordinária, praticada até por todos nós, humanos sem importância. Desvendar e anunciar publicamente uma conspiração só tem a vantagem para derrubar um determinado governo. Suspeitar que ela existe ou que poderá ter existido não é prova de nenhuma inteligência superior nem é uma revelação fulminante per se. Se sabemos disto tudo então porque não fazemos nada? Porque não temos forma de desatar todas as teias e preferimos agir como se os bárbaros tivessem acabado de cercar a cidade. Sabemos da chacina que irá acontecer assim que passarem os portões, por isso viveremos a derradeira bênção divina com cabeças a rebolar dopadas de drogas sintéticas, braços mutilados a saltarem pela rua ao ritmo do Breakcore, fogo a queimar os vestígios da cultura idiota que erguemos… - a última consciência colectiva, o fim de tudo, iupi!
Amém!
Marcos Farrajota, Pastor