segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vai uma revisão da edição independente de 2012?

O passado

2012 é, pelos vistos, o ano de “nostalgia” ou recuperação do passado, situação inédita na edição independente quase sempre mais interessada em mostrar trabalho novo e seguir em frente... São gestos muito simples mas interessantes de assistir. A El Pep reeditou várias BDs de Fernando Relvas, figura singular na BD moderna portuguesa, publicadas originalmente no jornal Se7e nos anos 80. Sangue violeta e outros contos é um acto de recuperação patrimonial da BD portuguesa que por si só reveste-se de enorme importância. Muitos especialistas da área da BD queixam-se que a BD é uma arte que não tem memória e percepção da sua própria história, situação que para ser contornada passa (também) pela republicação de material antigo. Tal como em 1998 foi a Associação do Salão de BD do Porto que recuperou o L123 (seguido de Cevadilha Speed), eis outra estrutura “amadora” como a El Pep a fazer o papel que as instituições públicas ou as casas comerciais deixaram de o fazer, colmatando (de forma aleatória, ligeira e incompleta) o final do programa de reedição de BDs perdidas em periódicos como a Bedeteca de Lisboa fez de 1997 a 1999 com os sete volumes da Colecção Bedeteca (co-edição com a BaleiAzul). Felizmente o esforço da El Pep já ganhou algum respeito institucional ao receber o “Prémio Clássicos da BD” na BD Amadora.

Comemorou-se os 20 anos de existência dos fanzines Cru e Mesinha de Cabeceira (MdC). Estas comemorações tiveram pesos e medidas diferentes mas em comum trouxeram novos números de cada título. O Cru teve como último número o 13 – saltou o 12 não se sabe bem porquê – em 1999! Em 2012 volta com o número 34 e uma festa algures num bar do Porto. Alguém, uma vez disse-me que as bandas Punk e Hardcore são como as baratas porque podem estar inactivas 10 anos ou mais mas depois voltam sempre! Acho que se pode incluir o Cru nesta metáfora… Resta acrescentar que o Cru disponibilizou na plataforma em linha issuu.com os números antigos dos tempos gloriosos da fotocópia (ver http://issuu.com/esgar).

O MdC só esteve inactivo entre 1997 e 2000, 2006 e 2009 e em 2011. Este ano voltou com dois números, o 24 que saiu antes do 23. O primeiro a servir os propósitos do seu editor sobrevivente, e este vosso escriba, Marcos Farrajota, para publicar as suas BDs autobiográficas. O 23 tem como objectivo a celebração dos 20 anos de existência do zine, tendo compilado um pequeno (em formato) mas grosso (em nº de páginas) volume de BDs essencialmente narrativas e de autores portugueses. Era para ter sido um número de despedida do título com o editor fundador Pedro Brito nos comandos mas nada disso aconteceu… como é normal nos fanzines, é o “erro” que proporciona dinâmica e criatividade. De realçar a curiosa exposição patente na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos que faz uma retrospectiva do MdC mostrando originais, zines, maquetes desde 1992 até aos dias de hoje, possibilitando uma discussão sobre os meios de produção de BD e a influência das técnicas digitais nos últimos 20 anos - mas tal não aconteceu, os únicos comentadores interessantes da miserável cena bedéfila não comentaram absolutamente nada até à data de fecho da exposição. Se calhar os 20 anos do Mesinha não têm interesse para ninguém excepto para os seus próprios editores e autores...

