domingo, 19 de outubro de 2025

ACEDIA de ANDRÉ COELHO - últimos 3 exemplares



Acedia é um livro de André Coelho e na realidade o seu verdadeiro primeiro livro a solo - os outros livros foram colaborações como, por exemplo, o caso de Terminal Tower com Manuel João Neto...

Acedia é um romance gráfico que foi o vencedor do concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD de 2015 e juntou-se, na altura, a uma série de livros da Chili Com Carne que resultam dos resultados desse concurso onde vamos encontrar O Cuidado dos Pássaros / The Care of Birds (vencedor de 2013) de Francisco Sousa LoboAskar, O General de Dileydi Florez e O Subtraído à Vista de Filipe Felizardo.

Um livro que consegue estabelecer um equilíbrio entre experimentação e tradição na banda desenhada estabelecendo um paradoxo entre a sua energia criativa com o ambiente mórbido da narrativa. Especulamos que a personagem do livro seja um alter-ego do autor e que alguns episódios sejam autobiográficos mas na essência estamos no domínio da ficção - ou da auto-ficção?

Sinopse: Um homem, Daniel, sofre de distorções na sua percepção visual devido a um corpo estranho alojado algures na cavidade ocular. Apesar da insistência das notificações hospitalares para dar início aos seus tratamentos, ele vê-se confrontado com a hipótese das suas alucinações estarem a proporcionar-lhe uma fuga para uma nova percepção da realidade. Daniel terá que optar entre encarar a sua doença como um sinal evidente da sua mortalidade ou como uma intensificação da vida.


Eis algumas páginas da obra:


104p. (muito) preto e branco 18x24,5cm, 500 exemplares

O concurso 500 paus tem o apoio IPDJ e de todos os associados da Chili Com Carne.

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à venda na loja em linha da Chili Com Carne e nas lojas BdMania, Mundo Fantasma, ZDB, Linha de Sombra, Tigre de Papel, Utopia, Snob, Tinta nos Nervos, Rastilho e Tortuga. E nunca na FNAC...

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Historial 

Lançado no dia 6 de Outubro 2016 no Lounge Lisboa com actuações dos Smell & Quim e Rasalasad vs shhh... 
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entrevista ao autor e editor na revista Umbigo 
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 apresentação no North Dissonant Voices 2017 no Black Mamba 
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André Coelho nasceu em 1984 em Vila Nova de Gaia, onde reside. Tem vindo a desenvolver o seu trabalho como ilustrador no âmbito do Rock, Punk, Metal e música experimental, criando capas de discos, merchandising e cartazes.

Paralelamente faz edições de pouco ou nenhum sucesso através da Latrina do Chifrudo, editora que mantém com Sara Gomes, na qual edita fanzines e discos. Tem vindo a trabalhar regularmente com a Witchcraft Hardware e com a Malignant Records. Entre várias bandas que fez parte destacam-se os Sektor 304 e Profan. Têm participado nas várias antologias da Chili Com Carne com desenho, BD e textos e em exposições pelo Reino Unido, Finlândia, Suécia, EUA, Espanha, Itália, Portugal e Brasil.

A sua estreia monográfica foi com Terminal Tower, em 2014, em parceria com Manuel João Neto. Neste mesmo ano, os originais do livro foram mostrados no Festival de BD de Beja, Amplifest (Porto) e no Treviso Comics Fest.

Bibliografia: SWR Chronicles (SWR; 2014), Terminal Tower c/ Manuel João Neto (Chili Com Carne; 2014), Sepultura dos Pais c/ David Soares (Kingpin; 2014) e Evan Parker - X Jazz (c/ prefácio de Rui Eduardo Paes, Chili Com Carne + Thisco; 2015) Colectivos: MASSIVE (Chili Com Carne; 2010), Destruição (Chili Com Carne; 2010), Subsídios para MMMNNNRRRG #1 (MMMNNNRRRG, 2010), Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011), É de noite que faço as perguntas c/ David Soares et al. (Saída de Emergência, 2011), Inverno (Mesinha de Cabeceira #23, Chili Com Carne; 2012), Antibothis, vol.4 (Chili Com Carne + Thisco; 2012), "a" maiúsculo com círculo à volta c/ Rui Eduardo Paes et al (Chili Com Carne + Thisco; 2013), Zona de Desconforto (Chili Com Carne; 2014), PostApokalyps (AltCom, Suécia; 2014), Quadradinhos : Looks in Portuguese Comics (Treviso Comics Fest + MiMiSol + Chili Com Carne, Itália; 2014) e Altar Mutante #3 (Espanha, 2015).


