terça-feira, 3 de março de 2015

Toing Toing Toing Toing Toing Toing Toing

O Cosmos escolhe as coincidências que quer e quando quer. Quis desta vez que em poucas semanas arranja-se uma série de discos com dois características comuns: improvisação e ao vivo!

A começar por uma colecção de discos do guitarrista Luís Lopes (a maior parte deles pela Cleanfeed) que mostra que o seu trabalho tem várias facetas, umas mais terra-a-terra dentro do espírito do Free-Jazz e outras mais radicais como o seu "Metal Machine music" Noise Solo @ ZDB, Lisbon (ed. de autor; 2014). De todos o que mais gostei, admito que deverá ser o mais "careta" deles todos mas a razão é que é também o mais poderoso e com presença. É o Live at Madison (Ayler; 2013) onde toca com Humanization 4tet, um quarteto Free Jazz constituído por Lopes, o saxofonista Rodrigo Amado e os irmãos norte-americanos González - estes últimos uma verdadeira máquina rítmica e amigos do nosso Camarada Hill. Para além disso, a edição inclui um livrinho de 12 páginas com fotografias que testemunham o evento, que curiosamente tem aspecto mais de bar "roskof" de okupa do que um sítio pipi tipo "Hot Club". Assim sim, gosta-se de Jazz!

Quanto a este CD-R daqui do lado apareceu-me pouco depois deste "post" em que indicava a falta de registos editoriais dos anos dourados da Feira Laica. O ano mais forte foi sem dúvida 2006 com a iniciativa de Laica no Espaço em que o Espaço - Centro de Desastres durante 3 meses foi programado pela Laica com concertos, murais, exposições e mercado de edição independente. Ao vivo no Espaço - Centro de Desastres (Dromos; 2010) de Manuel Mota / Afonso Simões é posterior à "programação Laica" mas o que é importante saber é que o Espaço depois da Laica continuou mais uns meses com a "casa feita", isto é, com o nome a rodar pelo underground lisboeta como um espaço cultural louco e aberto a tudo. E era, os donos eram uma cambada de agarrados que não precisaram de fazer nada pelo seu estabelecimento a não ser anotar num caderno quem ia lá tocar nos próximos dias ou semanas. Um sistema de "não-curadoria muito melhor do que a seca que a ZDB se transformou por volta dessa altura, barrando a criatividade e necessidade de espaços para os músicos tocarem. Por isso fosse Punk, New Folk (muito em voga naquela altura) ou Improv foi lá tudo tocar ao Centro de Desastres entre 2006 e 2007. Este CD-R de poucos 25 minutos por pior que seja a gravação apanha o ambiente do sítio e do seu público junkie a apoiar os dois músicos que fazem aquelas barulheiras fixes (?) Free/Improv - aliás, quantas vezes isso realmente acontece (aquele grito "yeah!") nos sítios onde se toca este tipo de música?

Outro registo ao vivo é o do MIA 2012 - 3º Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia. É um dos eventos musicais mais interessantes deste país nem porque seja porque é dos poucos que não cansa. Lá porque é música Improvada não quer dizer que não tenha também os seus defeitos e vícios tal como noutros géneros musicais e quem esteja calejado não se aborreça com este tipo de música mas felizmente no MIA, de 15 em 15 minutos (ou menos) há um grupo de músicos que são sorteados para tocarem de improviso no palco formando-se trios ou quartetos que provavelmente nunca tocaram antes. O que dá sempre uma vivacidade ao evento todo e alguma curiosidade (não foi isso que matou o gato?) ao que se irá passar. A atmosfera é relaxada e assiste-se a performances que tanto resultam como não - o texto de Rui Eduardo Paes neste CD-duplo levanta algumas questões nesse sentido - mas pouco importa, a sensação é única e sabemos que o que se ouve e se vê ali dificilmente se irá repetir, excepto se houver gravações das peças elaboradas, claro!

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