A carismática revista norte-americana Journal of Artist Books (JAB) no seu número 32 dedicou as suas páginas aos livros de artistas portugueses. Sob a batuta de Catarina Cardoso, foram publicados vários artigos e estudos relacionados sobre o tema como a Po. Ex. ou a Alternativa Zero. O mais interessante é o ensaio de Pedro Moura que analisa os trabalhos de André Lemos / Opuntia Books, José Feitor / Imprensa Canalha, os heterónimos de Tiago Manuel, e algumas experiências de Jucifer e José Carlos Fernandes. Lançado em Lisboa, com a presença do editor Brad Freeman, foi constrangedor o ingénuo apelo de Isabel Baraona (artista que fez a capa e um suplemento no JAB) para um maior contacto ou intercâmbio entre artistas que façam livros, sendo que a artista afirmou não sabia que poderia haver tantos artistas a produzirem este tipo de objectos. Sempre desconfiei que o mundo dos livros de artistas era um mundo elitista (materiais caros, feitos por artistas profissionais, distribuição em galerias e o mundo institucional da Arte, dirigido para o mercado coleccionista) em oposição a dos zines que privilegia uma comunicação democrática pelos seus materiais baratos de impressão, amadorismo e/ ou sujidade gráfica, pelas regras quase dogmáticas de intercâmbio entre editores, alguma recusa em fazer lucro para não comprometer a criatividade e ausência de interesse comercial,… Afinal o que custa trocar meia dúzia de fotocópias por outras? Ambos interlocutores recebem em troca inesperadas mensagens artísticas, políticas, sociais, etc… Ora se um livro de artista tanto pode custar 250 euros como 10 euros, estará Baraona disposta em trocar um livro que vale 250 por um de 10 replicando os sistemas da mail-art ou dos zines? Eu duvido muito... Mas entretanto arranjou uma solução que poderá ter interese de futuro: a Portuguese Small Press Yearbook, uma plataforma online de divulgação de edição independente que poderá ajudar a ter uma visão mais alargada da produção portuguesa, embora o acervo para consulta pública destes objectos continue a ser na Bedeteca de Lisboa - que finalmente começou a catalogar alguns destes "estranhos objectos".




O presente

Este ano, demos conta dos seguintes projectos de continuidade: O filme da minha vida (1 volume – António Gonçalves) pela Associação Ao Norte; Zona BD (2 volumes); É fartar Vilanagem! (1); Tertúlia BD’zine (12); BDJornal (1), Lodaçal Comix (3), Buraco (3) e um Efeméride (1).

As editoras que continuaram em actividade foram:
- Chili Com Carne com Mystery Park (livro de desenhos de André Ruivo), Inverno (Mesinha de Cabeceira #23, antologia de BD), O Hábito Faz O Monstro (de Lucas Almeida) e Love Hole (de Afonso Ferreira).
- El Pep – o já referido livro do Relvas e ainda Psicose de Miguel Costa Ferreira e João Sequeira;
- Firma: Circle Cycles Circuits de Dunja Jancovic;
- Oficina do Cego: Sarilhos (de André Lemos) e e o colectivo Faca Romba;
- Kinpin Books: O Baile de Nuno Duarte e Joana Afonso;
- MMMNNNNRRRRG: outro volume da série a AcontorcionistA, de Grupo Empíreo, Claim Against Fame (de Alexander Brener e Barbara Schurz), Mesinha de Cabeceira #24 (de vários artistas) e Inferno (de Marcel Ruijters);
- Polvo: Hän Solo de Lacas e Três Sombras de Cyril Pedrosa;
- Libri Impressi – o quarto e final volume da série Lance.

Regressaram às lides a Imprensa Canalha com Estátua Falsa, graphzine de Tiago Baptista e Sobrevida de Carlos Pinheiro e Nuno Sousa; a Mundo Fantasma com Diário Rasgado de Marco Mendes e a Montesinos com VSAdH/ EdWB/ IpAN (uDdPL) de Pedro Moura e do grego Ilan Manouach; os zines Kzine e Funzip do Grupo Entropia; Cleópatra de Tiago Baptista – este último sob o selo Façam Fanzines Cuspam Martelos lançou outros títulos – e ainda o artista João Fonte Santa editou o zine Crianças Grandes brincam com brinquedos grandes.

As novidades deste ano foram: Death Grind e Doom Mountain de Zé Burnay, Drei abhandlungen zur sexual theorie (Dildo Doodles) de Ana Menezes, Magical Otaku (um número) de Rudolfo, Leopardo Surdo pela Stepping Stone, Enjôo da Invocação e Innermath / Megafauna de João Machado e André Pereira pelo Robô Independente e Clube do Inferno, Prosjektet Ragnarok de Tiago Araújo, Landing of the mothership de David Campos e saíram vários graphzines, dois títulos do ilustrador Esgar Acelerado e outros de vários outros artistas. É ainda digno de referência o Nicotina’zine que se dedica à Poesia mas incluiu nas suas páginas ilustração e um BDs do sueco Lars Sjunnesson e de João Chambel.