Feedback:

Livro curto, Acédia é o primeiro trabalho de longo fôlego a solo de André Coelho que se apresenta como uma narrativa coerente, e não colecção de desenhos ou improviso em torno de um tema. Novela concentrada, negra, lacónica, a escrita de Coelho espelha-se em todos os elementos que compõem a narrativa e é necessário ler a sua forma e superfície para libertar os seus significados. Tal qual o tema proposto, há uma realidade que nos é apresentada mas cujo desvendamento se associa à percepção do leitor e poderá mesmo ser intransmissível. 

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Os livros de André Coelho lêem-se como murros no estômago, e este não é excepção. Obra a solo, o poder narrativo de Coelho não é diluído pelos argumentos de outros autores. O murro é mais forte. O carácter duro do grafismo, entre o experimental e o clássico, com um traço ao mesmo tempo rude e elegante, misturando estéticas, recorrendo à mistura de iconografias entre imagética técnica e desenho Intergalatic Robot 

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recomendado pela Vice Portugal 

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Nomeado para Melhor Publicação Nacional e Desenho nos Troféus Central Comics 2017


sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Melhor disco R💣ck desta década! últimos 13 exemplares na Chili!



𝗘𝘆𝗲𝟭𝟴 é o álbum de estreia de 𝕂𝕣𝕪𝕡𝕥𝕠, o trio de destruição que junta Gon (Zen, Plus Ultra) a Chaka e Martelo (Greengo). 

Co-editado com a Lovers & Lollypops, o disco faz-se acompanhar de uma BD da autoria de Rui Moura

à venda na nossa loja em linha, Tinta nos Nervos, BdMania, Linha de Sombra, Mundo Fantasma, Kingpin Books, 
Tigre de Papel, Neat Records, ZDB e Utopia.
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Music CD by Krypto 
Comix + Poster by Rui Moura 
Inspired by the raw and psychedelic sound of the Krypto, as well as their lyrics, the comic book complements and explores an acid and timeless universe. 
Guided between rituals and the occult, transporting the psyche through endless mazes. 
 Co-released with Lovers & Lollypops

BUY at our online shop or at Quimby's (USA), Modo (Italy) and Le Mont en L'Air (Paris)




Sabe mais o diabo por ser velho do que por ser diabo e os Krypto, na estreia Eye18, mostram que sabem desta poda como ninguém. Oito malhas que nos recordam um tempo que já não volta, que piscam o olho ao passado sem nunca soarem saudosistas e que aproveitam para resgatar todo aquele balanço que a música de e com peso parece, por vezes, ter esquecido.

Não sabemos quem teve esta ideia, mas por nós mereceria uma medalha. Juntar aquele que é, sem dúvida alguma, o melhor e mais alucinado vocalista que este país viu nascer (um título que, por mérito próprio, exibe desde meados da década de noventa com os Zen e recentemente renovado na insanidade dos Plus Ultra) aos Greengo, provavelmente a maior força propulsora que a Invicta viu nascer por entre baforadas carregadas de intenção e acidez. Gon encontra no baixo de Martelo e na bateria de Chaka as carruagens de fogo ideais para se lançar numa infindável lista de diatribes sobre isolação, alienação, corrupção, o vazio consumista deslumbrado com a tecnologia ou a cultura empresarial.

É brutalista o som que nos despejam em cima e, apesar de um ou outro laivo psicadélico, impossível de acorrentar, numa viagem que se refugia na atitude primitiva, natural e pura de quem tem o dom de nos deixar num estado cataléptico. Música que exige ressonância e espaço para ser sentida, que cresce em urgência no espírito carbonário com que nos obriga a uma reflexão sobre a vida sem regras e responsabilidades hipócritas.

