Sei...
O nosso amiguinho faleceu ontem, não houve despedidas entre nós mas hoje, inesperadamente, recebi um seu último recado através de um amigo em comum. Fiquei gelado por uns momentos. Geralmente estávamos alegres nas nossas conversas infinitas até à hora de fecho da Feira do Livro de Lisboa, onde o Sei Miguel examinava todos os nossos títulos e escolhia de forma incisiva o que lhe despertava a curiosidade.
Em 2020 disse-me: "Há um japonês que deves gostar, aquilo é fantástico, tenho lá em casa mas não me recordo agora o nome, pá...!". No ano seguinte publicamos a Viagem do Yokoyama e era este o "japonês do Sei". Entendimento total depois desta. Seguiu-se trocas de galhardetes gráficos - recuperamos o nome do esquecido F'murrr e mostrei-lhe os "novos" David B e Jim Woodring. Ficamos de ir à Bedeteca de Lisboa quando reabrisse para nosso percurso de conversa infinita ainda se esticar ainda mais e mais e mais...
Não se identificava com o que o REP escreveu sobre ele e a sua obra no Bestiário Ilustríssimo (livro que editamos) mas estávamos tão entusiasmados a falar sobre a BD - seria a única pessoa que conheceu nos últimos tempos que podia ter conversas sobre este assunto e para dizer a verdade também eu raramente tenho apanhado alguém com o mesmo entusiasmo! - que nunca aprofundei essa questão da música. Nunca chegamos ao fim da conversa sobre Art Brut que me "chocou" por alguma razão que agora não consigo detalhar ou que não me apetece agora pensar. Também não me lembro o que ele comentou sobre o Francisco Sousa Lobo - era pela positiva...
Ouvia dizer que o Sei era snob mas foi das pessoas mais gentis que conheci nos últimos tempos. Não se pode acreditar nos rumores. Poucas vezes nos encontramos fora da Feira do Livro, já se sabe como é a vidinha e as suas corridas. Lamento agora não terem acontecido mais encontros e conversas de cromos... Quando havia formalmente despedidas ele mandava "abracinhos".
Marcos

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