Manteve-se uma actividade mais ou menos normal, sólida e com novidades e regressos. Diria que foi um ano desde já positivo sobretudo porque tem solidificado um regresso à BD por uma nova geração com muito talento e vontade de fazer – e melhor ainda com capacidade de fazer – são eles: Afonso Ferreira, André Pereira, Rudolfo e Zé Burnay, verdadeiros "Chavalos do aPOPcalipse" nesta nossa sociedade de Anorexia, Smart Shops, Holiganismo e Cancro.

Os eventos especializados foram: Feira Laica (duas edições), Feira de Publicação Independente (duas edições, em Abril e Maio no Porto), Feira de Edição Independente (Novembro no Porto) e a Feira do Livro de Poesia e BD (desde Outubro todos os sábados em Lisboa). Sendo ainda possível encontrar em eventos de BD (MAB Invicta, Festival de Beja e BD Amadora), cinema (Fantasporto, Cinanima), Música (Rescaldo, SWR, MIA, Xjazz, Poetry Slam Sul) e em faculdades de artes com iniciativas como a Comunicar:Design (Caldas da Rainha) e a Books made friends (ESAD/ Matosinhos). A moda do “livro de artista” gerou os eventos O que um livro pode (Lisboa) e Pa/per View (Porto). De realçar o fim da Feira Laica após 8 anos de importante actividade.

A nível internacional é de se referir imediatamente o livro a solo de André Lemos produzido pelo atelier francês de serigrafia Cotoreich, Woofer Takeover Jubilee. De resto a participação de autores em publicações estrangeiras parece ter aligeirado, embora as Ediciones Valientes tenham feito um especial El Temerário com ilustração portuguesa. No espanhol zine Kovra aparecem Ricardo Martins e Rudolfo, na antologia sueca do Festival Alt Com, No Borders, está Marcos Farrajota e André Lemos; para o zine francês Gestro Club participa David Campos. Apesar de tudo a presença portuguesa em vários eventos internacionais não diminuiu, especialmente com a Associação Chili Com Carne a servir de embaixada para a produção nacional, tendo material representado em Fanzines! Festival (Mediateca Marguerite Duras, Paris), Festival Crack (Roma), Angoulême Fuck Off (França), Edita (Espanha), Libros Mutantes (Madrid), Tenderete (duas edições, em Valência), Maravilloso Encontronazo de Autoedicíon (Madrid), Festival de BD de Helsínquia e C.A.T.A. (Timisoara, Roménia). Com exposições esteve no Not Tex Not Mex (Denton, EUA), na loja Floating World Comics (Portland, EUA), Alt Com (Malmö, Suécia) e loja Prego (Brasil).

Por Portugal passaram vários autores estrangeiros com ligações a produção independente: ruGGGero (Itália) para realizar uma serigrafia com o atelier Mike Goes West, Kai Pfeiffer, Lars Henkel (ambos da Alemanha), Dominique Goblet, Olivier Deprez (ambos da Bélgica) no MAB, Dice Industries (Alemanha), Albert Foolmoon, Ar-Decó (ambos de França), Andrea Bruno (Itália), Dunja Jancovic (Croácia / EUA) na 20ª Feira Laica, Baudoin e Fabrice Neaud (ambos de França) na BD Amadora, a norte-americana residente na Europa Julliacks num evento promovido pelo espaço cultural Flausina; e na última Laica regressaram Dice Industries, Martin López Lam (Peru / Espanha) e Mattias Elftorp (Suécia) e estrearam-se o colectivo Tonto (Áustria), Zulo Azul (Espanha) e Marcel Ruijters (Holanda) que também estará no Porto para uma exposição na loja Mundo Fantasma no âmbito do livro Inferno lançado pela MMMNNNRRRG e a serigrafia pelo Mike Goes West.