Rejeitemos a ideia de que temos de nos tornar num ideal, um camarada devoto do pensamento único, distante de sermos um indivíduo e não apenas parte de uma tribo. If we moved in next door to you, your lawn would die, palavras de Lemmy que se aplicam na perfeição a este Eye18, disco em trepidação constante pelo vazio insaciável, com sede de sobreviver e uma vontade que nos deixa atordoados, encanecidos, amortalhados, mas também num alerta constante e eufórico provocado pela privação de sono e sonho que a música dos Krypto teima em nos inflingir ao longo dos seus 23 minutos.

 O disco transforma-se numa banda desenhada da autoria de Rui Moura e inspirada no som bruto e psicadélico dos Krypto, bem como nas suas letras, a banda desenhada complementa e explora um universo ácido e atemporal. Guiado entre rituais e o oculto, transportando a psique por labirintos infinitos.




Historial: 

Lançado a 16 e 17 de Janeiro 2020, respectivamente, no Porto (Maus Hábitos) e em Lisboa (Musicbox), na abertura de Petbrick
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Feedback:

I hope I get to see Krypto!
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Moura imerge no som de Eye18 dos Krypto para nos apresentar um mundo interior de insatisfação, revolta, contestação e… sonho! Mas desiluda-se quem julgue que a BD terá um final feliz
Bandas Desenhadas

(...) entrada numa pista de aceleração, onde não se sabe quando se vai perder o controlo da velocidade.
 Acordes de Quintas

Psicadelia profundamente evocativa (...) animada por noise por uma crua acidez (...) até o corpo não aguentar mais.
8/10
Loud

artigo na Loud! (primeira Loud! online e free, meus queridos-coronas!)

gostei bastante, tanto da parte gráfica como da música. É uma jarda pré-apocalíptica de respeito, em jeito de cuspidela raivosa (contra a máquina?). A música I Saw fez-me lembrar os Young Gods... Quanto ao grafismo, se toda a música viesse assim tão bem embrulhada, não me importava nada de voltar a comprar CDs. Parabéns a todos pela edição!
Nunsky (por email)
 
O Rui Gon podia estar numa banda de NY Hardcore ou de Nu Metal e seria o melhor do mundo. Zen, Plus Ultra e agora Krypto nada se parece com nada, o som de cada banda sempre foi original e nunca houve três bandas destas no mundo. Em palco é gajo para bater o Iggy Pop nem seja porque com aquele corpinho e calções de guna do Porto pronto prá porrada parece um sátiro pronto para fornicar com tudo e todos. O resto da banda é capaz de ter o pior guarda-fatos e frequentarem o pior barbeiro da história do Rock mas, sinceramente: fuck it! O que sempre se quis do Rock é que fosse feio, sujo e mau! Os putos estúpidos da linha que estavam cá fora perderam o concerto da vida deles.
M.F. 3.11.24





Propaganda: 10 anos de comemoração e em língua portuguesa pela primeira vez! E na BdMania

 


Propaganda

de 

Joana Estrela

 

21º volume da Mercantologia, colecção dedicada à reedição de material perdido do mundo dos zines. Editado por Marcos Farrajota e publicado pela Associação Chili Com Carne no âmbito da comemoração da primeira edição desta obra, lançada originalmente pela Plana Press em 2014

A edição teve uma reedição pela autora, ambas redigidas em inglês. 

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O design do livro foi replicado da edição original desenhada por Luís Camanho e Ana Isabel Carvalho. Inclui um excerto traduzido do prefácio da primeira edição de Anna Shepperd e novo prefácio de Paulo (Livraria Aberta) - que reproduzimos aqui.


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Já está disponível na nossa loja em linha e na BdMania, Cult., Greta, It's a Book, Kingpin, Linha de Sombra, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, Vida Portuguesa, ZDB (Lisboa), Velhotes (V.N. de Gaia), Cassandra, Livraria Aberta, Matéria Prima, Mundo Fantasma e Socorro (Porto).





