segunda-feira, 14 de setembro de 2009

We don't need no education...


Orang #6/7 (Reprodukt; 2006-08) é uma revista que foi criada por alunos do curso de bd/ilustração de Hamburgo. Agora que os alunos já saíram da vida escolar a revista não só se manteve como se posicionou para completar o triângulo das melhores revistas europeias de bd da actualidade - falo da Glömp (Finlândia) e da Canicola (Itália) - não sendo coincidência que artistas de uma revista são publicados nas outras duas. Pela Orang podemos encontrar Chi Hoi (de Hong Kong e que no ano passado a Canicola editou um livro seu), Moki (bonecada fofa), Tommi Musturi e as aventuras do seu Samuel (já editado do Mesinha #200 e com livro a sair este mês pela MMMNNNRRRG), Klass Neumann (com um jogo "oubapoano"), Till Thomas (já publicado em Portugal na Crica) ou do italiano Stefano Ricci (cada vez mais impressionante e que curiosamente vive em Hamburgo, onde também dá aulas)... A revista tem um formato quase quadrado e anda à volta das cento e tal páginas, algumas a preto e branco outras a cores. A política geral da revista deve ser uma espécie de "neu sturm und drang" tal é o urbano-depressivo irracional que emana nas suas páginas. O último número por exemplo tem como tema "The end of the world" (sim a revista apesar de estar em alemão usa o sistema de tradução para inglês no final da página)... um bocado tarde para "finais do mundo", não? A não ser que a paranóia de 2012 (ou é 2016?) esteja a atacar mais do que pensava...


Two Fast Colours #2 (M. Krause & M. Lenzin; Jul'08) é um zine A4 editado por duas estudantes do curso de bd da universidade de Hamburgo - uma turma posterior à Orang. Os trabalhos são ansiosos de provarem qualquer coisa, mesmo quando suspeito que possam ser exercícios do curso de bd como o da Martina Lenzin que explora o potencial meta-narrativo idêntico ao que Chris Ware mostrou em Quimby, the mouse mas ainda assim com um humor próprio. A publicação junta ainda alguns franceses como Quentin Vijoux, Morgan Navarro (provavelmente o autor mais excitante do catálogo Les Requins Marteaux) e Guillaumit. De recorte surrealista e pós-Pop eis um zine em que se sente frescura e que os estudantes alemães de bd sabem se mexer - ao contrário do que se passa em Portugal. Ah! Destaco a Jul que quase roça graficamente o Mike Diana embora o universo não seja o mesmo. A capa em serigrafia faz jus ao título do zine.

E no meio do turbilhão desta nova geração alemã de bd encontramos uma sempre renovada Anke Feutchtenberger cujo trabalho per se já está no patamar dos grandes artistas de bd mais influentes dos últimos 25 anos como Gary Panter, Charles Burns e Blanquet. Se soubermos que é professora no curso de bd e ilustração da Universidade de Hamburgo mais fácil será reparar que a sua influência não é apenas indirecta. Mais que uma autora influente se calhar também poderá ser uma professora influente e uma passagem de olhos pelas três revistas referidas acima percebe-se a sua marca na forma e no conteúdo, sobretudo nas novas autoras - que o diga Amanda Vähämäki portadora de uma voz muito segura mas que deve a Anke a inseminação estética. Cada vez mais virada para o desenho, recentemente cruzei-me com o livro wehwehwehsupertraene.de / lacrimella.de editado pela Mami (2008), que é a sua editora e do seu companheiro Ricci. Trata-se de um belo livro de desenhos de Anke feitos entre 2006 e 2008 e expostos na Galeria d406 (onde recentemente a Canicola fez uma exposição "vista" no seu "derradeiro número"). Assistimos a uma autora cada vez mais virtuosa no desenho a grafite e madura em que tenho a certeza que continuará a surpreender nos próximos anos.

E por falar em alunos e a iniciativa privada, em Angoulême vai-se criando um "cluster" de editoras de bd, algumas explorando o talento que sai do curso de bd como o caso da recentemente criada Scutella mas a maior parte são colectivos criados pelos alunos como a conceituada Ego Comme X ou a recente NA que lançou o jornal Modern Spleen. O jornal claramente inspirado no finlandês Kuti publica autores "dos quatro cantos" encontrando-se finlandeses, alemães (curiosamente alguns da Orang e Two Fast Colour) e a portuguesa Joana Figueiredo - e ainda de autores da Itália, EUA, França e Hong Kong. Claro que é mais fácil "fazer coisas" num país que tenha um mercado de bd como a França mas o que questiono é como ainda não saiu um zine que seja dos três grandes cursos de bd portugueses que existem?

1 comentário:

Gabriel Renner disse...

muito bom esse material. Aprovweito pra elogiar os posts q vem sendo publicados aqui, conheci o site ha pouco tempo. estudiopinel.com