O futuro

Têm-se discutido imenso na arena global sobre questões digitais dos livros, o que tem dado “megabytes” de discussão por todo o lado. O que se passa com os negócios do “visual e textual” é o mesmo que aconteceu com a música e a popularização da internet nos finais dos anos 90: assistimos à desmaterialização de objectos, ao aumento de capacidade de pesquisa e encontro de informação e de objectos, à multiplicação do espectro de gostos, escolhas e conhecimentos, à destruição dos elementos intermédios entre o produtor e o consumidor (editores, promotores, críticos), à participação activa na promoção e discussão de obras, ao financiamento de produção de obras pelos consumidores, à destruição de grandes estruturas físicas de divulgação cultural (cadeias de lojas), à hipótese de uma criação existir exclusivamente em digital e nunca ser editada em fisicamente, à hipótese de ficheiros serem multiplicados até ao infinito ou até ser gravados / impressos fisicamente com tecnologia caseira,… O que se tem passado nos últimos anos com o “livro” no meio da revolução digital são as reacções de macro-agentes em similar agonia como as editoras fonográficas nos últimos 15 anos: as guerras “amazónicas” e “googlinas” entre os virtuais e as lojas físicas e editores, o desfasamento das leis de direitos de autor perpetuadas por organizações anacrónicas como a nossa SPA, as discussões sobre o direito de empréstimos de ficheiros de “e-livros” nas bibliotecas públicas, os códigos de protecção DRM, etc…

Escrito assim até parece que o “mundo vai acabar” com esta revolução digital. É certo que há alguns tipos de livros que parecem ter um final certo no mundo físico. É o caso das enciclopédias e dicionários (que estão sempre actualizados algures na ‘net), os livros técnicos e científicos (também actualizados em digital e até com possibilidades de aplicações media que facilitem a compreensão para leigos), os periódicos e os “best sellers” pelo facto de serem produtos baratos (sendo que é indiferente para o consumidor que espécie de formato ou cópia que consegue arranjar desde que o leia o mais rápido possível enquanto é uma novidade)… Parece estranha esta combinação de “livros a desaparecer”, de um lado estão produtos eruditos e científicos e do outro produtos de consumo popular, “trashy” e “Pop” mas a questão digital passa por questões de formatos e não tanto pelos conteúdos. Daí que haja um grupo de livros que não terão uma desmaterialização (tão rápida?) como outros, é o caso dos livros de fotografia, design, arquitectura, desenho e… BD! Um exemplo mais simples de provar é que a pesquisa de referências visuais num livro não é feita da mesma forma como se procura uma palavra num texto (seja ele num ficheiro, num computador ou na internet) por mais se faça indexação. O formato de livro físico permite uma procura mais rápida e prática (manual) de uma imagem do que “folhear” num livro electrónico. O ecrã também não permite o mesmo usufruto das imagens – como acontece com os álbuns de arte que devido à sua dimensão conseguem transmitir uma maior força emotiva do que qualquer ecrã.

Talvez isto explique o interesse das grandes editoras pela BD nos últimos anos. Se por um lado deve-se ao facto da BD ter atingido uma idade madura de propostas de temas longe do simples entretenimento infanto-juvenil, creio que a outra parte passa pela necessidade de vivermos uma sociedade virada para a imagem, sendo necessário encontrar cada vez mais livros que sejam “visuais”. Em Portugal, este fenómeno pode-se verificar de uma forma mínima e recente com o interesse da Contraponto (uma editora fachada do grupo Bertrand) que editou o Persépolis de Marjane Satrapi e o Funhome de Alison Bechdel, livros aliás premiados e com sucesso de público há vários anos nos EUA, França, etc… Também é verdade que a BD servirá para alimentar as bolhas de investimento das grandes editoras que não poderão alimentar mais livros de Códigos Da Vinci, Vampiros, Anjos, Gatinhos e outras palermices. A BD está a ser a grande novidade editorial e que irá comer o bolo da produção nos próximos anos. Um sonho de muitos nós, amantes da BD, só que é pena é que as BDs que irão surgir serão tão fúteis como qualquer outro “best-seller” – basta consultar aquela parvalhona do cancro da mama editado pela Asa há dois anos atrás, por exemplo – nem todos podem ser profundos como o Joe Sacco ou como o Baudoin.

