Post Laica Sound
Kaput "Laica de Verão"! E o que aconteceu por lá?
Saíram muitas novidades editoriais, mostrando que a Laica já se tornou num evento de referência para a edição alternativa em Portugal -sendo que a internacionalização também para lá caminha.
E o mais curioso, é que houve uma série de livros com CD's. O primeiro caso é o livro Cabeça de Ferro / Iron Head (Imprensa Canalha), antologia de ilustração dedicada à Revolução Industrial com trabalhos de alguns dos meus ilustradores favoritos mas onde na realidade quem se destaca é o Filipe Abranches e o Dr. Orango Mandril, especialmente o último. Não que os desenhos das outras pessoas sejam maus, pelo contrário, há bons desenhos mas o que me parece é que para um tema tão aliciante como este, há muito pouco conteúdo... sendo a grande excepção, o trabalho sobre o parque automóvel ao longo do século XX deste peculiar Dr. Orango. O seu trabalho sequenciado é de grande empenho e dedicação, conseguido transmitir uma pesada crítica à automobilização.
O belo livro traz um CD feito de uma colagem sonora do F.Leote e uma remistura do Distimia, dois grandes malandros da cena Improv/Noise. No primeiro casos, são "colados" uma série de ruídos (tlm incluídos!), jingles e discursos (um até sacado ao recente disco da Acto) sobre o tema das Máquinas/Industrialização. O segundo tema é um remix do primeiro que é transformado (é a indústria da transformação?) em Ambient / Noise arrancado... a ferros!
Segundo caso: o "chap book" Long Knives Through the Grapevine de Les D. Turley (poemas), Filipe Abranches (desenhos) e Miguel Mocho (música) editado pela Opuntia Books.
Problema nº1, o tal Les D. Turley existe mesmo? O editor André Lemos diz que comprou, na sua visita a Nova Iorque, dois livros de poemas deste autor norte-americano cuja qualquer informação biográfica pura e simplesmente não existe em lado algum (Lemos até pede ajuda para quem souber de alguma coisa). Os poemas eram tão bons que Lemos pediu a Miguel Mocho (ex-Jack & os Estripadores; e que escreveu o Metamorfina) para cantá-los e para o Filipe Abranches ilustrá-los, resultando num dos melhores objectos / edições da Opuntia Books... Ah! Pois, nem me lembrava disto, o Miguel Mocho, tal como o André Lemos gostam de dar tangas... tangas não de algodão para tapar genitália mas daquelas de pseudónimos e invenções de entidades - bem, para dizer a verdade, quem não gosta? Resultado, não papo o Turley! Como figura misteriosa quer como "persona literária" (as suas palavras não me impressionam)... Mas papo todo o trabalho editorial feito à sua volta: as fabulosas ilustrações de Abranches, cada vez mais seguro do seu traço e aberto à perversão, da música de Mocho, um Blues pós-moderno devedor dos seus mais altos representantes de Americana como Tom Waits, Jim White or Mark Lanegan, é certo que de vez enquando as referências são mais óbvias mas há outras inesperadas e bem-vindas, como o Drum'n'Bass pouco polido da sétima faixa - pena não haver mais.
Por fim, não saiu a tempo da Feira Laica mas apareceu dois dias depois... por isso o Antibothis - volume 2 (Chili Com Carne + Thisco) merece ficar por este "post" porque até era um lançamento esperado no evento.
Mais uma vez é livro + CD de "Occultistas" alguns sagrados e de referência, que tem mudado a Cultura nos últimos 30/40 anos. Falo de gente, por exemplo, como o Boyd Rice que é aqui entrevistado, ou que pretendem a tal. Os textos no Antibothis dividem-se em ensaios, entrevistas e ficção, sendo por norma, as entrevistas os piores textos porque a maior parte das vezes não há uma preocupação, da parte de Fernando Cerqueira (responsável pelo projecto) em editar no sentido clássico da palavra, ou seja corrigir, anotar, cortar, anexar, etc. os textos dos convidados. Assim, alguns textos tornam-se herméticos e totalmente obscuros sem necessidade, arriscando a pregar para os convertidos. Grande excepção para o ensaio do Critical Art Ensemble sobre o "plágio" - muito interessante!
Este segundo volume melhorou a nível gráfico (não que o primeiro volume fosse mau!) mas topa-se a olhos vistos (com ou sem o olho de Agamoto) que tem mais páginas, melhor tratamento de texto e grafismo (cortesia da Ecletricks) e até umas badanas (epá!). Mais uma vez, umas coisas orgánicas e bizarras de André Lemos estão na capa. O CD de música "Electrónica" também melhorou, está mais coerente e em alguns casos revelam-nos que alguns "heróis do passado" ainda não morreram criativamente como é o caso de Controlled Bleeding. Há uma maior abertura para estilos de música, desde o Pop Prog dos Hybryds até ao Etno-Jazz dos Strings of Consciousness. No geral, o "ambiente" é também mais pesado (com Aesthetic Meat Front o que se poderia estar à espera?) e sobretudo mais coerente - com menos altos e baixos como acontecia com o CD anterior.
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