chapéu
Voltando às peças de roupa - sim estes "posts" não são peças jornalísticas! - sobre Angoulême deste ano... A CCC sem mesa este ano esteve (mal) representada na do zine inglês Last Hours por manifesta falta de espaço porque ela estava dividida com outros zines ingleses, na desesperada tentativa de recuperar o barco alternativo do continente - desse bando só ficámos com o contacto de um tal Jimi Gherkin que organiza as "feiras laicas" daquelas bandas.
Com as pressas todas nem vimos bem o que se passava naquela mesa mas viemos com as duas grandes bombas (cof-cof) da Ilha: Diary of a Miscreant – A Morgenmuffel zine anthology de Isy Morgenmuffel e a antologia Excessive Force – Police everywhere, justice nowhere, ambas do ano passado. A primeira também é uma antologia mas de várias bd's da mesma autora, a Isy, filha de pais alemães e sul-coreanos e que muito nova tornou-se uma activista anarca em Inglaterra, onde criou entre várias outros projectos cooperativistas a casa social Cowley Club - que inclui uma fanzinoteca. Desde 1997 que edita zines, sendo esta compilação o "best of" dessa actividade autodidacta. Graficamente sendo um desenho naíf, Isy acaba por ter bastante piada porque consegue aliar a funcionalidade do desenho próximo de um certo grafismo insular britânico. Olhar para os seus desenhos passa-nos uma forte tradição realista britânica de ilustração, que pelos vistos tanto pode (por tradição) servir para ilustrar aventuras de escuteiros como (neste caso) mostrar as (des)aventuras de manifestantes contra a G8. Narrativamente Isy é confusa, tradicional e pouco dinâmica mas a leitura deste volume torna-se agradável porque documenta um estilo de vida diferente - realmente alternativo - e oposto à máquina capitalista. E seria injusto não dizer que não se aprende nada aqui, um exemplo simples: um carrinho das compras do super-mercado serve para muitas coisas como para crianças brincarem às corridas, para transporte de calhaus e barricadas rápidas contra a Polícia... o que nos leva para o próximo livro, editado por Edd Baldry - que também organiza o London Zine Symposium.
A segunda antologia junta várias bd's sobre a Polícia, alguns relatos biográficos outros de pura ficção de autores (e autoras) vindos da Inglaterra, EUA, Canadá, Suécia, Brasil e França. Só relatando os trabalhos dos autores que conheço há logo uma riqueza de propostas para um tema que poderia ser chato: Mathias Elftorp expõe uma situação de violência, Eric Bräun (Mutate & Survive) desenvolve tiras humorísticas envolta do tema usando as suas personagens habituais, Nevada Hill ácido-biografia e Chico Fêlix (Seitan Seitan Scum) entra no non-sense político. Mas são os contos ingleses os mais duros e puros mesmo que graficamente sejam os mais débeis pois os relatos são de pessoas que já foram humilhadas, agredidas e perseguidas por polícias. Destaques para as bd's de Baldry bastante inspirada (talvez porque seja o instigador do tema?) e ainda Ken Dahl, cujo pragmatismo norte-americano do seu texto impressiona - o será o pragmatismo do regime policial que nos impressiona?
A edição é complementada com textos interessantes sobre o tema da repressão policial e uma cronologia dos seus abusos na ilha da Suja Majestade. Os lucros desta antologia vão para organizações/ observatórios contra abusos de autoridade: FITwatch e LDMG.
Resta dizer que "apesar" dos livros seram "punks" as edições são muito cuidadas, aquela ilha pode estar toda minada de repressão moral e física mas se há uma coisa que os ingleses sempre souberam fazer é bom Design para discos e livros!
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