Publicações Áustria-Brasileiras
Os Tonto de tonto nada têm. É verdade que a Áustria não tem uma tradição de bd - ou visual, segundo se quixavam os elementos do colectivo durante o Boring Europa - mas isso não impede que haja pessoas a mexerem-se. Se a antologia Tonto é uma inspiração para qualquer editor o mesmo não sei o que dizer deste graphzine de serigrafia que reúne os artistas do grupo. São meramente 12 páginas deitadas com ilustrações (com uns textos minúsculos) com um tema em comum - creio, se o meu alemão estivesse em forma - sobre miséria, trabalho e comida... É o que parece. Falta garra neste livro parece que se ficaram pela técnica, uma vez que a impressão está perfeita, sem aqueles erros de impressão que tanto fascinam alguns serígrafos.
No pacote que vinha com esta nova edição "tonta", vinha também um "clássico": Wave Mash Target (Tonto#1, 1999) de Kaplan. Antes do Tonto se dedicar à bd, editava música - aliás, como bem puderam ler no Boring Europa. E este é uma velharia desses tempos musicais, um CD-R de música electrónica de nada mais nada menos de Helmut Kaplan, o mentor do Tonto.
É Electrónica experimental embora com uma estrutura simples e directa que deve depender da direcção que os samples dão - a falta de elementos na ficha técnica tornam dificil a desmontagem do som que ouvimos, embora, minta, existe um esquema sobre a composição dos temas na contra-capa do disco mas que mesmo assim não desvende a vontade do autor versus a imposição das máquinas. Um exercício electrónico sem dúvida... Ainda bem que os Tonto viraram-se prá bd!
Do Brasil, apareceu o primeiro número do Gibi Gibi (Out'11). Ao contrário da Áustria, o Brasil está bem habituado à bd mas com uma forte tradição humorística que quase nunca se consegue desligar. Mesmo quando as influências dos novos autores sejam o trash pop psicadélico reciclado pelo Fort Thunder ou a linha clara espanhola ou o "bedroompunk" de Jeffrey Brown e afins, no final, tudo acaba em piada e humor. É o que acontece com esta publicação feita a três cabeças e seis mãos.
Graficamente irrepreensível (quer as bds quer o aspecto da publicação) mas fica-se por umas boas gargalhadas.
Apesar deste caminho temático circular da bd brasileira, é nítida a energia que transborda por ali, tanto que nos últimos anos temos recebidos belas publicações cheias de desenhadores poderosos - Bongolê Bongoró, Prego, Samba, Pindura, La Permura!, Nik Neves, Diego Gerlach, Zarabatana Books, etc... Algures num blogue já li que já andam a chamar a esta vaga de iniciativas e autores da "nova bd autoral brasileira". É um previlégio poder segui-la mesmo que o nome GibiGibi* seja "retro"!
*Gibi é bd no Brasil, nos tempos em que a bd era só para putos.
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