Vovô Industrial
Este EP 7" dos Los Humillados, Rua do Gin, The Barbie Lovers e HIST (Grabaciones Góticas + Facadas na Noite; 1990) é um pedaço de história curiosa. Raramente naquela altura, em Portugal, havia edições em vinil de bandas underground e aponta que houve uma altura em que existia algum intercâmbio cultural com os nossos hermanos e que fez fade out nos anos 90 - hoje nenhum dos dois países se interessam pelo que passa num ou no outro país, tristeza...
"Os espanhóis humilhados" soam a escuteiros à fogueira com vontade de suicídio. Rua do Gin é uma desilusão pois esperava uma réplica de um dos temas mais selvagens de sempre do Rock tuga - refiro-me a Rebeca no primeiro volume das colectâneas bracarenses À Sombra de Deus - aqui parece apenas um Pop bizarrito. Os catalães "amantes da Barbie" parecem ter vozes distorcidas de Frank Zappa com um Industrial light e nerd. Por fim, Hist é EBM em speed com samplagem repetitiva como era normal na altura porque a tecnologia era primitiva - queria ver os Rotten / Fresh e afins a fazerem música com os programitas da altura!
Agora que um espectro de música menos convencional começa a ser descoberto, percebendo-se que em Portugal a década de 80 não foi só Mão Morta, Pop Dell'Arte e a Ama Romanta mas que existia outras editoras e projectos com perfis mais "radicais" para uma sociedade portuguesa estagnada, este EP tem também o seu encanto gráfico e sonoro. Co-edição de duas editoras, uma portuguesa e outra espanhola, cada uma a editar dois projectos dos seus países, aparece com uma capa dourada porque, de certeza, os espanhóis adoram coisas que brilham e com o grafismo que está ao nível europeu do que se fazia na altura na onda Industrial - aliás este tipo de música sempre esteve sempre mais nivelado ao que se fazia no resto do mundo do que os outros géneros de música cá em Portugal, gostaria de perceber porquê um dia! Problema é o som que está baixo mas há uma razão, a "master" foi enviada para a fábrica em Espanha e os CTT perderam a dita cuja. Ao que parece o disco já estava pago e algo tinha de acontecer, senão era dinheiro para o lixo. Resultado, pegou-se numa gravação inferior que existia e gravou-se este vinil. Narrativa curiosa de amadorismo e independência que acontece frequentemente nestes meios, sem razão para humilhação pública, diria até pelo contrário, é uma glória perante as dificuldades de um mundo pré-digital.
Por falar em HIST, foi reeditada a k7 desta banda de Setúbal, na actual segunda vida da SPH. O livrinho de letras e imagens está um mimo, diga-se.
The Greytest Hi$t 1983 85 são uns 15 temas de puro lo fi muito antes de se rotular de Industrial ou Experimental ou Electrónico - hoje diria-se post-punk, suponho eu. Lembra sobretudo Tuxedomoon talvez pelos ritmos esquizóides com guitarras angulares, uivos e o contínuo musical que não sabemos bem para onde nos leva.
É penoso q.b. ouvir estas gravações, a não ser que sejam freaks do lo fi, claro, o que aliás demostra o quanto os nossos ouvidos e cérebros já foram higienizados pela perfeição do digital. Mas é uma questão de hábito e desprogramação afinal a História não pode ser dos vencedores, não pode!
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