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A melhor sinopse foi feita por ti, perto do fim do livro: a pessoa que
não sabe o que dizer tem uma t-shirt que diz por ela «I Survived Baltic
Pride 2013». Melhor para mim, então, que já não tenho de o resumir, até
porque um livro de 2014 reeditado em 2025 traz com ele mais história do
que apenas a do ano letivo de voluntariado na Lithuanian Gay League.

Do ativismo, como não raro de eventos culturais, só tende a ficar uma
vaga memória coletiva ou, pior, uma frase numa cronologia. Lembramo-nos
dos anos, das causas e das grandes conquistas, quando as há, mas não do
cartaz que desenhaste ou das reuniões noite dentro. A não ser, claro, na
história oral das pessoas envolvidas. Quantas feiras de livros e
exposições e ciclos de cinema e conversas e grupos mais ou menos
informais se vão fazendo e desfazendo ao longo dos anos, como uma linha
descontínua da energia que cada pessoa a cada momento conseguiu dar? É
que, como sublinhas aqui, a história do movimento é a história de quem
faz o movimento. E a história é lenta.

Quando voltas a Vilnius para apresentar o Propaganda, na sua versão
original em inglês pela Plana Press, fazem-te uma entrevista para o site
da LGL. Perguntam-te sobre literatura portuguesa e ativismo LGBTQ. Entre
outras coisas, respondes que «this is the first comic book that is more
specific on the subject to be published in Portugal». Uma década depois,
isto ainda é verdade.




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FEEDBACK

[o livro] Está incrível!
Luís Camanho (o editor original) via email




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Ler resenha de Pedro Moura sobre a edição original AQUI
 
(...) obra publicada originalmente, em 2024, na Lituânia. [país com grande tradição em BD especialmente na temática LGBT! Pena o artigo não ter saído no 1 de Abril...]
Jornal de Letras

WENDIGO na BdMania

 


O regresso de NUNSKY depois do celebrado Companheiros da Penumbra!!!!

É o 29º volume da Colecção CCC com capa semi-dura a preto e branco e 104p 16,50x23cm a preto e branco, aliás um preto digno de um Inverno Nuclear!

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Esta banda desenhada é baseada na obra de Algernon Blackwood e deixamos aqui a sinopse:

 Ao longo dos anos, a imensa floresta canadiana testemunhou inúmeras expedições de caça ao alce, com maior ou menor sucesso.

Mas a que foi liderada pelo Dr. Cathcart em Outubro de 1910, fazendo fé no relato dos que nela participaram, terá sido de todas a mais insólita.

“Cometemos um grande erro em ter vindo aqui!... A nossa presença despertou algo no coração da floresta!... Algo terrível que jamais deveria ser perturbado!...”

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Já está disponível na nossa loja em linha e na BdMania, Kingpin, Linha de Sombra, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, ZDB (Lisboa), Matéria Prima, Mundo Fantasma, SocorroUtopia (Porto), FNAC, Almedina e Universal Tongue.


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feedback:

“Wendigo”, criatura mítica das lendas dos povos indígenas norte-americanos, surge aqui como símbolo da natureza selvagem e vingativa, despertada pelo desrespeito humano. A narrativa conduz o leitor por um crescendo de tensão psicológica, isolamento e loucura, reforçado pela arte crua e expressiva de Nunsky
 
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Um forte concorrente a um dos melhores livros do ano de autores portugueses.
Pranchas e Balões



 
Historial:
 
livro nomeado para os prémios da BD Amadora

DIAS-A-FIO na BdMania



Dias-A-Fio
 
de
 


28º volume da Colecção CCC

Obra vencedora do concurso Toma lá 500 paus e faz uma BD! (2024) cujo Júri foi constituído por Alexandra Saldanha, Ana Ruivo, José Smith Vargas, Luís Barreto e Marcos Farrajota.

80p 16,5x23cm impressas a azul, brochado

Dias-a-fio de Alexandre Piçarra é uma corrente de episódios em que várias personagens são expostas a situações que fragmentam a sua dimensão emotiva. O cenário é Lisboa entre os anos 90 e 2010 e os acontecimentos são sombras de realidades vividas, que representam as fendas na estrutura do sistema social português, que deixa emergir o julgamento, crueldade, culpa, castigo e humilhação como danos colaterais. Eis uma galeria de putos, chungas, betinhos, punks, bófia e muito tabaco.





