quarta-feira, 18 de julho de 2012

New kids on the block (rescaldo laico 1)

Se houve algo de incrível na última Feira Laica foi a quantidade de novidades editoriais que foram lançadas, algumas de artistas que nunca se esforçaram no mundo da edição independente, outros que já não faziam nada há algum tempo e claro os novos autores a apresentarem-se ao mundo. Começamos por aqui, então.

Na realidade já tinha sido lançado na última edição do Comunicar:Design - e andei para escrever sobre a meses à espera de uma ocasião... Deathgrind é um zine A5 que compila desenhos e BDs de Zé Burnay. Já com trabalho espalhado aqui e acolá, este novo autor parece-me uma nova esperança na estagnada BD portuguesa. Para já largou as influências mais óbvias em grande parte pela mudança do material de desenho - a linha dos trabalhos deste zine é finíssima - e sobretudo por explorar as maravilhas do mundo da narração. Nessa deambulação volta à vulgaridade porque chafurdar no mundo Pop só se pode ir parar a lugares-comuns mesmo quando entram em peso Satanismos light, drogas de todo o tipo, Blues cheios de crime e toda a mítica "Americana". É provável que este zine venha a ser um marco de transição de Burnay-autor-de-BD, para já é uma publicação a solo divertida cheia de energia mas o melhor está para vir. Estejam muito atentos!

Não tão "kid" como isso mas até parece, David Campos, avançou (mas não apareceu na Laica para montar a sua mesa) com um novo título Landing of the Mothership #1 que é uma nova série de BD (apesar de ainda não ter concluído as outras) com um novo selo editorial, Bábamúpeace - é de esquecer a Paracetamol, pelos vistos.
16 páginas A5 apenas de fotocópias manhosas, quase parece um zine dos anos 90 de tão pouco cuidado gráfico, temos dentro delas uma BD de auto-ficção que envolve primatas e "roswellitas" mas como a BD é tão curta - são apenas 8 páginas -  não se chega a perceber nada nem mesmo a envolvermo-nos com isto. Terá alguma piada esta treta? Pode ser que sim mas não sabemos - curiosamente é exactamente a mesma resposta que se pode dar à pergunta "existem OVNIs?"
Boy, um bocado mais de consequência, se faz favor!

Ninguém pára este mambo! O sexto número do Lodaçal Comix (Ruru Comix) até saiu antes da Laica, com mais ou menos a pandilha de sempre - há sem malta nova a fazer algo, como o Rui Ricardo que fez uma atraente capa vintage / pulp. E há uma descoberta bastante boa chamada André Pereira que impressiona pelo virtuosismo gráfico e narrativo, e que confunde coordenadas - as influências dele são os franceses psicadélicos da Metal Hurlant ou hispánicos manhosos da Cimoc ou é mesmo xungaria indie sci-fi norte-americana? Já lá iremos...
Aaron $hunga faz uma homenagem ao falecido Moebius, Afonso Ferreira avança prá conclusão do alucinante Lovehole, e o Rudolfo continua apaixonado em auto-biografia tola... É o Lodaçal.

E o Rudolfo não pára, não só instiga autores a produzir como ele próprio produz e prepara uma série, o Magical Otaku. Bom na realidade o borbulhento "nerd" (um otaku na cultura japonesa) já há muito que tem aparecido em episódios espalhados em zines do Rudolfo. A diferença entre esses episódios e este novo, é que o novo ao contrário dos outros atira-se a uma humanidade que antes não havia. Os episódios anteriores eram apenas escárnio a miúdos doentes e viviados em toda uma cultura Pop repugnante - toda a cultura Pop é repugnante diga-se, daí o fascínio que nos exerce.
Neste novo episódio algo acontece - que não poderei contar caso contrário não compram os zines - que poderá significar uma mudança no trabalho do Rudolfo, algo mais equilibrado, fora das parvoíces escatológicas e das ainda mais parvas BDs autobiográficas (sero)positivas "Rudolfo in love".
A completar a edição algum material bónus como mais um massacre do Musclechoo e uma foto do primeiro cosplay do autor (um mimo!).

A grande surpresa da Laica deste ano foi o zine Enjôo de Invocação (Robô Independente) de André Pereira. Como todos os outros zines, não foge à regra A5 mas com capas coloridas para todos os gostos.
Compila a produção de BD do autor que aparece de forma extraordinária com um grafismo apurado e e uma narrativa consistente. Como já tinha referido mais acima - sobre a BD publicada no Lodaçal e aqui repetida - não percebo se o autor gosta de Eduardo Risso ou Druillet ou algum norte-americano da Image que não me lembra o nome. Entretanto lembrei-me também do Al Columbia e do Jorge Coelho... Bom parece haver uma ligação entre as BDs O Demiurgo e Cigarros que espero que venha a ser mais desenvolvida... Pá, é impressão minha ou este zine tem um ISBN? O pessoal passa-se...

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