Canicola numero cinque
Colectivo Canicola, Outono 2007
Número cinco desta revista italiana de bd de novas tendências editada por um colectivo de Bolonha de oito autores e uma "administrativa" - dos autores a única autora é a finlandesa Amanda Vähämäki que esteve alguns anos em Bolonha mas entretanto regressada a Helsínquia.
A colar o grupo está uma vontade abrasadora de contar histórias sobre "coisinhas da vida" - no melhor estilo de um Raymond Carver - mesmo quando a acção se passa em 2012 (Giacomo Monti) ou em universos oníricos (Amanda) sem aparente uniformidade de estilos gráficos, aliás, muito pelo contrário. Na Canicola os desenhos são todos díspares embora se possa encontrar alguns pontos em comum com alguns autores que seguem uma estética "free" em que usam a seu favor, o facto da impressão a preto e branco dos dias de hoje conseguir apanhar tão bem os cinzentos do lápis - relembro que a bd sempre teve um processo de produção que obrigava os autores a fazerem o desenho a lápis que depois seria "passado a preto" (ou a tinta) para ser reproduzido em revista/livro. Nos dias de hoje esse processo está a ser subvertido e os "canicolas" são uns dos muitos que encaminharam pelo "lápis directo".
Um número que volta à normalidade do número de páginas (o anterior foi um pequeno monstro com lombada brochada e tudo). É giro, só agora pensei que o formato grande (A4) é perfeito para que os desenhos respirarem...
Entretanto, no ano passado, foi editado o segundo livro "a solo" de um dos "Canicolas", nomeadamente, Andrea Bruno, autor que durante algum tempo era o autor mais conhecido do colectivo tendo chegado a ter trabalhos expostos no Salão Lisboa 2001 ou a publicar na francesa Amok. Brodo do niente é a compilação de uma história desenvolvida nos primeiros três números da revista.
Passado num futuro (ou presente?) possível numa situação de Guerra, pode lembrar Notes pour une histoire de guerre (Acts Sud BD; 2005) de Gipi pelo mesmo tema e pelo facto de ambos autores serem italianos. No entanto, as diferenças são muitas porque enquanto Gipi é clássico na narração (uma narração de fácil leitura para qualquer pessoa) e tem um tratamento gráfico limpo, Bruno tem um grafismo "sporcho", quase um "up-grade" virulento dos mestres argentinos como Muñoz ou Alberto Breccia (1919-1993), que dificulta o entendimento aos humanos comuns que gostam sempre de coisas fáceis e católicas.
Edições bilingues (italiano/inglês). À venda na shop da CCC (20% desconto para sócios). Atenção: os números 1 e 5 e o livro da Amanda Vähämäki já esgotaram junto dos editores.