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O livro já está disponível na nossa loja em linha e na BdMania, Kingpin Books, Snob, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, ZDB (Lisboa), Matéria-Prima, Mundo Fantasma, Socorro, Utopia (Porto) e Universal Tongue.



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Historial:
 
Lançamento no dia 26 de Abril 2025, na Tinta nos Nervos com a presença do autor, Marcos Farrajota (editor) e José Smith Vargas (autor), acompanhada por uma mostra de originais.
 
nomeado para prémio na BD Amadora



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FEEDBACK

Dias-a-fio fuma-se como um charro ou tabaco de enrolar, daqueles que se tem de reacender amiúde e que no final deixam um travo amargo nos lábios. São pequenos retalhos da infância e adolescência em ambiente urbano, ilustrados cruamente sem peneiras e em que o percurso existencial dos protagonistas é certeiramente simbolizado pelo cinzeiro que se vai enchendo de beatas.
Nunsky (via email)
 
Gostei muito do Dias-a-fio, a dislexia quanto muito ajuda a onomatopeias graficamente fantásticas. Sendo que sou de Lisboa e nascida nos 90’s não me passou ao lado, juventude tão decrépita como a capital, já na minha altura se contavam histórias de putos que tinhas ficado sem pernas por andarem à pendura nos elétricos!
Ângela Cardinhos (via email)

Mas então o que é o Dias-A-Fio? É uma colecção de episódios ou vinhetas da vida suburbana lisboeta entre as décadas de 2000-2010, mas a precisão geográfica e temporal não são importantes. O que é relevante são as vidas das personagens e as situações pelas quais elas passam, que nos são apresentadas pelo autor como uma apresentação e exploração daquilo que elas representam. São figuras realistas, mesmo que não sejam reais, e as suas vidas são palpáveis. Mesmo não havendo uma narrativa directa entre os capítulos do livro, vemos estas personagens a crescer, a aprender, a errar e a sofrer, mas não é tudo negativo. Há um elemento quase esperançoso ao longo destas histórias que para mim enquanto leitor me fez sentir que por muito que estas personagens passassem, o sol nascerá sempre no dia seguinte e haverá sempre mais que possa acontecer. A incerteza de que esse dia seguinte seja positivo ou negativo faz parte da experiência: vai acontecer, e isso é suficiente para virar a página. 
(...) O autor acompanha as personagens nas suas decisões e hesitações sem qualquer julgamento ou vergonha. Somos incluídos nos grupos que nos são apresentados e somos cúmplices em vez de voyeurs. Este livro serve como um lembrete que não somos apenas observadores dos sucessos ou infortúnios pelos quais passamos nas nossas vidas. Quer aceitemos quer não, aquilo que une os dias das nossas vidas somos nós próprios enquanto fio condutor. E o efeito dominó que as coisas aparentemente insignificantes da nossa juventude podem ter sobre o nosso futuro não é algo que possa ser prevenido ou analisado até finalmente acontecer.

 Entre cigarros fumados às escondidas, blasfémias que se confessam ao padre e algumas sessões de pancada, os miúdos indisciplinados do primeiro episódio vão crescendo, mas não é tanto acompanhar com precisão a história de cada um que faz viver este livro; é, antes, a visão fragmentada de um conjunto de vidas que se vão desenvolvendo nos intervalos mais ou menos avariados da sociedade. (...) Quando as revistas dos anos 90 e 2000 abraçaram uma suposta modernidade e desataram a publicar longos artigos, sempre muito ilustrados, sobre as supostas tribos urbanas, esqueceram-se de confirmar que as fronteiras não estavam tanto entre os punks e os betos, os metaleiros ou os chungas, gente que tantas vezes usava a farpela para tentar amparar-se nalguma identidade colectiva; as fronteiras estiveram sempre nas classes, no acesso que cada um e cada uma tinha ou não tinha a essa ilusão chamada “elevador social”, e ainda hoje andamos a colher os restos dessa fantasia. Os grafitis nas estações, as drogas na rua, os abusos de poder policial e uma certa ideia de no future, esses ainda cá andam todos.