Entretanto, a defesa do formato físico do livro não vive do fascínio e da moda nostálgica que se assiste nos dias de hoje, do regresso às técnicas tradicionais de impressão (ou do livro de artista). Os pontos de defesa são conhecidos, os livros físicos (e especialmente impressos em serigrafia, gravura, tipografia, etc…) são mais tácteis, olfactivos, etc… ou seja mais sensoriais que os assépticos “tablets” e quejandos, para além de permitirem ter tamanhos e formatos extravagantes (inacreditavelmente minúsculos como o Pecaritchichi do João Bragança ou gigantescos como Sarilhos de André Lemos) condicionando as formas de leitura – algo que os “electrónicos” não podem fazer, ou se podem modificar a forma de leitura passa pela interactividade e pela navegação.

No caso da BD por ser intensamente visual e gráfica, a impressão e o design dos livros influenciam a leitura da obra, e por isso está neste grupo de livros difíceis de desaparecerem mesmo que os “webcomics” tenham começado a tornar-se um hábito de leitura e até de produção de qualidade como prova o actual “work-in-progress” Margem Sul de Pedro Brito, no sítio P3 do Público.

Encontramo-nos num ano em que muitos periódicos já acabaram ou anunciaram o final da sua versão física para entrarem exclusivamente na edição digital. Já se falam em “best sellers” digitais bem como histórias de fama e riqueza de autores publicados apenas em digital. Mas não podemos esquecer que a “literatura popular” pode ser lida tanto em edições “deluxe” como na mais reles reprodução fotocopiada / pirateada (como acontecia com o movimento “samizdat” nos tempos soviéticos da Rússia) porque são livros que vivem um momento de história/ histeria para serem esquecidos pouco depois. Há todo um grupo de “long runners” que parecem estar esquecidos nas eufóricas discussões sobre o “fim do livro”.

As quebras de vendas do mundo físico estão a forçar a uma redefinição das regras do mercado editorial, juntando à conjuntura económica de crise que se vive, têm-se assistido ao estreitar dos serviços criativos – cada vez menos e cada vez mais mal remunerados, serviços mais baratos de produzir, e consequentemente com menos qualidade... O que tem levado muitos artistas a procurarem na auto-edição ou a edição independente numa forma de preencher as suas necessidades artísticas e até económicas. Um exemplo, se vender uma ilustração a um jornal têm-se mostrado complicado e mal remunerado, alguns artistas perceberam que podem vender os seus desenhos em linha ou imprimirem múltiplos: serigrafias, gravuras, glicées, canecas, t-shirts, cuecas, e claro, livros ou zines em edições limitadas ou em sistema de “print on demand”. Também devido à crise económica, a compra de arte têm-se retraído e ao que parece os coleccionadores têm encontrado nos múltiplos (como os livros de artistas, cartazes, serigrafias) uma espécie de sucedâneo às peças artísticas originais (como telas). Toda esta combinação de factores tem mostrado um activismo sobre a publicação e o livro, fazendo surgir novos talentos ou regressar alguns velhos autores a trabalharem em objectos gráficos cada vez mais sofisticados e aliciantes, tal como aliás se pode verificar na 20ª Feira Laica (Jul’12) em que se sentia uma energia muito intensa no evento, nunca antes tão cheia de novidades e novos projectos editoriais – há quem diga que foi pelo facto de se ter quebrado com a tradicional residência na Bedeteca de Lisboa (que acontecia desde 2005) mas não acredito que tenha sido pela mudança do espaço físico apenas que aconteceu toda aquele entusiasmo que aliás, prolongou-se até à última e 21ª Feira Laica (Dez’12). Há um rejuvenescimento a acontecer na edição independente e na BD portuguesa em que a piada aos “Chavalos do aPOPcalipse” não é assim tão inconsequente como possam julgar à primeira…

Há luz neste anunciado apocalipse da revolução digital. O formato físico e a edição independente, combinados ou não, são opostos a todo este imediatismo tecnológico – mesmo que muitas vezes a produção de edições independentes venham de ânsias de publicação dos artistas e editores. Muitas vezes quando falo da MMMNNNRRRG costumo dizer que é uma editora "slow food", de livros que têm de ser degustados e não engolidos à alarve como a "fast food" que bem sabemos nos faz mal à saúde e destrói o planeta. Entre a McDonalds ou a Leya, entre a Nestlé e a Marvel, venha o Diabo e escolha.

Apesar da edição independente sofrer de um processo de promoção e comercialização lento e tortuoso, depois de se varrer o lixo, será ela a “vencedora da História”, como aliás sempre aconteceu no passado.

Sem comentários: