sábado, 9 de junho de 2012

Eu quero que o Fado se Foda! (mas os portugueses são mesmo saloios!)

Português ou não, o mundo do Pop desde os anos 90 que insiste em criar "dream teams" para fazerem discos, filmes, livros, etc... Como se a soma de nomes sonantes possam melhorar um produto na maior parte das vezes débil desde a nascença. Se é verdade que um encontro inesperado entre Faith No More e Boo-Yaa T.R.I.B.E. é capaz de criar uma bomba já Rammstein com Marilyn Manson é uma redundância triste. Em discos, seja de bandas de Hip Hop seja de Metal, tem sido uma procissão e convidados especiais que entram para nada acrescentarem à música. Servem apenas servirem de arma de marketing, para manter as figuras velhas em notícia sem terem de fazer nada de especial, para projectar os novos projectos que precisam de publicidade dos velhos, tudo isto colocando os fãs à espera de algo surpreendente, que acaba por não acontecer. A maior parte nem dá conta da fraude porque ficam satisfeitos em ver os seus "heróis" em situações diferentes.
Todos fazem isto... já nem admira ter mais um vocal do Adolfo Luxúria Canibal numa treta qualquer ou algo do tipo. Estas três edições partilham estas ideias não todos da mesma forma e nem todas com resultados iguais.

Cabaret Portugal (Necrosymphonic / Chaosphere + Helloutro + Raging Planet + Raising Legends; 2012) de La Chanson Noire é o pico de como neste país se consegue fazer uma saloiada sem sentido e oportunista. Ao contrário de outras acusações às produções portuguesas neste blogue, há que dizer no entanto que La Chanson Noire (um tipo apenas) não sofre de falta de pica nem é um tipo calmo! Desenvolveu um projecto com alguma originalidade - pelo menos para este canto europeu - um "cabaret rock" em que a sua voz e piano são mais do que suficientes para entreter as hostes. Diria que o projecto em si é "arriscado" porque sendo um projecto solitário, não poderá partilhar ou esconder a vergonha com outros elementos da banda. Assim, só resta ao Chanson Noire "ou vai ou racha", o que lhe deve ter dado pujança para "ir" e "não rachar". Muito mau seria se não conseguisse o assumir o papel em que se colocou. Não há forma de tirar crédito à essência do projecto. É de se tirar o chapéu porque são poucos os artistas ou músicos portugueses que o conseguem fazer.
Mas falha nesta edição - e apesar de estar sozinho leva outros atrás - que é um livro de prosa e fotografia com um CD de música. A ideia de base do livro é o jogo surrealista do "cadáver-esquisito" em que atirou "frases" (títulos de futuras músicas suas) a vários criadores para gerarem textos e fotografias em volta delas. Chanson por seu lado fez músicas. No caso da parte literária conseguiu reunir uma "dream team" bastante curiosa que se divide entre os "suspeitos do costume" quando pensamos em "Darkismos" e que vão desde figuras "underground" como Gilberto de Lascariz ou Hyaena Reich até malta famosa como Fernando Ribeiro (Moonspell), Adolfo Luxúria Canibal e David Soares, e um segundo grupo de gente inesperada como o "rapper" Chullage ou duas mediocridades mediáticas como Nuno Markl e Fernando Alvim. Os resultados diferem como se podia esperar, a maior parte dos resultados são fáceis de esquecer com excepção de David Soares que até inventa um falso ritmo "cadáver-esquisito" sem que ele esteja ipso facto a participar num. Chason Noire arrotou apenas frases, os autores não andaram a continuar os textos um dos outros («da maneira que deseja, porém, dobrando o papel para que os demais colaboradores não tenham conhecimento do que foi escrito.»). Escusado dizer que o Fernando Alvim é um imbecil seja ao vivo na TV seja em papel impresso e se o Chason Noire gosta de brincar com a "iconoclastia" e o "kitsch" de Portugal, não conseguiu cozinhar esta caldeirada. Por um lado ficamos pelos clichés do "Gótico" com as habituais cabeças de porcos, campas de cemitérios e bonecas antigas, e por outro meia-dúzia de bocas a Portugal sem conseguirem ser profundas. O som entre o cabaret, a euforia dos Muse e a música de telenovela dos anos 90 não consegue ser ser subversiva - suponho que o autor gostaria de usar o Pop para "minar por dentro" mas só consegue ser azeiteiro. Não há glamour porque sentimos vulgaridade por todos os poros - essa vulgaridade também elimina o "choque" da mensagem libertina num mundo há muito habituado a imagens S/M, swing, etc... As composições repetem-se bem como a forma de cantar. Investigando na 'net, houve discos dele mais interessantes do que este, apesar de o músico apontar este como o derradeiro produto.
Gosto de dizer que cá em Portugal só gostamos das pessoas quando elas estão na merda, e quando um gajo tenta sair dela gostamos de o trazer de volta ao caldo de coliformes fecais. Eu gosto de pensar que sou uma excepção à regra - fico feliz pelo sucesso dos outros e o catano - mas o Chason Noire vai achar que não.Resta dizer que tenho muita pena...