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Alexandre Piçarra (1990, Lisboa) formado em Escultura, tem um part-time e desenha nos tempos livres. Já fez exposições e teve múltiplos ateliers. Sofre de dislexia persistente, e por isso usa o mínimo de escrita e balões possíveis. Participou no fanzine Invasão e no jornal Carne Para Canhão.


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Outros títulos vencedores do concurso disponíveis:


Nódoa Negra (vencedor 2018) de várias autoras

All Watched Over By The Machines of The Loving Grace (vencedor 2019) de vários autores

Bottoms Up (vencedor 2020) de Rodolfo Mariano

Hoje não (vencedor 2021) de Ana Margarida Matos, com segunda edição e edição norte-americana pela Fieldmouse Press

Sinapses (vencedor 2022) de Ivo Puipo, com uma versão inglesa pela kuš!

Vale dos Vencidos (baseado no trabalho vencedor de 2014) de José Smith Vargas, com segunda edição

Partir a loiça (toda) (vencedor 2023) de Luís Barreto

domingo, 12 de outubro de 2025

1 livro 1 disco 1 zine (10)

Depois do "grande livro" do Gato Mariano, o bichano crítico dos comportamentos culturais dos  seres humanos andou meio desaparecido do físico e largou a canga da música portuguesa publicando tudo na rede social "instagrana" - que algumas pessoas, como eu, não podem aceder. Recentemente o seu criador Tiago da Bernarda fez alguns zines - O Gato Mariano : Herói do Proletariado e O Gato Mariano contra o Mercado - talvez para sentir outra vez o cheirinho do papel e da tinta. Eis que chegamos ao O Gato Mariano : Miau de vários ofícios (2020-2025) com aspecto de "single" pois trata-se de uma compilação temática das "tiras humorísticas" do Gato. Esta primeira - com bela capa em serigrafia - por acaso anda pelo mundo da música indie e o seu mercantilismo. Humor inteligente e refinado que morde em todos mas claro que os gatos quando brincam a morder sabem controlar as dentadas para não magoar o dono. 

Compras aqui!


O finlandês Marko Turunen como já tinha escrito aqui anda a reeditar a sua obra completa para belos livros redigidos em inglês. A nova fornada de livros inclui o Der Round compilado, num formato maior e com mais páginas mas o inesperado é este Goose Step in E Minor! Escrito por um amigo da juventude de Turunen, Mika Jurva em 1992, é originalmente uma das primeiras tentativas de Turunen fazer uma BD e publicá-la, com ambição de se tornar autor de BD. A BD foi feita com o esforço da juventude e foi redesenhada há poucos anos quando Turunen aderiu às novas tecnologias de desenho - via digital - devido a problemas de vista. A BD aqui publicada foi "recuperada" como um exercício de Turunen para se habituar à maquinaria. É giro que a ideia de um detective hipopótamo seja mais tarde recriado na série Elephantmen (Image; 2006-). Topa-se - e é assumido - a influência cósmica-esotérica de Moebius quer na história (hermética) quer no traço linha-clara-yang, influência justificada porque os dois putos finlandeses estavam isolados q.b. numa terrinha - oi! Não havia internet, pá! Lê-se com frescura surrealista de outra altura da Humanidade... Resta dizer que o Mika faleceu com 30 anos, em 2003, e esta é uma forma bonita de homenagear alguém que desapareceu.

Novo disco de Vaiapraia, sim um LP!!! Alegria Terminal (Tons to Tell; 2025) é um disco limpinho, finalmente percebe-se tudo o que o Rodrigo canta e/ou berra. Assim os seus psico-dramas amorosos ou tretas do quotidiano aumentam a sua dimensão a emoção - e sim, os heteros + cis podem-se identificar com as letras não fosse o Rodrigo um escritor astuto. A parte instrumental está cada vez "experimental" mesmo que isto significa usar as matrizes gastas do Garage, Punk e Indie mas o que poderia dar em clichés chatos é justamente o contrário que acontece, este álbum brilha como uma estrela. Meu, se este não for o disco no ano, então estamos num país todo fodido.

