Kristiina Kolehmainen (1956–2012)
foto tirada no Festival de Helsínquia 2006
Faleceu ontem, vítima de cancro, Kristiina Kolehmainen, fundadora e directora da Bedeteca de Estocolmo.
Mulher de armas, bem que instigou os suecos do seu conforto e calmaria para a banda desenhada, ora com a manutenção de uma excelente biblioteca de BD no centro da capital, ora organizando um relaxado festival de edição independente, o SPX de Estocolmo, onde convidava autores ou outros agentes de referência mundial na BD. Por lá visitaram como convidados da organização os portugueses Luís Lázaro (que teve direito a uma exposição), Marcos Farrajota (na imagem), Rosa Barreto (da Bedeteca de Lisboa) e a Jucifer.
De origem finlandesa, Kristiina dizia que os suecos tinham os polegares enfiados no rabo, e provava isso todos os dias com a sua alegria, capacidade de comunicação com o exterior e vontade de agir contra a timidez sueca, o snobismo de Estocolmo e a burocracia das instituições públicas - quem pensa que só em Portugal existe tal coisa, engane-se... Nos últimos anos a Bedeteca de Estocolmo mudou de sítio, para desagrado de Kolehmainen, no interior do edifício da Kulturhuset (Casa da Cultura). Dada a forma lenta e burocrática que funciona a Kulturhuset, para além de não entender o meio da BD e das suas potencialidades, esperamos que o seu falecimento não signifique o fim da Bedeteca nem da SPX para gaúdio dos burocratas e outros parvalhões.
Conheci-a num Festival de Angoulême, apresentada pelo Igor Prassel (então da Stripburger), e rapidamente tornamo-nos amigos devido ao seu humor e pouco vontade de entreter os idiotas da BD. Kristiina, tal como muitas mulheres ligadas à BD, não tinha as mesmas referências da cultura "nerd" e "bedófila" que a BD é infestada, por isso sempre teve um posicionamento adulto, contemporâneo e artístico em relação à BD que divulgava.
Soube hoje desta triste notícia através de um amigo comum sueco. A última vez que estive com ela foi em Setembro do ano passado, na Finlândia, num divertido fim-de-semana que incluiu a visita ao ITE. Supreendeu-me quando disse que na "sua" Bedeteca tinha feito assinatura da Raw Vision porque achava que a BD e a "arte bruta" tinham enormes relações. Estava sempre um passo ou dois à frente! Foi-se uma amiga e uma lutadora contra a estupidez no mundo da BD.
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