domingo, 22 de julho de 2012

PARIS, RUE DANTE


Rue Lagrange

O visitante nostálgico atravessará o adro de Notre-Dame concedendo não mais que um olhar apressado às gárgulas da majestosa catedral e, enfiando pela pequenina ponte Au Double, entrará na margem esquerda pela Rue Lagrange, a qual percorrerá, de preferência pelo lado do jardinzinho da praça René Viviani, até atingir uma bifurcação. Aí, tomará a rua da direita e ver-se-á na Rue Dante, toponimicamente associada à poesia mas vivendo da comercialização de literatura ilustrada. É uma rua pequena, com pouco mais de cem metros, mas onde se podem encontrar lojas de banda desenhada e ilustração praticamente para todos os gostos
Abrindo e fechando a rua, as livrarias Rackam e Aapoum Bapoum! são verdadeiros paraísos para bibliómanos e colecionadores de preciosidades da indústria franco-belga: a primeira com as suas estantes repletas e ordenadas de A a Z; a segunda, mais informal, com algumas classificações interessantes (‘Chaland e a linha clara pós-moderna’, ‘Em torno de Humanoïdes’, ‘Verdadeiramente velha escola’…) e uma lista cuidada de ofertas especiais (por estes dias, era possível adquirir a edição integral de Jeune Albert por apenas 15 euros).

Banca exterior da livraria Aapoum Bapoum, com algumas das ofertas da semana

Mudando de agulha, os apreciadores de manga e ilustração japonesa têm à sua disposição as lojas Hayakushop e Little Tokyo, enquanto Gotham e Pulp’s Comics se dedicam aos super-heróis. Pelo meio, mencione-se a Pulp’s Art, vocacionada para livros de ilustração artística e design, mas que nos últimos tempos tem vindo a consagrar mais espaço à banda desenhada, maioritariamente importada dos Estados Unidos. Há ainda lugar para uma livraria mais convencional e reflectora dos padrões hodiernos do mercado, Album, onde só valerá a pena entrar para adquirir qualquer edição mais recente.
Rue Dante, vista do Boulevard Saint Germain

Cumprido o percurso, desembocando no Boulevard Saint Germain, o visitante insatisfeito terá ainda algumas opções. Virando para a direita poderá tentar a segunda livraria Aapoum Bapoum! (14 Rue Serpente), a cinco minutos de distância: embora maior que a sua filial da Rue Dante, parece mais focada na produção mainstream. Virando para a direita e subindo na primeira oportunidade até à Rue des Écoles (paralela ao Boulevard Saint Germain), o visitante espreitará a Paginaire, no número 10, igualmente especializada na escola franco-belga, para de pronto seguir para a Librairie Lutéce, um pouco mais acima (5 Rue d’Arras), digna concorrente de Rackam e Aapoum Bapoum!, com amplo depósito e preços em conta.

No Boulevard Saint Germain...

Conforme se depreende, sob pretexto algum deverá o colecionador de tais raridades tomar parte em acto de compra e venda antes de terminado o percurso que ora se giza para, na devida posse de todas as informações necessárias, poder decidir e arrematar a melhor oferta, retornando se for caso disso à Rue Dante. De saco cheio, o visitante atravessará uma vez mais o Sena, apontado aos cafés de Châtelet em Happy Hour. Recomenda-se o Petit Châtelet, no começo da Rue de Saint-Denis, onde poderá conversar sobre a arte na sociedade de consumo com o filósofo desenhador Jerôme (um dos habitués) e desfrutar do bom acolhimento dos barmen (em especial do português Sérgio, antropólogo e apreciador de fotografia, prestes a iniciar uma nova aventura na Austrália). De espírito animado e músculos retemperados, o visitante continuará o seu percurso subindo a Rue Saint-Denis, ao sabor dos encontros…
E a banda desenhada alternativa, L’Association e quejandos? E as edições independentes, os fanzines? Sim, neste capítulo, é parca a oferta da Rue Dante e demais artérias. O visitante deverá ficar pela margem direita, acercar-se da Bastilha e, daí, apanhar a Rue de Charonne, experimentando a BDnet ou, sobretudo, a Pied deBiche, no número 86. Ou, mais para norte, mas demasiado longe para se continuar a pé, a Le Monte-en-l’Air (2 Rue de la Mare, num dos extremos do 20º Bairro). Tradição ou revolução: À vous de choisir!

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