Sei que há uns problemas com a edição, por isso, eis um aviso à population: despachem em arranjar um exemplar senão terão de comer papa digital.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Caminhando Com Samuel /// NOVA EDIÇÃO (mais bonita, nova capa, mais páginas) / últimos 5 exemplares!!!


Nova edição do livro de bd de Tommi Musturi
pela MMMNNNRRRG

Tommi Musturi é um dos autores mais importantes na Finlândia, e também como dinamizador da BD. Já visitou três vezes Portugal: Salão Lisboa 2005, na Feira Laica 2009 na Bedeteca de Lisboa, onde estava patente a exposição da antologia GlömpX, que participou como autor, comissariou e editou, e recentemente no Festival de BD de Beja (2014). Também já publicou em Portugal na revista Quadrado e no Mesinha de Cabeceira, tendo já um certo culto à sua volta.

Caminhando com Samuel é um livro universal porque a BD é muda (sem palavras), colorida e tão atraente que atinge vários quadrantes de público: o público infantil (embora haja um episódio sangrento), o adulto (que terá trips metafísicas), os colecionadores e os generalistas, os cromos da BD, da ilustração e do street-art (todos irão aprender com a técnica de Musturi), e até os "peter-pans" dos toys terão tesão - é uma promessa séria porque na MMMNNNRRRG sempre fomos muito sérios!
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160p. a cores, 21x21cm, capa dura
com marcador de fita
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PVP : 20€ à venda na loja em linha da Chili Com Carne, Mundo Fantasma, Matéria Prima, ZDB, Tigre de PapelUniversal TongueUtopia, Tinta nos Nervos, Kingpin Books e It's a Book.

exemplos de páginas :




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Historial:

obra seleccionada para a Bedeteca Ideal 
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nomeado para Melhor Álbum, Melhor Desenho e Melhor Argumento Estrangeiro para os Prémios Central Comics 
... 
... 
Feedback: 
é muito bom o livro - vou precisar de outro livro porque ofereci o meu 
Travassos (Cleanfeed, Shhhpuma)

um dos nomes de primeira água da banda desenhada finlandesa contemporânea (...) um roadbook cosmogónico onde o olhar da descoberta primordial se mantém até ao fim. Mas onde as cosmogonias (entre elas o Génesis) encenam a criação num tempo recuado e definitivamente perdido, Samuel parece assumir uma condição atemporal, um estado de permanência que o faz atravessar eras, estados de alma e espaços com o mesmo deslumbramento e a mesma disponibilidade para o mundo que trazia no início, quando surgiu por entre a vegetação. (...) Aqui, não há respostas, só deslumbramentos
Sara Figueiredo Costa / Expresso 

(...) não necessita que se diga muito sobre ela. E não é por ser uma bd muda. Nesta edição excelente da Mmmnnnrrrg é uma obra que precisa sobretudo de ser saboreada. Ao som ritmado dos passos 

Dos gelos da Finlândia chega a saga psicadélica do pequeno gnomo Samuel. É a mais relevante edição de BD produzida em território nacional este ano. 
João Chambel (Heróis da Literatura Portuguesa)

But Samuel is not the ultimate Godhead, as we have seen; he is played by a higher hand: Samuel is not just any puppet, he is THE puppet, a perfect in-between character, a mirror of both God and us.

I have been looking at the Musturi comic every day since I got it, so beautiful and imaginary!
Christopher Webster (Malus)

Gramei o Samuel. BD contemplativa. é um equilíbrio bem subtil entre o desenho clínico, o abstraccionismo da história e o uso das cores. Fiquei curioso com a continuação: a recompensa do final acaba por não ser o mais importante aqui (...)
B Fachada

Isto vai acabar em lágrimas : 30 anos SPH 20 anos Thisco - ESGOTADO

Isto vai acabar em lágrimas é o volume -13 da colecção THISCOvery CCChannel com as colaborações de André Lemos (capa), Carlos Matos (prefácio), Afonso Cortez entrevistando Fernando Cerqueira e Luís van Seixas, Marcos Farrajota com Pedro Brito (BD), Rapoon, Rui Eduardo Paes (testemunhos), DJ Balli (poema A.C.) e Joana Pires (design).

