Zines meltdown
Este mês apareceu nas bancas um número da revista inglesa Computer Arts Projects que tal muitas revistas consegue ser simplória no tratamento sobre o assunto dos zines e do underground. E pior, tem o atrevimento de explicar como se fazem fanzines!? Como!? Pois é, como se fazem páginas em digital com o aspecto DIY dos zines. Não deixa de ser ridículo enquanto idea porque só se aprende como se faz um fanzine... fazendo. O que é sugerido é apenas um exercício entre outros mil que podiam ser executados para uma página ficar com um aspecto "imperfeito", isto é, com poucos recursos e/ou à mão.
No resto da revista vamos encontrar artigos "light" sobre a importância dos movimentos Hippie, Punk e Anti-globalização na cultura e no Design, sobre os "anarquitectos" Space Hijackers, o autor de bd Gilbert Shelton (dos Freak Brothers) e os ilustradores Ralph Steadman (ilustrador do "Fear and Loathing in Las Vegas" do fabuloso Hunter S. Thompson) e Raymond Pettibon (conhecido pelas capas de discos dos Black Flag e dos Sonic Youth). Nada que não se possa aprender na 'net mas suponho que os "nerds" não tenham tempo ou pachorra para isso. Tudo bem, se calhar estou a ficar demasiado purista para apreciar que estranhos venham e falem de zines. Ainda assim, não deixa de ser engraçado que uma revista de "nerds" seja capaz de oferecer um zine "manuscrito" do que por exemplo alguns zines como o Underworld que quer ter ar conservador. Marado! Mas creio que é o que diz a revista, mais tarde ou mais cedo, o "underground" acaba por vir ao de cima e muda as estéticas comerciais existentes - aconteceu com o Cubismo, a arte psicadélica do Rock, o Punk, o Grunge, etc... O que é pena é que aquilo que é mais bonito, a atitude DIY, não venha NUNCA ao de cima e continuamos todos os dias a sermos bombardeados com produtos em que só se muda o... template. Vade retro!
E então qual é a diferença da CAP com Whatcha Mean, What's a Zine? Tha art of making zines and mini-comics (Graphia Books; 2006) de Esther Pearl Watson e Mark Todd (os dois Funchicken)?
Simples, embora este livro seja para maiores de 12 anos e seja mucho americano, ou seja, quase que desmancha todo o prazer de fazer um zine por ser tão meticuloso e ético, é um livro que é feito por pessoas que são editores / autores de zines. O livro é todo "feito" à mão (desenhos, texto... também há texto dactilografado, o que na era digital já se considerado "manual") por pessoas como John Porcellino, Ron Regé Jr., Paperrad, Anders Nielsen, entre outros grandes cromos do mundo zinista norte-americano. E todos eles conseguem ser sinceros e utilitários em relação aos zines: os temas e conteúdos, o correio, impressão (fotocópia, serigrafia, outros métodos), formatos e agrafos, etc... todo o mundo dos zines é desmistificado com estilo. Deixa pouca margem de liberdade para descobrir como se faz (até porque neste mundo o "como se faz" deveria / é demasiado relativo) mas este livro é sintomático do nosso mundo, afinal de contas, o que nos dias de hoje é desconhecido?
Talvez os zines sejam já publicações mortas, umas publicações fotocopiadas, artesanato da era da informação que existiram nos anos 70 e 90 do século passado. Vou beber um copo à pala disso!
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