terça-feira, 11 de novembro de 2014

O Panda no ataque...

Ouvi dizer que O Panda Gordo matou um gajo... Também ouvi dizer que o Panda era um jovem promisor programador informático para um bom-banco-bom mas passou-se e matou um gajo. Foi lá no Porto e o Panda deixou o morto apodrecer meses e meses numa arca frigorífica numa cave. E mudou de vida, virou vegetariano tal o trauma, de tal forma que até começou a produzir zines de receitas culinárias para quem não acredita que vegetais são mais saborosos que qualquer carne. Procurado pela Interpol bazou para a terra dos grandes assassinos, Inglaterra, e meteu-se a fazer BD para despistar a bófia, espero que este "post" não lhe estrague a vida! Foge, Panda, foge, é só bufos na 'net!


O Panda Gordo é um projecto editorial do João Sobral, só que o pessoal chama-lhe sempre de Panda nas conversas e para dizer a verdade nada sei dele pessoalmente uma vez que ambos partilhamos de timidez. Só sei que antes ele fazia zines de receitas vegetarianas e sempre que ele me mostrava zines de imagens (e como ando há mais de 5 anos farto de graphzines ou zines de fotos ou livros de artista, fuck!), comecei a dizer a ele e às outras editoras presentes nas Laicas, Jecos e Mortas que só comprava zines de BD - que cromo deviam pensar que era -  naquela de me baldar de comprar essas secas. Não esperava era que esta conversa levasse para os editores começarem também a fazer zines de BD (hahahaha) como é o caso do Panda!

Ele revelou-se uma caixa de surpresas começando logo muito bem com a antologia There are only seven stories in the world mas entretanto avançou com mais novas edições a solo bastante interessantes como Two Stories Told With Ten Drawings Each (2014) cujo título conta tudo excepto que os textos são dos irmãos Grimm (1812) e um psiquiatra francês de 1840. Os seus belos desenhos tem um ar "brutista" como se tivessem vindo directamente da Raw Vision embora tenham sido feitos em workhops de ilustração entre o Porto e Londres.


E no mês passado o Panda fez uma mini-residência artística na loja lisboeta 1359 e juntos imprimiram o Money Worries #1 que é quase inevitável não comparar com The Abolition of Work (de Bruno Borges) por causa do tamanho dos livros, pelo uso de técnicas de impressão "anacrónicas" (serigrafia e risografia, "riso" no caso do Panda), pelos estilos minimalistas dos autores - mas ambos muito diferentes, nem toda a gente anda a copiar o Borges! - e claro pelos temas-maiores-que-a-vida explorados pelos autores: o Trabalho no caso de Borges e o Dinheiro por Sobral.
Money Worries graficamente parece que foi feito de propósito para quem se molha por risografia - ou seja, os designers que andam a fazer tudo com duas cores e cheios de formas geométricas. E olhando e pensado melhor, realmente as "bonecadas" desta BD tem um aspecto "vectorizado" com grandes vazios em branco, usa duas cores (preto e verde) e a narrativa parece quase infográfica, elementos que farão desta BD algo desejado por esses designers!
Piadas à parte, esta BD tem charme e a escala da publicação dá-lhe um ar imponente. Se tivesse sido feito o contrário, se fosse um "mini-zine", teria um ar pelintra e preguiçoso e perderia todo o seu poder gráfico. Jesus Cristo veio armado com a dignidade da pobreza com aquela cena que é mais fácil um panda gordo passar por uma cabeça de um alfinete do que um rico ir pró Céu... balelas! Como sabemos não há Céu, só existe Inferno e esse está reservado para quem é pobre! Que venham mais publicações assim com ar de desafio!

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