Apoio da Nariz Entupido.

144p 18x12cm (formato que homenageia as k7s da SPH) impressas a azul, capa de cartolina laranja, edição brochada, limitada a 300 exemplares. 

ESGOTADO mas ainda pode ser encontrado Matéria Prima, Snob, Tigre de Papel, ZDB, Flur, Linha de Sombra, Socorro, Vortex, Neat Records, Twice Discos e Utopia.

 

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Sobre o livro Em meados da década de 80, as editoras discográficas estavam praticamente fechadas ao que de novo se ia fazendo e o que editavam pouco ou nada interessava – o “boom do rock” tinha esgotado a paciência dos ouvintes para a música em português. 

No entanto, uma sala de espectáculos em Lisboa, de nome Rock Rendez Vous, começou lentamente a dar espaço ao que realmente estava a acontecer, à margem do mercado e da crítica. E, consequentemente, apareceram umas (poucas) novas editoras independentes, como a Dansa do Som e a Ama Romanta, que acabariam por lançar alguma da mais interessante música feita nesses anos em Portugal.


No entanto, os meios destas editoras eram parcos e os orçamentos bastante reduzidos (já para não falar do limitado poder de compra dos portugueses) e, por isso, no final dessa década, as várias cenas musicais emergentes – metal, industrial, experimental, electrónica –, passam a gravar e editar as próprias cassetes para se fazerem ouvir. Era o do-it-yourself aplicado à edição dessa nova música, autoproduzida, com total liberdade, sem qualquer tipo de censura, que a partir de agora era passível de ser gravada e facilmente duplicada em casa, desprezando qualquer ideia de direitos de autor, quase sempre embalada em capas originais feitas a partir fotocópias de imagens roubadas, activamente divulgada através de flyers e fanzines e disseminada, sem intermediários, em mão e por correio, numa rede, tornada comunidade, internacional.


Facadas Na Noite, Tragic Figures, Anti-Demos-Cracia, Pé de Porco e a K7 Pirata, foram algumas das editoras que surgiram então e que marcaram esse início da edição independente em cassete, juntamente com a SPH.


Editora de Oeiras, no activo desde 1990, a SPH pôs a circular álbuns e compilações com nomes nacionais – Ode Filípica, Croniamantal – e internacionais – Merzbow, X-Ray Pop, De Fabriek, entre outros – somando um total de cerca de oitenta cassetes de música industrial, noise, avant-garde e até synth-pop, ao longo dos seus quase quatro anos de edições contínuas. No entanto, as oscilações dos interesses e mercados – estava-se na passagem das cassetes e do vinil para o CD – fizeram com que a editora acabasse em 1993. Mas, atento, como sempre, às novas linguagens musicais de circuitos underground, no início do século XXI, Fernando Cerqueira retoma as edições, dessa vez acompanhado por Luís van Seixas, sob o nome de Thisco. Perfazendo agora 20 anos, o presente livro comemora duas décadas de existência e os trinta anos do início da SPH, inventariando as edições e reproduzindo capas de ambas as editoras assim como material promocional e outra memorabilia, devidamente acompanhadas de uma conversa aprofundada com os envolvidos.

 

 






Historial: 

 

lançado na Festa dos 30 anos da SPH e 20 da Thisco na SMUP,  22 e 23 Outubro 2021 

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Feedback: 

De livros feitos para se celebrarem efemérides na área da cultura, trate-se de uma editora de livros, do percurso de um cineasta ou de uma instituição apoiada pelo Estado, espera-se cinicamente um cozinhado hagiográfico, por vezes solipsista se o meio em questão for endogâmico e usar linguagens semi-privadas. Assim podia ser este Isto vai acabar em lágrimas. (...) A aventura sempre pessoalíssima do Fernando (...) mantém um motto muito próprio: se não os podes vencer, goza com eles.  
A Batalha