Que a Bolha não rebente...
A Bolha é uma loja de Rio Janeiro e uma editora de poesia e banda desenhada. Uma frase destas simplifica todo um enorme projecto dirigido por Rachel Gontijo que abriu uma loja de BD e outros grafismos num terraço de um prédio. E para complicar ainda deciciu editar poesia contemporânea norte-americana no Brasil, para além de livros de BD. Deve ser louca! Mas, muito provavelmente, alguém o tinha de fazer...
A selecção dos livros de BD é no mínimo peculiar e revela uma editora atenta às movimentações da BD pelo globo fora. Na primeira fornada de livros vamos encontrar séries norte-americanas como 0-800-Ratos #1, um comic-book serializado de Matthew Thurber, entretanto já concluído e compilado pela Picturebox. A história mete "ratos-telegramas", punks, psicadelismo, grupos ecológicos radicais, tramas políticos,... feito num estilo livre mas virtuoso para quem fuma charros todos os dias. A coisa têm piada ao início, depois torna-se uma confusão narrativa e as personagens não nos absorvem, o que da dada altura dá pouca pica para ler, como acontece com Richard Sala, por exemplo. Chega um ponto que todas as personagens podem morrer que o que nos iria preocupar era se ainda temos batatas fritas para trincar. Powr Mastrs, vol. 1 de C.F. pode estar nesta categoria também, afinal somos levados para um mundo de "Senhor dos Aneís" digerido com cogumelos mágicos mas a sua narração é mais consistente e o desenho mais naturalista, o que nos faz pensar que ainda podemos vir a gostar da série. A legendação da edição está muito grossa e estraga o grafismo das pranchas. A julgar pelo cuidado do design das edições d'A Bolha, acredito que esse erro (de ínicio de actividade) deverá ser corrigido no anunciado segundo volume.
A Celebração é o primeiro livro de Rui Tenreiro e que finalmente vê uma edição em língua portuguesa. "Filho da Aldeia Global", o autor nasceu em Moçambique, tem nacionalidade portuguesa mas tem vivido na África do Sul, Noruega e Suécia. Foi na Noruega que publicou este livro - Høytiden (Jippi; 2008) - baseado na cultura Shinto, o que justifica um grafismo limpo e uma narrativa circular-karmático. É sobretudo um livro elegante...
Vai para o Diabo do argentino Federico Lamas é daqueles livrinhos de desenho que toda a gente adora por causa da piada do livro ser um 3D menos 2D. Explicando melhor, o livrinho A6 é impresso a duas cores, azul e vermelho, e é acompanhado por apenas uma "lente" vermelha dos clássicos óculos 3D. Invés de fazer a ilusão tridimensional, o "óculo" vermelho esconde a informação vermelha (deixamos de a ver) e ficamos a ver apenas o que está a azul... É aí que vemos um mundo de gente zangada - o termo mesmo é fodida - que nos manda para o Diabo o tempo todo. Hilariante!!! E engenhoso para quem se fartou da moda dos livros em 3D.
Um excelente trabalho do outro lado do Atlântico que também vai editar o Caminhando Com Samuel do finlandês Tommi Musturi. A Bolha tem bom olho!
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