PARIS, RUE DANTE
Rue Lagrange
O visitante nostálgico atravessará o adro de Notre-Dame concedendo não mais que um olhar apressado às gárgulas da majestosa catedral e, enfiando pela pequenina ponte Au Double, entrará na margem esquerda pela Rue Lagrange, a qual percorrerá, de preferência pelo lado do jardinzinho da praça René Viviani, até atingir uma bifurcação. Aí, tomará a rua da direita e ver-se-á na Rue Dante, toponimicamente associada à poesia mas vivendo da comercialização de literatura ilustrada. É uma rua pequena, com pouco mais de cem metros, mas onde se podem encontrar lojas de banda desenhada e ilustração praticamente para todos os gostos
Abrindo e fechando a rua, as livrarias Rackam e
Aapoum Bapoum! são verdadeiros paraísos para bibliómanos e colecionadores de
preciosidades da indústria franco-belga: a primeira com as suas estantes
repletas e ordenadas de A a Z; a segunda, mais informal, com algumas
classificações interessantes (‘Chaland e a linha clara pós-moderna’, ‘Em torno
de Humanoïdes’,
‘Verdadeiramente velha escola’…) e uma lista cuidada de ofertas
especiais (por estes dias, era possível adquirir a edição integral de Jeune Albert por apenas 15 euros).
Banca exterior da livraria Aapoum Bapoum, com algumas das ofertas da semana
Mudando de agulha, os apreciadores de manga e
ilustração japonesa têm à sua disposição as lojas Hayakushop e Little Tokyo,
enquanto Gotham e Pulp’s Comics se dedicam aos super-heróis. Pelo meio,
mencione-se a Pulp’s Art, vocacionada para livros de ilustração artística e
design, mas que nos últimos tempos tem vindo a consagrar mais espaço à banda
desenhada, maioritariamente importada dos Estados Unidos. Há ainda lugar para
uma livraria mais convencional e reflectora dos padrões hodiernos do mercado,
Album, onde só valerá a pena entrar para adquirir qualquer edição mais recente.
Rue Dante, vista do Boulevard Saint Germain
Cumprido o percurso, desembocando no Boulevard Saint
Germain, o visitante insatisfeito terá ainda algumas opções. Virando para a
direita poderá tentar a segunda livraria Aapoum Bapoum! (14 Rue Serpente), a
cinco minutos de distância: embora maior que a sua filial da Rue Dante, parece
mais focada na produção mainstream.
Virando para a direita e subindo na primeira oportunidade até à Rue des Écoles
(paralela ao Boulevard Saint Germain), o visitante espreitará a Paginaire, no
número 10, igualmente especializada na escola franco-belga, para de pronto
seguir para a Librairie Lutéce, um pouco mais acima (5 Rue d’Arras), digna
concorrente de Rackam e Aapoum Bapoum!, com amplo depósito e preços em conta.
No Boulevard Saint Germain...
Conforme se depreende, sob pretexto algum deverá o
colecionador de tais raridades tomar parte em acto de compra e venda antes de
terminado o percurso que ora se giza para, na devida posse de todas as
informações necessárias, poder decidir e arrematar a melhor oferta, retornando
se for caso disso à Rue Dante. De saco cheio, o visitante atravessará uma vez
mais o Sena, apontado aos cafés de Châtelet em Happy Hour. Recomenda-se o Petit
Châtelet, no começo da Rue de Saint-Denis, onde poderá conversar sobre a arte
na sociedade de consumo com o filósofo desenhador Jerôme (um dos habitués) e
desfrutar do bom acolhimento dos barmen
(em especial do português Sérgio, antropólogo e apreciador de fotografia,
prestes a iniciar uma nova aventura na Austrália). De espírito animado e músculos
retemperados, o visitante continuará o seu percurso subindo a Rue Saint-Denis,
ao sabor dos encontros…
E a banda desenhada
alternativa, L’Association e quejandos? E as edições independentes, os fanzines?
Sim, neste capítulo, é parca a oferta da Rue Dante e demais artérias. O
visitante deverá ficar pela margem direita, acercar-se da Bastilha e, daí,
apanhar a Rue de Charonne, experimentando a BDnet ou, sobretudo, a Pied deBiche, no número 86. Ou, mais para norte, mas demasiado longe para se continuar
a pé, a Le Monte-en-l’Air (2 Rue de la Mare, num dos extremos do 20º Bairro). Tradição ou revolução: À vous de choisir!
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