Apesar de também colaborações inesperadas - David Soares (outra vez), o Chanson Noire (olha!) ou Fuse do grupo de Hip Hop Dealema  - neste quarto álbum dos Holocausto Canibal, Gorefilia (Raging Planet + Raising Legends; 2012) - pouco adiantam em alguma alteração do som da banda. Estamos perante Death Metal brutalizante de serial-killer Gore pornográfico, que é aliás um sub-género do Death Metal. Nada de novo por aqui, basicamante todas as letras são sobre "quero foder essa vagina toda gangrenosa desse teu cadáver infecto" sejam escritas pela banda seja pelos convidados - ei, isto é Death Metal e não um recital de poesia, meu!
Num lado ou noutro há algumas diferenças de som no típico Death (género e/ou banda), como por exemplo o recital dramalhão de Fuse (que parece ter sempre os polegares enfiados no anús), a parceria de Miguel Newton (Mata-Ratos) resulta numa correria Hardcore e há alguns "glitches" a lixar o disco - mas neste último caso trata-se do humor de merda da banda que os Holocausto Canibal habituaram nas suas produções. Para 15 anos de carreira faltam os tomates inchados de sangue para convidarem os Stealing Orchestra para os remisturar como fizeram no segundo disco, Sublime Massacre Corpóreo (So.Die.Music / Division House; 2002). Mas quem quer ouvir inovações no Death Metal? Aqui interessa atingir um orgasmo "porno-gore" conseguido pela falocracia do som e vaidade (do visual do disco que faz concorrência ao Fredox). Sobretudo são 15 anos de carreira a provar que se pode grunhir em português! Parabéns meus grandas javardolas!

Por fim, o disco de remisturas... Os Process of Guilt são actualmente venerados pela crítica especializada da cena Metal facção Doom / Sludge. The Circle (Bleak; 2012) é um tema do álbum anterior e é misturado neste CD por diferentes músicos como Sanford Parker, Echoes of Yul, DJ Mofo, Bosque, Sons of Bronson. Falta dizer que foi masterizado pelo grande monstro James Plotkin como manda o figurino - nos dias de hoje todos discos de Rock portugueses são "masterizados" por cromos estrangeiros, o que se suspeita a dada altura que também faz parte das manobras de marketing do "convidado especial".
Longe de completar um círculo musical - ou qualquer outro, assim me parece visto de fora - é sobretudo um exercício do que se pode fazer com um tema Doom transformando-o em algo"dronesco", Noise ou ambiental, sendo interessante as alterações da sua forma. Talvez seja um mau disco para começar a ouvir esta banda porque vamos parar a dimensões que não lhes são habituais. Este disco de misturas (como todos os de mistura aliás) é nitidamente para fãs embora não seja de todo inutil ou ofensivo à inteligência de quem os segue. Interessante apesar da sua eterna lentidão lusa...

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