quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Música de Natal

Que mês intenso que foi este no que diz a música, a começar pelo regresso dos Mécanosphère. Nove anos depois da sua obra-prima Limb Shop, o que dizer deste Scorpio que saiu pela Raging Planet? Pouca coisa infelizmente quando estamos em 2015 e o seu "Dub Hip Lit Industrial" carregado de fantasmas do Rock e do Jazz não é propriamente uma ruptura inédita nos campos sonoros mesmo sendo os únicos deste "género" em Portugal.
Trata-se sem dúvida de um disco com potência como poucos são feitos em Portugal mas obrigava a ter uma bomba acoplada pronta a fazer vítimas dada à equipa de alto calibre (além do habitual Adolfo Luxúria Canibal, temos elementos dos Sektor 304 e entre eles os "nossos" André Coelho e Manuel João Neto) e à ausência discográfica tão prolongada... Sei que me bate pouco porque sou um "freak má onda" que só fica satisfeito ao testemunhar um gajo a desmaiar no meio do público com o barulho da "banda" no seu recente concerto lisboeta... Pela lógica magnética, má onda com mais má onda não se atraem e assim se explica com rigor científico esta minha falta de afectividade com o disco. Vejam vocês o que vos acontece...

Coincidência cósmica foi quando no lançamento do graphzine Evan Parker relativo à acção principal do X Jazz, pensava eu que a Chili Com Carne seria a primeira e única a editar um produto cultural envolta deste ciclo de programação que combinava Jazz e Aldeias de Xisto e afinal... afinal havia outra! Outras! Duas rodelas chamadas CDs! São gravações por alguns dos músicos que fizeram parte da residência artística com Parker. O quinteto Pedra Contida apresenta Xisto (JACC; 2014) num processo de pica-miolos soft em que se experimentam várias parelhas à procura de barulhinhos num ambiente rural. Concentric Rinds (Cipsela) é o encontro entre Marcelo dos Reis (guitarra) e a harpista Angélica V. Salvi - ambos de também de Pedra Contida - depois de terem tocado pela primeira vez durante essa residência com Parker. Fazem um diálogo dócil e sóbrio apesar do grafismo do CD e até os títulos parecerem antes de um projecto Harsh Noise nórdico! Só no final do disco é que decidem entrar pela estridência ruidosa mas tudo bem, tudo se perdoa pelos anteriores bons momentos. É fixe ver coisas a acontecerem devido ao X Jazz, apesar da morte de comunicação entre a CCC com a JACC e a ADXTUR sabe-se lá porquê...

A melhor prenda de Natal que qualquer melómano 'tuga poderá oferecer a si próprio é a k7 Akusekijima (Tapes She Said) dos 'nocas KufukiÉ "apenas" o melhor disco estrangeiro editado em Portugal - é certo que também merece o título de "pior capa portuguesa 2015" mas é para isso que aqui estamos nós para ajudar o braço armado-da-k7 da Lovers & Lollypops.
Imaginem uma música para um jingle de uma esfregona ou de rebuçados de anis feita pelos Legendary Pink Dots mas que foi raptada por hackers japoneses doidos varridos (eu sei que é estereótipo achar todos japoneses malucos mas caramba, eles são mesmo "fora"!) que a prolongaram até ao caldeirão sonoro do psicadélico Kraut & Folk & Freak. Temos neste disco os sons exploratórios para quem quer viajar pelos Cosmos a preço low cost mas tendo como guia uns cosmonautas sábios. É que isto de explorar o Universo não é para ficar a babar-se a contemplá-lo, não, meus amigos, é preciso também mexer o cu... pelo menos sete vezes!

O colectivo Cafetra organiza todos os anos um evento cultural lisboeta incontornável para quem acredita em DIY e independência artística à séria. Lançaram uma colectânea em formato k7 (sim, 2015 é definitivamente o ano do "regresso" deste formato áudio) com todas as bandas e projectos que tocaram nesse dia, o que se transforma num documento histórico para investigadores no futuro (nunca se sabe, há doidos para tudo) como uma recordação sentimental para quem lá esteve. É o meu caso, que ao ouvir a k7 recorda-me os melhores momentos - e os piores e os medíocres - dessa maratona na Caixa Económica Operária.
Há um pouco de tudo nesta colectâncea o que a torna excitante de ouvir porque os géneros musicais estão todos misturados, sem uma ordem, por isso só para dar alguns exemplos, salta-se do cantautorismo iconoclasta de Lourenço Crespo para tortura de chips dos Calhau acabando o Lado A com a Virgem Maria do Techno que foi a grande revelação profética Bleiddwn - mais uma vez foram as mulheres a tomarem conta do recado tal como no ano passado.
Pró ano há mais? Festival + k7? Digam que sim... pleeeease!!!

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