Past Forward
Controlled Bleeding / Dive : Night Shadows (Fast Forward; 1996)
Nouvelles Lectures Cosmopolites / Legendary Pink Dots / Laurent Pernice : Trinity (Fast Forward ; 1994)
Descobri a Fast Forward tarde demais nos anos 90. Quando comprei o CD Art of Life foi por causa da capa que tinha um desenho da Ana Cortesão - o logótipo da editora era dela. Antes demais, a Ana Cortesão foi provavelmente a autora (no masculino ou no feminino) mais brilhante na bd portuguesa dos anos 90, cuja obra pode ser apreciada no álbum A minha vida é um esgoto (BaleiAzul + Bedeteca de Lisboa; 1999).
Sobre o Art of Life falei no Comtrastes - era o fanzine do João Fazenda nos anos 90 - numa crónica que agora tenho vergonha de revisitar por causa da série de erros e gralhas do texto mas o que nesse texto eu chamava à atenção era para o facto da colectânea ser tão eclética e aberta a um mundo novo para além do folclórico Rock - ainda estou para provar que este CD de 1992 apresentou a primeira faixa Hip Hop em Portugal com o General D, que já agora, o que é feito dele?
Bem... dele nada sei mas da Ana Cortesão e o seu marido João (uma das cabeças da FF) sei alguma coisa. Estive com eles à pouco tempo e trocámos alguns livros de bd (da Chili Com Carne e MMMNNNRRRG) por (estes) discos, ambos "colectâneas" ou "splits".
O primeiro - provavelmente lançado quando descobri o Art of life e a última edição da FF - agrupa Controlled Bleeding (EUA) e Dive (Bélgica) envolta da temática das sombras. Controlled Bleeding em meia hora de Hymm from the shadows (dividido em duas partes) aparece-nos com ambientes negros "mucho drones" que se vão acumulando como se um rio fosse. Na vaga junta-se uma voz feminina assim a dar pró étnico dos Dead Can Dance - um banda sobre cotada dos anos 80, diga-se - e um Titanic electrónico que vai engrossando e desaguar num momento budista-camionista. A "idade-não-perdoa" passa por aqui. Talvez isso também possa acontecer o mesmo à participação de Dive assumidamente electrónico minimalista, lascivo e lento - mas é urbano para gostarmos desta faixa de 20m.
Dois anos antes, Trinity juntam-se três projectos europeus numa embalagem diferenciada em que cada um tem cerca de 25m para desenvolverem o seu trabalho. O sim dos franceses Nouvelles Lectures Cosmopolites (ou melhor, o Julien Ash) é "neo-clássico" electrónico, ou seja, acrescenta à base de música de câmara (cordas ou piano) sons concretos ou electrónicos criando geralmente belos ambientes fantasmagóricos - e aqui fantasmagóricos é no sentido lato. Cósmico é Andromeda suite dos Legendary Pink Dots que me impressionou porque conhecia a versão posterior do tema (clicar acima no link dos LPD) aqui na versão original pretensiosamente espacial com uma produção mais crua e longuíssima. Laurent Pernice é outro francês também virado para o "neo-clássico" e ambientes "drone" - a sua participação intitula-se Musiques immobiles por alguma razão - com efeito um bocadinho irritante e diria até menos inteligente que NLC. Ainda assim Trinity sobrevive ao tempo mais do que Night Shadows - olha, é giro isto! Referir os discos pelos títulos sendo eles soma de partes invés de «o disco de Controlled Bleeding com Dive é melhor que...». Coloca-se uma questão: como funcionava a FF? Será que havia um programa de comissariado musical? Um desafio que era lançado aos artistas? Com temática e duração? Ou o que havia eram faixas soltas que a FF compilava procurando uma lógica temática? Não sei... um dia pergunto ao João ou à Ana.
O mistério até lá será tão grande como a fotografia da capa de Trinity - especialmente quando reproduzida na contra-capa do plástico da embalagem (por isso com menos definição e a lembrar o efeito antigo das fotocópias de fotografias) - em mostra um local antigo (um detalhe de uma igreja?) com uma estrutura de ferro em primeiro plano que se parece com uma cruz.
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