sábado, 27 de fevereiro de 2016

Graphzines.pt

Foi quase uma década quase que exclusiva de produção de graphzines cá em Portugal com a Opuntia Books e Imprensa Canalha a liderarem o movimento... No entanto o ritmo abrandou ou ficaram menos visíveis, não sei porque tirando as publicações daquelas duas saudosas editoras raramente me interessaram os conteúdos dos graphzines portugueses. Recentemente vieram-me parar às mãos algumas peças que acho interessantes. "PT"? Pois, nem por isso...



Xunga Tropik #0 do italiano residente em Lisboa Saba é segundo defenido por ele próprio como: A journey on the [sunny] postfordistik/ postapokaliptik side of the river Cacilhas/ Lisboa 2015. Zine A5 com fotografias de equipamentos industriais abandonados e decadentes que sob um olhar estrangeiro e/ou artístico ganha uma dimensão melancólica e romântica mesmo que os grafitos modernos nas paredes das fábricas destruam esse sonho anacrónico e das ruínas a serem dominadas de forma rasteira e discreta pela natureza. É preciso ser de fora e "apunkalhado" para visitar estes sítios e achar que vale a pena registar de alguma forma embora seja natural esta relação entre o Punk e os detritos urbanos. Outro graphzine de Saba que prova isso, mesmo que o lixo seja digital, é Blitch - sim, como ninguém se tinha lembrado de juntar "bitch" com "glitch" (erros de sistemas de computador e afins)? Também em A5 as suas páginas estão repletas de imagens com erros sistemáticos fazendo estranhas colagens digitais que se o Sniffin' Glue tivesse saído em 2014. Quando um graphzine consegue transmitir um ambiente ou energia vale a pensa ter imagens agrafadas! Estes zines provam que não é à toa que Saba está em contacto com artistas de rua "brutos" como os Cane Morto ou que ele se prepara para organizar um festival de ruído de três dias em que estará presente o nosso Camarada Balli! Tudo gente com pica!


Nem sei o nome deste zine do Binau, será Tatto Fever ou Fanzinélias? Ou será Screaming Shouting Stupid Man? Ou apenas o "zine do Binau"? Não sei nem se dá a conhecer nos sítios oficiais deste ilustrador que muitas vezes encontro na rua a vender desenhos pela dinheiro que quisermos dar. Deve ser assim com os zines dele, não sei, fizemos intercâmbio. Este glorioso zine anónimo é um A6 num papel com uma boa gramagem, o que lhe dá um corpo forte, quente e agradável de manusear. A capa pode alternar de cor como se pode ser pela imagem acima. O trabalho é feito com fotografias encontradas em que Binau passa-lhe tinta correctora e desenha por cima, numa longa tradição que pode ser acompanhada dos trabalhos da Camarada Jucifer, um zine do Burnay & cia até uma capa de Black Taiga - que brevemente verá edição em k7. O resultado é algo cómico na sobreposição com as fotografias que tem quase sempre um ar sério ou a imortalizar um momento importante. É "streeta" e é "naice" mais do que eu pensava. Entretanto já saiu um "volume II"...

Do lado oposto da sujidade DIY + Punk, temos uma Oficina do Cego a sair do armário finalmente! Tem editado um bocado mais do que cadernos vazios e lá encontraram uma Colecção Abstrusa para apresentar algumas surpresas editoriais. Formatinho A6 sempre com alta exigência de trabalho gráfico - mal seria se não fosse afinal de contas é uma oficina para isso mesmo - tem publicado trabalhos muito diferentes desde desenhos de crianças até este pseudo-conceptual (volume 6) Notes iOS de Filipe Matos (aka G3) sobre grafismo digital de ecrãs.
Para um gajo como eu que não usa "fezesbook" nem "aifone" admito este universo passa-me ao lado e parece-me superficial. Acho que preferia um livro com cenas divertidas com gatos porque o que vejo nisto é uma colectânea de piadas para "nerds" tecnocratas. No fun!

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