segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Aos pares




Missing Dog Head : Cerberus One (Delphy; 2013) + Cerberus Two  (Delphy + Sonoscopia; 2003)
shhh... : + vol.1 + + vol.2 (Thisco; 2013)
Shrine : 1990-1996 (Glam-O-Rama + Chaosphere + Raging Planet ; 2013)

MDH é um trio com dois guitarristas austriacos e o Gustavo Costa e que lançaram mais dois discos ambos com o nome de Cerberus, o cachorrão de três cabeças que guarda o "inferno" greco-romano. Para quem gosta de Post-Rock, termo que nada quer dizer na realidade, poderá encontrar aqui escapatória à mediocridade do género porque novamente, o termo nada quer dizer e quem toca aqui não se mete em "géneros". O trio mete-se Jazz de fusão com Noise Rock mas pelo meio entram em ambientes bafientos como se estivessemos num bar em que sabemos que não tarda nada começa tudo à porrada. O som nunca chega a ser violento como Albatre porque o que MSH indica é que algo está mal, muito mal à nossa volta. Talvez por isso que as ilustrações de André Coelho tenham sido reduzidas a cromos de caderneta nas capas dos discos? O segundo volume é nitidamente mais experimental que o primeiro, a começar porque são incluídas gravações de campo nas montanhas do Tirol que Costa fez. Diria que o primeiro volume é "ao vivo" (ou de improvisação) e o segundo é o "de estúdio".

Os dois novos discos de shhh... são o símbolo "+" e foram feitos exclusivamente com colaborações externas, daí o "mais" visto que shhh... é um projecto de Rui Bentes, sendo que não são discos de "remix" sobre temas que já existiam. A maior parte são participações estrangeiras de cromos da música experimental / electrónica como Francisco López, Dave Philips, Phillipe Petit, ThisQuietArmyAnla Courtis,... Os discos parecem "errados" de várias formas, sendo impossível separar a forma e o conteúdo. Começo pela apresentação dos discos, de pobreza franciscana e muito incongruente. O pior, é que não se explica nada sobre o projecto, sobre as formas de trabalho entre os vários artistas, etc... Quem quiser ouvir os discos e pensar no que ouve obriga a que se tire notas antes de inserir o disco na aparelhagem (porque as colaborações e títulos das músicas só estão impressas nas rodelas dos discos) ou que se decore os músicos de cada faixa. Claro que no mundo da web.2 se calhar nada disto importa... Pergunto também se uma das faixas não fosse editada neste grupo de CDs não seria tudo "compacto" e mais fácil de ouvir num único disco invés de estar a mudar de CD em CD de meia-em-meia hora? Talvez seja a maldição dos álbuns-duplos (e estes dois são um álbum-duplo? não sabe / não responde) que criam ânsia em querer ouvir as duas rodelas mas que nos obriga sempre a escolher entre os dois discos! Qual deles o melhor? Qual deles o pior? Qual oiço primeiro? O mais estranho disto é que apesar de todas as colaborações parece que nada acrescentam ao universo de shhh... ou de outra forma, dificilmente se percebe o universo dos outros artistas - onde se topa mais facilmente, curiosamente até é o menos "famoso" deles todos, o Rasal.Asad. O fascínio "breakbeat cinematográfico pós-industrial" de shhh... continua em alta mas a pureza da captação de som que ele é muito bom parece que se perdeu no meio deste caos ou então não consigo ouvir com clareza devido ao formato editorial. Há quem diga que menos é melhor e é capaz de ser bem verdade ou então... [cut]

Ao contrário dos outros projectos em que há dois CDs em embalagens separadas, o 1990-1996 é um CD duplo e recolhe a discografia completa dos Shrine, uma importante banda nacional de Metal dos anos 90. Só lançaram um álbum, Pespective (Morgana; 1994), e nesta recolha é incluido não só demo-tapes anteriores à estreia oficial mas também o segundo álbum gravado, Servants of the glow, que apesar do título nunca viu a luz do sol - isto desde 1996! Apesar de ser mais uma banda que tocava Trash/Death como era normal no seu tempo, os Shrine não se ficaram pelos "templates" de Sepultura ou de Obituary e na realidade conseguimos perceber que o que eles gostavam era de Voivoid, o que já mostra que eram anormais em relação aos outros metaleiros. Topa-se numa das fotos que estão no livro do CD, em que a banda está sentada no chão a fumar uma chicha (cachimbo de água marroquino) e não em pose de macho como eram as fotos de outras bandas da altura e de hoje! Se nos primeiros registos topa-se neste "power trio" a influência de nítida Voivoid, ora nos breaks de bateria, que de tão abruptos que soam a amadorismo (o que é um elogio!), em algumas guitarradas dissonantes e na voz longínqua, no segundo disco a banda vai evitando a velocidade do Metal e vai atraindo peso-lento do Doom e experimentação psicadélica a que se chama hoje de Stoner mas na altura era um efeito directo do Prog dos 70s. Deve-se agradecer às editoras envolvidas neste projecto que tenham feito o trabalho perfeito de arquivo fonográfico, coisa rara em Portugal. Depois de reedições em vinil de Thormenthor e Sacred Sin, pergunto se o Estado português não lhes deveria dar um prémio de conservação patrimonial?

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